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5 ANÁLISE DOS DADOS SELECIONADOS DAS TRÊS PÁGINAS

5.2 Conteúdos Postados no âmbito da Física das Radiações nas Páginas do

5.2.4 Cientistas mencionados nas Páginas do CIN, IRD e CONTER

Quem são os cientistas mencionados? Quais são possibilidades didáticas desses conteúdos?

O quadro 10 sintetiza os cientistas mencionados nas Páginas do CIN, IRD e CONTER. Novamente na perspectiva de Bakhtin nota-se que a circulação de vozes está submetida ao poder. Tanto que as de alguns cientistas são exacerbadas e outras parecem abafadas.

Quadro 10 - Miscelânea de Conteúdos relacionados a Cientistas mencionados nas Páginas do CIN, IRD e CONTER.

UNIDADE DE ANÁLISE OU “NÓS”

TÓPICO OU

“CASO” SUBTÓPICOS OU “CLASSIFICAÇÕES DE CASOS”

Tema Postado no âmbito da Física das Radiações Cientistas e outras Personalidades

Página do CIN: Wilhelm Conrad Roentgen; Antoine Henri Becquerel; Marie Curie; Albert Einstein;

Página do IRD: Raosalyn Yallow; Solomon Berson; Marie Curie; Pierre Curie; Albert Einstein; Ernest Rutherford; Niels Bohr;

Página do CONTER: contribuições de cientistas como Wilhelm Conrad Roentgen, Pierre Curie, Marie Curie e Antoine Henri Becquerel para a radiologia.

Fonte: o autor, 2020.

O físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923) e a física polonesa Marie Curie (1867 - 1934) são os cientistas mais mencionados na página do CIN e do CONTER. Na página do IRD não se percebeu essa tendência, por isso optou-se por destacar a física médica norte-americana Raosalyn Yallow (1921 - 2011) e o médico conterrâneo Solomon Berson (1918 - 1972). Bakhtin (1997, p. 348) esclarece que “[...] o enunciado nunca é simples reflexo ou expressão de algo que lhe preexistisse, fora dele, dado e pronto. O enunciado sempre cria algo que, antes dele, nunca existira, algo novo e irreproduzível, algo que está sempre relacionado com um valor (a verdade, o bem, a beleza, etc.). [...]”. Logo, as imagens desses cientistas nessas postagens formam uma rede discursiva que incluiu referências semânticas diversas e politemporais (páginas institucionais, Facebook, cientistas e anônimos diversos); e por isso promovem também o caráter de leitura inédita dada a formação de novos sentidos.

As postagens das figuras 34 e 35 realizadas pelo CIN e CONTER enaltecem a perspectiva gloriosa ou contemplativa do feito de Roentgen: “Em 1901, essa conquista fez dele a primeira pessoa a ganhar o Prêmio Nobel de Física”. Entretanto, em “História da

Ciência”, toda discussão sobre “autoria de descoberta” é questionável. Isso porque há sempre a perspectiva de trabalho coletivo na construção dos conhecimentos científicos. E quando se diz que, por exemplo, Roentgen é o pai dos raios X, isso é sempre um reducionismo histórico. A postagem da figura 43 destaca a origem, conquistas, mazelas e contribuições de Marie Curie para as ciências e a humanidade: “a cientista deixou um legado imensurável para o mundo”. Por quê?

Figura 43 - Exemplo de Cientista mencionada frequentemente na Página do CONTER.

Fundamentada na ADD a imagem de Marie Curie não está reduzida a representação de um sujeito e de mundo, mas é fonte de significações e sentidos. Inicialmente em conjunto com seu esposo, o também físico Pierre Curie (1859 - 1906), seu trabalho orientou a busca de novos elementos radioativos; abriu caminhos para o aperfeiçoamento e uso de radionuclídeos em outras áreas. Suas experimentações corroboraram para modificar métodos de diagnósticos e tratamentos de ampla variedade de doenças, notadamente o câncer. As promissoras pesquisas com o rádio (Ra) possibilitaram avanços capitais na física nuclear: atualmente, mais de uma centena de radioisótopos radioativos são usados na MN, por meio de exames de cintilografia (diagnósticos metabólicos) e tratamentos radioterápicos; e na radiologia industrial com o uso da gamagrafia e outros ensaios para inspeção de produtos diversos.

