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Durante décadas, os Estados travaram relações comerciais em busca do crescimento de suas economias e mercados de capitais. Entretanto, essas relações, muitas vezes, são abaladas em decorrência de ações criminosas que desestabilizam a economia e desequilibram as relações comerciais e mercado de capitais, pois enfraquecem empresas e instituições, favorecendo falências e perdas de postos de trabalho.

As ações criminosas, derivadas dos crimes econômicos e financeiros como conceituam muitos, geralmente ocorrem em empresas ou instituições, públicas ou privadas, nacionais ou internacionais, sem que seja necessária a presença do agente infrator, dado, atualmente, às relações serem travadas por meios eletrônicos e outros recursos que não exigem a presença do agente econômico ou administrador, o que revela a singularidade destes crimes e de seu sujeito ativo.

Doutrinariamente, há necessidade de conceituar o que vêm a ser crimes econômicos para, em seguida, entender a preocupação dos Estados face às consequências que eles produzem nas empresas públicas ou privadas, e, socialmente, seu fundamento de validade nos ordenamentos brasileiro e internacional.

As Nações Unidas, com o advento do 11º Congresso sobre Prevenção do Crime e Justiça Penal, realizada em Bangkoc nos dias 18 a 25 de abril do ano de 2005, conclui-se pela seguinte definição, textualmente:

Por crime econômico e financeiro entende-se, de um modo geral, toda a forma de crime não violento que tem como conseqüência uma perda financeira. Este crime engloba uma vasta gama de atividades ilegais como a fraude, a evasão fiscal e o branqueamento de capitais. É, no entanto, mais difícil definir a noção de crime econômico e o seu conceito exato continua a ser um desafio. A tarefa complicou-se ainda mais devido aos avanços rápidos das tecnologias, que proporcionam novos meios de perpetuar os crimes desta natureza.86

Em que pese o mencionado conceito, a doutrina analisa o fenômeno da criminalidade econômica sob o enfoque do Direito Penal Econômico, e o Direito tervigersa sobre o tema.

86 UNITED NATIONS CONGRESS ON CRIME PREVENTION AND CRIMINAL JUSTICE, 2005,

Callegari, citando Sutherland, conceitua crimes econômicos como crimes de “colarinho branco”, tendo em vista que são crimes contra a ordem econômica. E, sob esse enfoque, descreve cinco elementos que são fundamentais para sua conceituação, como: 1º) a ação do agente ser crime; 2º) ser cometido por uma pessoa respeitável; 3º) esta pessoa deve pertencer a uma camada social alta; 4º) estar no exercício de seu trabalho e 5º) constituir uma violação de confiança.87

Howard Becker e Edelhertz, americano e britânico, respectivamente, conceituam crime econômico pelas condutas dos sujeitos ativos do crime, que repercutem as seguintes conseqüências: 1) danosidade social; 2) custo financeiro do crime praticado; 3) democratização do alcance dos tipos incriminadores, atingindo toda a população e não só os mais bem abastados.88

Entretanto, de acordo com a elaboração de Klaus Tiedmann, os white collar

criminals têm como principal característica preocupar-se menos na personalidade do

delinquente e na sua presença nas classes socioeconômicas superiores do que na específica forma da sua atuação e não no objeto dos seus atos.89

A fusão dos elementos objetivo e subjetivo dá o real significado do criminoso do colarinho branco que seria um agente com notória respeitabilidade negocial, responsável por ampla violação de confiança, que por intermédio de sua infiltrabilidade, comete lesões ao sistema econômico e financeiro, com alta danosidade das condutas, elevado custo financeiro e impunidade ante o “pouco impacto” social dos crimes.90

Em que pesem os conceitos citados, a criminologia conceitua crime econômico como infrações lesivas à ordem econômica cometidas por pessoas de alto nível socioeconômico no desenvolvimento de sua atividade profissional.91

Assim, partindo desses conceitos, tem-se que, crimes econômicos são todas as ações não-violentas que geram prejuízo econômico e financeiro e que são praticadas sem, contudo, definir o modus operandi de seus agentes. Destaque-se

87 CALLEGARI, André Luís. Direito penal econômico e lavagem de dinheiro. Porto Alegre: Livraria

do Advogado, 2003. p. 16.

