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A crítica social do dito de Jeremias contra o rei Jeoaquim: uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 A.C)

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Texto

(1)

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

P

ROGRAMA DE

P

ÓS

-G

RADUAÇÃO EM

C

IÊNCIAS DA

R

ELIGIÃO

FERNANDO RIPOLI

A CRÍTICA SOCIAL DO DITO DE JEREMIAS

CONTRA O REI JEOAQUIM:

Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C)

(2)

FERNANDO RIPOLI

A CRÍTICA SOCIAL DO DITO DE JEREMIAS

CONTRA O REI JEOAQUIM:

Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C)

Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer.

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

R486c Ripoli, Fernando

A crítica social do dito de Jeremias contra o rei Jeoaquim: uma análise exegética de Jeremias 22, 13-19 (609 a 598 a.C.) / Fernando Ripoli. São Bernardo do Campo, 2014.

161fls.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Humanidades e Direito, curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião.

Orientação: José Ademar Kaefer

1. Bíblia – A.T. – Jeremias – Crítica e interpretação I. Título

(4)

A dissertação de mestrado sob o título “A crítica social do dito de Jeremias contra o rei

Jeoaquim: Uma análise exegética de Jeremias 22,13-19 (609-598 a.C)”, elaborada por

Fernando Ripoli, foi apresentada e aprovada em 18 de Março de 2014, perante a banca examinadora composta por Dr. José Ademar Kaefer (Presidente da UMESP), Dr. Tércio Machado Siqueira (Titular/UMESP) e Dr. Rafael Rodrigues da Silva (Títular/UFAL).

_________________________________________________

Professor Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

_________________________________________________

Professor Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

Programa: Ciências da Religião

Área de Concentração: Linguagens da Religião I

(5)

DEDICATÓRIA

Ao prof.Dr.Milton Schwantes (in memorian)

(6)

AGRADECIMENTOS

Aos profetas e visionários do século VIII ao VI, que criticaram as injustiças sociais, de todas as pessoas ou (autoridades), que usaram do poder para: extorquir, explorar e

matar, em nome de um “D’us”, ou sistema religioso e poder político de sua época; A minha querida esposa Sheila Alves Ripoli;

Aos meus pais Antonio Francisco Ripoli e Maria Luiza Santos Ripoli;

Ao Prof. Dr. Milton Schwantes (in memorian), meu primeiro orientador, por ensinar, além da paixão pela exegese, a busca constante pela justiça;

Ao Prof. Dr. Rafael Rodrigues da Silva, por sua amizade e orientação no momento crise existencial;

Ao Prof.Dr. Tércio Machado Siqueira, por sua amizade e orientação no momento crucial desta caminhada;

Ao Prof. Dr. Edson de Faria Francisco, por sua amizade e orientações concernentes ao aparato crítico, e a massora da Bíblia Hebraica Stuttgartensia;

Ao Prof. Dr. José Ademar Kaefer, por suas orientações, amizade e dedicação na realização desta pesquisa;

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião - UMESP, por abrirem novos horizontes na pesquisa acadêmica;

Ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação, pelo sustento na realização desta pesquisa; A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES; pelo

financiamento da bolsa ao longo dos semestres letivos;

Às amigas Ana Maria e Sirley, por todo apoio, paciência, e incentivo e persistência; Ao amigo da caminhada na Pós-Graduação, Élcio Valmiro Sales de Mendonça,

Sue’Hellen Monteiro de Matos; Kenner Terra; Samuel de Freitas Salgado e Luciano Robson Peterlevitz, pelo companheirismo e suas intensas orientações exegéticas de

minha pesquisa;

(7)

“O pobre, tem, pois o direito também de receber comida e terra da sociedade. O direito é o de obter da sociedade o apoio na necessidade e na crise, em meio aos parentes e à comunidade. Nós damos aos pobres o sentido de carentes. A Bíblia o entende como quem tem o direito de reivindicar os direitos sociais garantidos. Na tradição bíblica, um pobre não pede (não é pedinte!), mas exige sua parcela da

sociedade”.

(8)

RIPOLI, Fernando. A Crítica Social do dito de Jeremias contra o Rei Jeoaquim: Uma Análise Exegética de Jeremias 22,13-19 (609 - 598 a.C). São Bernardo do Campo: Umesp, 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

RESUMO

O presente estudo exegético tem por objetivo demonstrar a crítica social de Jeremias contra o rei Jeoaquim, tendo como fonte principal a crítica social de Jr 22,13-19. Para tal, partiremos da análise do contexto literário, histórico e religioso da crítica social de Jeremias, para então fazer a análise exegética do texto proposto, através da qual enfocaremos, dentre os diversos conteúdos, a justiça social inserida na perícope. Compreendendo que um texto surge dentro de um ambiente social, evidenciaremos, com base na crítica social, as práticas violentas do rei Jeoaquim em seu reinado, contra os trabalhadores injustiçados, o pobre e o necessitado na sociedade de Judá. Por fim, demonstrando as questões históricas do profeta Jeremias em sua vivencia internacional em meio aos impérios existentes, e o sistema opressor do rei Jeoaquim, contra os menos favorecidos da sociedade de Judá.

(9)

RIPOLI, Fernando. A Social Critique of said Jeremiah against King Jehoiakim: An exegetical analysis of Jeremiah 22,13-19 (609-598 a.C). Sao Bernardo do Campo: Umesp, 2014. Thesis (Master of Science in Religion) - Faculty of Humanities and Law, Methodist University of São Paulo (UMESP).

ABSTRACT

This exegetical study aims to demonstrate the social criticism of Jeremiah against King Jehoiakim, the main source of social criticism Jr 22,13-19. To this end, we leave the analysis of literary, historical and religious context of social criticism of Jeremiah, then make the exegetical analysis of the proposed text, through which we will focus, among the various content, social justice embedded in the passage. Understanding a text arises within a social environment, will highlight based on social criticism, the violent practices of King Jehoiakim in his reign against the wronged workers, the poor and needy in the society of Judah Finally, demonstrating the historical issues the prophet Jeremiah in his international experiences among the existing empires, and the oppressive system of King Jehoiakim against the disadvantaged of society Judah.

(10)

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ... 5

AGRADECIMENTOS ... 6

RESUMO ... 8

ABSTRACT ... 9

SUMÁRIO ... 10

INTRODUÇÃO ... 13

Capítulo I QUESTÕES FUNDAMENTAIS NO LIVRO DO PROFETA JEREMIAS ... 16

Considerações iniciais ... 16

1.1 Questionamentos do livro de Jeremias ... 18

1.2 A estrutura do livro de Jeremias ... 26

1.2.1 A estrutura do texto hebraico e do texto grego... 26

1.2.2 Construções e delineamentos no texto hebraico ... 28

1.3 Análise complementar das fontes, datas e autoria do livro de Jeremias. ... 31

1.3.1 O profeta Jeremias ... 32

1.3.2 Datação e autoria do livro ... 35

1.4 A Obra Historiográfica Deuteronomista no livro de Jeremias ... 39

Considerações finais ... 44

Capítulo II A ANÁLISE EXEGÉTICA DE JEREMIAS 22,13-19 ... 45

2.1 TRADUÇÃO INTERLINEAR ... 46

2.1.1 Texto Massorético: ... 46

2.2 TRADUÇÃO LITERAL ... 48

(11)

2.3.1 Aparato Crítico ... 50

Verso 14 ... 50

Verso 15 ... 51

Verso 16 ... 52

Verso 17 ... 52

Verso 18 ... 53

2.3.2 Massora Parva (Mp) ... 54

Verso 13: ... 55

Verso 14: ... 55

Verso 16: ... 55

Verso 17 ... 56

Verso 18: ... 56

Verso 19: ... 57

2.4 CARACTERÍSTICAS FORMAIS ... 57

2.4.1. Delimitação ... 58

2.4.2. ESTILO LITERÁRIO... 61

2.4.3 Estrutura da perícope de Jr 22,13-19 ... 65

2.4.3.1 Acusação ... 65

2.4.3.2 Julgamento... 66

2.5 GÊNERO LITERÁRIO ... 70

2.6 ANÁLISE DE CONTEÚDO ... 72

2.6.1 Introdução (v.13a) ... 72

2.6.2 Primeira Estrofe (v.13b-14) ... 80

2.6.3 Segunda Estrofe (v.15-16) ... 90

2.6.4 Terceira Estrofe (v. 17) ... 100

2.6.5 Quarta Estrofe (v. 18-19) ... 105

(12)

