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Aplicações de Radiações na Área Industrial nas Páginas do

5 ANÁLISE DOS DADOS SELECIONADOS DAS TRÊS PÁGINAS

5.2 Conteúdos Postados no âmbito da Física das Radiações nas Páginas do

5.2.6 Aplicações de Radiações na Área Industrial nas Páginas do

Parece difícil imaginar alguma atividade do cotidiano que não esteja direta ou indiretamente relacionada à radiologia industrial.

As páginas apresentam diversas aplicações das radiações ionizantes e não ionizantes na área industrial, por exemplo, nos setores químico; siderúrgico; petrolífero; automobilístico; de mineração; naval; eletromecânico; indústria alimentícia; papel e celulose; frigorífico e outros.

De modo geral, as postagens procuram mostrar como o uso das radiações ionizantes na área industrial faz ou pode fazer diferença na sociedade. Tanto que há menção de acidentes. No PPC do curso em que o professor-pesquisador-autor lecionou esse subtópico fazia parte da componente curricular “radiologia industrial”. Além disso, os acidentes mais conhecidos estão associados a usinas nucleares.

O quadro 12 compila as aplicações relacionadas às postagens capturadas dessas páginas e na sequência apresenta-se alguns exemplos: dessalinização nuclear (figura 48); irradiação de alimentos (figura 49); exploração de petróleo; irradiação para controle de qualidade de produtos e materiais (figura 50).

Quadro 12 - Miscelânea de Conteúdos relacionados a Aplicações de Radiações na Área Industrial nas Páginas do CIN, IRD e CONTER.

UNIDADE DE ANÁLISE OU “NÓS”

TÓPICO OU

“CASO” SUBTÓPICOS OU “CLASSIFICAÇÕES DE CASOS”

Tema Postado no âmbito da Física das Radiações Aplicações de radiações na área industrial

Página do CIN: irradiação de sangue e hemocomponentes; esterilização de produtos médico-hospitalares; irradiação de alimentos e livros (figura 31); controle biológico de pragas por meio de radiações (figura 7); END com o uso de raios X para estudar retratos antigos e objetos de metal; irradiação para preservação do patrimônio cultural; irradiação de pedras preciosas; irradiação de polímeros;

Página do IRD: tecnologia e conhecimento técnico das radiações para a segurança nos “Jogos Rio 2016” por meio de radioinspeções de pessoas e objetos; atuação da CNEN nos jogos paralímpicos brasileiros em 2016; combate ao Aedes aegypti por meio de radiação ionizante;

Página do CONTER: END: neutrongrafia; radiografia, radioscopia; gamagrafia; radiologia forense; uso de reatores e usinas nucleares, irradiação de alimentos, irradiação de obras de arte; acidentes como o de Chernobyl (1986); radioinspeção de segurança em portos e aeroportos.

Fonte: o autor, 2020.

Os primeiros enunciados da figura 48 contextualizam a demanda mundial por água potável, o que do ponto de vista utilitário parece justificar o emprego da energia nuclear para dessalinização da água do mar e assim, em tese, minimizar o problema de falta de acesso a esse bem essencial.

Na vertente da TAR, o entendimento desse projeto de “dessalinização nuclear” mencionado na postagem exige atentar para o fluxo de translações, isto é, os movimentos da rede, a partir do CIN, da CNEN, do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), dos seguidores e outros elementos, os quais tornam possível que as ações ocorram. Nesses movimentos efeitos de articulações de interesses e possibilidades, os atores se alteram, gerando delimitações e fazendo negociações para alcançar seus objetivos.

Figura 48 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área Industrial na Página do CIN.

Continuação da Figura 48 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área Industrial na Página do CIN.

Fonte: Página do CIN no Facebook, 2019.

No primeiro comentário um seguidor declara seus interesses, a partir de suas ideologias, perguntando sobre dados técnicos da vazão do projeto. São dessas e de outras interações e associações que a concretização do projeto deve resultar (LATOUR, 2012; LEMOS, 2013a).

Considerando os pressupostos da ADD os enunciados verbais e não-verbais dialogam constitutivamente. O link inicial, os comentários de seguidores e a resposta verbal do CIN promovem a constituição de sentidos das postagens. Pelo seu posicionamento, o primeiro seguidor se identificou com o conteúdo da postagem e manifestou seu interesse no

projeto, indagando sobre a vazão de água a ser dessalinizada. Os demais seguidores a seu modo procuram enaltecer essa aplicação.

A figura 49 retrata a divulgação científica promovida pelo IRD, em um evento do qual o instituto participou. Muitas de suas postagens se organizam em torno participações em eventos internos ou externos. Para a composição dessa postagem dois menores de idade na foto passa a ideia de como os jovens podem ser importantes no processo de desmitificação da irradiação de alimentos. Para a TAR, os processos de translação não são neutros; tem consequências, isto é, deixam rastros; e podem transformar os atores (IRD, adolescentes e pesquisadora) a partir dessas interações. Observando o enunciado “irradiação de alimentos”, questiona-se: por que irradiar alimentos? Todos os alimentos podem ser irradiados?

Figura 49 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área Industrial na Página do IRD.

