• Nenhum resultado encontrado

Terminologia e modelos conceptuais para o desenvolvimento de indicadores

2. REVISÃO DE LITERATURA: DESEMPENHO AMBIENTAL NO SECTOR PÚBLICO E

2.4. Avaliação de desempenho ambiental

2.4.2. Terminologia e modelos conceptuais para o desenvolvimento de indicadores

O objectivo fundamental que suporta a monitorização do estado do ambiente é a melhoria da qualidade das decisões em gestão ambiental. São necessárias relações mais estreitas entre os resultados da monitorização ambiental e as respostas políticas dos decisores (Brown e Dick, 2001). A utilização de indicadores ambientais apresenta-se actualmente como uma ferramenta essencial na gestão e avaliação ambiental. Os indicadores ambientais constituem um instrumento fundamental no contexto da avaliação do desempenho ambiental, ao nível dos países, das regiões, das comunidades locais, das actividades económicas, organizações públicas e privadas, políticas, missões, projectos, actividades, produtos e serviços.

O Produto Interno Bruto (PIB) e a inflação tornaram-se as medidas de referência nas discussões sobre o desempenho económico dos países. Ainda que a construção deste indicadores nem sempre é amplamente entendida, eles são universalmente reconhecidos e, pelo menos, compreendidos entre os círculos políticos. De forma análoga, os consumidores comparam o preço dos bens quando têm de decidir sobre que produto comprar. Tem sido defendido por muitos a necessidade de um indicador ambiental unificado, podendo facultar aos políticos e consumidores um indicador mais adequado para suportar as suas decisões. O sucesso do PIB e da inflação ilustra o papel que podem ter os indicadores ambientais amplamente aceites, avaliando, nomeadamente, o sucesso das políticas (ECOTEC, 2001).

O estado da arte dos sistemas de indicadores ambientais, ao nível da terminologia, das propriedades, vantagens, limitações e modelos conceptuais utilizados, tem sido objecto de vários estudos. Para uma análise de maior detalhe poder-se-ão analisar os trabalhos de Ramos et al. (2004c) (Anexo I.1), Ramos (2003), Ramos et al. (1998) e Ramos (1997), bem como OECD (2001c), Jimenez-Beltran (2001), Kristensen (2001), Hardi e DeSouza- Huletey (2000), EEA (1999b), Mitchell (1998), Gallopín (1997) e Hodge (1997). Contudo, não é objectivo deste trabalho apresentar uma revisão exaustiva sobre toda as iniciativas na área de indicadores ambientais, pois para além de estar fora do âmbito, seria manifestamente difícil de concretizar, dada a recente proliferação de informação neste

domínio. A título indicativo, o International Institute for Sustainable Development (IISD, 2004), a Florida State University (FSU, 2004) ou ainda Kristensen (2001), apresentam compilações de iniciativas na área de indicadores ambientais. Assim, optou-se por enquadrar e focar nesta secção apenas, e tanto quanto possível, as vertentes mais relacionadas com o tema específico desta investigação.

A gestão e a tomada de decisão sobre fenómenos complexos requerem métodos que representem esses domínios em instrumentos de medida simples. Estes são denominados indicadores – informação condensada para os processos decisórios. Os sistemas ambientais são um exemplo típico, pois são caracterizados por processos complexos, necessitando de indicadores apropriados. O tipo de informação requerida para a tomada de decisão varia com o tipo de decisão a realizar, o contexto do processo de decisão e o envolvimento das partes interessadas. Por exemplo um consumidor privado muito provavelmente apenas desejará saber se determinado produto é “verde” ou não, enquanto um engenheiro encarregado pela concepção de um produto necessitará informação mais específica e complexa (Olsthoorn et al., 2001).

Tendo presente que a terminologia utilizada nesta área é ainda muito confusa e encontra- se pouco estabilizada, incorrendo-se muitas vezes em interpretações desajustadas devido à utilização de conceitos incorrectos, tal como é sublinhado por Ditz e Ranganathan (1997) no caso dos IDA. O conceito de indicador é por vezes abusivamente utilizado, servindo para incluir todo o género de informação quantitativa ou para designar determinada estatística ambiental. Desta forma, para que fique claro qual a terminologia que é utilizada ao longo deste trabalho, considera-se que deverão ser enquadrados e assumidos os conceitos de indicador ambiental e os conceitos correlacionados.

Assim, no contexto do presente trabalho, tiveram-se em conta as definições apresentadas em Ott (1978), Jackson et al. (2000), OECD (1993) e OECD (2001c). Indicador ambiental é um sinal que pode ser relatado numa forma simples e útil, contendo uma mensagem complexa, potencialmente resultante de numerosos factores. Um indicador ambiental é desenvolvido a partir de uma determinada variável (relatado nas unidades originais ou transformado) para reflectir um ou mais atributos ambientais. Um índice resulta de uma agregação aritmética ou heurística de variáveis ou de indicadores ambientais. Um parâmetro ou variável ambiental é uma propriedade que pode ser medida ou observada. Assumiu-se a designação genérica de indicador ambiental, como aquela que poderá conter diferentes tipos de indicadores, nomeadamente os de sustentabilidade, de desempenho ambiental, de eco-eficiência, de estado do ambiente, entre muitos outros. Não obstante, sempre que considerado necessário recorre-se às designações mais

específicas. Na maioria dos casos relacionados com a gestão e avaliação do desempenho ambiental de um determinado sector de actividade económica ou de organizações, procurou utilizar-se a designação de indicador de desempenho ambiental.