Considerações finais ... 112

Capítulo III A ESTRUTURA HISTÓRICA E SOCIOLÓGICA DA CRITICA SOCIAL DE JEREMIAS: AS QUESTÕES DA JUSTIÇA E DO DIREITO NO ANTIGO ORIENTE ... 114

Considerações iniciais ... 114

3.1 Questões históricas em relação a Jeremias ... 115

3.1.1 Exploração da terra pelo rei Jeoaquim ... 122

3.1.2 O rei Jeoaquim e a violação da terra ... 124

3.2 O direito e a justiça no Israel Antigo e Monárquico... 126

3.2.1 A justiça distributiva na Torá ... 126

3.2.2 A justiça retributiva em Israel ... 130

3.3 A justiça social no Antigo Testamento ... 136

3.4 O sistema de opressão no reinado de Jeoaquim ... 140

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 144

(13)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo estudar a perícope de Jeremias 22,13-19, dentro do bloco literário de Jeremias 21-24, com especial atenção às críticas de opressão e extorsão contra a população de Judá, entenda-se: seus camponeses e trabalhadores.

Portanto, a temática central desta pesquisa concentra-se na crítica social do profeta Jeremias contra o rei Jeoaquim, no período de 609-598 a.C.

O primeiro passo desta pesquisa (capítulo I), será o de desenvolver e pesquisar literaturas já existentes e pesquisas já concluídas sobre a literatura do profeta Jeremias. Fazendo assim, um pano de fundo dos questionamentos fundamentais do livro de Jeremias na pesquisa bíblica atual, mesmo sendo uma leitura breve.

Pesquisaremos sobre a estrutura do livro de Jeremias e sua apresentação no que se refere à estrutura do texto grego (septuaginta), e do texto hebraico (Massorético). Nesta fase perceberemos que o texto hebraico, obviamente, é escrito em Jerusalém, diferente do texto grego (septuaginta) que é escrito na Grécia.

Daremos ênfase, portanto, nas construções e delineamentos das pesquisas feitas no início do século XX1, sobre a composição do texto hebraico no livro de Jeremias, e suas fontes (A, B, C). Importante saber que deste o início do século XX, houve grandes controvérsias em relação à composição2 da literatura do livro de Jeremias. Comumente

se divide este livro em três blocos literários, mas, no desenvolvimento da pesquisa haverá a apresentação de vários autores que argumentarão essa composição.

Focaremos também na análise complementar das fontes, descrevendo qual se supõe ser a fonte verdadeira3 da qual nasceu à literatura de Jeremias. Compreender e ou entender se realmente o livro é cem por cento do profeta ou a sua maior parte foi ou não

1 DUHM, Bernhard. Das Buch Jeremia. Tübingen: Mohr, 1901.

2 MOWINCKEL, Sigmund. Zur Komposition des Buches Jeremia. Kristiana: Dybwad, 1914.

(14)

escrita por Baruc, ditada por Jeremias? Ou se é a mão deuteronomista que prevalece no texto. E qual seria o texto mais confiável para a pesquisa bíblica, o texto grego (septuaginta) ou o texto hebraico (Massorético).

No desenrolar da pesquisa relataremos estes pormenores, como também, a data e autoria da literatura de Jeremias, outras questões como, se o texto de Jeremias é pré-exílico, exílico ou pós-pré-exílico, algo debatido por vários biblistas. Questões como estas são importantes para podermos descrever com precisão, o contexto da perícope em estudo.

Descreveremos também as relações históricas que estão em torno do profeta Jeremias como a sua cidade de origem

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(‘anatot, Anatote) e se houve ou não

apoio do profeta à monarquia davídica em Judá.

No II Capítulo será elaborada uma exegese do texto hebraico, apontando especialmente para a crítica social de Jeremias contra o rei Jeoaquim, e dentro desta perspectiva esta temática receberá um tratamento exegético com maior profundidade, contando com os recursos do método histórico-crítico4. Todavia, tais recursos serão utilizados em maior ou menor proporção, de acordo com as exigências de cada parte da perícope.

A contribuição da chamada exegese5 sociológica6 fará parte também de nosso

instrumental, mesmo sendo em proporções menores. Os recursos críticos e sociológicos estarão a serviço de uma leitura bíblica a partir da crítica social e dos explorados pelo monarca.

Percorreremos neste capítulo os passos da exegese, começando pela tradução interlinear do texto hebraico. Depois adentraremos nos pormenores da crítica textual, que tem por finalidade restaurar o texto danificado para chegar à lição do próprio autor, ou pelo menos determinar a história de transmissão do texto7.

O aparato crítico8 e a Massora parva nos proporcionará através da interpretação das notas de rodapé da Bíblia hebraica Stuttgartensia9, nos levar à compreensão dos

4 Cf.YOFRE, Simian Horácio. Metodologia do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2011, p. 73-99.

5 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas, 1988. 6 Cf.GOTTWALD, Norman K. As tribos de IAHWEH Uma sociologia da religião de Israel liberto

1250-1050 a.C. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004. 7 Ibid., 2011, p. 39.

8 Cf.FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica Introdução ao Texto Massorético; Guia

introdutório para Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 3º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.

(15)

termos hebraicos que foram inseridos no texto, qual a sua origem e o que muda na perícope.

Depois dessa análise seguiremos na exegese com as características formais, a delimitação, o estilo literário e a estrutura da perícope. É na estrutura da perícope que nascerá a análise de conteúdos, onde utilizaremos e faremos o estudo semântico mais detalhado de toda perícope de Jr 22,13-19.

Na análise semântica10 faremos uma seleção dos termos ou frases mais importantes e polêmicos a serem analisados. Nesta etapa é importante o estudo da concordância e a raiz das palavras hebraicas, ou seja, quantas vezes a palavra hebraica analisada aparece no Antigo Testamento, no livro e na perícope em pesquisa. Isto é, a análise irá buscar entender como o autor emprega esta palavra, e se ela pode ou não ter mais de um significado, e qual destes significados o autor emprega na perícope em estudo. Esta parte é relevante, pois é daí que nasce a novidade de nossa pesquisa.

Por exemplo, a maioria dos biblistas como Schwantes11 e Sicre12 entre outros, dizem que a reforma de Josias foi uma reforma social apoiada pelo profeta Jeremias. Tentaremos ver através da análise semântica de Jr 22,15b, se realmente foi isto que Jeremias estava querendo relatar sobre o rei Josias. É neste particular que daremos ênfase à crítica social do profeta Jeremias

E por fim, no terceiro momento (Capítulo III), analisaremos a estrutura histórica da crítica social de Jeremias, incluindo as questões de justiça e de direito no Antigo Testamento, e o cumprimento destes temas (

qd,c,

) justiça e (

jP'v.mi

) direito pelo rei

Jeoaquim direcionado à população de Judá.

Daremos ênfase às práticas do rei Jeoaquim contra aos moradores da cidade na justiça social no Antigo Testamento, e ao sistema de opressão do rei e de que maneira o rei Jeoaquim violou e explorou o direito dos menos favorecidos na sociedade de Judá.

Portanto, a partir destas informações pesquisaremos no último capítulo algumas reflexões históricas que permearam o reinado de Jeoaquim e a atuação de Jeremias relacionada à sua crítica social nos anos de 609-598 a.C.

10 Cf. EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento Introdução aos métodos linguísticos e

histórico-críticos. 2º ed. São Paulo: Loyola, 2005, p. 71-154.

(16)

Capítulo I

QUESTÕES FUNDAMENTAIS

NO LIVRO DO PROFETA JEREMIAS

Mudando a situação do receptor, a mensagem tende a adquirir novos significados: [...]

“mas basta que a situação do receptor mude para que os códigos se esfoliem,

irrompendo novos sentidos”.

(Humberto Eco).

