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apelação cível

No documento rdj101 (páginas 89-93)

2006011097849-0 Relator – Des. João Egmont Quinta Turma Cível

ementa

Constitucional, administrativo, civil e processual civil. Reparação de danos. Abuso sexual. Fato ocorrido no interior de casa de abrigo de menores. Responsa- bilidade objetiva do estado. Responsabilidade solidária. Dano material. Ausência de prova. Dano moral. In re ipsa. Valor indenizatório. Minoração. Verba honorária. assistência judiciária gratuita.

1. O Distrito Federal possui legitimidade para figurar no polo passivo de ação de reparação de danos onde se busca indenização por danos morais e materiais em razão de abuso sexual praticado contra menor no interior de instituição beneficen- te de abrigamento de crianças em situação de risco pessoal.

2. Rejeita-se a preliminar de nulidade da sentença, eis que se depreende da de- cisão ampla análise dos fatos trazidos aos autos, inclusive dos argumentos apre- sentados pela defesa, tendo o julgador fundamentado as razões de seu convenci- mento nas provas produzidas, em estrita observância aos requisitos da sentença, estabelecidos no artigo 458 do CPC.

3. Reconhece-se a omissão específica do Distrito Federal, ao deixar de cumprir seu dever legal de evitar o evento, já que se absteve de adotar as providências assecuratórias que a situação exigia. Daí emerge a responsabilidade objetiva do Estado ao dever de indenizar a vítima pelos danos experimentados, independen- temente de caracterização de culpa dos agentes estatais. 3.1. Considera-se que o Estado agiu negligentemente ao deixar de fiscalizar as atividades da instituição de abrigo de menores, praticando ato comissivo gerador de dano, ao permitir o abrigo de adolescentes e crianças de ambos os sexos, na mesma casa, sob a proteção da mesma “mãe social”.

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4. A responsabilidade da instituição de abrigo de menores decorre de sua impru- dência e negligência no zelo com a integridade física e psicológica da menor que se encontrava sob seus cuidados, aplicando-se, no caso, o disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal.

5. A condenação do autor da infração, na esfera penal, irradia efeitos na esfera cível, restando demonstrado o nexo de causalidade entre o dano havido e a ati- vidade do agente público, independentemente de culpa ou dolo, surgindo para o Estado a obrigação de indenizar.

6. Para fins de reparação por dano moral é suficiente a ocorrência do fato descrito, sendo desnecessária a demonstração da dor moral experimentada, pois o dano opera-se in re ipsa.

7. Tratando-se de grave dano moral praticado contra criança, o qual deixou se- quelas irreparáveis, o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de reparação por danos morais se mostra necessário e suficiente a minimizar as consequências do fato e cumprir o caráter punitivo, a fim de reprimir a reincidência da omissão estatal.

8. Diante da ausência de prova, afasta-se a ocorrência de dano material, principal- mente porque demonstrado que a autora tem sido atendida pela rede pública de saúde.

9. Não cabe a condenação do Distrito Federal ao pagamento de honorários ad- vocatícios quando a parte vencedora é representada pela Defensoria Pública, em virtude da confusão entre credor e devedor.

9.1. Não deve a parte requerida ser condenada ao pagamento de verba honorária, uma vez que a autora é patrocinada pela Assistência Judiciária do Distrito Federal. 10. Conheceu-se e deu-se parcial provimento aos recursos e à remessa oficial, para reformar parcialmente a sentença e julgar improcedente o pedido indeniza- tório por dano material, isentando-se os réus do pagamento de custas processuais e honorários advocatícios.

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acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, João Egmont – Relator, Luciano Moreira Vascon- cellos – Revisor, Angelo Canducci Passareli – Vogal, sob a presidência do Senhor De- sembargador Luciano Moreira Vasconcellos, em proferir a seguinte decisão: recursos conhecidos. RMO recebida. Rejeitar preliminar. Dar parcial provimento à RMO afas- tando a condenação de Casa de Ismael nos termos do voto do Relator. Dar parcial provimento ao recurso do DF, nos termos do voto do Relator. Vencido o Revisor que dava em menor extensão, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 20 de março de 2013.

relatório

Cuida-se de ação de reparação por danos materiais e morais ajuizada por J. M. R., representada por sua tia, M. P. R., contra a CASA DE ISMAEL – LAR DA CRIANÇA e DISTRITO FEDERAL.

