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Havendo nos autos elementos de prova acerca do montante auferido pelo autor a título de contraprestação pela atividade laboral exercida, mostra-se correta a

No documento rdj101 (páginas 132-141)

iii terceira parte

5. Havendo nos autos elementos de prova acerca do montante auferido pelo autor a título de contraprestação pela atividade laboral exercida, mostra-se correta a

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fixação de pensão mensal em valor equivalente. 6. Recurso de Apelação conhecido e não provido.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Nídia Corrêa Lima – Relatora, Getúlio de Mo- raes Oliveira – Revisor, Mário-Zam Belmiro – Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Getúlio de Moraes Oliveira, em proferir a seguinte decisão: co- nhecer. Negar provimento ao recurso. Unânime, de acordo com a ata do julgamen- to e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 6 de fevereiro de 2013.

relatório

Cuida-se de Apelação Cível interposta por Sustentare Serviços Ambientais S/A contra a r. sentença de fls. 184/189, cujo relatório transcrevo, verbis:

Trata-se de ação ordinária de indenização, proposta por J.P.B., em face de Qualix Serviço de Limpeza Urbana, por meio da qual o autor informa ter sido atropelado por um trator de propriedade da ré em 19/10/2006, enquanto desempenhava seus serviços de catador, no aterro sanitário da Estrutural, nesta capital. Aduz que, em função do atropelamento, sofreu várias lesões, algumas permanentes, tendo sido impedido de continuar a desempenhar sua ocupação como catador, pois hoje se locomove com o auxílio de mu- letas, tendo sido acometido, inclusive, com o encurtamento de um de seus membros inferiores. Pediu a condenação da ré ao pagamento de lucros ces- santes, no importe de R$ 192.000,00, e a título de indenização por danos morais, o valor de R$ 500.000,00. Citada, a ré apresentou contestação (fls. 23/35), acompanhada de documentos, por meio da qual formulou prelimi- nar de inépcia da inicial, por entender ter faltado documentos essenciais ao deslinde da causa. No mérito, reconhece a ocorrência do acidente, mas aduz que ocorreu por culpa exclusiva do autor. Isso porque alega que o

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motorista do caminhão estava manobrando em velocidade reduzida, em terreno disforme e empreendia marcha ré, quando então o réu teria entrado na área de risco do veículo, tendo, por conseguinte, ocorrido o acidente. Subsidiariamente, impugna os valores pleiteados a título de danos mate- riais, por inexistirem comprovantes de renda do autor, bem como o quan- tum pedido a título de danos morais, se admitida sua ocorrência. Réplica às fls. 58/60. Instadas a falarem sobre as provas que pretendiam produzir, a ré se manifestou pela realização de perícia médica. 100/107 que concluiu pela existência de lesão ortopédica permanente, bem como deformidade por conta do encurtamento de uma das pernas do autor. Concluiu ainda que o demandante não poderia continuar desempenhando sua atividade de catador, sem excluir, contudo, a possibilidade de trabalhar em outro tipo de atividade, dependendo das circunstâncias. Complemento do laudo às fls. 139/143. À fl. 149 o feito foi convertido em diligência, tendo sido designa- da audiência de instrução e julgamento. Às fls. 150/151 e 153, autor e réu, respectivamente, indicaram as testemunhas a serem ouvidas. Audiência re- alizada nesta data.

Acrescento que a d. Magistrada sentenciante julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, condenando a ré ao pagamento por danos morais, no importe de R$ 40.000,00, atualizada monetariamente e com juros de mora de 1%, bem assim ao pagamento de pensão mensal em valor equivalente a 285% do salário mínimo, devida desde o acidente até a data em que o autor completar 65 anos, acrescidas de correção monetária e juros de mora de 1%, estes desde o evento danoso. S. Exª também determinou a constituição de capital a fim de assegurar o pagamento da pensão.

Inconformada, a ré interpôs recurso de apelação (fls. 196/205), repisando, in to- tum, a argumentação ventilada na peça contestatória, pugnando pelo provimento do recurso, para que sejam julgados improcedentes os pedidos formulados na inicial. Por fim, pelo princípio da eventualidade, caso seja mantida a r. sentença, sejam os valores condenatórios fixados de forma moderada.

