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Recurso voluntário do Distrito Federal conhecido e parcialmente provido Re curso adesivo dos autores conhecido e parcialmente provido Maioria.

No documento rdj101 (páginas 143-168)

iii terceira parte

9. Recurso voluntário do Distrito Federal conhecido e parcialmente provido Re curso adesivo dos autores conhecido e parcialmente provido Maioria.

acórdão

Acordam os Desembargadores da Primeira Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Flavio Rostirola – Relator, Teófilo Caetano – Revi- sor, Simone Lucindo – Vogal, sob a presidência do Desembargador Teófilo Caetano, em conhecer e dar parcial provimento a ambos os recursos. Maioria, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 07 de fevereiro de 2012.

relatório

Trata-se de apelação e recurso adesivo, interpostos contra a r. sentença de fls. 71/81, proferida nos autos da ação de indenização por danosmateriais e morais proposta por M. B. de D. e R. B. dos S. em desfavor do Distrito Federal, que julgou parcialmente procedentes ospedidos, nos seguintes termos:

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Pelo exposto, julgo parcialmente procedente o pedido inicial para condenar o réu ao pagamento do valor total de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de reparação por danos morais, estes corrigidos a partir da presente data, acrescidos de juros legais contados a partir da citação. Declaro resolvido o mérito da demanda, com fundamento no artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil. Condeno, ainda, o réu ao pagamento de honorários advoca- tícios, fixados em R$ 500,00, observado o comando do artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil e a sucumbência parcial dos autores. Sem custas visto que o DF goza de isenção legal e os autores são beneficiários da justi- ça gratuita. Sentença proferida pela Unidade de Apoio Judicial. Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Inconformado, apela o Distrito Federal às fls. 83/90, sem preparo, por isenção legal. Sustenta que a responsabilidade do Estado por omissão é subjetiva, tornando im- prescindível a presença de nexo de causalidade, dano e a omissão estatal culposa. Aponta ser este o entendimento adotado pelo colendo Superior Tribunal de Justi- ça, o que implicaria a reforma da sentença de primeiro grau, haja vista não existir nos autos comprovação de que a Administração haveria descumprido seu dever legal de obstar o evento danoso.

Ressalta que a eventual omissão estatal deveria ser aferida a partir de um padrão normal de eficiência, considerando-se os diversos aspectos que influenciaram a prestação do serviço tido por omisso.

Afirma a impropriedade do ato sentencial, pois o fornecimento de lençóis aos de- tentos não poderia ser considerado como elemento facilitador do crime.

Noutro sentido, assevera que as informações prestadas por agente penitenciário, de que o internado aparentava ter problema mental, não merecem guarida, pois se tratariam de mera suposição, formulada por pessoa leiga no assunto.

Defende, assim, a inexistência de omissão por parte do Distrito Federal e que, mesmo existente, não se trataria de omissão culposa, em contraponto a um padrão normal de eficiência.

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Noutro viés, pontua a inexistência de nexo de causalidade, haja vista que a morte do detento ocorreu por sua culpa exclusiva, cujo ato suicida não poderia ser evita- do por qualquer outra providência estatal.

Não sendo este o entendimento, aponta ser excessivo o valor da indenização ar- bitrada a título de danos morais, pugnando por sua redução, mormente pelo com- portamento da vítima.

Ao final, persistindo a condenação, requer a aplicação imediata da Lei 11.960/09, que alterou o modo de cálculo para a correção das condenações impostas à Fa- zenda Pública.

De outro lado, os Autores recorrem adesivamente às fls. 105/108, sem preparo, pois beneficiados pela justiça gratuita conferida à fl. 29.

Defendem a necessidade de reforma da sentença, para majorar-se o valor arbitra- do a título de danos morais para o equivalente a 500 salários mínimos, quantia compatível com a situação econômica dos Recorrentes, por serem idosos e depen- dentes economicamente do filho morto.

Pleiteiam, ainda, a majoração dos honorários advocatícios, arbitrados em R$ 500,00, por considerá-los não condizentes com a atuação dos procuradores no feito.

Contrarrazões do Distrito Federal às fls. 113/116, pelo não provimento. Sem contrarrazões dos Autores, conforme certificado à fl. 124.

É o relatório.

votos

Des. Flavio Rostirola

(

Relator) – Presentes os pressupostos de admissibilidade

,

conheço da apelação.

