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APLICAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA ARGENTINA

Não muito diferente dos demais países, a Argentina igualmente busca novos mecanismos de pacificação social. Para tanto, implementou o Plano Nacional de Mediação, pelo Ministério da Justiça, em 1996, que o desenvolveu em conjunto com o Poder Executivo, com o fito de erradicar a criminalidade, programas de pacificação nos mais diversos setores da sociedade.

O Programa Nacional de Mediação alcança vários setores da população argentina. São executados nas escolas e nas comunidades onde se oferece serviços de mediação no âmbito de organizações não governamentais e privadas.

Para tanto, em 1993 foi criado o Centro de Mediação do Ministério da Justiça em que se levou a cabo a Experiência Piloto de Mediação, conectada a juizados de primeira instância no cível, na Capital Federal.78

A Argentina não ficou excluída da crise mundial, e a globaização é fator que enfraquece e fortalece nações, tanto no aspecto social como no econômico. E, diante da fragilidade da adminstração da Justiça, o governo argentino chegou ao entendimento que, em verdade, estava diante de um colapso, o que o levou a reflexão sobre a instituição da mediação, não perdendo a perspectiva de que a instituição da mediação não seria o remédio suficiente para pôr fim à crise.

78 ARGENTINA. Programa nacional de mediación. Disponível em: <www.jus.gov.ar/> Acesso em:

Para tanto, em face das experiências realizadas por outros países, e resolução de conflitos realizada por formas alternativas, pode-se inferir que cabia ao Estado Argetino buscar mecanismos de pacificação social que também influiriam na carga de trabalho dos juízes, a longo prazo, ante a diminuição de litígios, ou seja, redução do ingresso de causas no sistema jurisdicional. Deste modo, somente lograriam chegar ao Judiciário os conflitos que não tivessem sido resolvidos pelas partes por si mesmas ou com a ajuda de um terceiro, neutro, com ou sem poder de decisão.

Saliente-se que, na Argetina, a ordem jurídica é uma mistura de elementos norte-americanos e europeus. A mediação e a conciliação se tornaram parte intergrante do sistema como requisitos pré-judiciais diversos operados por bacharéis registrados no Ministério da Justiça depois de aprovação em curso de treinamento de 40 horas e 20 horas de atividade supervisionada.79

Em 1997, foi publicado o Decreto 666/97, direcionado pelo Programa de Mediação Comunitária do Governo da Cidade pela Secretaria do Governo Argentino, criando a Mediación Comunitaria y Mediación Vecinal. Mediación comunitaria y de

resolución alternativa de conflictos.80

Cumpre destacar que o procedimento que é adotado pela mediação argentina é serviço prestado gratuitamente e confidencial pelos Centros de Gestión y

Participación de la Ciudad e é oferecido na seguinte forma:

Mediação Comunitária

La Mediação comunitaria é um serviço gratuito y confidencial que el GCABA oferece a seus vizinhos, disponível para las personas y / o instituciones que se enfrentan en un conflicto de convivência vecinal y están interesadas en resolverlo através do dialogo. Através de um procedimento VOLUNTARIO, rápido y poco estructurado, con la asistencia de un tercero efectiva como mediador neutro que conduzir y el proceso de la comunicación, intenta-se que os próprios interessados possam lograr acuerdos mutuamente satisfactorios.

O serviço de mediação é prestado da seguinte forma observe-se que condutas criminais e contravenções não podem ser atendidas pelo respectivo instituto:

79 SCURO NETO, Pedro. Chances e entraves para a justiça restaurativa na América latina. In:

BRASIL. Ministério da justiça. Justiça restaurativa: coletânea de artigos. Brasília: Ministério da Justiça; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005.

80 ARGENTINA. Decreto n. 666 de 1997. Disponível em: <http://www.biblioteca.jus.gov.ar/legislacion-

1 - Un tercero neutro, o mediador, facilita a comunicação entre as partes que intervienen en la Mediação y las acompaña en la búsqueda de soluciones mutuamente satisfactorias al conflicto que os vincula. A partir de propostas sugeridas opções y por los propios interessados, se logran CONVENIOS que tienen el alcance de acuerdos privados.

2 - Las mediaciones comunitárias se realizan en forma gratuita em todos os Centros de Gestión y Participación de la Ciudad comunais (Agregar um link redireccionando domicílios de cada CGPC) de Lunes a viernes en el Horario de 9 a 16 hs. También en el Centro de Mediação Comunitária situado en la Villa 31: Calle 5 e / 8 y 10 (CESAC 21), nos dias Miércoles de 10 a 15 hs. 3 - El destinatario del servicio de Mediação comunitaria que presta el GCBA es el "Vecino" de la Ciudad de Buenos Aires. efectos del presente procedimiento debe entenderse por "Vecino" a existência de toda pessoa física ou ideal, que seja parte de un conflicto de convivência que tenha vecinal y su domicilio en la Ciudad de Buenos Aires o que la incidencia del conflicto, en tanto sus efectos, tenha lugar dentro de dicha jurisdicción. 4 - En el marco de este servicio se compreende por "conflicto vecinal" al problema que se presente como consecuencia de la interrelación - por acción u omisión-dos entre pessoas de existência física ou ideal, en la cual al menos una de ellas puede definirse como " Vecino ".