Contrarrazões ofertadas às fls. 242/245. Preparo regular (fl. 235).

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É o relatório.

votos

Desa. Nídia Corrêa Lima (Relatora) – Conheço do Recurso de Apelação, uma vez que se encontram presentes os pressupostos legais de admissibilidade.

Cuida-se de Apelação Cível interposta por Sustentare Serviços Ambientais S/A contra a r. sentença exarada às fls. 184/189.

Consoante relatado, J.P.B. ajuizou Ação de Indenização em desfavor de QUALIX SERVIÇO DE LIMPEZA URBANA, cuja denominação social foi posteriormente altera- da para SUSTENTARE SERVIÇOS AMBIENTAIS S/A, objetivando a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, bem como de pensão vitalícia em razão de atropelamento sofrido no aterro sanitário, por um trator da empresa ré, que resultou em sua incapacidade laboral.

A empresa ré ofertou contestação arguindo preliminar de inépcia da inicial. Quanto ao mérito sustentou que o acidente ocorreu em virtude de culpa exclu- siva do autor.

Após regular trâmite do feito, a d. Juíza sentenciante julgou parcialmente proce- dentes os pedidos deduzidos na inicial, nos seguintes termos, verbis:

JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO, com resolução do mérito (CPC, art. 269, inciso I), para: 1) condenar a empresa ré a pagar ao autor a importância de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) a título de danos morais, corrigida monetariamente pelos índices oficiais e com juros de mora de 1% a.m. a partir desta data (Súmula 362 STJ e REsp 903258); 2) condenar o réu ao pagamento de uma pensão mensal ao autor, no valor equivalente a 285% do salário mínimo, devidos desde a data do acidente até a data em que o autor completar 65 anos, acrescidas as parcelas vencidas de correção monetária pelos índices oficiais e de juros de mora de 1% a.m. desde a data do evento (19/10/2006), devendo o réu constituir capital cuja renda assegure o pagamento da pensão (CPC, art. 475-Q). Tendo em vista a sucum- bência recíproca, porém não equivalente, condeno autor e réu a arcarem

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com as custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação, conforme dispõe o artigo 20, § 3º, do Código de Processo Civil, à razão de 20% e 80%, respectivamen- te, suspensa a exigibilidade ao autor, beneficiário da gratuidade de justiça. Sentença publicada em audiência, intimados os presentes. Oportunamente, dê-se baixa e arquivem-se os autos. Nada mais havendo, encerrou-se o pre- sente termo.

Em suas razões de apelo, a ré aduziu que não pode ser responsabilizada pelos danos alegados na inicial, uma vez que o acidente ocorreu em virtude de culpa exclusiva do autor que, de forma temerária, ingressou no campo de manobra do trator. Postulou, a reforma da r. sentença para que sejam julgados improcedentes os pedidos formulados na inicial. Sucessivamente, pugnou pela redução dos valo- res fixados a título de indenização.

É a suma dos fatos.

Cumpre destacar, ab initio, que a ré/apelante é pessoa jurídica de direito privado, permissionária de serviço de limpeza urbana, responsabilizando-se, pois, de forma objetiva em relação a terceiros, usuários ou não, com base no risco administrati- vo, conforme § 6º do artigo 37 da Constituição Federal, que recebeu a seguinte redação, verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efici- ência, e, também, ao seguinte:

[...]

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestado- ras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Assim, para que seja cabível a indenização, faz-se necessária apenas a constatação da prática de ato ilícito, do resultado danoso e do nexo causal.

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A responsabilidade da empresa ré somente poderia ser afastada caso fossem apresentadas provas de que o acidente noticiado não ocorreu ou que as lesões sofridas pelo autor foram ocasionadas por fatos diversos. Poderia ainda a ré alegar e comprovar que o sinistro se deu em virtude de culpa exclusiva da vítima ou em decorrência de caso fortuito ou força maior.

