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Aplicação do modelo conceptual SEPI e proposta de indicadores de

4. SÍNTESE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.4. Aplicação do modelo conceptual SEPI e proposta de indicadores de

Tendo presente os sistemas de indicadores ambientais já desenvolvidos para o sector da Defesa, à escala internacional, e aplicados os critérios previamente estabelecidos na metodologia adoptada, foram seleccionados e desenvolvidos 135 indicadores de desempenho ambiental (IDA) para o sistema base. Após seriação (ponderação relativa da relevância e exequibilidade) destes indicadores-base, foi obtido um sistema de indicadores-chave, tendo em consideração que se pretendia não exceder um valor médio de 7 indicadores por cada categoria de indicadores integrada no modelo SEPI.

Da aplicação do modelo SEPI e do desenvolvimento dos indicadores-chave de desempenho ambiental para o sector da Defesa, importa salientar os seguintes pontos: ƒ Tal como outros modelos análogos (e.g. pressão-estado-resposta), o modelo

conceptual desenvolvido sugere relações lineares entre a actividade sectorial e alterações do estado do ambiente e respectivos impactes ou efeitos. No entanto, esta imagem simplificativa não deve impedir de analisar as relações mais complexas que

existem entre actividades, pressões, estado, impacte-efeitos e respostas. O modelo proposto não tem por objectivo reflectir relações de “um para um” entre os indicadores de cada categoria, uma vez que o desempenho ambiental de uma dada entidade depende de um conjunto de múltiplas e complexas associações entre indicadores; ƒ O modelo está estruturado de forma a ser compatível com muitos dos modelos

conceptuais utilizados para avaliação do desempenho ambiental de diferentes sectores de actividade, designadamente o sector da Defesa; em particular, o esquema metodológico proposto procura reflectir a nomenclatura fluxos de entrada-processos-

fluxos de saída-resultados, e com indicadores, frequentemente designados, por

leading e lagging;

ƒ Ao contrário dos indicadores de estado do ambiente propostos por outros modelos, concebidos originalmente para instalações industriais, os indicadores de estado do modelo SEPI incluem para além da avaliação do ambiente exterior, na área circundante sob influência das actividades exercidas pela instalação, o ambiente inserido dentro do perímetro da unidade, tendo em conta a sua relevância, designadamente em matéria patrimonial e de conservação dos recursos naturais; ƒ O modelo SEPI está concebido com base no pressuposto que a avaliação de

desempenho ambiental é parte integrante da avaliação do desempenho global de um sector ou de uma organização. Nesta perspectiva, o modelo procura enfatizar que a componente ambiental é apenas uma parte do todo, que inclui necessariamente o desempenho económico/financeiro e social. A categoria de indicadores actividade é conceptualmente a ligação para o modelo que deverá estar a montante e com a responsabilidade de integrar as diferentes componentes de avaliação do desempenho. Deverá ser destacado que vários autores têm vindo a tentar incorporar o ambiente em modelos conceptuais alargados de avaliação do desempenho, que à partida já incluíam os aspectos sociais e económicos/financeiros. São exemplos deste tipo de abordagem as adaptações do modelo Balanced Scorecard de Kaplan e Norton (1996), designadamente nos trabalhos de Epstein e Young (1998), Johnson (1998) e Dias- Sardinha et al. (2002);

ƒ Os problemas ambientais não decorrem apenas de um sector de actividade, mas sim de processos cumulativos e efeitos sinérgicos da poluição numa determinada unidade espaço-tempo. Assim, as respostas sectoriais apenas resolvem parcialmente alguns desse problemas, que necessitam uma actuação concertada com outros sectores de actividade, bem como uma perspectiva integrada, focando os aspectos ambientais, sociais, económicos, institucionais e com o envolvimento das diferentes partes interessadas;

ƒ No modelo desenvolvido prevê-se uma estratégia preventiva e pró-activa em detrimento de uma abordagem estritamente reactiva. A partir do momento em que existe uma determinada actividade com determinadas características deverão surgir medidas que antecipem problemas ambientais; procura-se sublinhar que deverão aparecer respostas às potenciais fontes de poluição, antes de existirem impactes- efeitos ambientais;

ƒ O modelo conceptual proposto pretende suportar um conjunto de IDA que possam constituir um efectivo instrumento de apoio à decisão na medição, análise e comunicação do desempenho ambiental; focar a avaliação nos elementos chave do desempenho e perceber as suas relações é um dos argumentos principais do modelo adoptado;

ƒ Os IDA desenvolvidos procuram colmatar a lacuna frequente de apenas se utilizarem indicadores maioritariamente de pressão, assegurando a inclusão de indicadores inerentes ao sistema ambiental (estado e impactes-efeitos);

