• Nenhum resultado encontrado

Crimes econômicos na legislação brasileira

3.3 SUJEITOS DOS CRIMES ECONÔMICOS

3.3.3 Crimes econômicos na legislação brasileira

É certo que, doutrinarimante, não temos um conceito formal do que vem a ser criminalidade organizada e crime organizado, mas a legislação brasileira, signatária da ONU e demais tratados que versam e objetivam o combate à criminalidade nacional e extraterritorial, não descurou em tipificar algumas condutas e inseri-las no conceito abstrato de crimes econômicos que, na sua essência, são praticados sob a estrutura do crime organizado e organização criminosa.

Nosso objetivo não é trazer todos os crimes denominados econômicos, consequentemente definir todas as condutas consideradas ilícitas e decorrentes de ações praticadas por quadriha ou bando ou organizações ou associações delitivas de qualquer natureza.

Inicilamente apresentar-se-à leis que objetiv/am o combate e a erradicação dos crimes desta natureza, e discorreremos sobre a aplicação da norma no ordenamento penal brasileiro, que tem leis que asseguram punições em decorrência da subsunção às normas penalmente tipificadas.

Assim, a Lei 9.034, de 3 de maio de 1995, que dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção de ações praticadas por organizações criminosas, define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que

114

REALE JÚNIOR, Miguel. Crime organizado e crime econômico. Revista Brasileira de Ciências

versem sobre ilícitos considerados como ações decorrentes de condutas de quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo.115

Vê-se, portanto que, é uma lei que, originariamente cuida da parte procedimental a ser aplicada aos crimes desta natureza, uma lei curta, singela, que traz em seus oito artigos à aplicação da norma processualmente.

No primeiro capítulo, faz remissão ao regulamento da lei sobre os crimes decorrentes de ações consideradas e praticadas por quadrilha ou bando ou organização ou associações criminosas de qualquer natureza.

O segundo capítulo, por seus cinco incisos, revela as possibilidades nos procedimentos de investigação, sem prejuízo dos já previstos em lei, e formação de provas. Tais como:

Art. 1º. Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: (Redação dada pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

I - (Vetado).

II - a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e fornecimento de informações;

III - o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais.

IV – a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, e o seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial; (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial. (Inciso incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)

Parágrafo único. A autorização judicial será estritamente sigilosa e permanecerá nesta condição enquanto perdurar a infiltração. (Parágrafo incluído pela Lei nº 10.217, de 11.4.2001)116

Tem-se, portanto que, neste primeiro artigo a preocupação do legislador ficou com o fornecimento de dados, elementos que colaborarão para a formação da convicção do juízo de reprovabilidade. Ou seja, estabeleceu mais condições para a

115 BRASIL. Lei n. 9.034, de 03 de maio de 1995. Dispõe sobre a utilização de meios operacionais

para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Diário Oficial da União, Brasília, Poder Legislativo, 04 maio 1995. p. 6241. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9034.htm> Acesso em set. 2009.

devida apuração da conduta crime, permitindo, inclusive, a inflitração de agentes da polícia ou da inteligência nas quadrilhas ou bandos “em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante circunstanciada autorização judicial”117 considerando o caráter do procedimento investigatório e a

possibilidade de sigilo estrito.

Todo procedimento está totalmente em compasso com a Carta Política de 1988, que garante a todo cidadão brasileiro o direito à imagem. Neste diapasão, no inciso III, do artigo 1º da nossa Lei maior, sob a denominação de direitos da personalidade, considera direitos consagrados como pétreos, a imagem, a vida, a moral, a liberdade e o que, por ora, se torna nosso objeto paralelo de estudo: a imagem.

Caio Mário Pereira, discorrendo sobre o direito a imagem, preleciona que "trata-se de um atributo inseparável do homem dentro da ordem jurídica, qualidade que não decorre do preenchimento de qualquer requisito psíquico e também dele inseparável".118

Portanto, o legislador, não se descuidando dos direitos e garantias assegurados constitucionalmente, trouxe, na lei em comento, o direito ao mais rigoroso segredo de justiça. Em síntese, pode-se entender que tal medida, além de preservar todo o processo investigatório assegura ao investigado o direito de não ter sua imagem vinculada ao mundo do crime quando, na verdade, tal fato não ocorreu. Há como premissa maior a possibilidade de um processo investigatório mais escorreito, sem vazamentos, o que de certo pode se concluir pelo sucesso de qualquer operação que visa apurar delitos desta natureza.

Todas as diligências serão realizadas em autos apartados, e serão guardadas em local seguro, sem qualquer intervenção do servidor ou cartorário. O acesso somente é dado na presença do Juiz e das partes legitimas na causa. Qualquer dado para fins diversos da lei poderá ser punido de acordo com o Código Penal Brasileiro, no Capítulo III - Dos Crimes Contra a Administração da Justiça.

117 BRASIL. Lei n. 9.034, de 03 de maio de 1995. Dispõe sobre a utilização de meios operacionais

para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Diário Oficial da União, Brasília, Poder Legislativo, 04 maio 1995. p. 6241. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9034.htm> Acesso em set. 2009.

Em sua disposição geral, a lei obriga os órgãos da Polícia e setores especializados a uma estruturação visando ao combate à ação praticada por organizações criminosas, bem como exige, em seu artifo 5º, a identificação criminal independente da civil.

O legislador, como medida de política criminal, estimula a delação premiada como fator de redução da pena, entre um a dois terços, quando a cooperação for espontânea e a informação colaborar para o esclarecimento da infração penal e conseguentemente sua autoria.

