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Estado da avaliação do desempenho ambiental

4. SÍNTESE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.3. Estado da avaliação do desempenho ambiental

O diagnóstico ao estado da Avaliação de Desempenho Ambiental (ADA) no sector da Defesa Português revela que o tema é recente, sendo fracamente utilizado e conhecido, enquanto instrumento de gestão ambiental. Todavia, as unidades militares revelam um interesse crescente pela ADA, podendo configurar uma realidade expressiva a médio prazo. Dos resultados obtidos nesta fase do trabalho (dados provenientes do questionário B, Anexo III.3), importa salientar os seguintes pontos:

ƒ A maioria das unidades militares (75 %) considera importante avaliar o desempenho ambiental, incluindo medir e comunicar o desempenho associado às suas missões e actividades principais; a Marinha apresenta uma opinião mais equilibrada, com algumas unidades a considerarem que este não é um tema relevante;

ƒ Os factores apontados como principais razões para justificar a implementação da ADA nas unidades militares estão essencialmente relacionados com a prevenção de risco para a saúde (82 %) e o cumprimento das recomendações/obrigações estabelecidas em normas (79%). Este padrão pode reflectir a natureza das actividades militares e inerentes riscos associados. As componentes da saúde e ambiente são muitas vezes geridas de forma conjunta na estrutura das organizações militares, facto que também poderá contribuir para esta associação. O cumprimento de normas revela, por um lado, a cultura militar de rigor e por outro, uma visão da integração ambiental ainda marcada por uma atitude reactiva, na base do “comando e controlo”. Outros factores, tais como a identificação e mitigação de impactes ambientais, constituir uma organização de referência, a imagem e reputação, a responsabilidade social, são também identificados por muitas unidades militares. Globalmente, e com excepção da identificação do factor “prevenção de riscos para a saúde”, os resultados obtidos

revelam um grau assinalável de concordância com outros trabalhos realizados nesta área, ainda que maioritariamente referentes a organizações empresariais (e.g. Johnston e Smith, 2001; O'Reilly et al., 2000; Jones, 1999; Ljungdahl, 1999; Kuhre, 1998).

ƒ Poucas unidades conhecem a norma ISO 14031 (22 %), com uma excepção entre os ramos militares, onde o Exército atinge cerca de 47 % de unidades que conhecem este instrumento. Porém, o número de unidades militares que conhecem esta norma poderá ainda ser efectivamente mais reduzido, dada a possível confusão entre a norma ISO 14001 e 14031; os resultados obtidos para o sector da Defesa português reflectem sinais de concordância com outros estudos realizados a empresas portuguesas do sector industrial e de serviços (Dias-Sardinha et al., 2002), onde a maioria dos respondentes não pratica avaliação formal do desempenho ambiental. Contudo, este trabalho também salienta que a ADA é comum nas grandes empresas industriais, facto que não é verificado de forma análoga para as grandes unidades militares;

ƒ Relativamente ao conhecimento acerca de indicadores ambientais, verifica-se um resultado análogo ao anterior, onde 63 % das unidades não conhece este instrumento. Uma vez mais o Exército apresenta um comportamento diferente da generalidade dos resultados, apresentando uma expressiva maioria de unidade que conhece indicadores ambientais (69 %). Das unidades que conhecem este instrumento de gestão ambiental, 58 % estão a utilizá-lo; este resultado mostra também alguma comparabilidade com o inquérito realizado por Dias-Sardinha et al. (2002), onde cerca de 50 % utiliza ou prevê vir a utilizar indicadores. As unidades militares que utilizam indicadores aplicam-nos em relatórios de missões/actividades, RA e folhetos informativos. Apesar dos resultados obtidos ilustrarem alguns sinais positivos no relato da informação ambiental nas unidades militares, o cenário é marcadamente distinto do sector empresarial. Os relatos de informação ambiental efectuada pelas unidades militares é maioritariamente para divulgação interna e apresenta uma estrutura pouco formal e não comparável com os RA produzidos pelas empresas. Dificilmente se poderá afirmar que são produzidos RA formais pelo sector da Defesa. A comunicação da informação está frequentemente associada a compilações de dados referentes a resíduos, água de abastecimento e águas residuais;

ƒ As unidades identificaram como principais vantagens da implementação de indicadores nas suas instalações as seguintes vertentes: “suportar o apoio à decisão” (72 %), “proporcionar a avaliação contínua dos níveis de desempenho ambiental” (67 %) e “facilitar a comparação com padrões legais ou metas pré-definidas” (61 %).

Estes resultados não diferem substancialmente de resultados obtidos para empresas,

e.g. O'Reilly et al. (2000);

ƒ Os resultados agregados, através da aplicação de um índice – SEPE –, sobre o estado da avaliação do desempenho ambiental no sector, ao nível das práticas, grau de conhecimento e de sensibilização, revelam que: para a maioria das unidades são assuntos maioritariamente novos, apresentando um perfil mediano traduzido por um valor de 0,43 (escala de 0 a 1) (Figura 4.8). Entre os três ramos existem diferenças significativas, destacando-se o Exército com o melhor resultado (0,63). A distribuição das unidades militares por classes do estado da ADA mostra que o Exército, logo seguido pela Força Aérea, tem a maior proporção de unidades classificadas com muito bom e bom (Figura 4.9);

Muito Fraco Fraco Médio Bom Muito Bom

0,43 0,24 0,63 0,47 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0

Força Aérea Exército Marinha Sector Militar

Português Ín di ce S E PE

Figura 4.8. Índice SEPE para o sector militar português e para os três ramos militares.

ƒ O facto de várias das unidades militares inquiridas (35 %) estarem integradas numa única instalação militar – Campo Militar de Santa Margarida – que estava em vias de finalizar a implementação um SGA, objectivo entretanto conseguido, pode explicar os melhores resultados alcançados. Contudo, este resultado deverá ser interpretado com particular atenção, pois poderá estar empolado, uma vez que apenas foram inquiridas as unidades militares com responsável ambiental. Este facto poderá ser especialmente válido se for tido em conta que o Exército é o maior ramo militar e com menor proporção de unidades com responsável ambiental. Os resultados positivos da Força Aérea traduzem resultados já relatados anteriormente, ao nível do assinalável nível de implementação de práticas ambientais, incluindo actividades de formação ambiental nas unidades deste ramo. Os resultados mais favoráveis do Exército e da Força Aérea poderão também ser resultado de maior pressão das partes interessadas externas às unidades militares, dado que as suas missões apresentam maior interacção e visibilidade perante os agentes externos. Não se verificaram diferenças significativas

nos resultados do índice relativamente a unidades localizadas em diferentes regiões ou a unidades de diferentes dimensões (em termos de área territorial ocupada e número de indivíduos). 23 23 6 36 37 31 24 50 12 8 18 9 17 23 29 5 12 15 24 0% 20% 40% 60% 80% 100% Sector Militar Português

Força Aérea Exército Marinha

Ín di ce S E P E (% d e unid ad es m ilita re

s) Muito Fraco Fraco Médio Bom Muito Bom

Figura 4.9. Índice SEPE para as unidades do sector militar português e para os três ramos militares.

Para complementar esta síntese e discussão de resultados sobre o estado da avaliação do desempenho ambiental sugere-se a consulta do artigo científico correspondente, Ramos et al. (2004b) (ver Anexos I.5).

4.4. Aplicação do modelo conceptual SEPI e proposta de indicadores de