• Nenhum resultado encontrado

3.3 SUJEITOS DOS CRIMES ECONÔMICOS

3.3.4 Lei 9.613, de 03 de março de 1998

Os crimes definidos como lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores, a prevenção e utilização do sistema financeiro estão previstos na lei

9.613/98, que cria, em seu dispositivo, com o fim de combater a criminalidade organizada e crimes econômicos, o Conselho de Atividades Financeiras – COAF.119

Para a compreensão da referida lei, é necessária a conceituação do que vêm a ser crimes definidos como lavagem de dinheiro. A doutrina a conceitua como um negócio uma espécie de “crime de colarinho branco” que traduz uma delinquência que quebra barreiras extraterritoriais quando derruba a barreira da proteção administrativa, ou seja, crime que obriga um tratamento especial pelas normas especiais o que permite maior possibilidade de atuação das autoridades para sua repressão. É fato considerado conexão da ação principal, encarado como conduta teleológica com objetivo de encobrir a ação principal.120

Para Laurindo Souza Neto, citando Pecorella, o crime de lavagem de dinheiro abrange condutas que têm como origem criminosa a transformação de valores ilícitos em valores lícitos com aparência de legalidade.121

Há de se considerar que essa conduta é extremamente nociva à sociedade e aos mercados de capitais, tendo em vista que as organizações criminosas lavam vultosas quantias fomentando várias vertentes da criminalidade, seja territorial como extraterritorial.

Portanto, diante das 40 recomendações do Grupo de Ação Financeira, GAFI, para conisderar o processo de lavagem de dinheiro é necessário compreender suas fases principais de atuação que estão compreendidas em três, sendo elas: primeiramente a colocação do dinheiro em circulação, almejando o desfazimento rápido da grande volume de quantias, sejam moedas ou notas de pequeno valor, muitas derivadas do tráfico ilícito de drogas e prostituição. Nesta fase, é muito comum a utilização de agentes bancários para efetivar as respectivas transferências bancárias.

Acrescente-se que é nessa fase que todo o material é eliminado pelos criminosos que procuram esconder toda ilicitude da origem das vultosas quantias.

119 BRASIL. Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação

de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, Poder Legislativo, 04 mar. 1998. p. 1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9613.htm> Acesso em: 11 set. 2009.

120 BETTI, Francisco de Assis. Aspectos dos crimes contra o sistema finaceiro nacional:

comentários às leis 7492/86 e 9613/98. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 39.

121 SOUZA NETTO, José Laurindo de. Lavagem de dinheiro: comentários à Lei 9.613/98. Curitiba:

Comumente, transferem os valores para zonas diferentes daquelas em que o ilícito ocorreu, transferindo-os para estabelecimentos financeiros tradicionais ou não tradicionais, tais como casas de câmbio, casssinos, restaurantes, hotéis, comércios em geral, atividades fora de qualquer suspeita.

Na segunda fase, fraciona-se as quantias em diversas transações de modo a evitar a identificação evadindo-se das obrigações de identiificação ou comunicação. Callegari, citando Fabian Caparros, enfatiza que é nessa fase que se ameniza os receios e suspeitas sobre as grandes quantias ingressadas em contas correntes, o que convoca seus agentes a fracionarem artificiosamente o ingresso em várias contas bancárias evitando qualquer suspeita sob a movimentação.122

Nesta fase, os métodos e mecanismos são os mais variados possíveis, tais como utilizar-se de colocação mediante instituições financeiras não tradicionais, mistura de fundos lícitos e ilícitos, contrabando de dinheiro, utilização de câmbios e transações comerciais e bancárias, agentes de seguros, bem como agentes da bolsa de valores, tendo em vista a infiltração daqueles que trabalham com esses ativos e passivos.

A fase do escurecimento, ou seja, da ocultação da origem dos produtos ilícitos mediante a realização de transações financeiras. Ocorre quando a fase de colocação é exitosa, em que os agentes buscam dificultar a descoberta dos valores por meio de transações que irão evitar que se trace a origem da ilicitude das quantias.

Definitivamemente, é nessa fase que os agentes buscam eliminar qualquer operação que evidencie que aqueles valores são objeto de atividade ilícita. Portanto, buscam atividades financeiras que encubram as atividades ilícitas desenvolvidas anteriomente, quando exitosas, e eliminam qualquer posssibilidade de rastreamento da origem ilícita e a descoberta da atividade criminosa, o que dificulta a atividade policial.

Na chamada fase de inversão, ou reinversão, o que se busca é a utilização do dinheiro, dada sua aparência de licíto. Ou seja, nesta etapa, os agentes criminosos necessitam dar legitimidade a origem do dinheiro e consequentemente, justificarem

122 CALLEGARI, André Luís. Direito penal econômico e lavagem de dinheiro. Porto Alegre: Livraria

suas riquezas. É nessa fase que o dinheiro aparece como investimento normal em forma de crédito ou investimentos, como poupanças e/ou aplicações em mercados de capitais.

Geralmente, é nessa fase que os agentes criminosos aumentam seus patrimônios com compra de imóveis; abertura e/ou participação em empresas de grande porte, nacionais ou estrangeiras, transferência de quantias para outras unidades nacionais por intermédio de transações bancárias duvidosas além de. Falsificarem transações comercias por meio de importação e exportação. Em que pesem as diversas possibilidade de mecanismos lícitos para a utilização do dinheiro apurado ilicitamente, tem-se, ainda, a utilização de mecanismos igualmente ilícitos para garantir a circulação do capital ilícito, tais como cassinos, sistemas bancários subterrâneos, comércio cruzado, compra ou estabelecimento de companhias privadas e utilização de empresas denomindas “de caixa”, aquelas destinadas ao atendimento do público por meio de serviços de pequenas entidades e precárias quantias econômicas, ou seja, empresas de pouca expressão e capital econômico pequeno.123

Destarte, o crime de lavagem de dinheiro é uma das modalidades mais nocivas à atividade econômica de um Estado nacional, pois, lesa, de forma significativa, as riquezas desta nação, que tem sua economia e riqueza comprometidas pelos danos causados pela ilictude da origem da quantida aplicada no mercado como lícita. É fato que os valores já lícitos, mas de origem ilícita deixam um rastro de consequências que podem minar ou fragilizar a economia e as relações comercias de uma nação economicamente ativa ou/em desenvolmento ou desenvolvida. Os danos e suas consequências são incalculáveis para uma nação potencialmente ativa.

Consigne-se que crimes desta natureza geralmente não são identificados e, quando o são, dado os recursos que a lei processual penal brasileira vigente propicia, seus agentes saem impunes e, na maioria das vezes o patrimônio e/ou capital não são restituídos ao Poder Público. Daí dizer que, o modelo restaurativo é mais um mecanismo de composição social que pode ser aplicado a esses delitos dada a necessidade de recuperar o capital fraudado e impedir que os agentes

123 CALLEGARI, André Luís. Direito penal econômico e lavagem de dinheiro. Porto Alegre: Livraria

desses crimes saiam impunes e o Estado tenha restituído o bem objeto da ação do sujeito ativo do crime, haja vista o modelo restaurativo buscar a reconciliação e o perdão. Justifica-se tal posicionamento com os dispositivos de leis aplicáveis atualmente em nosso ordenamento penal.