Considerações iniciais

Ao se observar o livro do profeta Jeremias, é possível verificar que há vários problemas literários e históricos. Muitos biblistas não têm dúvidas da existência de relações entre o livro de Jeremias e os textos deuteronomistas, como: Claus Westermann13, Hans Walter Wolff14, Erich Zenger15, Gerhard Von Rad16, Martin Noth17, Siegfried Hermann18, John Bright19, William Holladay20 e Milton Schwantes21. Eles reconheceram essa relação um pouco após o surgimento do criticismo bíblico22

13 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário al profeta Jeremias. Espanã: Ediciones Fax Zurbano 80 Madrid, pg.83-117, 1972.

14 Cf. WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, pg.117-128, 2005. 15 Cf. ZENGER, Erich. (Org). Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, pg.160-168, 2003. 16 Cf. VON RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento (v.1-2). São Paulo: Aste/Targumim, pg.215-226;326-345;600-642, 2006.

17 Cf. NOTH, Martin. História de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga S.A, pg.237-274, 1990. 18 Cf.HERRMANN, Siegfried. História de Israel; en La época Del antiguo testamento. Salamanca: Ediciones Sigueme, pg.327-380, 1985.

19 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. 6º edição. São Paulo: Paulus, pg.374-408, 2010.

20 Cf. HOLLADAY, William L. Jeremiah 1 A comentary on the Book of Prophet Jeremiah Charpters 1

– 25. Philadelphia: Fortress Press, (vol.1). Hermeneia – A crítical and Historical Commentary on the Bible. pg.581-582, 1986.

21 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e esperança do exílio; história e teologia do povo de Deus no

século VI a.C. São Leopoldo. OIKOS, pg., 43. 2009.

(17)

acadêmico. As semelhanças linguísticas e teológicas entre o livro do profeta Jeremias e a literatura deuteronomista levaram a atribuir a Jeremias a autoria do livro de I e II Reis.

Se existe certo consenso sobre a presença da linguagem deuteronomista em todo o livro de Jeremias, este não se dá em relação ao processo que levou a inclusão deste material no livro.

Para alguns destes especialistas citados anteriormente, como Holladay e Schwantes, o livro de Jeremias não constitui uma unidade, mas blocos literários. Os primeiros a fazerem tal abordagem, são: Bernhard Duhm23, em 1901, e Mowinkel, em 191424.

A maioria dos críticos reconheceu três tipos básicos de materiais no livro de Jeremias, nesta ordem: o material A, que consiste de oráculos poéticos do próprio Jeremias e estes oráculos se encontrariam espalhados por todo o livro de Jeremias, do capítulo 1-25. O material B, que é composto de narrativas bibliográficas escritas no Egito por Baruque (

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) entre o ano 580 e 480 a.C. Em sua maioria esse material se encontraria em, Jr 26-29; 36-44, embora houvesse alguns fragmentos das narrativas de Baruque em outras partes do livro. O material C, que se encontraria por todo o livro de Jeremias, e que seria uma associação de A e B.

Para Wilson,25 o material C pode ser detectado em Jr 3.6-13; 7.1-8.3;

11,1-5,9-14; 18.1-12; 21.1-10; 22.1-5; 25.1-11a; 27; 29.1-23; 32.1-2,6-16,24-44; 34.1-22; 35.1-19; 39.15-18; 44.1-14; 45. Estas citações são básicas para obtermos uma pequena compreensão do material C inserido no livro de Jeremias.

Portanto, conforme Wilson, nossa pesquisa exegética está inserida no material A

“oráculos poéticos”, que consiste não somente em oráculos poéticos no seu todo, mas, também de crítica social, como no caso do “oráculo profético” de Jeremias 22,13-19, contra as práticas violentas do rei Jeoaquim.

No decorrer da pesquisa apresentaremos através das ferramentas da exegese

alguns dos “grupos sociais”, que foram explorados pelo rei Jeoaquim.

novas perspectivas que se baseiam em abordagens literárias e sociológicas na busca do significado dos textos. Cf. EGGER, William, 2005, p. 43-200. In: SILVA, Cássio Murilo D. da Silva, 2009, p. 173-186; 241-256.

23 Cf. DUHM, Bernhard. Das Buch Jeremia (KHC XI), 1901, p.37.

(18)

Na primeira parte da nossa pesquisa analisaremos as seguintes questões referentes ao livro de Jeremias: a) questionamentos do livro; b) como o livro está estruturado; c) fonte, data e autoria; d) os blocos literários e a questão da teologia deuteronomista no livro de Jeremias; e) localização de nossa perícope e sua importância no conjunto da literatura de Jeremias.

1.1 Questionamentos do livro de Jeremias

O livro de Jeremias, aparentemente, possui duas versões: a primeira é a da LXX (Septuaginta), uma versão menor; a segunda é a da Bíblia Hebraica, que é maior que a versão da LXX. A versão de Jeremias da Septuaginta possui 1/7 da versão contida na Bíblia Hebraica (BH), o texto massorético.

O livro de Jeremias, conforme Welch26, pode ser descrito com maior exatidão como uma coleção de materiais referentes ao período do próprio Jeremias, como oráculos do profeta e sua biografia. Assim, como já citado acima, este livro contêm vários problemas na sua compilação. E há várias divergências na construção deste material.

Exemplo disso é a introdução ao livro, em Jr. 1,1-4, onde, conforme Peterlevitz27, o profeta é situado em um período de luta contra os poderes

governamentais. Jeremias foi dado por YHWH como profeta para os povos (Jr 1,5), o que assevera que sua profecia é essencialmente direcionada aos reinos (v.10). Por isso, Peterlevitz acredita que a mensagem de Jeremias está em total desalinhamento em relação às políticas opressoras e imperialistas das nações.

Outro problema encontrado são as faltas cultuais de Judá (Jr 17,1-4) e o lamento (Jr 17,14-18) que, conforme a pesquisa feita pelo escritor Terra,28 foi produzida no contexto do reinado de Jeoaquim.

Subtende-se ainda que o livro contenha pequenas coleções que são independentes, como Jr. 30-31; 46-51, as quais têm sua própria história e seu próprio

26 Cf. WELCH, Adam C. Comentário Bíblico de Abingdon (Tomo I). 2º ed. Buenos Aires: Editorial “La

Aurora”, p. 700, 1997.

27 Cf. PETERLEVITZ, Luciano R. Eu te estabeleço neste dia contra as nações” (Jr 1,10) – Um ensaio

exegético em Jr 1,4-10. Revista Theos. Campinas. 8º Edição, V.7 - Nº02 – Julho de 2012. pg. 1-18. Disponível em: >

http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Jr%201_Eu%20te%20estabele%C3%A7o%20neste%20dia%20c ontra%20as%20na%C3%A7%C3%B5es_Corrigido.pdf. < Acesso em: 20 de Agosto. 2013.

28 Cf. TERRA, Kenner. “Cura para mim e dia de desgraça para eles!” Jeremias 17, 14-18. Revista Theos. Campinas. 7º Edição, V.6 –Nº02 – Dezembro de 2011, pg.1-12. Disponível em:

(19)

estilo narrativo. Alguns textos podem ter sido construídos ou consistem exclusivamente em oráculos. E em torno do livro também aparece uma série de dados que apresentam uma espécie de biografia desordenada do profeta.

Segundo Welch29, alguns problemas vinculados à vocação de Jeremias se apresentam a fim de demonstrar oráculos que são pronunciados em determinadas circunstâncias e condições especiais em torno do livro. Como por exemplo, o relato do rolo que foi queimado (Jr 36).

O material biográfico que relata a vida de Jeremias, algumas vezes aparece na terceira pessoa e outras na primeira pessoa.

Nenhuma das explicações dadas por Welch é plenamente satisfatória. Ele levanta a hipótese de que Baruque tenha sido o primeiro e o último dos compiladores, algo que simplesmente não justifica.