Consoante exposto, o inconformismo do Distrito Federal reside na sua condena- ção em reparar os autores em danos morais e materiais, em razão da morte do seu filho, que haveria se suicidado no presídio.

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Sustenta que a responsabilidade do Estado por omissão é subjetiva, tornando im- prescindível a presença de nexo de causalidade, dano e a omissão estatal culposa. Aponta ser este o entendimento adotado pelo colendo Superior Tribunal de Justi- ça, o que implicaria a reforma da sentença de primeiro grau, haja vista não existir nos autos comprovação de que a Administração haveria descumprido seu dever legal de obstar o evento danoso.

Ressalta que a eventual omissão estatal deveria ser aferida a partir de um padrão normal de eficiência, considerando-se os diversos aspectos que influenciaram a prestação do serviço tido por omisso.

Afirma a impropriedade do ato sentencial, pois o fornecimento de lençóis aos de- tentos não poderia ser considerado como elemento facilitador do crime.

Noutro sentido, assevera que as informações prestadas por agente penitenciário, de que o internado aparentava ter problema mental, não merecem guarida, pois se tratariam de mera suposição, formulada por pessoa leiga no assunto.

Defende, assim, a inexistência de omissão por parte do Distrito Federal e que, mesmo existente, não se trataria de omissão culposa, em contraponto a um padrão normal de eficiência.

Noutro viés, pontua a inexistência de nexo de causalidade, haja vista que a morte do detento ocorreu por sua culpa exclusiva, cujo ato suicida não poderia ser evita- do por qualquer outra providência estatal.

Não sendo este o entendimento, aponta ser excessivo o valor da indenização ar- bitrada a título de danos morais, pugnando por sua redução, mormente pelo com- portamento da vítima.

Ao final, persistindo a condenação, requer a aplicação imediata da Lei 11.960/09, que alterou o modo de cálculo para a correção das condenações impostas à Fa- zenda Pública.

De outro lado, os Autores recorrem adesivamente às fls. 105/108, defendendo a necessidade de reforma da sentença, para majorar-se o valor arbitrado a título de danos morais para o equivalente a 500 salários mínimos, quantia compatível com

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a situação econômica dos Recorrentes, por serem idosos e dependentes economi- camente do filho morto.

mérito

Sobre o tema, importante consignar que a responsabilidade do Estado é decor- rente da existência de dano atribuível à sua atuação. Assim, estando presentes os elementos essenciais que caracterizam o ato lesivo praticado pelo Estado ou por seus agentes, quais sejam, o dano, a atuação prejudicial do serviço público e o nexo causal, justa é a sua condenação.

Após intensos debates e evolução doutrinária-legislativa, assentou-se, em regra, a adoção da teoria do risco administrativo, consagrado no mandamento previsto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, que dispõe: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o di- reito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Neste ponto, somente a ausência de nexo causal poderia eximir o Estado de responder pela lesão produzida.

Tem-se, portanto, como bem balizada a responsabilidade objetiva do Estado, dis- pensando o indivíduo que se considere lesado de comprovar o fator culpa em relação ao fato danoso.Desta forma, ela incide em decorrência de fatos lícitos ou ilícitos, bastando que o interessado comprove a relação causal entre fato e dano. Entretanto, o risco administrativo não se confunde com o risco integral, no qual todo e qualquer prejuízo do indivíduo deva ser reparado pelo Estado.

Weida Zancaner Brunini, após relatar o posicionamento de vários doutrinadores, conclui residir o fundamento da responsabilidade do Estado no exame tanto da licitude do ato bem como no nexo de causalidade, resolvendo-se dessa forma na teoria objetiva1.

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Entretanto, o fato de tratar-se de responsabilidade objetiva do Estado (dispensa- -se a prova da culpa) não elide o ônus da vítima em demonstrar o liame existente entre a conduta e o dano experimentado.

Nessa esteira, o Estado deve ser responsabilizado pelo dano ocasionado por seu agente, quando presentes os pressupostos da responsabilidade civil objetiva do Poder Público. Confira-se:

[...] a oficialidade da atividade causal lesiva, imputávela agente do Poder Público, que tenha, nessa condição funcional, incidido em conduta comissi- va ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional (RTJ 140/636) e a causa excludente de responsabilidade estatal (RTJ 55/503).

No caso em apreço, deve-se analisar a presença do liame causal entre a suposta conduta omissiva da Administração Pública e a morte do detento, ocorrida no Pre- sídio da Papuda em 16/03/2006.