No que concerne à concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança, a mesma não será concedida, nos termos do artigo 7º da lei em comento. Observa-se que, em que pese a lei trazer a respectiva restrição, o entendimento dos tribunais diverge do legislador e traduz tal possibilidade, que pode ser concedida pelo que se extrai do entendimento dos Tribunais pátrios e a decisão do Supremo Tribunal Federal, que espelha essa posição em sede de Habeas Corpus n.° 94.404-3 São Paulo, na lavra do Ministro Relator Celso de Mello. É o que ocorre em atendimento aos princípios de um Estado de Direito que tem como premissa garantir os direitos individuais e coletivos, conforme trechos do Anexo C deste trabalho:

MED. CAUT. EM HABEAS CORPUS 94.404-3 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO PACIENTE(S) : KIAVASH JOORABCHIAN IMPETRANTE(S) : ROBERTO PODVAL E OUTRO(A/S) COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 100.090 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: “ HABEAS CORPUS ”. ESTRANGEIRO NÃO DOMICILIADO NO BRASIL. CONDIÇÃO JURÍDICA QUE NÃO O DESQUALIFICA COMO SUJEITO DE DIREITOS E TITULAR DE GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS. PLENITUDE DE ACESSO, EM CONSEQÜÊNCIA, AOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE TUTELA DA LIBERDADE. RESPEITO, PELO PODER PÚBLICO, ÀS PRERROGATIVAS JURÍDICAS QUE COMPÕEM O PRÓPRIO ESTATUTO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE DEFESA. VEDAÇÃO LEGAL ABSOLUTA, EM CARÁTER APRIORÍSTICO, DA CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. LEI DO CRIME ORGANIZADO (ART. 7º). INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA AOS POSTULADOS CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, DO “ DUE PROCESS OF LAW ”, DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA PROPORCIONALIDADE. O SIGNIFICADO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, VISTO SOB A PERSPECTIVA DA “ PROIBIÇÃO DO EXCESSO”: FATOR DE CONTENÇÃO E CONFORMAÇÃO DA PRÓPRIA ATIVIDADE NORMATIVA DO ESTADO. ENTENDIMENTO DE AUTORIZADO MAGISTÉRIO DOUTRINÁRIO (LUIZ FLÁVIO GOMES, ALBERTO SILVA FRANCO, ROBERTO DELMANTO JUNIOR, GERALDO PRADO E WILLIAM DOUGLAS, “INTER ALIA”). PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: ADI 3.112/DF (ESTATUTO DO DESARMAMENTO, ART. 21). CONVENÇÃO DE PALERMO (CONVENÇÃO DASNAÇÕES UNIDAS CONTRA O

CRIMEORGANIZADO TRANSNACIONAL). TRATADO MULTILATERAL, DE ÂMBITO GLOBAL, REVESTIDO DE ALTÍSSIMO SIGNIFICADO, DESTINADO A PROMOVER A COOPERAÇÃO.HC 94.404-MC/SP PARA PREVENIR E REPRIMIR, DE MODO MAIS EFICAZ, A MACRODELINQÜÊNCIA E AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS DE CARÁTER TRANSNACIONAL. CONVENÇÃO INCORPORADA AO ORDENAMENTO POSITIVO INTERNO BRASILEIRO (DECRETO Nº 5.015/2004). INADMISSIBILIDADE DA INVOCAÇÃO DO ART. 11 DA CONVENÇÃO DE PALERMO COMO SUPORTE DE LEGITIMAÇÃO E REFORÇO DO ART. 7º DA LEI DO CRIME ORGANIZADO. A SUBORDINAÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA, À AUTORIDADE DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, DOS TRATADOS INTERNACIONAIS QUE NÃO VERSEM MATÉRIA DE DIREITOS HUMANOS. JURISPRUDÊNCIA (STF). DOUTRINA. CARÁTER EXTRAORDINÁRIO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR DA LIBERDADE INDIVIDUAL. INVIABILIDADE DE SUA DECRETAÇÃO, QUANDO FUNDADA NA GRAVIDADE OBJETIVA DO DELITO, NA SUPOSTA OFENSA À CREDIBILIDADE DAS INSTITUIÇÕES, NO CLAMOR PÚBLICO E NA SUPOSIÇÃO DE QUE O RÉU POSSA INTERFERIR NAS PROVAS. NÃO SE DECRETA PRISÃO CAUTELAR, SEM QUE HAJA REAL NECESSIDADE DE SUA EFETIVAÇÃO, SOB PENA DE OFENSA AO “STATUS LIBERTATIS” DAQUELE QUE A SOFRE. PRECEDENTES. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. DECISÃO.

Em suma, como disposto no julgado acima:

[...] a interdição legal “ in abstracto ”, vedatória da concessão de liberdade provisória, como na hipótese prevista no art. 7º da Lei nº 9.034/95, incide na mesma censura que o Plenário do Supremo Tribunal Federal estendeu ao art. 21 do Estatuto do Desarmamento, considerados os múltiplos postulados constitucionais violados por semelhante regra legal, eis que o legislador não pode substituir-se ao juiz na aferição da existência, ou não, de situação configuradora da necessidade de utilização, em cada situação concreta, do instrumento de tutela cautelar penal.

O que implica dizer que tal vedação encontra resistência nos argumentos expendidos no julgado colacionado e revela que a situação concreta é que irá dar ao Juiz as condições para um edíto condenatório consistente com a manutenção da segregação cautelar do agente ou a concessão de sua liberdade.

Por fim, é uma lei que traz em seu bojo a processualística a ser aplicada aos delitos desta natureza e, naturalmente, as posições poderão ser invertidas para o fim de se estabelcer a paz social e ressocialização do agente.