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Motivos para não investir ou incentivar a produção de alguns itens

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.4 FONTES DE RISCOS E RESPOSTAS GERENCIAIS

4.4.6 Motivos para não investir ou incentivar a produção de alguns itens

Após a análise dos tipos de riscos e respostas gerenciais, foi apresentada uma lista de motivos que poderia influenciar na decisão da cooperativa em não investir ou incentivar a produção dos itens analisados no modelo de eficiência econômica gerado na pesquisa. Para cada motivo foi perguntado qual o grau de influência – pouca ou muita. Os motivos foram baseados em características do cooperativismo e nos objetivos econômicos e sociais das cooperativas.

O objetivo desta parte do questionário foi avaliar, dentre algumas características particulares da doutrina cooperativista, se as cooperativas estariam

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dispostas a incentivar mudanças no portfólio de produção agropecuária de seus membros e quais seriam os motivos que poderiam influenciar nessa decisão. Essas mudanças são relacionadas à melhoria da relação retorno-risco da produção e, conseqüentemente, a melhoria da gestão dos riscos de mercado.

Para o preenchimento destas questões foi solicitado que o respondente desconsiderasse os itens em que a cooperativa atualmente se dispõe a incentivar o aumento ou a manutenção da produção atual. Também foi solicitado que fossem consideradas as hipóteses de viabilidade técnica e econômica, a capacidade de absorção da cooperativa e a possibilidade de expansão geográfica para os casos em que não há vocação regional para a cultura. Essas hipóteses foram colocadas para tentar isolar os motivos para não investir ou incentivar a produção, direcionando-os apenas aos motivos listados.

Das cooperativas da amostra quatro não responderam às questões. A cooperativa 14, que é uma cooperativa central, não respondeu alegando que atua apenas com laticínios e suínos, industrializando e comercializando a produção das cooperativas filiadas. A cooperativa 4 alegou que atua apenas com fruticultura e que não investe em outras culturas. A cooperativa 8 não respondeu alegando que se trata de uma coooperativa central e que opera apenas com a cultura do algodão. Por fim, a cooperativa 3 não respondeu e não alegou o motivo.

O Quadro 4.4 apresenta a freqüência das respostas dadas ao grau de influência (muito ou pouco), de cada um dos motivos para não investir ou incentivar a produção dos itens listados. Verifica-se que para todos os itens listados existe pelo menos um indicativo de influência de algum dos motivos avaliados. Os motivos mais citados foram a incompatibilidade com o foco estratégico da cooperativa e a não promoção do progresso econômico aos cooperados. Entretanto, verificam-se graus diferenciados de influência de cada um dos motivos listados. Os motivos que apresentam maior influência (muita) foram os relacionados à incompatibilidade com o foco estratégico da cooperativa (motivo 5) e com o histórico de produção da cooperativa (motivo 6) e possíveis resistências a mudanças por parte dos cooperados (motivo 7). Para os demais motivos o grau de influência é considerado menor (pouca).

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Motivos para NÃO investir ou incentivar a produção

Motivos Itens 1- As opções são contrárias aos princípios doutrinários da cooperativa 2- Desequilíbrio entre objetivos econômico e social da cooperativa 3- Não promoveria o bem-estar comum 4- Não promoveria progresso econômico aos cooperados 5- Incompati- bilidade com o foco estratégico da cooperativa 6- Incompati- bilidade com o histórico de produção da cooperativa 7- Possíveis resistências a mudanças por parte dos cooperados

Influência Influência Influência Influência Influência Influência Influência

Pouca Muita Pouca Muita Pouca Muita Pouca Muita Pouca Muita Pouca Muita Pouca Muita

Soja 6 0 5 1 4 1 3 2 6 2 4 1 4 1 Milho 6 0 5 1 4 1 3 2 3 2 4 1 4 1 Feijão 3 1 4 0 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 Café 4 1 4 1 4 1 3 2 2 4 3 3 3 2 Trigo 6 0 5 1 4 1 3 2 3 2 4 1 4 1 Cana 5 1 4 2 5 1 5 2 2 5 3 4 2 5 Fumo 2 4 2 4 3 3 4 3 1 6 1 6 2 5 Mandioca 3 3 3 3 4 2 4 3 1 6 1 6 2 5 Frangos 3 1 3 1 4 0 3 1 2 2 2 2 2 2 Bovinos 3 2 3 2 4 1 4 2 2 4 2 4 1 5 Suínos 3 2 2 3 3 1 2 3 1 3 1 3 1 3 Leite 5 1 4 2 5 0 4 2 3 2 3 2 3 2 Ovos 3 2 2 3 4 1 4 2 1 4 0 5 2 3 Batata 2 4 2 4 3 3 4 3 1 6 1 5 1 5 Tomate 3 3 3 3 4 2 4 3 1 6 1 5 1 5 Uva 3 3 3 3 4 2 4 3 2 5 1 5 2 4 Laranja 5 2 5 2 6 1 5 3 2 6 3 5 2 5 Proporção 68% 32% 62% 38% 74% 26% 60% 40% 34% 66% 37% 63% 40% 60% Contagem 95 95 89 100 101 95 93

