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De se rejeitar o pedido de majoração do quantum fixado a título de danos morais se o valor estipulado no decisum mostra-se adequado às circunstâncias fáticas.

No documento rdj101 (páginas 168-173)

iii terceira parte

5. De se rejeitar o pedido de majoração do quantum fixado a título de danos morais se o valor estipulado no decisum mostra-se adequado às circunstâncias fáticas.

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acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Mário-Zam Belmiro – Relator, Nídia Corrêa Lima – Revisora, Esdras Neves – Vogal, sob a presidência do Senhor Desembarga- dor Otávio Augusto, em proferir a seguinte decisão: conhecer. Negar provimento ao recurso. Unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 3 de abril de 2013.

relatório

A discussão recursal refere-se a pedido de indenização por danos materiais e mo- rais. O fato danoso diz respeito à queda sofrida pela apelada em razão do desaba- mento da base de assento em arquibancada montada para evento carnavalesco. A r. sentença recorrida, tendo por omissivo o ato do Estado em relação ao fato narrado na inicial, concluiu pela responsabilidade civil objetiva daquele. Nesse sentido, condenou solidariamente o DF e a empresa contratada a responderem pelo pagamento de indenização, sendo 1.343,55 (mil, trezentos e quarenta e três reais e cinquenta e cinco centavos) a título de danos materiais, e R$ 20.000,00 (vinte mil reais) correspondentes a danos morais.

Ambos os réus apelaram do julgado. A empresa ré traz alegação de excludente de responsabilidade, sustentando que a autora recorrida contribuiu para o evento danoso ao, por meio de burla à fiscalização, se utilizar de local interditado. Além disso, alega fato de terceiro, narrando que uma pessoa desconhecida, na tentativa de prestar socorro à autora recorrida, e, transportando-a no colo, terminou por derrubá-la, causando as sequelas narradas na inicial. Nesse sentido, pede o provi- mento recursal para que seja cassada a r. sentença vergastada, julgando improce- dente a demanda em relação a ela.

O Distrito Federal, por sua vez, sustenta que a responsabilidade pelo evento é exclusiva da empresa contratada para a montagem da arquibancada, haja vista previsão contratual acerca de tanto. Alega, também, referindo-se à teoria da faute

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du service, que a sua responsabilidade em relação ao evento é subjetiva, pois se trata de ato omissivo. Sustenta, ainda, inexistente o nexo de causalidade direto e imediato entre o alegado dano e a omissão estatal. Por fim, insurge-se o DF contra o valor em que fixado o dano moral. Assim, pede o provimento recursal para sejam julgados improcedentes os pedidos iniciais, e, sucessivamente, a redução da ale- gada verba indenizatória.

Nos termos da certidão de fl. 410, o prazo para a apresentação de contrarrazões transcorreu in albis.

É o relatório.

votos

Des. Mário-Zam Belmiro (Relator) – Conheço de ambos os apelos, haja vista a presença dos pressupostos de admissibilidade.

A autora recorrida pretende ver-se ressarcida e recompensada em razão da queda que sofreu com o rompimento de tábua da arquibancada onde se encontrava senta- da para assistir a evento carnavalesco patrocinado pelo Governo do Distrito Federal. Em primeira instância, ela teve os pedidos atendidos, mas com a diminuição do va- lor correspondente ao dano material, sendo certo que, em relação à compensação moral, o patamar foi de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Para melhor análise dos recursos interpostos, eis as alegações contidas nas res- pectivas razões recursais: a) inexistência de nexo causal, pois a autora contribuiu para o evento danoso ao ter se sentado em local interditado pelo Corpo de Bom- beiros do DF; b) ocorrência de “fato de terceiro”, haja vista que a autora, logo após o acidente, teria sofrido uma queda quando, em busca de socorro, estava sendo transportada no colo de um desconhecido; c) responsabilidade exclusiva da em- presa responsável pela montagem da arquibancada, haja vista disposição contra- tual expressa nesse sentido; d) inexistência de comprovação de culpa do Estado pelo evento danoso; e) ausência de nexo de causalidade (direto e imediato) entre a conduta administrativa e o dano experimentado pelo lesado; e, f) pretensa exor- bitância do quantum fixado a título de danos morais.

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O ATO DE OMISSÃO E A RESPONSABILIDADE DO ESTADO

Pois bem. O DF afirma que “a responsabilidade civil do Estado por suposto ato omissivo é subjetiva, reclamando a demonstração da falha do serviço...”. No en- tanto, conforme bem ponderado pelo douto sentenciante, “o § 6º do art. 37, da Constituição, ao tratar da responsabilidade civil objetiva do Estado, não se referiu expressamente aos atos comissivos do Estado, de modo que a interpretação do dispositivo deve também englobar os atos estatais omissivos”.