Da análise do acervo probatório dos autos, incluindo boletim de ocorrência poli- cial 1389/2006, fls. 07/08, o laudo de exame de corpo de delito elaborado pelo Departamento de Polícia Técnica do Distrito Federal, acostado às fls. 12/13, bem como dos relatórios e pareceres médicos de fls. 09/10, e depoimento do motorista que manejava o trator no momento do acidente, fls. 191/192, verifico que não há como a empresa ré se eximir da responsabilidade pelos danos experimentados pelo autor.

Com efeito, ficou evidenciada a negligência do operador do trator, ao manobrar o veículo, circunstância que pode ser verificada do teor do depoimento por ele prestado em Juízo, verbis:

[...] às perguntas formuladas pela MM Juíza, respondeu: Que se lembra do acidente narrado na inicial, que naquele dia operava um trator de esteira; que este veículo tem uma lâmina nas diagonais, com o objetivo de espalhar o lixo; que no dia do acidente uma carreta chegou, deixou um monte de lixo, e então o depoente levou o trator de esteira para empurrar o lixo, que em uma das idas e vindas que tinha que fazer, o Autor estava perto do paredão de lixo, e ao empreender marcha ré no trator, a lâmina do trator pegou no Autor; que não viu o Autor enquanto manobrava, pois havia muita gente ao redor; que apenas viu o Autor após o momento do acidente, pois ouviu o Autor gritando; que na sua opinião o autor estava esperando a máquina pas- sar para seguir catando o lixo, e acreditou que o trator não ia atingi-lo. Dada

a palavra ao advogado da parte ré, respondeu: [...] que como havia muita

gente enquanto o depoente manobrava o trator, o depoente tinha que vi- rar o seu tronco e cabeça para poder observar o caminho atrás do veículo, quando manobrava de ré, pois não havia retrovisor; que quando a lâmina

pegou o Autor, o depoente estava olhando para a esquerda, enquanto o Autor se encontrava do lado direito, próximo a pilha de lixo que o trator havia cortado. (grifei)

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In casu não ficou comprovado nos autos a culpa concorrente ou exclusiva do autor no evento danoso, eis que não há evidência de que este tenha se deslocado para o campo de manobra do trator de forma imprudente, já que o próprio condutor do trator tinha conhecimento da existência de diversas pessoas na área em que operava o veículo.

Mostra-se também infundada a tese de que o autor não fez prova dos danos mo- rais sofridos, visto que é inquestionável o abalo psicológico experimentado, con- substanciado no sofrimento e no trauma ante a gravidade do acidente envolvendo o trator conduzido por preposto da apelante, do qual resultou em sequelas físicas permanentes, conforme os relatórios constantes dos autos, os quais são esclare- cedores quanto à dimensão do acidente.

Além disso, tratando-se de danos morais, doutrina e jurisprudência amplamente dominantes adotam a chamada teoria do dano in re ipsa, pela qual se reconhece a existência de dano moral a partir do momento em que comprovada uma conduta ilícita capaz de lesionar direitos da personalidade.

Ressalte-se que a caracterização dos danos morais não está vinculada à constata- ção de deformidades físicas permanentes, pois se referem à aflição e angústia a que a vítima é submetida, ou seja, ao próprio equilíbrio psíquico do indivíduo, que pode ser afetado de diversas maneiras.

Desta forma, não havendo qualquer indício de culpa exclusiva do autor/apela- do, bem como de elementos indicadores da ocorrência de caso fortuito ou força maior, resta íntegro o nexo causal e, portanto, a responsabilidade de indenizar da empresa prestadora de serviço de limpeza urbana.

Com relação à condenação ao pagamento de pensão vitalícia, tenho que de igual modo não merece prosperar a pretensão recursal, uma vez que ficou efetivamente demonstrada a diminuição da capacidade laborativa da parte autora.