Uma componente fulcral na selecção e desenvolvimento de indicadores ambientais é o modelo conceptual utilizado. Apesar da proliferação de indicadores ambientais à escala mundial, a análise cuidada dos modelos conceptuais utilizados tem sido frequentemente descorada. Importa avaliar vários aspectos relacionados com esses modelos designadamente, perceber as principais diferenças entre eles, as áreas preferenciais de aplicação, a robustez técnico-científica e prática e a pertinência de se desenvolverem novos modelos. Ao longo do trabalho apresentado no Anexo I.1, em particular a Tabela 1 desse anexo, é produzido o estado da arte sobre modelos conceptuais de indicadores, bem como discutida a problemática associada.

Antevendo as evoluções de relevo na área de indicadores ambientais, considera-se que existem várias áreas prioritárias para o desenvolvimento de indicadores, em particular: (i) avaliação de desempenho ambiental, social e da sustentabilidade de organizações privadas e públicas, bem como dos diferentes sectores de actividade económica (incluindo actividade, produtos e serviços); (ii) o acompanhamento e monitorização ambiental de projectos, planos, programas e políticas, utilizando indicadores, quer na fase de construção/implementação, quer na fase de exploração/vigência; (iii) avaliação da sustentabilidade dos países, regiões e localidades; (iv) avaliação do desempenho ambiental e/ou da sustentabilidade individual, de um cidadão ou de uma família, como mecanismo de auto controlo e gestão doméstica.

Actualmente, para alguns casos, a monitorização ambiental é obrigatória (e.g. pós- avaliação no processo de AIA), pelo que medir apenas os indicadores e não todas as variáveis que podem ser medidas, será uma condição essencial para a optimização e delineamento desses programas de monitorização. Os indicadores utilizados para acompanhamento e monitorização de projectos, planos, programas e políticas além de permitirem identificar os impactes ambientais que vão ocorrer ao longo do ciclo de vida, irão também facilitar e melhorar os processos de disponibilização da informação ambiental ao público interessado, nomeadamente através da publicação de RA dos projectos, planos, programas e políticas. Um outro aspecto associado a este contexto é a avaliação do desempenho dos próprios programas de monitorização, onde a utilização de indicadores poderá virá a ter um papel igualmente relevante.

Saliente-se ainda que ao nível da monitorização de políticas e estratégias (indicadores- chave ou headline indicators e indicadores estruturais) surgiram novos dados com os

resultados provenientes da Estratégia de Lisboa, definida pelo Conselho Europeu de Março de 2000, onde a par com a dimensão económica, social é adicionada a dimensão ambiental (acrescentada no conselho de Gotemburgo de 2001). Assim, são complementados os indicadores estruturais sobre emprego, inovação e reforma económica e coesão social, decorrentes da estratégia de Lisboa, com indicadores estruturais para a área do ambiente. Ficaram assim formalmente estabelecidos os três pilares da Estratégia de Desenvolvimento Sustentável da União Europeia. É explicitamente assumido que estas três vertentes, económica, social e ambiental, deverão ser avaliadas periodicamente no Conselho Europeu Anual da Primavera através de relatórios baseados em indicadores, conforme é descrito em Jimenez-Beltran (2001). Decorrente de revisões periódicas, foi apresentado ao Conselho Europeu de Dezembro de 2003 a mais recente proposta da Comissão Europeia sobre indicadores estruturais, sugerindo apenas um total de catorze indicadores estruturais (Commission of the European Communities, 2003).

Complementarmente ao referido acima, perspectiva-se que alguns dos desenvolvimentos futuros poderão passar pelos seguintes domínios:

ƒ Desenvolvimento de indicadores ambientais normalizados de forma a facilitar a comparabilidade, utilizando diferentes factores de normalização (por exemplo no caso das empresas: unidade funcional de produção; trabalhadores; matéria-prima; volume de negócios);

ƒ Investimento na obtenção da informação base dirigida, de forma a sustentar os sistemas de indicadores desenvolvidos e/ou propostos;

ƒ Clarificação e estabilização dos modelos conceptuais utilizados no suporte ao desenvolvimento dos sistemas de indicadores;

ƒ Aplicação de técnicas de análise de sensibilidade/validação para garantir a precisão e fiabilidade dos resultados dos indicadores;

ƒ Envolvimento crescente dos diferentes agentes intervenientes nos processos; ƒ Ponderação do valor social dos indicadores ambientais;

ƒ Adequação das unidades em que são expressos os indicadores em face do tipo de público-alvo.

Admite-se que os passos futuros dos indicadores ambientais passarão pela tentativa de atingir o mesmo estádio de maturidade de alguns indicadores económicos e sociais. Contudo, este percurso deverá ser efectuado sem que sejam colocadas em causa as singularidades e as necessidades específicas dos indicadores ambientais. Esta tarefa é

complexa e encontra-se rodeada de inúmeras incertezas quanto aos critérios e níveis de integração, nos quais os parâmetros e processos deverão ser analisados, pelo que se exige metodologias cientificamente robustas, com garantia de qualidade da informação veiculada.