As hipóteses levantadas por Welch em relação ao livro de Jeremias nos demonstram duas coisas. Em primeiro lugar, os oráculos que são atribuídos a Jeremias e aparecem em outros livros como: Isaías e Obadias. E, em segundo lugar, este material encontra-se também junto de ditos posteriores (v.45-47), entretanto, nota-se também que os oráculos originais eram breves. Existem oráculos que aparecem em outros capítulos do livro, sendo assim, conseguimos notar em alguns momentos o aparecimento da semelhança de sermões narrados por Jeremias. Welch30 conclui com estas considerações:

Qualquer pessoa que quiser pesquisar pela primeira vez o livro de Jeremias, se sentirá desgostoso pelas relevantes dificuldades. Porém, pode ser proveitoso ao estudar o livro, se houver esforço ao tratar de se conectar com os versículos que não têm relação com o redator. Todavia, todo o material que passou pelas mãos dos homens foi tratados e interpretados para as necessidades de sua época. Porém, eles haviam passado por uma grande experiência de sua patria, e em obediência ao princípio de sua centralização a YHWH. Haviam também voltado a Jerusalém com o propósito de manter o culto no Templo. O resultado foi que muitos reverentemente conservaram os oraculos do profeta.

A pequena suavização e glossário estão contidos expressões fortes. Em um breve comentário é impossível apresentar todas as evidências a fim de desencadear o seu glossário no seu todo. De maneira que os

29 Cf. WELCH, Adam C. Comentário Bíblico de Abingdon (Tomo I). 2º ed. Buenos Aires: Editorial “La

Aurora”, p. 701, 1997.

(20)

leitores que considerem estas decisões como arbitrarias, e se recordará que é impossível apresentar todas as evidências e narrativas contidas no livro de Jeremias.

Para House31 o livro de Jeremias é desafiador para qualquer padrão que fosse adotado, seja ele em ordem cronológica ou sistemática. A profecia consolidada em Jeremias é longa e não aparece em ordem cronológica, contém textos em prosa e poesia, e cobre um período de aproximadamente quarenta anos ao incluir o material biográfico. No entanto, o que se sabe é que este material vem de seu único discípulo (Baruque).

O autor também apresenta que a versão da LXX e a versão da Bíblia Hebraica são diferentes, e relata que o caso mais notável no texto grego é o fato de que Jeremias 46-51 aparece logo depois de Jr 25,13. Mediante as suas declarações torna-se difícil determinar uma base histórica específica, e assim, interpretar historicamente as profecias contidas em Jeremias.

Não obstante desses desafios, biblistas como: Wilson32 e Sicre33 concordam

acerca da teologia deuteronomista contida em Jeremias. Talvez, sem exceção, chegue à conclusão de que Jeremias prega a adesão à aliança mosaica de forma bem parecida com a mesma encontrada no Deuteronômio (cap.5) e nos profetas clássicos Amós e Oséias (século VIII).

House, citando Nicholson,34 argumenta que o livro de Jeremias foi escrito por

“deuteronomistas”, que pregaram a exilados, ao passo que outros atribuem a ideia a influências anteriores, mas a conclusão da presença da mão deuteronomista se mantém. Em particular, a maioria dos estudiosos concentra-se no momento em que Jeremias chama o povo ao arrependimento, do contrário enfrentaria o castigo. Por isso, o fato da resistência da nação em não obedecer a YHWH, atribuiu-se a ela a culpa da queda de Jerusalém.

Para Lacy35, o livro de Jeremias é um dos livros proféticos que apresenta maior complexidade. Por vários motivos, entre eles, a diversidade de gêneros que nele se

31 Cf. HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, p. 380, 2005.

32 Cf. WILSON, Robert R. Profecia e Sociedade no Antigo Israel. 2º ed. São Paulo: Targumim/Paulus, 2006, p.274-280.

33 Cf. SICRE, José Luiz Diaz. Com os pobres da terra - A justiça social nos profetas de Israel. Santo André: Academia Cristã/Paulus, 2011, p. 435-436.

34 Cf. NICHOLSON, Ernest W. Preaching to the exiles: a study of the prose tradition in the book of

Jeremiah. Oxford: Basil Blackell, 1970.

35 Cf. LACY, José Maria Abrego de. Los libros proféticos; Introduccion Al Estudio de La Bíblia

(21)

encontra, como oráculos contra Judá, narrações de Jeremias, narrações sobre Jeremias,

“confissões”, carta, oráculos contra as nações, ações simbólicas e narrações históricas.

Segundo Lacy, podemos notar também muita complexidade quando tratamos do conteúdo. O autor descreve que por muitos anos há uma tentativa de reconstruir o “rolo primitivo”, que infelizmente, segundo a narrativa de Jeremias 36, foi queimado. Esse rolo queimado poderia nos trazer maior autenticidade dos oráculos de Jeremias.

Lacy também mostra que o texto grego (LXX) é um oitavo menor do que o texto hebraico. Segundo ela, no texto grego contêm 2.700 palavras a menos que o texto hebraico. Enfatiza também, que o texto massorético (TM) apresenta inúmeras repetições.

Lacy levanta a hipótese de que provavelmente existiu mais do que um texto do livro de Jeremias e descreve36:

O texto 4QJerb (Jr 9,22;10-18) está de acordo com o texto da LXX, enquanto que 4QJera, 4QJerc, 4QJr são mais próximos ao TM. E, o que é mais sério, em ambas as recensões se conserva uma ordem textual diversa. O problema da ordem começa a partir de Jr 25 e fundamentalmente consiste na transposição dos oráculos das nações para diversos lugares. Para visualizar a diferença, E.Vogt37 propõe um nome e uma letra a cada bloco textual, o que resulta o quadro seguinte:

TM LXX

25,15-38 (a) Taça das nações 32,15-38 46,1-51,58 (b) Oráculos contras as nações 25,15-32,14

26-45 (c) Narrações de Jeremias 33,1-51,30 51,59-64 (d) Narrações de Jeremias 51,33-35

Portanto, a ordem no texto massorético (TM) é diferente da ordem na septuaginta (LXX). Este problema por sua vez nos conduz à dificuldade mais importante do livro de Jeremias que é a sua formação e a sua origem, contudo o ponto de partida para Lacy é sem duvida Jeremias 36.

36 Cf. LACY, José Maria Abrego de. Los libros proféticos; Introduccion Al Estudio de La Bíblia. Navarra: Editorial Verbo Divino, p.153.

(22)

Existem muitos argumentos sobre o livro de Jeremias e alguns biblistas analisaram o texto de Jeremias sem lhe dar toda a atenção que realmente merece. De acordo com Amsler38, o livro de Jeremias apresenta várias complicações textuais de autoria e de redação que são totalmente complexas ao entendimento claro e objetivo. Para ele, a questão do texto de Jeremias somente foi retomada depois que os achados nas grutas de Qumrã revelaram dois estados do texto correspondentes ao grego e ao hebraico, como citado anteriormente.

Amsler argumenta que os textos achados nas cavernas de Qumran39 refletem o texto recebido. O texto 4QJer foi datado em 200 a.C, aproximadamente. O texto 2QJer e 4QJerc, possivelmente seria do século I d.C. O texto 4QJer foi datado do período da época Asmonéia40, e pertence à edição breve, porém, mais antiga do texto. Ou seja, os textos são fragmentários.

Para os autores Welch, Peterlevitz, Terra, House, Lacy e Amsler, o texto de Jeremias é composto tanto pela Septuaginta (LXX) como pelo texto Massorético (TM). Obviamente que o texto massorético é maior que o texto grego e pela verificação destes autores o texto hebraico é o mais confiável.

A versão grega do livro de Jeremias (LXX) se distância muito do Texto Massorético (TM), isto acontece porque a tradução da maioria de seus livros foi feita em datas anteriores à finalização do Cânon Judaico41, quando ainda era oscilante. Na realidade, os dois cânones estavam em desenvolvimento, e no momento em que o cânone dos judeus se definiu, as revisões cessaram e o texto de cada livro permaneceu intacto até os dias atuais.

Contudo, o Cânon de Alexandria continuou sendo revisado até o recenseamento de Luciano, em 300 d.C. Assim, os códices disponíveis da Septuaginta (LXX) foram

38 Cf. AMSLER, S.; ASURMENDI, J.; AUNEAU, J.; ACHARD-Martin, R. Os profetas e os livros

proféticos. São Paulo: Paulinas, p. 214, 1992.