O engajamento emocional, identificação dos usuários com a cientista pode ser evidenciada por mais de 300 cliques na postagem. Além disso, uma forma de promover o engajamento comportamental e cognitivo é tentar entender quais e como conceitos, leis e teorias da física possibilitam fazer radiodiagnóstico, tratamentos radioterapêuticos e outras aplicações. O conhecimento de formas de interação das radiações com a matéria tem possibilitado o desenvolvimento de detectores específicos para diferentes tipos de radiações, inclusive para a realização de procedimentos de radiodiagnóstico. Tais detectores películas radiográficas, placas de imagem, semicondutores, gás, por exemplo, são sensíveis à determinado tipo de radiação. Acoplado a um sistema, transforma efeitos da radiação (excitação, ionização) em sinais elétricos, por exemplo, possíveis de relacionar com a quantidade de radiação. Outro aspecto relevante é a penetrabilidade dos raios X e gama maior que a das partículas carregadas (BUSHONG, 2010).

Na figura 44 destaca-se a física médica Raosalyn Yallow (1921 - 2011) e o médico Solomon Berson (1918 - 1972).

Figura 44 - Exemplo de Cientistas mencionados na Página do IRD.

Continuação da Figura 44 - Exemplo de Cientistas mencionados na Página do IRD.

Fonte: Página do IRD no Facebook, 2018.

Esses dois cientistas são homenageados pelas suas impactantes contribuições à sociedade. Pelo enunciado em destaque “Radiação que salva vidas” se percebe como o desenvolvimento da técnica de radioimunoensaio tem afetado a vida de tantas pessoas: a medição de insulina no sangue é imprescindível, pois doenças associadas têm incrementado e revelado problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. Pelo último comentário, nota-se que a relevância de uma postagem não está reduzida ao imediatismo, pois pode promover mediação de situações extraordinárias. A pandemia de COVID-19 escancarou isso. O diabetes é um fator de risco para essa doença.

Retomando Latour (2010) o que os pesquisadores Yallow e Berson conseguiram fazer está articulado ao trabalho de muitos outros humanos dentro e fora dos laboratórios e institutos de pesquisa. Quantos pacientes arriscaram suas vidas em busca de benefício(s) se submetendo a esses protocolos de pesquisa? As vozes desses parecem abafadas.

Então, o uso pedagógico dessas postagens pode se pautar em atividades que explorem a efetiva construção de conhecimentos científicos. No entanto, é desafiador pensar em estratégias pedagógicas que buscam ir além de uma visão simplista de aplicações da física das

radiações. Uma maneira pode ser buscar agenciar os alunos a explorarem como os conhecimentos científicos são construídos e que aprender é um modo de reformá-los por meio de reflexões, como esclarecem Sequeira e Leite (1988, p. 36).

Quando se utiliza a História da Ciência no ensino das ciências os alunos podem verificar como as teorias actualmente [sic] aceites evoluíram em consequência de uma atividade [sic] humana, colectiva [sic], desenvolvida num contexto sócio-histórico-cultural (que também evoluiu ao longo dos tempos) e, desta forma, apreciar o significado cultural e a validação dos princípios e teorias científicas à luz do contexto dos tempos em que foram aceites. Isto só será possível, e aqui surge outra vantagem da utilização da História da Ciência, se os alunos tiverem oportunidade de reflectir [sic] sobre o passado para ajudar a compreender o presente e preparar para enfrentar o futuro numa sociedade científica e tecnologicamente avançada como, cada vez mais, é aquela em que vivemos.

No caso de Yallow e Berson para marcarem anticorpos usaram-se radioisótopos ou radionuclídeos, isótopos que emitem radiação. No caso dessa postagem a insulina foi marcada inicialmente com iodo 131 (I-131) e posteriormente iodo-125 (I-125). Esses foram usados como traçadores ou marcadores devido ao fato de possuírem comportamento químico idêntico ao de isótopos estáveis do mesmo elemento e apresentarem emissão espontânea de radiação que pode ser detectada em moléculas de uma amostra ou do corpo de paciente, indicando assim sua posição e quantidade (OLIVEIRA et al., 2006).

Sendo assim, os radiofármacos são substâncias constituídas de um fármaco e um radionuclídeo utilizadas na MN para o diagnóstico e para o tratamento de patologias, como o câncer. Os radioisótopos usados por Berson e Yallow são emissores de radiação gama (γ). Após a separação entre a insulina ligada ao anticorpo daquela não ligada, a fração ligada era quantificada em um detector de radiação e uma curva padrão construída. A partir disso, a contagem obtida nas amostras permitia comparar a quantidade de insulina existente (BERSON; YALOW, 1959, tradução nossa).