Com efeito, nada obstante o laudo pericial indique a inexistência de incapacidade permanente para o trabalho genérico, fls. 106, ficou constatado pelo perito judi- cial que o autor está incapacitado para o trabalho específico, consoante o trecho a seguir transcrito:

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O Sr. J. se encontra com a deambulação bastante limitada em decorrência das lesões acima relatadas. Além disto, apresenta dor quando permanece na posição ortostática prolongada além de impossibilidade de executar mo- vimentos de agachamento repetidamente necessários a sua atividade de catador de recicláveis.

O autor exercia, de forma autônoma, as atividades profissionais de catador de recicláveis, de forma que as sequelas originadas pelo acidente sofrido o impedem de trabalhar de forma plena, o que torna cabível a fixação de pensão mensal, a título de lucros cessantes.

Neste sentido:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. RES- PONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO. CON- CESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. NOVA ORIENTAÇÃO EMANADA DO STF. DANOS MATERIAIS. DANOS MORAIS. QUANTIFICAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO A QUO. JUROS MORATÓ- RIOS. [...] 4. A pensão mensal vitalícia (artigo 950 do Código Civil) é devida quando da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou tiver diminuída a capacidade de trabalho, ou a depreciação sofrida, e deve guardar correspondência com a importância do trabalho para o qual se inabilitou. [...] (20070510088408APC, Relator WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 2ª Turma Cível, julgado em 13/01/2010, DJ 22/04/2010 p. 66)

No que diz respeito ao inconformismo da ré/apelante acerca do quantum inde- nizatório fixado a título de danos morais e de lucros cessantes (pensão mensal), entendo que, de igual modo, a pretensão recursal não merece prosperar.

A d. magistrada sentenciante condenou a ré a pagar ao autor a quantia de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) por danos morais e do montante equivalente a 285% (duzentos e oitenta e cinco por cento) do valor do salário mínimo a título de pensão mensal, tudo devidamente atualizado.

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A meu ver, afigura-se adequado o valor fixado a título de indenização por danos morais, eis que observadas adequadamente a capacidade econômica da apelante e a perenidade dos danos causados ao autor que terá de conviver com limitação física e cicatrizes corporais, bem como em virtude de sua capacidade laborativa, eis que impedido de realizar uma tarefa trivial, como o exercício da atividade de catador de recicláveis.

Assim, não merece censura o montante arbitrado a título de indenização por danos morais.

De igual forma, reputo que o valor fixado para o autor a título de pensão men- sal no equivalente a 285% (duzentos e oitenta e cinco por cento) do salário mínimo se mostra consentâneo com os lucros cessantes devidamente compro- vados nos autos.

Com efeito, o autor demonstrou, através de prova testemunhal colhida em audiên- cia, que percebia, à época do evento danoso, cerca de R$ 50,00 (cinquenta reais) por dia de trabalho como catador de recicláveis. Por sua vez, a ré não conseguiu elidir a prova do autor, razão pela qual deve ser mantido o montante fixado pela julgadora singular.

Portanto, não merece acolhimento a pretensão de redução do valor da pensão mensal fixada na r. sentença.

Pelas razões expostas, nego provimento ao recurso de apelação, mantendo íntegra a r. sentença hostilizada.

É como voto.

Des. Getúlio de Moraes Oliveira (Revisor) – Com o Relator. Des. Mario-Zam Belmiro (Vogal) – Com o Relator.

decisão

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apelação cível

2008011028971-3

Relator Designado – Des. Teófilo Caetano Primeira Turma Cível

ementa

Constitucional, civil e processo civil. Indenização por danos morais. Suicídio. Pre- sídio. Responsabilidade objetiva do Estado (CF, art. 37, § 6º). Filho. Dano moral decorrente do óbito. Caracterização. Compensação pecuniária. Gravidade do fato. Quantum. Inobservância dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Majoração. Débito. Fórmula de atualização e incremento da obrigação. Artigo 1º-F da lei 9.494/97, Com a Redação ditada pela Lei 11.960/09. Aplicação imediata. Lei instrumental. Honorários advocatícios. Fazenda Pública. Apreciação equitativa. Critérios. Expressão. Majoração. Possibilidade.

1. A responsabilidade do Estado quanto aos danos provocados por cidadãos que

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