Quadro 4.4 – Freqüência das respostas sobre os motivos para não investir ou incentivar a produção Fonte: Elaboração própria

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Os motivos relacionados aos princípios doutrinários (motivo 1) e aos objetivos econômico e social da cooperativa (motivo 2), que efetivamente diferenciam este tipo de organização das sociedades de capital, receberam um grau menor de influência. Isto pode indicar que de forma geral existe pouca influência destes motivos, refletindo assim um comportamento mais racional por parte das cooperativas. Entretanto, esse grau de influência se inverte quando se trata dos itens fumo e batata. Para o caso do fumo, verifica-se que historicamente as cooperativas não têm investido nesta cultura. Porém para o caso da batata, a explicação para o grau de influência destes motivos poderia incentivar uma investigação mais aprofundada.

A não promoção do bem-estar comum (motivo 3) foi o motivo que recebeu o menor número de indicações e o menor grau de influência (pouca). A não promoção do progresso econômico aos cooperados (motivo 4) também recebeu de forma geral um baixo grau de influência, com exceção dos itens feijão e suínos. Para estes itens a maioria dos respondentes indicou que não promoveria o progresso econômico dos cooperados.

Na incompatibilidade com o foco estratégico (motivo 5) e com o histórico de produção da cooperativa (motivo 6), para os itens soja, milho, trigo e leite foi indicado um grau baixo de influência. O que significa que estes motivos poderiam não infuenciar muito na decisão das cooperativas em incentivar a produção destes itens. Para os itens soja, milho, café, trigo e leite, os respondentes consideram que possíveis resistências a mudanças por parte dos cooperados (motivo 7) não seria um motivo que influenciaria muito na decisão em não investir ou incentivar a produção. Verifica-se que para os demais itens possivelmente haveria mais resistência dos cooperados em incentivar a produção.

Como comentado acima, verifica-se que para diminuir a variância total do portfólio de produção agropecuária do Estado do Paraná, mantendo-se o mesmo nível de margem bruta total (cenário 1), seria necessário aumentar a produção de café, frangos, bovinos, suínos, batata e uva; além de diminuir ou manter o nível de produção dos demais itens. Para maximizar a margem bruta total, mantendo-se quase o mesmo nível de risco (cenário 2), seria necessário aumentar a produção de soja, feijão, café, mandioca, frangos, bovinos, suínos, batata e uva; além de diminuir ou manter o nível de produção dos demais itens. A Tabela 4.31 reproduz de forma resumida os cenários de eficiência econômica, gerados por meio da análise E-V e apresentados na Tabela 4.5, com os itens que deveriam ter seu nível de produção

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aumentado por conta dos objetivos ilustrados nos cenários. A tabela também inclui a análise do Quadro 4.4 com a lista dos motivos que exerceriam muita influência na decisão em não investir ou incentivar a produção destes itens.

Tabela 4.31 – Cenários e motivos com muita influência

Itens Variação parao cenário 1 Motivos Variação parao cenário 2 Motivos

Soja -40,9% 6,1% Feijão preto -22,9% 22,0% 3, 4, 5, 6, 7 Feijão de cor -32,2% 10,4% 3, 4, 5, 6, 7 Café 40,7% 5, 6 40,7% 5, 6 Mandioca -36,3% 7,7% 1, 2, 5, 6, 7 Frangos 0,8% 5, 6, 7 0,8% 5, 6, 7 Bovinos 1,3% 5, 6, 7 1,3% 5, 6, 7 Suíno 7,2% 2, 4, 5, 6, 7 7,2% 2, 4, 5, 6, 7 Batata 8,9% 1, 2, 3, 5, 6, 7 72,6% 1, 2, 3, 5, 6, 7 Uva 49,7% 1, 2, 5, 6, 7 49,7% 1, 2, 5, 6, 7

Fonte: Elaboração própria

Verifica-se que o item soja é o que sofreria menor influência dos motivos listados na decisão em não investir ou incentivar a sua produção. Os motivos comuns a todos os itens (exceção soja) em ambos os cenários foram os motivos 5 e 6. Ou seja, a incompatibilidade com o foco estratégico e com o histórico de produção da cooperativa seria o que mais influenciaria na decisão em não investir ou incentivar a produção.

