• Nenhum resultado encontrado

Principais missões, actividades, pressões e impactes ambientais

4. SÍNTESE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.2. Principais missões, actividades, pressões e impactes ambientais

O diagnóstico efectuado ao sector da Defesa português confirma que o sector da Defesa apresenta uma expressiva diversidade de missões e actividades, reflexo das missões dos três ramos militares. Associado a esta diversidade de actuação estão também diferentes tipos de problemas ambientais e respectivos impactes. O cenário identificado pelas unidades militares retrata a analogia comum entre unidades militares e pequenas cidades. Dos resultados obtidos nesta fase do trabalho (dados provenientes do questionário B, Anexo III.3), importa salientar os seguintes pontos:

ƒ As missões principais do sector são suportadas por 98 diferentes tipos de actividades diferentes, podendo ser classificadas como operacionais, formação e treino, logística, gestão e administração; não é possível identificar uma tendência claramente marcada por um ou vários tipos de actividades predominantes, confirmando a diversidade da actividade militar. Não obstante, as missões operacionais assumem particular relevância, sendo também possível destacar algumas missões/actividades com um papel central no sector, designadamente: defesa territorial e segurança militar, instrução militar e treino, logística, inspecção e vigilância, operações de busca e salvamento, gestão/administração e exercícios militares. Como seria de esperar, são as unidades militares de maiores dimensões (pessoal e área ocupada) que apresentam maior número de actividades, sem que contudo, seja função do ramo ou da região geográfica onde se insere a unidade militar;

ƒ O grau de importância dos problemas ambientais identificado para as actividades do sector revela um resultado excessivamente optimista, marcado por poucas actividades com elevados problemas ambientais, com 12 % do total de actividades assinaladas (Figura 4.5). O Exército é quem assinala mais actividades com elevados problemas ambientais, com cerca de 12 %, em oposição à Marinha com cerca de 1 %. Complementarmente, o Exército é também quem tem uma maior proporção de respondentes (41%) a identificar elevados problemas ambientais nas actividades. Este cenário reflecte uma aparente subavaliação da situação real, evidenciando desconhecimento efectivo, vontade de transmitir uma imagem de cumprimento ou ainda eventual negligência, em oposição a uma avaliação objectiva da importância ambiental desses problemas. Algumas das actividades militares mais relacionadas com maiores problemas ambientais são por exemplo a manutenção de veículos de transporte, exercícios de tiro e manobras. Para além das actividades especificamente de natureza militar, são identificadas actividades comuns a muitos outros sectores, típicas de quotidiano de muitas das unidades militares (e.g. actividades hospitalares, administrativas). O perfil aqui traçado é maioritariamente concordante com as actividades típicas do sector da Defesa que apresentam maior relação com a componente ambiental, nomeadamente as referidas por US Army (2003), US Army (2001), US DOD (2000), Brzoska et al. (2000), NATO (2000), Schieche (2000), LFC/DND/CF (1999), Resetar et al. (1998), NTG (1998), US Air Force (1998), DND/CF (1997), NATO (1996), USEPA (1996a);

63 59 70 29 29 29 33 8 12 12 55 1 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Força Aérea Exército Marinha Sector Militar Português Im por tâ nc ia dos pr obl em as am bi e nt ai s na s a ct iv id ade s d a D e fes a ( % )

Fraco Médio Elevado

Figura 4.5. Importância dos problemas ambientais nas actividades do sector militar português, expressa em relação às actividades assinaladas pelos respondentes.

ƒ Os aspectos ambientais, significativos e não significativos, identificados pelas unidades militares ilustram também expressiva diversidade, retratando o panorama das missões e actividades, descrito anteriormente. O consumo de combustível é o aspecto ambiental significativo apontado por mais unidades militares (55 %), logo seguido pela produção de resíduos urbanos (51 %), consumo de óleos/produção de óleos usados (49%) e produção de águas residuais (40 %). Não foi verificada nenhuma correlação significativa entre o número de aspectos ambientais significativos identificados e o ramo militar, a região geográfica ou a dimensão da unidade. O Exército é quem tem uma maior proporção de respondentes (94 %) a identificar aspectos ambientais significativos. Por ramo militar verifica-se que o tipo de aspectos ambientais significativos reflecte as principais interacções ambientais das missões e actividades de cada um dos três ramos (Figura 4.6). A Força Aérea identificou o ruído gerado pelas aeronaves (54 %), seguido do consumo de combustível (46 %). As unidades do Exército assinalaram consumos de combustível, óleo e lubrificantes, produção de resíduos urbanos e óleos usados, com 77 % de respondentes para cada um dos referidos aspectos. Os aspectos relacionados com modelação do terreno, terraplanagem e remoção de coberto vegetal assumem expressão nos aspectos significativos identificados por este ramo. A Marinha identificou o consumo de combustível (44 %), seguido da produção de resíduos urbanos e óleos usados, ambos com 39 %. Importa sublinhar que a avaliação da significância é baseada no conhecimento do responsável pela área do ambiente de cada unidade, pelo que além de resultar de elementos objectivos de avaliação, inclui também as preocupações e sensibilidade individual deste responsável. Os aspectos ambientais identificados pelas unidades militares portuguesas reflectem globalmente muitos dos aspectos ambientais típicos do sector da Defesa, nomeadamente os referidos por US Army (2003), Walker (2002), US Army (2001), Schieche (2000), NATO (2000), US DOD (2000), DND/CF (2000b), LFC/DND/CF (1999), US DOD e SAF (1999), DND/CF (1997), NATO (1996). Concretamente, alguns dos aspectos significativos de especial peso no contexto português, tais como o consumo de combustível ou a produção de resíduos (em particular os perigosos), são também frequentemente referidos nos casos de estudo internacionais. Ressalve-se contudo, que em muitas das unidades militares estrangeiras o grau de desenvolvimento das práticas ambientais é assinalavelmente mais avançado que no caso português; assim, muitos dos problemas ambientais do sector militar português são ainda de cariz primário, nomeadamente o tratamento de águas residuais ou de resíduos urbanos, vertentes muitas vezes já consolidadas noutros países;