Fonte: Página do IRD no Facebook, 2017.

No Brasil a legislação que trata do assunto é a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 21, de 26 de janeiro de 2001, a qual aprovou o Regulamento Técnico para essa finalidade (BRASIL, 2001). Além da ANVISA, a CNEN e as suas unidades, Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) e IRD agenciam esse processo.

Na ótica da ADD, um contra-argumento pode estar relacionado ao status do conhecimento científico. Há pessoas que alegam o fato de que nem todos os alimentos podem ser irradiados. Porém, desde a antiguidade não se conhece nenhum método de conservação de alimentos empregado para todos os tipos de alimentos.

Nessa postagem houve somente duas curtidas e nenhum outro rastro de interação. Em termos bakhtinianos esse parco envolvimento estaria associado a concepção de leitura da imagem, ou seja, a capacidade dos usuários de responderem, dialogarem com ela. O controle de qualidade de alimentos por meio de irradiação visa torná-los mais confiáveis para o consumo, a curto, médio ou longo prazo, dependendo de suas características. É uma tecnologia em expansão e impulsionada pela competitividade do comércio internacional que exige altos padrões de qualidade: redução de perdas por deterioração; manutenção do teor nutritivo e prevenção de doenças. Trata-se de um processo físico que consiste em submeter os alimentos embalados ou a granel, a doses controladas de radiações ionizantes, do tipo X, gama ou feixe de elétrons por um intervalo tempo predeterminado (OKUNO; YOSHIMIRA, 2010).

A identificação dos alimentos irradiados deve ser feita com um símbolo, denominado Radura (Anexo B), o qual deve constar no rótulo dos alimentos que foram submetidos a esse método. No caso de produtos a granel irradiados, nos locais de venda deve haver a indicação: "ALIMENTO TRATADO POR PROCESSO DE IRRADIAÇÃO".

Considerando o potencial de interação dessa postagem cabe ressaltar que mesmo com doses baixas de radiação ionizante proteínas podem sofrer desenrolamento, coagulação e divisão de aminoácidos. As vitaminas C, E e K também podem sofrer alterações dependendo da dose utilizada, logo, as perdas são baixas quando são usadas doses controladas. Outras moléculas como carboidratos e lipídios também podem sofrer modificações em suas estruturas, como o rompimento de ligações químicas. As enzimas também podem ser inativadas, caso as doses excedam os valores estabelecidos. Além disso, temperatura, umidade, tensão de oxigênio do meio e o estado físico do alimento a ser irradiado também podem influenciar a técnica. Por esses motivos, para cada alimento a ser irradiado são estabelecidos protocolos específicos (CORRE; VENAILLE, 1994). Daí a importância da divulgação realizada pelo IRD para enriquecer o significado da irradiação de alimentos e avançar nessa compreensão.

A figura 50 ilustra um END para inspeção de uma arma por meio de raios X. Essa postagem destaca o cientista Roentgen, sua arma e a aplicação dos raios X para inspecioná-la. A leitura na perspectiva de Bakhtin (1997) é uma ação de abertura para o diálogo, o qual parece ter acontecido principalmente por intermédio de outras formas de expressão dos emoticons e compartilhamentos por parte dos seguidores.

Na área industrial a radiografia é um método de inspeção não destrutiva que, assim como no radiodiagnóstico médico e odontológico, baseia-se na absorção diferenciada da

radiação penetrante pela peça que está sendo inspecionada. Devido às diferenças de densidade e variações na espessura do material, ou mesmo disparidades nas características de absorção causadas por variações na composição do material, diferentes regiões de uma peça, por exemplo, tendem a absorver quantidades diferentes da radiação ionizante. Essa absorção diferenciada da radiação poderá ser detectada por meio de um filme ou placa de imagem. Desse modo, essa variação na quantidade de radiação absorvida, detectada em um meio, irá indicar, entre outras coisas, a existência de uma falha interna ou defeito no material.

Figura 50 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área Industrial na Página do CONTER.

Fonte: Página do CONTER no Facebook, 2019.

Em termos da TAR esses elementos não são entidades delimitadas, mas eventos acoplados às relações estabelecidas na rede (LATOUR, 2012; LEMOS, 2013a). Essa aplicação relatada na postagem 50, pode agenciar humanos e não humanos. Retomando Bakhtin (1997), essa leitura pode possibilitar outras formas de interações e o intercâmbio de experiências. Porém, esse não foi o primeiro END realizado pelo homem. Pois, foi exatamente similar ao que você faz neste momento, um ensaio visual deste material, por meio da luz visível. Então, qual é o potencial ativo e responsivo que essa postagem pode carregar?

Atualmente os END são utilizados para: detectar defeitos presentes em determinados produtos durante as etapas de planejamento, fabricação, manutenção ou montagem; determinar características mecânicas, físicas, químicas e metalúrgicas de um material; fazer o controle de qualidade de componentes de máquinas e automóveis, isto é, tomar um produto mais confiável para consumo; monitorar a degradação de componentes de pontes, viadutos, equipamentos e outras estruturas.

5.2.7 Radioproteção ou Proteção Radiológica nas Páginas do CIN, IRD e