ƒ Na perspectiva de se poder efectuar auto-avaliação dos próprios IDA e correspondente avaliação do desempenho, foi incluído no modelo conceptual SEPI uma categoria de indicadores para este efeito, indicadores de meta-desempenho; ƒ São propostos vários factores de normalização com vista a poderem ser utilizados

pelo sector da Defesa nos respectivos IDA. Refira-se ainda que o factor de normalização preferencial, a unidade funcional, muitas vezes traduzido pela produção física (unidades físicas) deve ser utilizada especialmente quando apenas um único produto de saída é dominante, tal como sugere Olsthoorn et al. (2001). Os indicadores expressos em termos monetários permitem ajudar a traduzir a linguagem associada às componentes ambiental e/ou social em linguagem entendida por gestores e decisores. A normalização de indicadores ambientais recorrendo a factores económicos é assim, também particularmente importante. No caso do sector da Defesa, em face da diversidade de actividades, produtos e serviços a complexidade da escolha do factor de normalização é particularmente difícil; a escolha deverá ser função dos objectivos específicos de cada avaliação, sendo natural a utilização de mais do que um factor de normalização, dada a necessidade de obter cenários complementares e que maximizem a comparabilidade;

ƒ Admite-se que a implementação dos IDA propostos para o sector da Defesa seja exequível no curto a médio prazo, nomeadamente quando se concretizar o estabelecimento de uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o sector público, e para o sector da Defesa em particular. Uma vez que o sistema de indicadores proposto é resultado da participação nos trabalhos de responsáveis pela

área de ambiente no MDN, os indicadores já reflectem preliminarmente as sensibilidades do sector;

ƒ Foi desenvolvido um sistema de indicadores-chave para o sector da Defesa português (Tabela 4.1), ainda que o sistema possa ser ajustado a outras realidades. Os IDA propostos estão equacionados, em primeiro lugar, para a escala sectorial e são função das especificidades das missões e actividades da Defesa. Porém, os IDA apresentados abrangem muitos dos principais problemas ambientais comuns a muitas outras actividades sectoriais, bem como, em muitos casos, podem ser aplicados a diferentes escalas, macro (âmbito nacional) e micro (âmbito local, unidades da Defesa). Ressalve-se, de qualquer forma, que alguns indicadores não têm significado à escala micro (e.g. número de sistemas de gestão ambiental implementados nas unidades).

Tabela 4.1. Indicadores-chave de desempenho ambiental para o sector da Defesa português, desenvolvidos de acordo com as categorias do modelo conceptual SEPI.

Indicadores

Categorias Unidades (exemplos)

Actividade

PIa1 – Pessoal (militar e civil) nº

PIa2 – Despesa pública 106€. ano-1

PIa3 – Actividades e missões de Defesa: produção e armazenamento de armas militares, munições e outro tipo de bens; operação, manutenção e reparação de edifícios militares e não militares, maquinaria e equipamento (incluindo veículos); exercícios militares; inspecção/vigilância; operações de salvamento; desmilitarização; iniciativas de investigação e desenvolvimento na área da defesa; missões e

actividades totais

nº.ano-1

PIa4 – Deslocações em serviço: via aérea, terrestre, marítima e ferroviária (por tipo de

veículo) km.ano-1

PIa5 – Organizações de defesa: unidades militares e outras nº. PIa6 – Área territorial possuída, alugada, gerida (por tipo de uso do solo e por

actividade militar, em particular exercícios e treino) ha PIp7 – Munições convencionais, mísseis e explosivos utilizados ou detonados (por tipo) nº.ano-1

Pressões

PIp1 – Consumos de energia: total e por tipo de fonte (renovável e não renovável) J.ano-1 PIp2 – Consumo de combustível (por tipo de equipamento/veículo): total e por tipo de

combustível (gás natural, gasolina, gasóleo, propano, vapor) t.ano-1; m3.ano-1 PIp3 – Derrames de óleos, combustíveis ou substâncias perigosas nº.ano-1; m3.ano-1; t.ano-1 PIp4 – Descargas de águas residuais: origem doméstica, industrial ou água pluvial

contaminada: m3.ano-1; habitante equivalente;

compostos metálicos, substâncias orgânicas cloradas, outros compostos orgânicos, (e.g. Carbono Orgânico Total – COT; Hidrocarbonetos poliaromáticos – PAH), sólidos suspensos, nutrientes (azoto e fósforo totais), sedimento por escorrências (ver Registo Europeu das Emissões Poluentes (EPER))

t.ano-1 por poluente PIp5 – Emissões atmosféricas por fontes móveis e fixas (SO2; NOx; PM10; COVs; CO;

metais pesados) (ver EPER) t.ano-1 por poluente

PIp6 – Produção de resíduos sólidos por tipo: resíduos perigosos e não perigosos; resíduos de equipamento militar e munições; resíduos domésticos, industriais, hospitalares, florestais, jardins e agrícolas; resíduos de construção e demolição, lamas de estações de tratamento de águas residuais.

t.ano-1

Estado

PIs1 – Contaminação do solo (e.g. contaminação metálica, designadamente, por ferro,

alumínio cobre, tungsténio, urânio empobrecido e chumbo) nº. de locais contaminados; ha; m3

PIs2 – Solo erodido e compactado ha; %

PIs3 – Qualidade do ar (SO2; NOx; PM10; VOCs; CO; metais pesados) (dentro e fora da

unidade) µg.m

-3; no. de dias que excedem as normas de qualidade do ar.ano-1

(Continuação) Tabela 4.1. Indicadores-chave de desempenho ambiental para o sector da Defesa português, desenvolvidos de acordo com as categorias do modelo conceptual SEPI.