88 Ibid.

89 Klaus Tiedemann (1997) apud SANTOS, Cláudia Maria Cruz. O crime de colarinho branco. São

Paulo: Revista dosTribunais, 2001. p. 197.

90 Tiedemann (2003) apud SANTOS, Cláudia Cruz. O crime de colarinho branco. São Paulo:

Revista dosTribunais, 2001. p. 197.

que são as ações criminosas que mais causam vítimas e são os crimes menos punidos em face de uma legislação penal nacional e internacional que não os define não os conceitua precisamente. Tem-se, portanto, ineficácia para atingí-los.

Não obstante não lograrmos êxito com uma definição conceitual do que vêm a ser crimes econômicos, as legislações contemporâneas, após a integração dos povos em atenção aos preceitos da ONU, adotam leis que têm como objetivo o combate a esses crimes, que podem ser identificados como lavagem de dinheiro ou branqueamento de capitais, fraudes, evasão de divisas, quadrilha ou bando, corrupção, dentre outros.

Tem-se que o século XX foi marcado com o avanço das relações comerciais, e a comunicação é a pedra angular desta interação socioeconômica. A quebra das barreiras comerciais e a abertura dos portos de várias nações fizeram com que a criminalidade econômica alcançasse um índice considerável e, consequentemente, a desestabilização social, eis que muitos países não têm estrutura econômica para entrar no contexto globalizado e suas barreiras são frágeis no combate à criminalidade organizada.

É fato que os avanços nas relações internacionais propiciaram um aumento significativo no mercado de capitais, geraram riquezas, aumento de emprego e, de modo absoluto, inseriu e excluiu diversos países no contexto mundial.

Entretanto, embora muitos acordos e tratados tenham sido celebrados, nenhum definitivamente conseguiu punir de modo exemplar os agentes diferenciados dos chamados crimes econômicos. As razões são as mais diversas, o medo de qualquer ação afugentar empresas estrangeiras do território nacional, bem como enfrentamento de um processo longo e moroso sem que, efetivamente, o agente seja punido e de que , a fuga de capital daquele estado nacional ocorra de fato e fundamentalmente de que o sentimento de impunidade se perpetue, demonstrando a fragilidade dos mecanismos adotados para o combate a crimes desta natureza. Enfim, leis adotadas para combater e erradicação dos crimes econômicos entram no rol daquelas que, pode-se dizer, são inócuas, pois não cumprem o fim a que se destinam e geram o desgaste do Estado face ao dano social causado.

Portanto, um marco na legislação penal internacional, primeiramente, será definir o que vêm a ser crimes econômicos e financeiros e, a partir desta conceituação, determinar uma forma mais concisa de combate ao crime, o que atingirá o agente infrator de fato e a norma penal cumprirá seu destino que é a pacificação social.

O Brasil, signatário da Organização das Nações Unidas e da Organização Mundial do Comércio, aderiu, no ano de 2002, à Resolução 2002/12, com o compromisso de buscar mecanismos para combater a criminalidade organizada e os crimes econômicos, e que, na sua grande maioria, têm como fim combater a organização criminosa macro. Destarte, o Brasil está em total compasso com a legislação internacional, pois , tem instrumentos legais e jurídicos que tratam do tema. Porém, igualmente, não tem definição conceitual do que vêm a ser crimes econômicos, e suas leis se mostram frágeis, o que permite notar a necessidade de se adotar novos mecanismos de correção penal.

Deste modo, volta-se à fase inicial, em que não se define de forma própria o que vem a ser crimes econômicos. Mas, não obstante essa indefinição conceitual, é imperioso que os Estados combatam condutas lesivas, como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, fraude, elisão fiscal, quadrilha e bando etc, e que os autores recebam, de acordo com a legislação correlata, a punição devida, almejando-se a reparação e a reconstuição social que é o fim da norma penal.