Conforme se verifica, não merece respaldo a assertiva do Distrito Federal, de modo que há de prevalecer o entendimento exposto no julgado, que, aliás, encontra- -se em consonância com recente decisão do excelso Supremo, conforme ementa abaixo, verbis:

Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Responsabilidade objetiva

prevista no art. 37, § 6º, da Constituição Federal abrange também os atos omissivos do Poder Público. Precedentes. 3. Impossibilidade de reexame

do conjunto fático-probatório. Enunciado 279 da Súmula do STF. 4. Ausên- cia de argumentos suficientes para infirmar a decisão recorrida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.1 (sem grifos no original)

Esta egrégia Corte não destoa desse entendimento, conforme se observa da se- guinte ementa de julgamento realizado perante esta Terceira Turma, ad verbum:

1. A responsabilidade civil do Estado ou das entidades de direito privado prestadoras de serviços públicos é objetiva. Assim, para o reconhecimen- to do dever de indenizar, basta a comprovação do nexo causal entre o ato ilícito ou omissão do agente público e o dano experimentado pela vítima.2

Aliás, esta Relatoria, em recentíssimo julgado, assim se manifestou: “3. Compro- vado o dano e nexo de causalidade, decorrente da omissão específica do Esta- do no dever de guarda e vigilância do bem, deve o Estado ser responsabilizado objetivamente”.3

1 RE 677283 AGR, RELATOR(A): MIN. GILMAR MENDES, SEGUNDA TURMA, JULGADO EM 17/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJE-089 DIVULG 07-05-2012 PUBLIC 08-05-2012.

2 Acórdão 605744, 20100111579927APC, Relator GISLENE PINHEIRO, 3ª Turma Cível, julgado em 25/07/2012, DJ 07/08/2012 p. 259.

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Em razão de tais aspectos, prevalece no presente caso, a responsabilidade obje- tiva do Distrito Federal, havendo, portanto, a autora demonstrar apenas o dano sofrido e nexo de causalidade entre ele e o ato omissivo do Distrito Federal.

a responsabilidade exclusiva da empresa ré

O Distrito Federal afirma, também, que é “inadmissível o direcionamento da ação contra a administração pública, na medida em que o contrato prevê expressamen- te a responsabilidade exclusiva da Segunda Requerida e a exclusão da responsa- bilidade do Poder Público”.

Uma vez mais, não merece reproche o entendimento exposto no julgado. Com efeito, a estipulação havida entre o DF e a empresa responsável pela montagem da arquiban- cada não pode ser imposta à autora, haja vista que é parte alheia a esse ajuste. Nesse rumo, com razão o douto sentenciante ao afirmar que tal “cláusula de ex- clusão de responsabilidade tem eficácia apenas entre as partes contratantes e não tem efeito perante terceiros. Vale dizer, o DF poderá, eventualmente, pleitear o ressarcimento perante a empresa contratada da quantia eventualmente paga à requerente a título de indenização”.

Desse modo, deve ser rejeitado também esse argumento do Distrito Federal, ha- vendo, portanto, de prevalecer a responsabilidade objetiva acima retratada.

a alegada ausência do nexo de causalidade

Afirma o ente federativo, sobre tal questão, que:

A fiscalização exercida pela administração destina-se à regularidade da con- tratação e da execução do contrato, o que foi devidamente realizado. Além desses limites, a responsabilidade civil somente poderia ser imputada a ter- ceiros ou à própria Autora em virtude de sua culpa exclusiva [...]

Ora, se fiscalização houve, esta não foi suficiente para impedir o evento danoso experimentado pela autora recorrida. Além disso, não restou claramente demons- trado nos autos – e o ônus probatório acerca de tanto é do próprio DF – que a

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Autora tenha desobedecido a qualquer ordem de agente público lá presente e se colocado, por isso, em situação de risco.

Em tal rumo, mostra-se pertinente a assertiva sentencial no seguinte sentido: “o Distrito Federal não conseguiu comprovar o contrário, vale dizer, que adotou to- das as precauções e cuidados necessários para assegurar a segurança da estrutura contratada, durante todo o período em que esta seria utilizada pelo público. Esse ônus probatório era seu, na condição de requerido...”.

Frente a tanto, resulta evidenciado que se o Distrito Federal houvesse adotado to- das as providências que diz ter tomado, por certo, que o evento danoso narrado na inicial não teria ocorrido. Com isso, tem-se por demonstrada a existência de nexo de causa entre o dano experimentado pela autora apelada e a omissão estatal referente às condições de segurança da arquibancada onde aquela se encontrava. Também não há como prosperar a assertiva contida nas razões de apelo da empre- sa ré, contratada pelo DF para a montagem da arquibancada. Com efeito, ela alega que a sentença “não observou um fato nos autos: o local em que estava a autora/ apelante estava interditado pelo Corpo de Bombeiros e, portanto, ela não poderia estar ali no local”.

Ora, não há nos autos qualquer demonstração concreta e segura a esse respeito. Além disso, é fato nos autos que a autora caiu da arquibancada, sendo assim, tem- -se por demonstrada a ineficiência da alegada interdição, ou seja, deveria ter a em- presa ré adotado providências eficazes para que ninguém tivesse acesso a tal área. Do exposto, tem-se por afastada a alegação sobre a pretensa falta de liame causal entre o dano e a omissão estatal.

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