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Força Aérea Exército Marinha Sector Militar

Português A spe ct os A m bi e nt a is Si gni fic a tiv o s (% )

Consumos (água, papel, combustível,…) Produção de águas residuais Compactação, aterros e escavações Emissões de Ruído

Produção de Resíduos Outros

Figura 4.6. Aspectos ambientais significativos no sector e ramos militares, identificados pelas unidades respondentes. Os aspectos estão agregados pelas principais categorias.

ƒ Os impactes ambientais identificados reflectem também a multiplicidade de actividades do sector. Não foi verificada nenhuma correlação significativa entre o número de impactes ambientais significativos identificados e o ramo militar, a região geográfica ou a dimensão da unidade. A Força Aérea seleccionou 19 % dos impactes identificados como significativos, o Exército 85 % e a Marinha 43 %. Complementarmente, o Exército é também quem tem uma maior proporção de respondentes (50 %) a identificar impactes ambientais significativos. Sem especial surpresa, os impactes ambientais significativos agregados por grandes descritores, são predominantemente os impactes na água para a Força Aérea e Marinha, e os impactes no solo para o Exército (Figura 4.7). Os principais impactes identificados enquadram-se no perfil típico de impactes do sector da Defesa, reflectindo muitos das vertentes referidas em vários outros estudos, nomeadamente Garten Jr et al. (2003), US Army (2003), US Army (2001), EA (2001), EA (2000a), NATO (2000), Milchunas et al. (2000), Schieche (2000), Whitecotton et al. (2000), US DOD e SAF (1999), Lehman et al. (1999), US Air Force (1998), NTG (1998), Doxford e Hill (1998), Tucker et al. (1998), NATO (1996) e Trumbull et al. (1994);

ƒ Para a atribuição da significância aos aspectos e impactes ambientais identificados pelas unidades foram utilizados vários critérios. Assumiram especial peso, os seguintes: riscos potenciais para o ambiente (91 %), segurança e higiene na unidade (76 %), riscos potenciais para a saúde humana (67 %); Destaque-se ainda o quarto critério mais assinalado “indicações das chefias militares e/ou do MDN”, com cerca de 24 % dos respondentes a utilizar este critério; este último resultado vem sublinhar uma

vez mais a necessidade de interpretar estes dados com prudência, pois a postura militar pode propiciar análises menos objectivas, condicionadas pela necessidade de respeitar hierarquias de comando e de transmitir bom desempenho;

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Força Aérea Exército Marinha Sector Militar

Português Im pac tes A m bi ent ai s S ign ifi cat iv os ( % ) Água Solo Ar e Clima Ecossistemas

Paisagem e Património Sócio-economia

Figura 4.7. Impactes ambientais significativos no sector e ramos militares, identificados pelas unidades respondentes. Os impactes estão agregados pelas principais categorias.

ƒ Cerca de metade das unidades militares já tinha procedido à identificação de aspectos e impactes ambientais (antes da realização do inquérito realizado por este estudo). A maioria das unidades que sustentam esta situação, afirmam tê-lo feito como parte de levantamentos ambientais iniciais, planos/programas de cariz ambiental ou ainda em outro tipo de avaliação ambientais. Estas avaliações são geralmente conduzidas por pessoal da unidade, e normalmente sem apoio ou orientação técnica relevante, produzindo frequentemente resultados isolados, desenquadrados de uma estratégia; ƒ A caracterização dos impactes ambientais identificados pelas unidades em relação à

incidência espacial, frequência, origem e magnitude revela que: cerca de metade dos impactes se fazem sentir fora do perímetro da unidade (51 %) ou em áreas restritas no interior da unidade (39 %); são directamente provocados pelas actividades da unidade (60 %), temporários (71 %) e de fraca magnitude (40%). A classificação da magnitude revela novamente um aparente cenário excessivamente optimista, consistente com observações anteriores;

ƒ Globalmente o Exército apresenta um perfil com mais aspectos e impactes ambientais significativos, bem como identificou proporcionalmente mais actividades com elevados problemas ambientais. Alguns factores poderão explicar este resultado,

designadamente: (i) um efectivo fraco desempenho ambiental, comparativamente aos restantes ramos; (ii) actividades militares específicas que originam impactes ambientais mais significativos, em particular nas unidades com armamento pesado e actividades de treino terrestre; (iii) estrutura orgânica menos flexível para integrar a componente ambiental; (iv) muitas unidades (pequenas e grandes) dispersas pelo território nacional podem conduzir a dificuldades acrescidas na gestão da componente ambiental, quando comparado com um ramo militar com poucas unidades, como é o caso da Força Aérea.

Para complementar esta síntese e discussão de resultados sobre as principais actividades, pressões e impactes ambientais sugere-se a consulta do artigo científico correspondente, Ramos et al. (2004a) (ver Anexos I.4).