39 Cf. AMSLER, S.; ASURMENDI, J.; AUNEAU, J.; ACHARD-Martin, 1992, p. 215.

40Cf. Os asmoneus. Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/reino-asmoneu/ Acesso em: 23/08 de Agosto. 2013. A dinastia dos asmoneus foi fundada sob a liderança de Simão Macabeu, duas décadas depois de seu irmão, Judas Macabeu derrotar o exército selêucida durante a Revolta Macabeia, em 165 a.C. O reino Asmoneu sobreviveu por 103 anos antes de se render à dinastia herodiana, em 37 a.C. Ainda assim, Herodes, o Grande sentiu-se obrigado a se casar com uma princesa da casa dos asmoneus, Mariane, para legitimar seu reinado, e participou de uma conspiração para assassinar o último membro homem da família dos asmoneus, que foi afogado em seu palácio, na cidade de Jericó.

41 Cf. SOARES, Esequias. Septuaginta Guia Histórico e Literário. São Paulo: HAGNOS, 2009, p. 25.

(23)

submetidos a uma série de revisões e não representam exatamente o mesmo texto, que de acordo com a tradição, surgiu em Alexandria a partir do século III a.C. Thacheray42

descreve que “Nós temos na Septuaginta uma miscelânea de escritos gregos, algumas traduções e paráfrases, outras das quais o grego é a língua original, cobrindo um período

de mais de três séculos”.

Com estes dois textos, a Septuaginta (LXX) e o Texto Massorético (TM), foi feita uma comparação entre os conteúdos, sem, no entanto, conhecer o estado das primeiras traduções do texto. O que temos hoje é o que foi de fato traduzido até o século I d.C. E isto não é suficiente para responder a todas as perguntas que aparecem para estes textos, seja LXX ou TM.

Os fragmentos gregos do período cristão são apenas nove, isto de acordo com Soares43. No deserto da Judéia foram encontrados sete fragmentos, sendo seis nas cavernas de Qumran, um na gruta de Nahal Hever com o rolo dos doze profetas, e dois papiros que foram encontrados no Egito.

Para este hebraísta, entre os achados do Mar Morto foram encontrados seis cópias do livro de Jeremias, sendo um rolo na “caverna 1” e cinco rolos na “caverna 4”,

todos incompletos. O achado da caverna 4 (4QJerb) confirma a existência do texto curto,

e conforme o autor, isto comprova outro substrato no qual se baseou o tradutor, pois na mesma época havia uma edição longa e uma edição curta.

Além disso, significa que na época o texto hebraico utilizado pelos Setenta44 era anterior à data da finalização definitiva do cânon judaico45. O modelo hebraico usado pelos tradutores da LXX estava ainda em desenvolvimento.

Estas descobertas trouxeram à tona um grande número de variantes hebraicas e certos fragmentos confirmam a forma do grego e a do Texto Massorético (hebraico). Harl46 conclui: “Definitivamente, as descobertas de Qumram resolveram um enigma: sabe-se agora que o grego, quando se afasta do TM, não inventa. Não obstante, não

42 Cf. THACHERAY, H. St. J. A Grammar of the Old Testament in Greek. Andernach, Germany: Georg Olms Verlag, p. 9, 2003.

43 Cf. SOARES, Ezequias. Septuaginta: Guia Histórico e Literário. São Paulo: Hagnos, p. 64, 2009. 44 A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e, segundo a história, teriam completado a tradução em setenta e dois dias. Ibid., 2009, p.47-50.

45 Cf. SOARES, Ezequias, 2009, p.66.

46 Cf. HARL, Marguerite; DORIVAL, Gilles; MUNNICH, Olivier. A Bíblia Grega dos Setenta: Do

(24)

revelam o tipo textual exato sobre o qual se apoia a tradução grega. Com Qumran, a

questão do substrato hebraico da LXX não desaparece: ressurge”.

Enfim, temos no livro de Jeremias várias complicações como já relatado, mas, o que devemos atribuir ao Jeremias histórico? E o que é realmente jeremiânico no livro de Jeremias? Isto, para o nosso tempo ainda é muito complicado para saber com exatidão. Os autores e pesquisadores até o presente momento não relatam tais assuntos com exatidão, somente levantam hipóteses.

Conforme Schwantes47, tanto o profeta quanto os seus discípulos eram pertencentes ao âmbito palestinence, e ninguém em sã consciência vai deixar de

localizar a “origem” do livro de Jeremias em outro lugar que não seja em Judá.

Para Brueggemann48, é impossível ler o livro (texto) de Jeremias com coerência. Embora seja possível analisá-lo em diferentes subdivisões e perceber o seu significado, não é fácil descrever como os blocos literários estão reunidos em torno de todo o livro e como se encaixam. Isto é apenas a primeira de várias críticas que encontramos ao longo de todo o texto (livro) de Jeremias.

Brueggmann49, afirma também que o livro está relacionado com um turbilhão de

várias vozes interpretativas, cada uma das quais oferece uma leitura histórica e teológica, obviamente antes da destruição de Jerusalém ou pelo menos à beira da restauração dela.

Barrera50, por sua vez, põe ênfase na complexidade do livro ao afirmar:

O texto do livro de Jeremias é de difícil compreensão tanto o manuscrito hebraico (TM) quanto o da Septuaginta (LXX) o manuscrito grego. Os casos em que a versão grega oferece um texto mais amplo que o massorético é bem limitado. A maior originalidade do texto refletido pela LXX aparece na ausência de leitura dupla, frequentes, pelo contrário, no TM (1,15; 7,24; 10,25; 14,3b; 25,6-7; 29,23; 41,10 etc). As leituras duplas do TM correspondem, em geral, a casos de harmonizações. São frequentes também os casos de Qerê e Ketîb. Tudo isto realça a longa história de transmissão textual subjacente ao texto massorético deste livro. Embora com não poucos casos de corrupção textual, o TM de Jeremias não resulta tão

47 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio; História e teologia do povo de Deus no

século VIII a.C. 3º ed. São Leopoldo: OIKOS, p. 42, 2009.

48 Cf. BRUEGGMANN, Walter. The Theology Of The Book o Jeremiah. 1º Ed. New York: Cambridge University Press, p. 2-3, 2007.

49 Cf. BRUEGGMANN, Walter, 2007, p. 6.

(25)

insatisfatório como podem ser os livros de Samuel, Oséias ou Ezequiel.

As poucas leituras duplas presentes no texto grego não encontram explicação fácil. Algumas podem ter surgido porque as recensões foram feitas sobre a base do TM. O “original” hebraico da versão grega, ao contrário, não parece ter sofrido apenas algumas atividades recensional.

O códice Wirceburgensis da VL omite os v. 1-2 de Jr 39 (TM) e o texto grego de Orígenes os assinala com asteriscos. Esta coincidência comprova que estes versículos não figuravam, no início, no texto da LXX, como tampouco os v. 4-13. Este é mais um caso em que se realça a importância da VL (Vulgata).

Entre todos os pesquisadores que relatam a composição, a origem, e as dificuldades encontradas no texto (livro) de Jeremias, somente Schwantes51 declara a sua origem com precisão.

Segundo o autor, nós não temos o texto de Jeremias, porque não há como saber se realmente este texto que temos em mãos era de Jeremias. Primeiramente porque o texto foi copiado em hebraico na cidade de Jerusalém e nesta localidade existia uma escola de copistas, em que eles escreviam o texto de forma diferenciada da época.

Ele também defende que há duas transmissões do texto (livro) de Jeremias, sendo uma em hebraico e outra em grego. Na época de Jesus, metade dos judeus vivia no Egito. Somente em Alexandria vivia uma população de mais ou menos um milhão de judeus.

A população que vivia em Alexandria estava localizada no Delta do Nilo. Entretanto, nesse período eles não falavam a língua hebraica, mas o grego (koiné/comum). Por este motivo nós temos duas versões do livro de Jeremias, uma em hebraico que foi compilada na terra da Palestina e outra em grego no Egito.

Segundo Schwantes52, no mundo católico, na Bíblia de Jerusalém até a edição do ano 2000, estava o livro de Jeremias do texto de Alexandria (um sétimo menor 1/7 do texto em hebraico). Referente a isso, Schwantes53 faz um questionamento: qual é o texto

que realmente é de Jeremias? Este texto está escrito em hebraico ou o em grego? Se um é maior e o outro é menor, qual texto realmente deve ser publicado na Bíblia?

