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A globalização, certamente, foi o marco para estabelecer o aumento da criminalidade transnacional, tendo em vista que seu processo, além de gerar um volume grande de riquezas, propiciou trazer para o campo das relações comerciais países pobres e em desenvolvimento, o que não exclui os chamados países ricos do rol daqueles que têm crimes desta natureza. O sistema de comunicação foi um dos vetores mais importantes do final do século XX, o que propiciou a integração dos países efetivamente, com a proposta de abertura concreta dos portos e suas alfândegas, quebra de barreiras alfandegárias em regime de blocos, descortinando a livre circulação de bens, serviços, bem como de seus produtos manufaturados. Tal fato demonstra e registra a fragilidade dos Estados, eis que muitos não se preocuparam com seus sistemas bancário, portuário, alfandegário e, assim,

facilitaram a conduta criminosa dos agentes para a prática dos crimes econômicos e financeiros.

Os dizeres de Luciano Nascimento Silva, são elucidativos quanto ao sistema da globalização:

A globalização como novo modelo social ou poder hegemônico se inicia de

forma incisiva como fenômeno econômico de maximização dos mercados. Num primeiro momento, com a expansão do sistema de comunicação funcionando como instrumento de dominação, numa sistemática de oferecimento da informação e notícia como os principais produtos de consumo da nova era, provocada por uma conseqüência inerente, que é a da evolução tecnológica. E, num segundo, de completude e materialidade, de forma a realizar o fechamento do poder hegemônico, o surgimento da

integração, em regime de blocos econômicos discutindo a livre circulação de

bens, serviços e fatores produtivos entre países, através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários, restrições não tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de efeito equivalente. É a existência de um poder hegemônico centrado e planificado num espaço integrado e homogêneo.92

Portanto, o poder hegemônico apresentado pela globalização gerou uma completa euforia, uniu capital e democracia. Não obstante essa união, o fato é que a humanidade acreditou que a democracia continuaria a impor formas plurais de organização da sociedade por intermédio das relações internacionais em sentido lato, ou seja, em um ambiente totalmente integralizado entre as diversas nações envolvidas no momento globalizado. O que, de fato, não ocorreu.

O movimento da globalização consistiu em propiciar uma gama de elementos que, num primeiro momento, passou a idéia de superação e estabilização. Mas a fragilidade dessas relações e a volatividade dos capitais arruinaram economias e, consequentemente, geraram um completo caos social pelos resultados produzidos na sociedade antes eufórica. Após os avanços sociais, econômicos e financeiros, seguiram-se desilusão pelos percalços do desemprego, fome, miséria, exclusão e, sobretudo, descrédito social, fato experimentado por diversas nações.

Em pleno início do século XXI, a Europa enfrenta uma das suas maiores crises, e dados recentes revelam que o número de desempregados na Europa, cito a Espanha, subiu 198.838 em janeiro, e agora “está na marca recorde de 3.327.801 pessoas. Desde janeiro de 2008, o desemprego subiu 47,12%, enquanto de

92 SILVA, Luciano Nascimento. O moderno Direito penal econômico: a ciência criminal entre o

econômico e o social. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 225, 18 fev. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4840>. Acesso em: 03 mar. 2009.

dezembro de 2008 teve alta de 6,35% no país”. Informações extraídas do Ministério do Trabalho e Imigração. 93

Destaque-se que, em 28 de janeiro de 2009, o Banco Central Espanhol registrou que a economia espanhola entrou em recessão e assinalou a queda do PIB como demonstram os seguintes dados:

[...] Depois da contração acentuada registrada no quarto trimestre de 2008, seguindo-se a uma queda no trimestre imediatamente anterior. Dois trimestres de contração do PIB (Produto Interno Bruto) definem uma economia em recessão, segundo economistas. Segundo o banco, a economia da Espanha teve uma contração de 1,1% no trimestre passado, na comparação com o terceiro --quando também houve queda, de 0,2%, em relação a um trimestre antes.94

José Luis Rodriguez Zapatero, primeiro ministro espanhol, enfatizou que “a crise econômica na Espanha deve durar até o fim deste ano de 2009. Este é um parêntese duro e difícil, mas um parêntese [...]. Ao fim de 2009 poderemos começar de vez uma recuperação", afirmação dada em programa transmitido pelo canal público TVE1.95

Com as previsões do Fundo Monetário Internacional para a economia espanhola, esperava-se uma contração de, ao menos, 1% em 2009, importando dizer que o país dependerá da aplicação de reformas profundas. As medidas do governo visam o destino de 11 bilhões de euros para obras e equipamentos públicos com o intuito de criar postos de trabalho e recuperar a economia. 96

A União Européia prevê um completo caos para os demais países, que também deverão adotar medidas ao fim de minimizar os estragos da atual crise econômica; sem contar que o restante do mundo amarga com a crise econômica que o assola esse início de século.

A crise econômica é velha conhecida do mundo moderno. Pode-se registrar com a crise de 1929, que foi o marco para o desequilibro e o caos social vivido pelos Estados Unidos da América, que deteve o aumento de produção e não foi acompanhada por aumentos salariais. Não obstante a mecanização ter gerado muito

93 NÚMERO de desempregados na Espanha passa de 3,3 milhões e bate recorde. Folha On Line, 03

fev. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u497882.shtml> Acesso em: 03 fev. 2009.

94 Ibid. 95 Ibid. 96 Ibid.

desemprego, é fato que a economia não acompanhou as mudanças e gerou um dos maiores caos social da história moderna.

Outrossim, com a franca recuperação de suas economias, a Europa, potencial compradora do EUA, reduziu drasticamente seus compromissos comerciais. Ou seja, com esses dois fatores, o EUA viram sua economia declinar e gerar uma das maiores crises econômicas do Estado moderno.

A atual crise mundial não foge à regra pela devastação que causa na economia global, conforme já mencionado, e os resultados produzidos pelos crimes econômicos provocam a fragilidade dos serviços do Estado e arruínam a sociedade, pois os serviços básicos ficam comprometidos, como por exemplo, a saúde, o fisco e a economia em seu todo.

Resta evidente que um dos fatores que desencadeiam as ações criminosas, num campo macro, conceituadas como crimes econômicos, é decorrente do efeito globalização, que demonstra, pelas legislações nacionais existentes, fragilidade para punir adequadamente os agentes desses crimes que merecem especial atenção dado seus reflexos sociais e econômicos. Assim, o defraudador, o criminoso específico, encontra um campo favorável para fugir da punição, em que pesem alguns países buscarem mecanismos para coibir crimes desta natureza, essencialmente o de evasão de divisas e a fraude, o que não significa que alcançam o objetivo proposto.

A dificuldade de punição, muitas vezes, encontra justificativa pelo fato de não se identificar o início da atividade criminosa, eis que alguns crimes são meramente conexões para as condutas principais, e a dificuldade de se determinar o exato momento comsumativo destes crimes gera insegurança na hora de investir em países que apresentam maior número de incidências desta natureza, o que, por si só, demonstra a fragilidade das relações comerciais e a insegurança gerada pela má aplicação das leis que, muitas vezes, são inócuas para crimes desta natureza.