Indicadores

Categorias Unidades (exemplos)

PIs4 – Qualidade da água superficial e subterrâneas por tipo de uso (indicadores microbiológicos e físico-químicos): agricultura; processos industriais; lavagens; abastecimento doméstico; protecção ecológica; actividades recreativas, entre outros.

mg.l-1; % de amostras em não conformidade.ano-1; NMP.100 ml-1 (para os parâmetros

microbiológicos) PIs5 – Níveis de ruído (com e sem actividades de Defesa, em particular exercícios):

dentro e fora da área da unidade nº. de locais que excedem os níveis de ruído.ano-1

PIs6 – Espécies de fauna e flora ameaçadas nº. de espécies

Impactes-Efeitos

PIi1 – Efeitos na saúde (pessoal da unidade e comunidades locais) Níveis de chumbo no sangue: ppm PIi2 – Impacte do ruído na população % de população significativamente perturbada PIi3 – Degradação do património cultural, incluindo propriedades históricas, locais

arqueológicos e locais mais tradicionais avaliação qualitativa

PIi4 – Perturbação das comunidades bióticas

avaliação de perturbações nas comunidades; número de animais mortos.ano-1

PIi5 – Efeitos na qualidade dos organismos utilizados na dieta humana (e.g.

organismos marinhos): presença de contaminação fecal em bivalves (NMP do indicador de contaminação fecal. gPF-1)

Respostas

PIr1 – Tratamento das águas residuais

% de população servida por estação de tratamento de águas residuais

PIr2 – Deposição, tratamento e reciclagem de resíduos, em particular resíduos perigosos, de equipamento militar e munições (deposição em aterro, incineração, reciclagem, compostagem e energia obtida através dos resíduos) %; t.ano

-1

PIr3 – Pessoal com tarefas ambientais (indivíduo equivalente a 100 % do tempo das

tarefas diárias) nº

PIr4 –Formação ambiental (a todos os níveis organizacionais)

% do número total de pessoal; média de horas de formação e treino ambiental.indivíduo-1.ano-1; nº. de iniciativas de sensibilização e educação ambiental.

PIr5 – Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) implementados (EMAS e/ou ISO 14001

SGA) %; nº

PIr6 – Considerações ambientais nos processos de aquisição (e.g. novos sistemas de

armas) %; nº de contractos com considerações ambientais

PIr7 – Comunicação e relato ambiental nas actividades do sector da defesa

no. de comunicações.ano-1; nº de relatórios ambientais.ano-1; nº de

workshops ambientais.ano-1; nº de locais na Internet com informação de defesa e ambiente

PIr8 – Relações de cooperação com as partes interessadas (internas e externas)

nº de questões positivas e negativas inquiridas pelas partes interesssadas.ano-1; nº de reuniões com representantes das partes interessadas.ano-1

PIr9 – Orçamento ambiental, custos (reactivos e pró-activos) e investimentos 103€.ano-1 PIr10 – Missões/serviços ambientais (e.g. prevenção de fogos florestais, prevenção e

combate à poluição marinha) nº de homens.dia.ano

-1; no. de missões. ano-1; €

Meta-Desempenho

PIm1 – identificação de aspectos e impactes ambientais não previstos %; nº.ano-1

PIm2 – Eficácia das medidas de gestão e mitigação %; nº. medidas de mitigação redefinidas PIm3 – Investimentos e despesas na avaliação de desempenho ambiental 103€. ano-1

PIm4 – Cooperação institucional para actividades de monitorização (e.g. programas de

monitorização geridos pelo Ministério do Ambiente) nº

PIm5 – Implementação de novas práticas ambientais decorrentes dos resultados do

desempenho nº.ano-1

PIm6 – Pessoal ambiental com tarefas diárias de medição do desempenho (indivíduo

equivalente a 100 % do tempo das tarefas diárias) nº

PIm7 – Revisão dos indicadores nº de revisões.ano-1

Para complementar esta síntese e discussão de resultados sobre a aplicação do modelo conceptual SEPI e proposta de IDA para o sector da Defesa português sugere-se a consulta do artigo científico correspondente, Ramos et al. (2004d) (ver Anexo I.6).