51 Cf. SCHWANTES, Milton. O Profeta Jeremias. Santo André: Instituto MONSENHOR Antunes. 2011. DVD. 180 min.

52 Cf. SCHWANTES, Milton. O Profeta Jeremias. Santo André: Instituto Monsenhor Antunes. 2011. DVD. 180 min.

(26)

No livro de Jeremias um texto que não há variação ou diferença é o capítulo um, tanto no hebraico quanto no grego eles são iguais. Mas, depois deste primeiro capítulo existem variações contínuas (ver tabela abaixo). Para Schwantes 80% da literatura de Jeremias não é de Jeremias, é possível que fosse escrita ou inserida por seu discípulo chamado Baruque.

Conforme Schwantes, no final dos anos noventa se estabeleceu um consenso entre os biblistas na América Latina, de que seria melhor utilizar o texto hebraico. De maneira que, seguindo este consenso, também nós iremos nos ater ao texto hebraico. Evidentemente que faremos uso do texto grego, mas com o objetivo apenas de estudar e entender o texto hebraico, que será nossa base.

1.2 A estrutura do livro de Jeremias

Anteriormente foram mostrados alguns problemas referentes ao livro de Jeremias, também as opiniões e divergências entre biblistas. Portanto, foi possível perceber a complexidade que é a composição literária do livro.

A partir de agora, será apresentado sucintamente como o livro de Jeremias está estruturado e como estão formadas as divisões dos blocos literários inseridos no livro.

1.2.1 A estrutura do texto hebraico e do texto grego

54

O livro de Jeremias, depois do saltério, é um livro com grandes proporções no Antigo Testamento. A sua forma representativa comunicacional do texto, existe em dois formatos significativamente diferentes entre os profetas posteriores, portanto, situa-se como o terceiro no cânon grego, e como segundo no cânon hebraico. Segue as suas diferenças na composição dos capítulos:

Sinopse das duas tradições textuais

Hebraico Grego povos em H Serie de Grego Hebraico povos em G Serie de 1-24 25, 1-13 25,14-38 26 27 1-24 25,1-13 32,15-38 33 34

Vinho da ira para as nações

1-24 25,1-13 25,14-20 26,2-25 26,27-28 1-24 25,1-13 49,34-39 46,1-26 46,27-28 Elam Egito Promessa De salvação

(27)

28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46, 1-26 46, 27-28 47 48 49,14 49,7-22 49,23-27 49,28-33 49,34-39 50-51 52 52 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51,1-30 51,31-35 26,2-25 26,27-28 29 31 30,17-21/22 30,1-16 30,29-33 30,23-28 25,14-20 27-28 52 52 Egito Promessa De salvação Filisteus Moab Amom Edom Damasco Qedar/Hasor Elam Babilônia 27-28 29 30,1-16 30,17-21/22 30,23-28 30,29-33 31 32,15-38 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51,1-30 51,31-35 52 50-51 47 49,7-22 49,1-6 49,28-33 49,23-27 48 25,14-38 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 52 Babilônia Filisteus Edom Amom Qedar/Hasor Damasco Moab Vinho da ira Para as nações

A tabela seguinte relaciona os principais excedentes que o hebraico (H) apresenta em comparação com o grego55 (G) na tabela a seguir:

2,1s* 7,1s* 8,10-12* 10,6-10* 11,7-8* 17,1-4* 27,1 27,7 27,13s* 27,18-21s*

Fórmula56 de recepção da palavra e ordem de ir a público;

Fórmula de recepção da palavra, ordem de ir a público e localização no tempo;

Recepção da polêmica contra sacerdotes e profetas após 6,13-15; Polêmica ampliada contra ídolos e predicados para Javé;

Queixa por propostas frustradas feitas aos pais; Acusação de idolatria e ameaça de deportação; Data (equivocada) no tempo de Joaquim;

Antecipação de que o tempo de juízo se limita a três gerações; Advertência diante dos falsos profetas;

Relação ampliada dos deportados; ameaça do confisco de outros

(28)

29,15-19* 30,10s 30,22 31,37 33,14-26 39,4-13 46,26 48,45-47* 49,6 51,45-48 52,2s 52,15 52,28-30

utensílios do templo;

Ameaça de deportação e justificação para população restante em Judá conforme o cap. 24;

Asseveração de retorno e auxílio para Jacob/Israel;

Promessa de que futuramente Deus e o povo pertencerão um ao outro; Outra confirmação da inclinação indestrutível de Javé para o seu povo; Outras promessas para Jerusalém, Judá, a casa de David e a casa de Levi;

Colagem de partes de 52,4-16 e II Rs.25,1-12;

Repetido anúncio da entrega do Egito a Nabucodonosor; promessa de uma virada;

Ampliação do lamento sobre Moab em consonância com Nm. 21,28s e anúncio de uma virada para a salvação;

Promessa análoga de mudança para a salvação de Amon;

Convocação para sair da Babilônia, anúncio do castigo para os ídolos, júbilo no céu e na terra;

Complemento na avaliação de Sedecias nos termos de II Reis 24,19s; Complemento das ações devastadoras de Nebuzaradan com a deportação (conforme II Reis 25,11);

Notas de resumo sobre os números das três deportações.

1.2.2 Construções e delineamentos no texto hebraico

57

O texto hebraico nos apresenta na primeira análise do livro de Jeremias uma estrutura clara e objetiva. Isto se torna evidente por causa da sequência de poesia (oráculos e discursos) e prosa (narrativas).

A principal hipótese do método histórico critico58 sobre a formação do livro de Jeremias, pode ser dividida em duas grandes correntes, as correntes que aceitam a crítica literária59 e as correntes da crítica da redação60, ou seja, que trabalham com a hipótese de diversas fontes unidas e relidas por redatores, e as que se desenvolvem modelos que dispensam este passo metodológico.

Os pioneiros fundamentais nas pesquisas de Jeremias61 foi o biblista Bernhard Duhm62 e Sigmund Mowinkel63 que mostraram a existência de diversas matérias reunidas nos capítulos 1-45 do livro de Jeremias (Material A, B e C). Todavia, Mowinckel chama estes matérias de “fontes” e o diferencia da seguinte maneira.

57 Cf. ZENGER, Erich; MEYER, I (Org). 2003, p. 402.

58 Cf. YOFRE, Simian Horácio. Metodologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2011, p.73. 59 Cf. SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p. 57. 60 Ibid., 2004., p. 131.

61

Conservamos o texto original da pesquisa de Monika Ottermann sobre o livro de Jeremias, p. 21-25. 62 Cf. DUHM, Bernhard. Das Buch Jeremia. Tübingen: Mohr, 1901, p. 391.

(29)

1. 1-25

2. 26-45 3. 46-51

4. 52

Oráculos e discursos contra Israel e Judá, do próprio Jeremias (em poesia);

Narrativas sobre Jeremias, em prosa.

Oráculos contra as nações estrangeiras (oráculos sobre as nações); que são discursos deuteronomistas, em prosa, espalhados pelo livro todo. Narrativa (apêndice histórico = II Reis 24,18; 25,30.

Por isso este modelo foi amplamente aceito na pesquisa realizada ao longo do século XX, e aperfeiçoado principalmente nos grandes comentários e demais obras de Rudolph64 e Hyatt65, nas décadas de 40 e 50. Porém, Weiser66 publicou nos anos 50, outro comentário importante, que concorda basicamente com este modelo.

Desta forma, comentários dos anos 60, entre os quais se destacam o de Bright67 e a obra conjunta de Schökel68 e Diaz, mostram relutantes no seu posicionamento a respeito da teoria das fontes, que na atualidade muitos biblistas ainda estão estudando.

Houve, desde então, um avanço significativo à pesquisa da questão da crítica das fontes69 para a crítica da história da redação70, analisando também o processo da integração dos diversos materiais no livro.

Porém, destaca-se a obra de Thiel71 que mostrou para o corpo narrativo de Jeremias 1-45 teve uma intenção deuteronomista e não se limitou a fornecer os materiais da chamada fonte C72, por outro lado, é também responsável pela própria redação principal dos capítulos 1-45. Nesta perspectiva, Thiel criou a sigla D, para identificar as intenções deuteronomistas, substituindo e ampliando assim a sigla C de Mowinckel.