Ao compulsar os autos, entendo que restou demonstrado o nexo de causalidade entre a conduta do Estado e o dano provocado, de forma a dar ensejo a eventual responsabilização.

De fato, ainda que se cogitasse a culpa exclusiva do interno, verifica-se na ocor- rência policial de fls. 51/52, manifestação do agente que noticiou o suicídio, in- formando que o falecido aparentava problemas mentais. Referida situação, já re- conhecida pelos agentes, justificaria, no mínimo, a tomada de maior cuidado por parte da administração, com o objetivo de coibir eventuais acontecimentos como o que culminou com a morte.

Logo, as alegações do Distrito Federal não elidem a responsabilidade da Adminis- tração Pública. Ao contrário, evidencia-se a falha no sistema prisional, sua negli- gência, seja pelo reduzido número de agentes penitenciários, seja pela não ave- riguação do estado de perturbação do paciente, que demonstrava necessitar de cuidados especiais.

Por todo o exposto, tenho que não merece reparos a i. sentença que reconheceu a responsabilidade civil do Distrito Federal e que, a par dos fundamentos elencados, também considerou a conduta do interno para a fixação do quantum indenizatório.

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Nesse sentido, confiram-se os doutos julgados desta Corte:

ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATE- RIAIS. SUICÍDIO DE PRESO EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL. NEXO CAUSAL. DEVER DE GUARDA E VIGILÂNCIA DO ESTADO. POSSIBILIDADE. MANUTEN- ÇÃO DA INTEGRIDADEFÍSICA DOS DETENTOS. 1. Do Estado exige-se cuidado e vigilância constantes e eficientes daqueles que se encontram encarcera- dos em estabelecimentos prisionais, a fim de manter sua integridade e inco- lumidade física. 2. A contribuição da vítima para o evento morte não afasta o nexo causal, muito embora possa repercutir na redução da indenização. 3. Em se tratando do evento morte o sofrimento e o flagelo experimentados repercutem na esfera moral da prole, ensejando o direito à indenização. 4. É evidente a necessidade alimentar tendo em vista a presumida depen- dência econômica decorrente do poder familiar. 5. Na fixação do quantum relativo à reparação material deve-se considerar o emprego de 1/3 (um ter- ço) dos ganhos que o pai auferiria com gastos pessoais, restando 2/3 (dois terços) para a prole. 6. Recurso parcialmente provido. (Acórdão 467755, 20070110436653APC, Relator MARIO-ZAM BELMIRO, 3ª Turma Cível, julga- do em 24/11/2010, DJ 07/12/2010 p. 214).

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PRESCRIÇÃO. ARTIGO 2.028 DO CÓDIGO CIVIL. NÃO VERIFICAÇÃO. SUICÍDIO. MORTE DE DETENTO. CARCE- RAGEM DA CPE. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DA ADMINISTRAÇÃO. GARANTIA DA INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL DO PRESO. OMISSÃO. NEXO DE CAUSALIDADE. INDENIZAÇÃO. Não tendo transcorrido mais da metade do prazo prescricional estabelecido em lei até a entrada em vigor do novo Có- digo Civil, conta-se o novo prazo a partir da entrada em vigor deste, confor- me estabelecido em seu artigo 2.028. Preliminar rejeitada. Mérito. O Estado é responsável pela integridade física e moral do preso, devendo manter a vigilânciaadequada em relação aos detentos. Cabe ao Estado, quando co- nhecedor do estado depressivo do preso, bem como de suas ameaças de cometer suicídio, tomar providências no sentido de cuidar para evitar o re- sultado previsível. É devida indenização por danos morais à mãe do detento, não merecendo reforma a sentença de primeiro grau. Negou-se provimento

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ao recurso. (Acórdão 213413, 20030111180415APC, Relator NATANAEL CAETANO, 1ª Turma Cível, julgado em 11/04/2005, DJ 19/05/2005 p. 60).

No mesmo sentido, em que pese os Autores defenderem a necessidade de refor- ma da sentença, para majorar-se o valor arbitrado a título de danos morais, tam- bém não vislumbro motivos para modificar o dispositivo sentencial.