Narra a autora na inicial que por se encontrar em condição de vulnerabilidade, foi acolhida, juntamente com seus irmãos, na Casa de Ismael, sob a responsabilidade do Distrito Federal, onde sofrera, no ano de 2006, abuso sexual, quando contava com 10 anos de idade. Por tal motivo busca a reparação de danos materiais, relati- vos a custos médicos, psicológicos, medicamentos e de transporte, estipulados em dois salários-mínimos mensais, até que complete 24 (vinte e quatro anos), além de indenização por danos morais, no valor de R$ 90.000,00 (noventa mil reais). O pedido foi julgado procedente, para condenar os réus a pagarem à autora danos morais fixados em R$ 90.000,00 (noventa mil reais), corrigidos pela taxa de varia- ção do INPC e acrescidos de juros moratórios à taxa de 0,5% a.m., contados a partir da prolação da sentença, e danos materiais fixados em 2 (dois) salários-mínimos mensais, corrigidos também pelo INPC e acrescidos de juros moratórios à taxa de 0,5% a.m., a partir do dia 01/6/2007, data da juntada do último mandado de cita- ção devidamente cumprido (fls. 1.198/1.204).

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Apela o Distrito Federal às fls. 1.246/1.259, pugnando pela reforma da sentença. Aduz para tanto, preliminarmente, a ilegitimidade passiva do ente federativo, sob a alegação de que a Administração não é responsável por ato de terceiro. No méri- to, sustenta a ausência dos elementos configuradores da responsabilidade civil do Estado, defendendo que se tratando de ato omissivo do Poder Público, a respon- sabilidade pelo ato é subjetiva. Defende a inexistência de ato culposo atinente à sua atuação fiscalizadora. Subsidiariamente, requer a redução do montante in- denizatório, asseverando que não há prova do dano material e, ainda, que o valor arbitrado a título de indenização por danos morais é excessivo. Por fim, afirma que não deve o Distrito Federal ser condenado ao pagamento de honorários advocatí- cios, visto que a causa é patrocinada pela Defensoria Pública.

Em suas razões recursais (fls. 1.267/1.327), a CASA DE ISMAEL – LAR DA CRIANÇA argui preliminar de nulidade da sentença, por violar o princípio do contraditório, ao valor única e exclusivamente as alegações da autora. Sustenta que não res- taram provadas as alegações da apelada quanto ao dia e local em que o abuso sexual teria sido perpetrado e que não há nexo de causalidade entre a conduta da instituição ré e os danos sofridos pela autora. Afirma que a autora sofreu agressões sexuais quanto estava sob os cuidados e na residência de sua tia biológica e que não há relação entre o ato praticado, sem violência real, e os danos constatados na autora. Insurge-se contra a afirmação do julgador quanto ao acolhimento na insti- tuição ré de crianças de ambos os sexos sob o mesmo teto e de idades diferentes. Alega que a autora tem usufruído de serviços de assistência social, não fazendo jus à indenização por dano material. Assevera que não há prova acerca dos danos materiais. Requer, alternativamente, a minoração da verba indenizatória.

Transcorreu in albis o prazo para os réus apresentarem contrarrazões (fl. 1.330 e 1.332). Contrarrazões da autora à fl. 1.332.

Parecer da douta Procuradoria de Justiça às fls. 1.344/1.354, oficiando pelo parcial provimento dos recursos, para que o dano material seja fixado em um salário- -mínimo, com a limitação até os vinte e quatro anos de idade da autora.

Preparo à fl. 1.328. É o relatório.

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votos

Des. João Egmont (Relator) – Conheço de ofício da remessa oficial, com base no disposto no artigo 475, I, do CPC.

Cuida-se de apelo interposto por DISTRITO FEDERAL e CASA DE ISMAEL LAR DA CRIANÇA contra sentença que julgou procedente pedido formulado em ação de re- paração de danos, para condenar os réus a pagarem à autora danos morais fixados em R$ 90.000,00 (noventa mil reais), corrigidos pela taxa de variação do INPC e acrescidos de juros moratórios à taxa de 0,5% a.m., contados a partir da prolação da sentença, e danos materiais fixados em 2 (dois) salários-mínimos mensais, corrigi- dos também pelo INPC e acrescidos de juros moratórios à taxa de 0,5% a.m., a par- tir do dia 01/6/2007, data da juntada do último mandado de citação devidamente cumprido (fls. 1.198/1.204).

Narrou a autora na inicial que em abril de 2002 foi abrigada, juntamente com seus quatro irmãos, na Casa de Ismael – Lar da Criança, por se encontrarem todos os menores em condição de vulnerabilidade.

Contou a requerente que em 2006 sofreu abuso sexual na referida instituição, quando contava com 10 anos de idade. Asseverou que seus irmãos também so- freram abusos sexuais no mesmo abrigo, não tendo a instituição lhes garantido a incolumidade moral e física. Afirmou que o Distrito Federal foi negligente em não fiscalizar a instituição. Por tal motivo requereu a condenação dos réus ao paga- mento de danos materiais, relativos a custos médicos, psicológicos, medicamen- tos e de transporte, na quantia de dois salários-mínimos mensais, além de indeni- zação por danos morais, no valor de R$ 90.000,00 (noventa mil reais).

Analiso os apelos conjuntamente.

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