Obviamente, para os exegetas que trabalham com a crítica da história da redação o material de Thiel tornou-se a base geral de seus estudos, e suas pesquisas modificaram

64 Cf. RUDOLPH, Wilhelm. Jeremia. Tübingen: 3º ed. 1968, p. 325.

65 Cf. HYATT, James Philip. The Book of Jeremiah. Nashville: Abingdon, 1956, p. 234.

66 Cf. WEISER, Artur. Das Buch Jeremia: Kapitel 1,1-25,14. Göttinger: Vandenhoeck und Ruprecht, 5º ed. 1966, p. 219-220.

67 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. 9º ed. São Paulo: Paulus, p. 373-408.

68 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 411-637.

69 Ibid., 2004., p. 57-84. 70 Ibid., 2004., p.131-144.

71 Cf. THIEL, Winfried. Die deuteronomístische Redaktion 1-25. Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1973, p. 314-315.

(30)

os resultados de Thiel apenas em detalhes. Neste contexto aconteceu um progresso importante na avaliação do chamado material B, ou seja, das narrativas sobre Jeremias em geral, caracterizado como “biografia” de Jeremias, e geralmente atribuído a Baruc

(

%WrB'

).

Outro biblista importante para nossa análise é Wanke73 que aproveitou obras em

parte inéditas de Kremers74, e mostrou que este material provém de pelo menos dois círculos diferentes de autores ou redatores, que são responsáveis pelo material B contido, por um lado, nos capítulo 27; 29; 32 e 34-36, e, por outro lado, no ciclo dos capítulos 37-45 de Jeremias.

Nota-se que nas décadas de 60 e 80 surgiram os grandes comentários de Nicholson75 (que rejeita qualquer interpretação baseada na crítica da história da redação e procura a solução na base da história da tradição), outros biblistas como Thompson76, Holladay77, Mckane78 e Carroll79 são adeptos da hipótese das fontes.

Contudo, os quatro últimos aceitam, em geral, a hipótese das três fontes (A, B, C) e enfocam a pergunta pela localização histórica dos textos, mas, variam-se muito nas identificações concretas desta localização nas hipóteses a respeito do processo redacional. Todavia, nos anos 90 foram publicados os dois últimos grandes comentários completos e um comentário parcial do livro de Jeremias. O comentário do livro teve seu lançamento em 1991, dos caps. 1-2580, e a outra parte, em 1995, dos capítulos 26-5281.

Sendo baseados em grande parte nas pesquisas de Carroll, e traz pouca novidade em

73 Cf. WANKE, Grunther. Untersuchungen zur sogenannten Baruchschrift. Berlim: Gruyter, 1971, p. 155.

74 Cf. KREMERS, Heinz. Der leidende Prophet: Das Prophetenbild der Prosaüberlieferung dês

Jeremiasbuches und seine Bedeutung innerhalb der Prophetie Israels. (Dissertation). Göttingen: 1952, p. 151-152.

75 Cf. NICHOLSON, Ernest W. The Book of the prophet Jeremiah: Chapters 1-25. Cambridge University Press, 1973, p. 220-221.

76 Cf. THOMPSON, John Arthur. The Book of Jeremiah. Grand Rapids: Eardmans, 1980, p. 819-820. 77 Cf. HOLLADAY, Wlliam Lee. Jeremiah 1: A commentary on the Book of the prophet Jeremiah:

Chapters 1-25. Philadelphia: Fortress, 1986, p. 682. In: Jeremiah 2: commentary on the Book of the prophet Jeremiah: Chapters 26-52. Minneapolis: Fortress, 1989, p.543.

78 Cf. MICKANE, William. A crítica and exegetical commentary on Jeremiah, Volume I: Introdction and

commentary on Jeremiah 1-25. Edimburg: Clark, 1986.

79 Cf. CARROLL, Robert P. Jeremiah: a commentary. Philadelphia: Westminster, 1986.

80 Cf. CRAIGIE, Peter C; KELLEY, Page H; DRINKARD JR. Jeremiah 1-25. Dallas: Word Books, 1991.

(31)

comparação a esta obra de 1986. Porém, em 1995, Wanke82 publicou o primeiro volume

de seu comentário (o segundo ainda não foi terminado).

As considerações gerais de Wanke apresentada neste comentário são basicamente as da sua pesquisa a respeito do escrito de Baruc. E, em 1988 foi publicado o comentário completo de Brueggemann83 cuja exegese dos capítulos 26-52 baseia-se no seu comentário parcial publicado em 199184. O seu mais novo comentário sobre a teologia do livro de Jeremias, foi lançado em 200785.

Portanto, o biblista trabalha em geral com a hipótese da crítica da redação apresentada acima e traz alguns aspectos e sensibilidades novas, especialmente em relação à leitura sócio-histórica da Bíblia.

Nesta perspectiva, ainda não surgiram grandes comentários de Jeremias na America Latina, e em especial estão as obras e os ensinamentos de Schwantes86, Mesters87 e Nakanose88, e são de grande importância para construção desta pesquisa, mas, principalmente os comentários do livro de Jeremias de Westermann89, Schökel90, Rendtorff91, Fohrer92, Gottwald93 e entre outros.

1.3 Análise complementar das fontes, datas e autoria do

livro de Jeremias.

A voz do poeta (profeta) não precisa apenas ser um registro do homem, pode ser também um dos seus amparos,

o pilar que o ajuda a residir e prevaler”

(William Faulkner94)

82 Cf. WANKE, Gunther. Jeremiah 1,1-25,14. Zurique: Theologischer Verlag, 1995. 83 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. The Babylonian Exile.

84 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. To build, to plant: a commentary on Jeremiah 26-52. Grand Rapids: Eerdmans, 1991.

85 Cf. BRUEGGEMANN, Walter. The Theology of the Book of Jeremiah Old Testament Theology. Cambridge: University Press, 2007.

86 Cf. SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio História e Teologia do povo de Deus

no século VI a.C. 3º ed. São Leopoldo: OIKOS, 2009, p. 41-47.

87 Cf. MESTERS, Carlos. O profeta Jeremias: boca de Deus, boca do povo. São Paulo: Paulinas, 1992. 88 Cf. NAKANOSE, Shigeyuki. Antigo Testamento (História). São Paulo: Verbo Divino, 2009.

89 Cf. WESTERMANN, Claus. Comentário al profeta Jeremias. Espanã: Ediciones Fax Zurbano 80 Madrid, pg.83-117, 1972.

90 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias. São Paulo: Paulinas, 1988.

91 Cf. RENDTORFF, Rolf. Antigo Testamento Uma introdução. Santo Andre: Academia Cristã, 2009, p. 288-298.

92 Cf. FOHRER, G; SELLIN, E. Introdução ao Antigo Testamento. Santo André: Academia Cristã/Paulus, 2012, p. 548-567.

93 Cf. GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas, 1988. 94 Cf. GUEDES, Marson. O caminho de Jeremias O que o profeta nos ensina sobre esperança em meio

(32)

Até o presente momento descrevemos alguns comentários de vários teóricos que pesquisam e pesquisaram sobre a temática do livro de Jeremias. Seja em relação ao texto de Jeremias, sua estrutura, relatos do texto hebraico, o texto grego e os blocos literários inseridos no livro de Jeremias.

Nesta etapa tentaremos prescrever sobre os dados do profeta, as fontes, possíveis datas da composição do livro de Jeremias e sua autoria. Propomos então, relatar tais comentários e questionamentos em torno destes temas.

1.3.1 O profeta Jeremias

Halley95 afirma que Jeremias viveu cerca de cem anos depois do Proto-Isaías (1-39) e que teria vivido num período de muitas turbulências internacionais entre algumas nações, como: Assíria, Egito e Babilônia. Foi chamado para a atuação profética por Javé aproximadamente 626/7 a.C. E vinte anos após, em 605 a.C, Jerusalém foi parcialmente destruída pelas tropas babilônicas. A destruição de fato, entretanto, aconteceu primeiro com o cerco de deportação em 597 a.C, e, segundo, com o incêndio e segunda deportação em 586 a.C.