Consoante exposto pela ilustre Magistrada de primeiro grau, os Demandantes não lograram êxito em comprovar a alegada dependência econômica. Noutro viés, apesar de todo o sofrimento pela perda do filho, justificativa para a reparação pelo dano moral experimentado, indubitável haver a vítima concorrido para a sua própria morte, elementos que resultaram na fixação do valor devido em favor dos Autores em R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Quanto à incidência da Lei 11.960/2009 à hipótese em exame, verifico que, no caso vertente, a r. sentença determinou a Fazenda Pública ao pagamento de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), corrigidos a partir da sentença, em 21/11/2011 (fl.81) e com juros legais a partir da citação, em 25/08/2008 (fl. 32).

Considerando as datas mencionadas, a atualização do valor em questão deve observar a correção monetária pelo INPC e juros de mora de 0,5% ao mês, até 29.06.2009, consoante texto legal vigente à época, estabelecido pela Medida Pro- visória 2.180-35, in verbis:

Art.1º-F Os juros de mora, nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano.

Note-se que, em razão de a referida norma não determinar o critério para a corre- ção monetária do valor da condenação, coube à jurisprudência fazê-lo, predomi- nando a escolha pelo INPC. Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. JUROS DE MORA. CORREÇÃO MONETÁRIA. LEI 11.960/09. LEI INSTRUMENTAL MATE- RIAL. INAPLICABILIDADE AOS PROCESSOS EM TRÂMITE. INPC. ÍNDICE OFI- CIAL DO TJDFT. 1. Afasta-se a aplicação imediata da Lei 11.960/09 aos pro- cessos já em curso, uma vez que se trata de norma de natureza instrumental material, na medida em que, ao estipular os índices oficiais da caderneta

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de poupança para a atualização monetária de execuções contra a Fazen- da Pública, gera direito patrimonial para as partes. Precedentes do STJ. 2. Mostra-se razoável a fixação do INPC para a atualização monetária de quantia cobrada em desfavor da Fazenda Pública – cuja execução iniciou-se antes da modificação do art. 1º-F da Lei 9.494/97 -, por se tratar do índice que melhor reflete a recomposição do capital e ser o oficialmente adotado pela Contadoria Judicial deste e. Tribunal de Justiça. 3. Recurso não provido. (Acórdão 541681, 20100110981005APC, Relator CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, julgado em 05/10/2011, DJ 18/10/2011 p. 100).

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXCESSO DE EXECUÇÃO. FAZENDA PÚBLICA ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. LEI 11.960/09. INAPLICABILIDADE. ÍNDICE OFICIAL DO TJDFT. INPC. A Lei 11.960/09 é nor- ma de caráter material, razão pela qual aplica-se somente às ações ajuizadas depois de sua entrada em vigor. Nas ações ajuizadas antes do advento da Lei 11.960/09, quedeu nova redação ao artigo 1º-F da Lei 9.494/97, o INPC deve ser utilizado para a correção monetária dos valores a que a Fazenda Pública foi condenada a pagar, uma vez que é o índice de atualização mone- tária utilizado pela Contadoria Oficial deste egrégio Tribunal de Justiça. Re- cursoconhecido e não provido. (Acórdão 541068, 20100112216899APC, Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 6ª Turma Cível, julgado em 10/10/2011, DJ 20/10/2011 p. 217).

Contudo, em 30.06.2009, sobreveio a Lei 11.960/09, que conferiu nova redação ao art. 1.º-F da Lei 9.494/97, segundo a qual, nas condenações impostas à Fazenda Pública, a atualização monetária e a compensação da mora serão realizadas me- diante a incidência, uma única vez e até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. Portanto, a partir de 30.06.2009, a atualização dos valores deverá seguir esse critério. Aludida solução coincide com o tratamento delineado em recente julgado do co- lendo Superior Tribunal de Justiça. No r. decisum, a Excelentíssima Ministra Relato- ra esclareceu haver três distintas hipóteses de incidência dos juros de mora contra a Fazenda Pública. Considerando a importância didática do r. acórdão, reproduzo a respectiva ementa:

