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Aplicações da análise E-V e MOTAD

2.6 O RISCO NA ANÁLISE DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA

2.6.7 Aplicações da análise E-V e MOTAD

Nesta seção são apresentadas algumas aplicações empíricas das técnicas de análise de eficiência econômica sob condições de risco. A ênfase foi dada aos métodos de análise E-V de Markowitz (programação quadrática) e MOTAD (aproximação linear). As aplicações foram apresentadas em ordem cronológica, representando assim uma revisão atualizada das aplicações dos métodos.

Araújo e Caixeta-Filho (1998) analisaram 33 empresas agrícolas do Sul de Santa Catarina, amostradas aleatoriamente, e utilizaram cerca de 250 índices técnicos e econômicos na geração dos parâmetros para a construção de uma fronteira de eficiência sob condições de risco. Utilizando a técnica MOTAD, os autores verificaram a existência de um potencial médio de crescimento da margem bruta de 49,9%, para o caso dos produtores adotarem o plano de maximização da utilidade, e de 62,59% se os produtores adotarem o plano de maximização do retorno. Tais alternativas são viáveis considerando-se a disponibilidade de fatores de produção, os padrões técnicos e econômicos das alternativas de produção e o nível de risco que desejam suportar. Uma das principais contribuições do estudo foi a constatação, consistente com os estudos de Oglethorpe (1995, citado por ARAÚJO; CAIXETA-FILHO, 1998), que a estimativa do plano ótimo da empresa, com o objetivo de maximização do lucro, difere daquele descrito pela maximização da utilidade. Os autores constataram que uma pequena redução da renda esperada gera uma redução proporcionalmente maior na variância da renda, quando o objetivo passa de maximização de lucro para a maximização da utilidade. No

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trabalho, para uma diminuição média da renda esperada (E) da ordem de 5,4%, a diminuição na variância da renda (V) foi de 36,6%.

Considerando a época atual (por volta do ano de 2007), se o estudo de Araújo e Caixeta Filho, realizado em 1998, fosse conduzido novamente, seria possível avaliar qual foi o comportamento desses produtores ao passar dos anos quanto à melhoria da eficiência econômica da sua produtividade (se os caminhos adotados foram a maximização da utilidade, a maximização do retorno, ou nenhum dos dois). Este procedimento poderia corroborar ou ser um contraponto para o conjunto de hipóteses levantadas por Dillon e Anderson (1971). Os autores sustentam que o produtor rural geralmente possui funções utilidade não lineares que consideram o risco e, com sucesso, se empenham para maximizar a utilidade em vez do lucro esperado. Entretanto, os autores alertam que essas hipóteses não possuem a devida constatação devido ao fato da não existência de estudos empíricos que as sustentem (considerando a época do estudo). Por conta disso, verifica-se atualmente que estas questões continuam sendo relevantes para pesquisadores interessados em analisar eficiência econômica de produtores rurais.

Zen (2002) conduziu um estudo de eficiência econômica entre grupos de produtores agrícolas, representativos do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul, objetivando definir o grau de sucesso das estratégias de diversificação como forma de gerenciamento dos riscos de produção e de mercado. O autor construiu fronteiras de eficiência utilizando análise E-V e MOTAD. Verificou-se que os produtores das regiões estudadas estão utilizando o processo de diversificação das atividades com a finalidade de reduzir as oscilações da receita e compor um fluxo de caixa mais estável.

Pizzol (2002) avaliou o comportamento dos cafeicultores da região de Marília na presença do risco. A autora desenvolveu uma metodologia para identificar os sistemas de produção de café existentes na região, utilizando grupos focais e análise discriminante. Após a classificação das propriedades, foi selecionada uma propriedade de cada tipo para avaliar o comportamento dos agricultores perante o risco e a influência em suas decisões de produção. Os sistemas de produção foram modelados com o uso da programação linear. As fronteiras de eficiência, representativas do trade-off entre rendimento e risco, foram determinadas com o uso da metodologia MOTAD.

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Fasiaben, Bacchi e Peres (2003) compararam dois tipos de sistemas de produção agrícola, um minifundista e um grande produtor, para entender o processo de tomada de decisão em condições de risco. Os autores utilizaram a programação linear para modelar os sistemas de produção e MOTAD para construir a fronteira eficiente com a incorporação do risco. Segundo os autores, os resultados foram diferentes ao previamente esperado: o pequeno produtor apresentou taxa de aversão ao risco menor que a do grande produtor. A análise dos dois tipos extremos de sistemas de produção evidenciou a necessidade de políticas diferenciadas para atender as demandas dos produtores.

Maier (2005) procedeu uma avaliação de decisões de produção de um unidade de negócios utilizando conceitos de finanças corporativas e aplicou a ótica de portfólios de investimentos ajustada ao mix de produção. Por meio da observação do risco percebido para cada linha de produtos, o autor avaliou opções de investimento tendo como objetivo a maximização de valor e apresentou sugestões de melhorias baseadas em análise de sensibilidade, com o auxílio da simulação de Monte Carlo, e posicionamento rumo à fronteira de eficiência, construída por meio da aplicação da análise E-V.

Carvalho e Godinho (2005) avaliaram os impactos na alocação de terra e na variabilidade da receita, proporcionados pelo 2003 CAP (Common Agriculture

Policy), em uma propriedade rural de Portugal. O CAP é uma iniciativa da União

Européia que prevê a diminuição gradual de vários incentivos, sobretudo subsídios financeiros, ao setor agrícola europeu entre 2005 até 2012, cessando por completo em 2013. Espera-se com essa iniciativa que o setor se torne mais competitivo e promova uma maior diversificação. As autoras apresentaram um modelo incorporando uma análise de cenários que consideram o sistema produtivo atual e as conseqüentes mudanças, proporcionadas pelo CAP, na alocação da terra, nos níveis de rentabilidade e sua variação. O modelo é baseado em programação estocástica discreta (DSP) associado com o MOTAD. O DSP permitiu avaliar decisões seqüenciais, que caracterizam a flexibilidade dos produtores para modificar suas estratégias, e o MOTAD permitiu a captura dos efeitos do risco na rentabilidade esperada. Os resultados evidenciaram que, em decorrência do CAP, houve um aumento na diversificação das atividades e na rentabilidade total e a diminuição da variabilidade da renda.

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Börner (2006) avaliou as alternativas de uso do solo na região da zona Bragantina, na Amazônia, visando minimizar os impactos ambientais e maximizar a eficiência técnico-econômica da produtividade. O autor propôs um modelo bio- econômico para avaliações das decisões do uso do solo e de escolhas de tecnologias. Algumas alternativas de contenção da degradação do meio-ambiente foram consideradas no modelo matemático, tais como cobranças de taxas por uso e degradação do solo e adesão ao programa de incentivos ProAmbiente. A análise descritiva dos dados primários e secundários foi feita com a diferença de médias e análise de regressão. O autor utilizou o MOTAD para avaliar o comportamento do produtor na diversificação em resposta a variabilidade do preço (risco) e a análise E- V para avaliar a intensidade do uso dos recursos.