O profeta Jeremias nasceu96 por volta do ano 650 a.C., natural de uma aldeia

chamada Anatot97, cidade localizada à sete quilômetros de Jerusalém; esta aldeia pertencia à tribo de Benjamim.

colegar de profissão de “terem esquecido os problemas do coração humano em conflito consigo próprio, o

único tema que pode resultar em boa literatura, porque só acerca dele vale a pena escrever e sofrer a

agonia e o cansaço”. Pede-lhe que não deixem espaço em seus trabalhos “para nada que não seja as velhas

verdades do coração, as velhas verdades universais sem as quais qualquer história é efêmera e

condenada” – amor e honra, piedade e orgulho, compaixão e sacrifício? (Antonio Damásio, O erro de

Descartes, p.285).

95 Cf. HALLEY, Henry Hampton. Halley’s Bible handbook with the New International Version. Michigan: Ed. Zondervan Publishing House, 2000, p. 316.

96 Cf. SMITH, Gary V; SCHULTZ, J. Samuel. Panorama do Antigo Testamento. 2º ed. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 236.

97 Cf. ROS, Termes Pablo. Enciclopedia de La Bíblia (Primer Volumen). Barcelona: Editorial Éxito, 1980, p. 483-485. (Anatot) – Em Josué se encontra a Anatot entre as cidades levíticas. Há outras citações

em Samuel e Crônicas. Anatot foi habitada por benjaminitas segundo Esdras e Nehemias após o exílio

babilônico. O lugar contem elementos teofânicos ao nome da deusa “Anãt” e significa lugar de Anãt. Ao

norte de Anatot estava Micmás e a sudeste estava Jerusalém (Is 10,28-32). Foi identificada com a

moderna ‘Anata’, embora a cidade antiga pareça ter estado a cerca de 800 metros a sudeste, no pico de

(33)

Schökel98 e Mosconi99 levantam a questão de que este dado tem sua importância

porque Benjamim100 era unido politicamente a Judá. E manteve um grande vínculo com

as tribos do norte. Esta ligação trazia segurança e aproximação ao povo.

Salgado101 nos descreve que o território da tribo de Benjamim foi repartido por meio do

lr'AG

(goral, sorte) 102. E tal processo se deu provavelmente por meio de pedras

lançadas ao ar. É possível que o sorteio fosse apenas uma extensão ideal a todo o povo do que realmente havia sucedido no plano do clã e da família. A verdadeira propriedade era comunitária e nela cada indivíduo se comportava como possessivo na qualidade de membro da comunidade.

Para Donner103 a tribo de Benjamim se estabeleceu entre Efraim, ao Norte, e Judá, ao Sul. No território ao Oeste seu vizinho era a tribo de Dã (Js 18,11). Provavelmente Benjamim teria pertencido à tribo de Efraim. Uma vez que o nome

Benjamim “filho da direita”, ou do Sul, poderia ter acontecido por uma atribuição feita

pelos membros da “casa de José”, que eram vizinhos do Norte.

Por esse motivo, compreendemos o fato e o porquê de Jeremias dar tanta importância às tradições dessa localidade. Com efeito, ele nos fala de Raquel, de Efraim (Jr 31,15-18), e também do santuário de Silo (Jr 7,14; 26,6). Além disso, e partir disso, da muita importância ao Êxodo, à marcha pelo deserto e à entrada na terra prometida (Jr 2,1-7; 7,22-25; 16,14; 23,7; 31,31).

Ao contrário as tradições tipicamente judaicas (eleição divina de Jerusalém e da dinastia davídica), estas não adquirem no profeta destaques especiais. A maior parte da atuação profética de Jeremias situa-se na capital do reino do Sul, Judá. Porém, ele

98 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Isaías e Jeremias Profetas I Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 415.

99 Cf. MOSCONI, Luis. Profetas da Bíblia e nós hoje. 4º ed. São Paulo: Loyola, 2011, p. 99.

100 Cf. SALGADO, Samuel de Freitas. A Tribo de Benjamin como berço para a monarquia israelita.. Revista Theos. Campinas. 8º Edição, V.7 – Nº01 – Julho de 2012, pg.2-3. Disponível em: http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Tribo%20de%20Benjamim.pdf. Acesso em: 20 de Setembro. 2013.

101 Cf. SALGADO, Freitas de Samuel., 2012, p. 3-12.

102 Cf. KIRST, Nelson; KILPP, Nelson; SCHWANTES, Milton; RAYMANN, Acir; ZIMMER, Rudi.

Dicionário Hebraico- Português & Aramaico-Português. 22º ed. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2009, p. 40. (GORAL) – Pedras lançadas para decidir algo; sorteio; parcela que coube a alguém sorte ou destino; Cf. HOLLADAY, L. William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 79.

lr'AG

, pode ser definido como divisão da terra Nm 26,55. Ou algo que cai para alguém como herança por sorte Nm 36,3, ou como cidades (territórios) sorteadas Js 18,11; 21,20. Ou porção

sorteada Js 15,1. Existe uma referência a “destino” em Salmos 16,5.

(34)

esteve envolvido intimamente nos acontecimentos que levaram à destruição do reino e da cidade. Percebe-se isso nos oráculos e ditos ao povo de Israel.

Por isso, apesar da atuação prioritária no Sul, as raízes de Jeremias estão claramente ligadas ao Norte. Isto porque existiam indicações de que a linha sacerdotal dentro do qual ele nasceu era do Norte.

Se realmente as informações bíblicas correspondem, o profeta Jeremias era descendente de Eli, sacerdote do antigo santuário setentrional de Silo104 (1 Sm 1-4), dos sacerdotes de Nob (

bnO

) que foram massacrados por Saul (1 Sm 22) e de Abiatar o sacerdote que foi exilado em Anatot por Salomão (1 Reis 2,26). Isso é um fato importante, pois liga Jeremias intimamente às origens da religião em Israel105 e o coloca em oposição ao santuário de Jerusalém. Anatot era uma aldeia de profetas exilados, os quais não compartilhavam com o sistema de governo da dinastia davídica de Jerusalém. Portanto, as origens de Jeremias falam por si.

Ottermann defende que esta ascendência e as medidas massacrantes de Josias contra os sacerdotes e santuários do interior de Judá (2 Rs 23,4-14), é um dos motivos porque Jeremias se opõe à monarquia. É, sobretudo, um dos motivos para vê-lo em oposição a Josias, avaliado tão positivamente pelos historiadores deuteronomistas106.

Tanto é que, até conseguem “inserir” um pequeno elogio a ele em nossa perícope (Jr

22,15-16), mas isso será tratado mais adiante. Este dado de Ottermann é de suma importância, pois conseguimos entender o porquê de Jeremias remeter sua crítica a Jeoaquim e ser contra a monarquia em Israel.

Nas compreensões de Sicre107, Schökel108 e Schwantes109, Jeremias foi chamado muito cedo para ser profeta. Isso teria sido, conforme Jr 1,2, por volta do 13º ano do reinado de Josias, ou seja, 626/7 a. C.

104 Cf. CERESKO, Anthony R. Introdução ao Antigo Testamento Numa Perspectiva Libertadora. São Paulo: Paulus, p. 213.

105 Cf. TRIGO, Castro M. C. Alessandra. O Exílio na Babilônia: um novo olhar sobre antigas tradições. Dissertação (Mestrado em Letras; Literatura e Cultura Judaicas). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Letras Orientais – Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Universidade de São Paulo (USP), 2007, p. 39-40.

106 Cf. SCHWANTES, Milton (Org); OTTERMANN, Monika. Defender a vida em meio a fracassos e

catástrofes: uma introdução a Jeremias 37-45. São Paulo: Estudos Bíblicos, n.91, 2006, p.10.

107 Cf. ALONSO SCHÖKEL, Luis e SICRE DIAZ, José Luis. Profetismo em Israel. O profeta. Os

profetas. A mensagem. 3º ed. Pétropolis/Rio de Janeiro: Vozes, 2008, p. 287-288.

108 Cf. SCHÖKEL, Alonso L; SICRE, José Luiz Diaz. J. Isaías e Jeremias Profetas I Grande

Comentário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 415.

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