Problemas en el Consorcio Problemas edilicios

Uso indebido de espaços Conflitos barriales

Se podrán someter a un proceso de Mediação de Conflitos Consorcio comunitaria aqueles que fazem a la convivência entre vizinhos. Los vizinhos poderão resolver problemas pt Mediação contos como: reparaciones en el Consorcio, inadecuado uso de espaços comuns, filtraciones y humedad, utilización de la medianera, Ruidos molestos, olores desagradables, es decir conflitos que fazem estrictamente la uma convivência vecinal.

5 - O interessado deve asistir al CGPC de sua Comuna, de Lunes a Viernes entre as 9 y 16 hs, y dirigirse a la Oficina de Mediação Comunitária, onde pessoal especializado asesorará lo para levar avante a Mediação derivará o lo-se o caso não pode ser mediado al organismo que corresponda-para intentar solucionar seu problema. Para mais consultas.

6 - O serviço é totalmente gratuito.

7 - Los temas que não podem ser tratados en Mediação comunitaria son los siguientes:

Temas laborales.

Causas penales y / o contravencionales.

Causas en las que exista denuncia policial previa o que se Haya iniciou uma acção judicial com o mesmo objeto.

Conflitos vinculados con el derecho de familia (Acciones de Separación pessoais y divorcio, nulidad de matrimonio, filiación y patria potestad y todo otro tema referido a menores de idade).

Em que pese a disposição acima não permitir a mediação para as causas penais, a Lei 24.573/1995 igualmente, durante cinco anos, restringiu sua aplicação

na sua fase experimental, também, às causas em que o Estado e seus organismos eram parte, assim como determinadas questões de família e ações de despejo.81

Ante tal disposição legal, os mediadores e conciliadores argentinos são pagos com honorários que variam de 150 a 600 dólares, dependendo do valor do acordo. Esses valores são oriundos de um fundo de financiamento adminstrado pelo governo.

Definitivamente, os novos modelos de pacificação social são exitosos na Argentina e os dados, quando da implementação do Plano Nacional de Mediação, pelo Ministério da Justiça, foram determinantes para a manutenção e implementação dos novos modelos. Das reclamações que deram entrada nas varas cíveis, 27% foram devolvidas a juízo, sendo 31% nas comerciais e 28% nas federais.82

Como o interesse na composição social não é somente preocupação dos estados nacionais, eis que o problema da criminalidade é transnacional, a Argentina passou a ser integrante de programas de interesse internacional e, em 1989 e 1993, recebeu da Agência Americana de Apoio ao Desenvolvimento (Usaid) 2 milhões de dólares para ajudar na implementação de políticas de reforma jurídica e judicial, uma das suas grandes prioridades da década de 90.83

Soma-se a tudo o fato da nova de Lei de Mediação Argentina modificar o Código de Processo Civil Argentino e inserir-se cada vez mais, dentro da finalidade do código tipo para a América Latina, de modo a atender uma tendência universal, que inclina-se no sentido de que ocorra, na atividade jurisdicional, uma audiência prévia de conciliação perante o juiz togado, envidando esforços na consecução do propósito de solução dos litígios através de conciliação.84

Deste modo, o modelo argentino confirma o sucesso dos novos modelos de pacificação social que se fundamentam na ideologia de “sistema de justiça eficiente”

81 ARGENTINA. Decreto n. 666 de 1997. Disponível em: <http://www.biblioteca.jus.gov.ar/legislacion-

argentina.html>. Acesso em: 14 mar. 2009

82 SCURO NETO, Pedro. Chances e entraves para a justiça restaurativa na América latina. In:

BRASIL. Ministério da justiça. Justiça restaurativa: coletânea de artigos. Brasília: Ministério da Justiça; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2005. p. 236.

83 ALVAREZ, Glads Stella. Estúdio de experiencias comparativas em resolution alternativa de

disputas. Washington, D.C.: Organization of Américan State/ Departament of Legal Affairs and Services, [2008?]. Disponível em: <http://www.undp.org/suf-panama/docs/resolucion_disputas.doc>. Acesso em: 11 set. 2009.

84 CUNHA. J. S. Fagundes. Da mediação e da arbitragem endoprocessual. Revista Juizado Especial, n. 13, p. 11- 41, out./dez., 1999.

cuidadosamente trabalhados por agências como United States Agency for

International Development (USAID), Programa das Nações Unidads para o

Desenvolvimento (PNUD) e World Bank, voltadas para países em desenvovimento, que visam propiciar uma justiça sem litigiosidade e insuficiência de recursos por meio de políticas e programas que possibilitem, aos sujeitos da relação, possibilidades de acesso a procedimentos eficientes que não sejam necessariamente os judiciais, possivelmente com o menor custo possível.85

85 Ibid.

3 DOS CRIMES ECONÔMICOS