No cenário de diminuição da variância total para o mesmo nível de margem bruta total (cenário 1), além dos motivos 5 e 6, os motivos 2 e 7 também foram os mais citados. Ou seja, o desequilíbio entre os objetivos econômico e social da cooperativa e possíveis resistências a mudanças por parte dos cooperados, seriam os motivos com muita influência em não investir ou incentivar a produção de bovinos, suínos, batata e uva. Ainda para os itens batata e uva, verifica-se a influência do motivo 1, relacionado aos princípios doutrinários da cooperativa. Para o item batata, com exceção do motivo 4, verifica-se a influência dos demais motivos. Neste cenário, para os itens café e uva, que deveriam sofrer as maiores alterações no nível de produção, os motivos comuns para não investir ou incentivar a produção são os relacionados à incompatibilidade com o foco estratégico (motivo 5) e com o histórico de produção da cooperativa (motivo 6).

No cenário de maximização da margem bruta total com pequena alteração da variância total do portfólio, os itens que deveriam sofrer as maiores alterações em

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seu nível de produção são feijão, café, batata e uva. Novamente o item que teria mais motivos influenciando na decisão em não investir ou incentivar a produção seria a batata. Os motivos relacionados às características distintivas das cooperativas, os motivos 1 e 2, influenciariam na decisão em não investir ou incentivar a produção de mandioca, suíno, batata e uva. O destaque na análise desse cenário é a indicação do motivo 7 para quase todos os itens. Ou seja, para quase todos os itens que melhorariam a relação retorno-risco, maximizando a margem bruta total para o mesmo nível de risco, por meio do aumento do seu nível de produção, a possível resistência por parte dos cooperados poderia inviabilizar esse cenário.

Com a análise dos dados acima, verifica-se que os principais motivos que poderiam inviabilizar propostas de mudanças no portfólio, visando a máxima eficiência econômica em termos de retorno-risco, estão relacionados ao foco estratégico da cooperativa e a resistências dos cooperados. Isto denota uma visão mais racional por parte das cooperativas, em detrimento à possíveis influências da doutrina cooperativista nas decisões. Por conta disso, pode-se inferir que as especificidades da organização cooperativa, refletidas na doutrina ou nos objetivos econômico e social, exerceriam pouca influência na adoção de respostas gerenciais visando a diversificação como forma de melhoria da relação retorno-risco. Ou seja, a doutrina cooperativa, no contexto das cooperativas do Paraná, pouco influenciaria na gestão dos riscos de mercado por meio desse instrumento. Isso denota a resposta para a pergunta 3, proposta nesta pesquisa.

4.5 GESTÃO DOS RISCOS DE MERCADO NAS COOPERATIVAS

Para avaliar como as cooperativas avaliam e gerenciam os riscos de mercado e a posição em relação aos cenários de portfólios eficientes gerados no estudo, foram conduzidas entrevistas semi-estruturadas com gestores de quatro cooperativas agroindustriais do Paraná. As cooperativas selecionadas para as entrevistas foram as cooperativas 2, 3, 6 e 7, que também responderam ao questionário sobre a importância dos riscos e relevância das respostas gerenciais. A caracterização destas cooperativas foi apresentada acima, no item 4.4.1, e representam as cooperativas de grande, médio e pequeno porte quanto ao faturamento, segundo a classificação proposta na Tabela 4.8 – Classificação ABC

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para o faturamento. O Quadro 4.5 apresenta as cooperativas entrevistadas, o faturamento, as commodities do modelo que integram o portfólio da cooperativa e informações a respeito dos respondentes.

Coop Grupo Faturamento em 2007 (R$ mil) Commodities do modelo que integram o portfólio Cargo do(s) respondente(s) Formação 6 A 3.466.242,72 Soja, milho, café e trigo

Auditor interno Administração Assessor de auditoria

interna

Administração e Ciências Contábeis 7 A 1.015.569,11 Soja, milho, café,

trigo e laranja

Superintendente

comercial Administração

2 B 590.440,50

soja, milho, feijão, trigo, suínos e

leite

Gerente geral Engenheiro Agrônomo 3 C 206.000,00 soja, milho, feijão,

trigo e bovinos Diretor financeiro Engenheiro Agrônomo

Quadro 4.5 – Cooperativas entrevistadas Fonte: Elaboração própria

O roteiro da entrevista incluiu perguntas a respeito das práticas da cooperativa na gestão dos riscos de mercado, das percepções gerais sobre as propostas dos dois cenários de portfólios eficientes gerados na análise E-V e dos possíveis motivos que poderiam influenciar na decisão em não investir ou incentivar a produção de itens do agronegócio, com principal ênfase às commodities avaliadas no modelo. O roteiro da entrevista é apresentado no Apêndice C. Abaixo são apresentadas as respostas aos questionamentos e observações gerais dadas pelos respondentes.