Pela ótica bakhtiniana, pode-se perceber que essas postagens representam propostas de encontro de ideias e de identificações semânticas que se materializam no mural dos usuários. Acredita-se que a atividade investigativa apresentada no apêndice A, pode ser um exemplo de como se pode explorar aspectos da “história da ciência” nas aulas, por meio de tecnologias e metodologias ativas que possibilitem a alunos e docentes problematizarem e (re)construírem conhecimentos científicos.

5.2.5 Aplicações de Radiações na Área da Saúde nas Páginas do CIN, IRD e CONTER

Para além, da expectativa de encantamento ou fascínio por um ou outro cientista, aplicações de radiações na área da saúde via páginas do CIN, IRD e CONTER podem agenciar mais o quê?

O quadro 11 compila a diversidade de conteúdos postados nas páginas do CIN, IRD e CONTER referentes a aplicações das radiações na área da saúde de modo geral. Tais aplicações embora pareçam sedutoras, de acordo com a TAR são complexos de interações em que os humanos não são vítimas e nem protagonistas autônomos em ação, mas elementos das associações (LATOUR, 2012).

Quadro 11 - Miscelânea de Conteúdos relacionados a Aplicações de Radiações na Área da Saúde nas Páginas do CIN, IRD e CONTER.

UNIDADE DE ANÁLISE OU “NÓS”

TÓPICO OU

“CASO” SUBTÓPICOS OU “CLASSIFICAÇÕES DE CASOS”

Tema Postado no âmbito da Física das Radiações Aplicações de radiações na área da saúde

Página do CIN: Usos de raios X em radiodiagnóstico médico, tratamentos de câncer; radiação ionizante na indústria (figura 26); técnicas nucleares aplicadas a detecção de doenças em animais; usos de radioisótopos na medicina nuclear (MN);

Página do IRD: Radioterapia; TC; relevância da física médica; campanhas de combate a doenças por meio do uso de radiações ionizantes como o câncer de mama;

Página do CONTER: Exames de diagnóstico radiológicos: RM e Tomografia Computadorizada (TC); mamografia; MN (uso do tecnécio 99 metaestável - TC99m); anatomia radiológica;

posicionamentos de pacientes para esses e outros exames; análises de imagens radiográficas; radioterapia (tratamentos de câncer, contendo imagens de procedimentos e equipamentos); compartilhamentos de postagens do CIN e IRD alusivas a diversas aplicações das radiações ionizantes e dosimetria; radiologia veterinária; radiologia intervencionista.

Fonte: o autor, 2020.

A figura 45 retoma a irradiação do sangue, mencionada na figura 30. Destaca-se o enunciado que procura validar esse processo: “a irradiação gama é, até o momento, o método mais eficaz e fácil para inativar os linfócitos T [...]”. Para o entendimento do sentido que a página quis mostrar, qual é a razão desse enunciado? Transmitir confiabilidade e validade científica.

Figura 45 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área da Saúde na Página do CIN.

Fonte: Página do CIN no Facebook, 2019.

Sob a ótica dialógica dos estudos de Bakhtin os efeitos dos discursos podem ser: aprovações ou reprovações, adesões ou recusas, polêmicas e contratos, construções e

compartilhamentos de sentidos; ou até tentativas de apagamentos. Por isso, o seguidor pode concordar com os enunciados e curtir a postagem; pode discordar e não curtir; ou ainda complementar o enunciado por meio de um comentário.

Em resumo, pelo infográfico nota-se que se os linfócitos T, presentes tanto no concentrado de hemácias como no de plaquetas do doador, caso não sejam inativados, podem se proliferar e atacar células do receptor. Na vertente da TAR, o enunciado “irradiação gama” traz em seu arcabouço uma série de elementos conforme o infográfico, mediadores e intermediários, que transmitem significado social: minimiza o sofrimento humano e pode salvar vidas.

Na figura 46 enuncia-se a construção de um novo reator nuclear no Brasil, o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Baseados nos pressupostos da ADD, os sentidos atribuídos dependem de um caminho ao mesmo tempo sinuoso e instigante. Embora ainda esteja na fase de projeto representa um avanço para a MN brasileira, pois terá o papel de ampliar acesso da população aos serviços de MN; aumentará a produção de radiofármacos utilizados; e possuirá maior notoriedade em pesquisas nessa área. Novamente, na visão da TAR, o RMB é composto por uma variedade de agentes associados (intermediários ou actantes): IRD, CNEN, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Nesse processo, dotados de agência, humanos e não-humanos parecem se fundir e confundir nas redes, cujas aplicações podem se estender à agricultura, às indústrias e outras áreas.