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“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AUXILIAR DE CONTROLE DE EN- DEMIAS. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. ART. 37 DA CF/88. SUBMISSÃO AO REGIME CELETISTA. PREVISÃO EXPRESSA NA LEI MUNICIPAL 1.978/93. AFASTAMENTO. INVIABILIDADE. SÚMULA 280/STF. MULTA PELA RESCISÃO ANTECIPADA. ART. 477, § 8.º, DA LEI TRABALHISTA. APLICAÇÃO AOS CON- TRATOS POR PRAZO DETERMINADO. JUROS DE MORA. 6% AO ANO. TERMO INICIAL. CITAÇÃO. 1. (omissis) 3. A Corte Especial deste Superior Tribunal de Justiça – no julgamento do EREsp 1.207.197/RS, acórdão ainda pendente de publicação –, revendo sua jurisprudência, alinhou-a ao posicionamento da Suprema Corte, no sentido de que as normas que disciplinam os juros moratórios possuem natureza processual (instrumental), razão pela qual de- vem incidir nos processos em andamento a partir de sua publicação, não podendo gerar efeitos retroativos. 4. Nessa esteira, tratando de condena- ção imposta à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, os juros de mora incidirão da seguinte forma: (a) percentual de 1% ao mês, nos termos do art. 3.º De- creto 2.322/87, no período anterior à 24/08/2001, data de publicação da Medida Provisória 2.180-35, que acresceu o art. 1.º-F à Lei 9.494/97; (b) percentual de 0,5% ao mês, a partir da MP 2.180-35/2001 até o advento da Lei 11.960, de 30/06/2009, que deu nova redação ao art. 1.º-F da Lei 9.494/97; e (c) percentual estabelecido para caderneta de poupança, a par- tir da Lei 11.960/2009. 4. O termo inicial de incidência de juros de mora de- corre da liquidez da obrigação. Sendo líquida a obrigação, os juros de mora incidem a partir do vencimento da obrigação, nos exatos termos do art. 397,

caput, do Código de Civil de 2002; se for ilíquida, o termo a quo será a data da citação quando a interpelação for judicial, a teor do art. 397, parágrafo único, do Código Civil de 2002 c.c o art. 219, caput, do Código de Processo Civil. 5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp 937528/ RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2011, DJe 01/09/2011)

Por fim, entendo assistir razão aos Demandantes quanto à majoração dos honorá- rios advocatícios, pois o valor fixado, de R$500,00 (quinhentos reais) não se revela idôneo para remunerar o esforço despendido pelo causídico. De tal sorte, tenho que o valor de R$2.000,00 (dois mil reais) melhor atende a tal desiderato.

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Em face do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao apelo dos Demandantes, ape- nas para fixar os honorários advocatícios em R$2.000,00 (dois mil reais). DOU PAR- CIAL PROVIMENTO ao recurso do Distrito Federal, apenas para estabelecer que: a) até 29.06.2009, incida atualização monetária, pelo INPC, e juros de mora de 0,5% ao mês, conforme determinado na sentença; e b) a partir de 30.06.2009, a atualização do valor arbitrado siga os parâmetros da Lei 11.960/09, que conferiu nova redação ao art. 1.º-F da Lei 9.494/97, segundo a qual, nas condenações im- postas à Fazenda Pública, a atualização monetária e a compensação da mora serão realizadas mediante a incidência, uma única vez e até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. Mantenho inalterados os demais termos da r. sentença.

É o meu voto.

Des. Teófilo Caetano (Revisor) – Cabíveis, tempestivos, isentos de preparo, subs- critos por advogados e por Procurador do Distrito Federal devidamente constituí- dos, satisfazendo, pois, os pressupostos objetivos e subjetivos de recorribilidade que lhe são próprios, conheço do apelo voluntário e do recurso adesivo.

Cuida-se de ação de indenização por danos morais ajuizada por casal de cidadãos em desfavor do Distrito Federal almejando que lhes seja assegurada justa com- pensação pecuniária decorrente do dano moral e material que os teria afligido, sob o argumento de que o seu filho, detento do Estado, fora morto dentro do presí- dio, cuja causa seria suicídio, de molde que lhes deveria ser resguardada compen- sação pelo abalo moral que sofreram e, outrossim, pelo dano material derivado da dependência econômica que possuíam em relação ao filho preso.

Aperfeiçoada a relação processual e cumprido o itinerário procedimental, sobre- viera sentença, que, acolhendo parcialmente o pedido, condenara o Distrito Fede- ral no pagamento da importância de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de da- nos materiais, a ser atualizada monetariamente e incrementada de juros de mora a partir da citação. Inconformado, o Distrito Federal apelara defendendo a rejeição do pedido ou, sucessivamente, a redução do montante arbitrado a título de da- nos morais, reclamando, ainda, a atualização do montante pelos índices previstos na Lei 11.960/09. A seu turno, os autores, no recurso adesivo que manejaram,

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