No entanto, essa postagem apresenta um equipamento genérico que pode ser utilizado para diversos exames de diagnósticos. Seria esse compatível com aqueles usados na MN?

Figura 46 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área da Saúde na Página do IRD.

Continuação da Figura 46 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área da Saúde na Página do IRD.

Fonte: Página do IRD no Facebook, 2018.

Para Bakhtin (1997) a estética convoca atitudes (60 compartilhamentos), tende a produzir efeitos de identificação, apreciação ou (in)conformidade. Na MN, o sistema de obtenção de imagens mais utilizado é o gama câmara ou câmara de cintilação. Em princípio, um radiofármaco é administrado ao paciente, substância constituída de fármaco e radionuclídeos (OKUNO; YOSHIMIRA, 2010). Em seguida, o aparelho realiza a leitura da radiação emitida pelo material radioativo presente no órgão do paciente considerando a sua atenuação, conforme figura 46.

Outros equipamentos usados para fins de diagnóstico nessa área são: o de Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único (SPECT), o qual consiste na junção de uma câmara de cintilação com um sistema tomográfico para a aquisição de imagens. O detector que gira em torno do paciente para constatar a posição e a concentração

dos radionuclídeos (OKUNO; YOSHIMIRA, 2010). E o de Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitron (PET - CT) que combina uma técnica tomográfica com efeitos da MN para a obtenção de imagens a fim de detectar metástases e acompanhar pacientes com melanoma, por exemplo.

Da página do CONTER apresenta-se uma aplicação de radiação X com fins diagnósticos na odontologia, conforme mostra a figura 47.

Figura 47 - Exemplo de Aplicações de Radiações na Área da Saúde na Página do CONTER.

Fonte: Página do CONTER no Facebook, 2019.

Trata-se de uma radiografia da arcada dentária, entretanto, não há nenhum enunciado verbal para complementá-la ou explicá-la. A radiografia pode ser entendida também como um apelo aos detalhes do material, sob o qual centra-se a análise, a expressão de significados anatômicos que podem (re)construídos pelos usuários.

Qual seria a lógica de comunicação por meio de postagens com esse aspecto de composição? Considera-se quais efeitos de produção sentido? Provocar profissionais da área da radiologia e afins, a pesquisar, transpor sentidos mais imediatos?

Para Bakhtin, os efeitos de sentido criados a partir de tal exploração dependem do reconhecimento de seus seguidores. As reações de dois usuários podem ser de surpresa, de admiração, ignorância, ou outra natureza. Lemos (2013a) lembra que isso depende dos elementos das associações em jogo. Como característica da área da radiologia, a imagem radiográfica explicitada na figura 47, arrola elevado nível de informações. Trata-se de uma linguagem mais compreensível para estudantes, profissionais da área. O contraste é intrínseco ao discurso radiodiagnóstico. As imagens radiológicas possuem elementos com diferentes

tonalidades de cinza. Na arcada dentária os dentes, mais claros, indicam regiões de maior atenuação, por isso, fótons de raios X são mais absorvidos. Por conseguinte, menor quantidade de fótons transpõe essa região do corpo do indivíduo e atinge o receptor de imagem. E é justamente por meio do contraste é que é possível fazer os diagnósticos.

Todavia, não é simples, nem imediato reconhecer que imagens radiográficas, como exemplificam nessa figura, são resultados da absorção diferenciada da radiação X por tecidos ou objetos com diferentes densidades e ligações químicas; e, por conseguinte, espectros de absorção de radiação distintos. Essas variáveis agenciam densidades óticas distintas em um receptor de imagens, isto é, uma imagem com contraste e resolução em um filme ou uma placa de imagem.

Cabe ao professor problematizar os conteúdos, com o intuito de mediar engajamento comportamental e cognitivo. Por isso, acredita-se que esses conteúdos podem promover mudanças significativas nos processos de leitura, indagação e compreensão por parte dos seguidores. Os discursos podem oferecer subsídios para deslocamentos, pensamentos mais elaborados e a formação e/ou o desenvolvimento de senso crítico.

5.2.6 Aplicações de Radiações na Área Industrial nas Páginas do CIN, IRD e