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Conceito e Origem de Radiações nas Páginas do CIN, IRD e

5 ANÁLISE DOS DADOS SELECIONADOS DAS TRÊS PÁGINAS

5.2 Conteúdos Postados no âmbito da Física das Radiações nas Páginas do

5.2.1 Conceito e Origem de Radiações nas Páginas do CIN, IRD e

As postagens, bem como as interações decorrentes, explicitam como o conceito e a origem das radiações podem impactar o cotidiano dos usuários. Mas, de quais tipos de radiações se fala?

O quadro 7 compila a miscelânea de conteúdos relacionados ao conceito e a origem de radiações via páginas do CIN, IRD e CONTER. Na sequência procura-se identificar como se caracterizam esses conteúdos de física das radiações, a partir de subtópicos que expressam aspectos fundamentais de cada tópico analisado.

O tópico “Conceito e Origem de Radiações” discute informações relevantes para compreender e atuar seja como paciente ou profissional das técnicas radiológicas, pois se relaciona a praticamente todos os aspectos protocolares envolvendo o uso de radiações: indicações de exames e tratamentos; manipulação da fonte emissora de radiação; tipo de radiação emitida e suas propriedades; serviços de dosimetria e medidas de radioproteção. Assim, pode-se conscientizar mais sobre riscos, benefícios e malefícios envolvendo o uso de raios X, ao contrário de alguns agentes inscritos na figura 33, por exemplo.

Quadro 7 - Miscelânea de Conteúdos relacionados ao Conceito e a Origem de Radiações nas Páginas do CIN, IRD e CONTER.

UNIDADE DE ANÁLISE

OU “NÓS”

TÓPICO OU

“CASO” SUBTÓPICOS OU “CLASSIFICAÇÕES DE CASOS”

Tema Postado no âmbito da Física das Radiações Conceito e Origem de Radiações

Página do CIN: raios X; produção de radiofármacos para diagnósticos e terapias; técnicas nucleares usadas para estudar ambientes marinhos; aniquilação de pares; fusão nuclear; equipamentos e aceleradores de partículas com fins radiológicos; Página do IRD: radioatividade e água potável; transporte de material radioativo; exposições naturais e artificiais às radiações ionizantes;

Página do CONTER: equipamento de raios X; irradiação de obras de arte; questões de provas de concursos; conscientização acerca de exames de diagnósticos e tratamentos radioterápicos; história da radiologia.

Fonte: o autor, 2020.

Conforme o quadro 7, o conceito e a origem de radiações nessas páginas estão fortemente associados às exposições com fins diagnósticos, terapêuticos, treinamentos e outros serviços prestados à sociedade. A seguir, apresenta-se alguns exemplos de postagens. Figura 34 - Exemplo de Postagem sobre Conceito e Origem de Radiações na Página do CIN.

Pelas figuras 34 e 35 observa-se que o CIN e o CONTER publicaram o mesmo infográfico. Quando relacionado ao referencial teórico bakhtiniano, o seguidor não é passivo, mas o agente que ao ler responde semanticamente ao conteúdo postado. Os enunciados se compõem dos mesmos elementos verbais (breve descrição da descoberta da radiação X acompanhada de um link para uma consulta mais diligente, caso o usuário se interesse) e não- verbais (foto do cientista e imagens radiográficas para representar aplicações dos raios X). Porém, o CIN refere-se aos raios X, grafado com hífen e no singular. Reitera-se que isso não faz sentido no âmbito da física, uma vez que se usa um feixe desse tipo de radiação, constituído por diversos fótons. Esteticamente, os termos “raio-X”, “raios-X” e “raios X” (grafia correta) referem-se tanto ao exame (imagens radiográficas) quanto à radiação.

Figura 35 - Exemplo de Postagem sobre Conceito e Origem de Radiações na Página do CONTER.

Fonte: Página do CONTER no Facebook, 2019.

À vista disso, é oportuno, questionar: se a linguagem tenta reproduzir, mimetizar as “coisas” qual é o significado do termo radiações?

No plural mesmo, pois trata-se de um conceito múltiplo. Humanos e não humanos são “banhados” diariamente por diferentes tipos de radiações provenientes de diversas fontes. Do Sol, merecem destaque a luz visível, os raios ultravioleta (UV), do tipo A, B e C, os fótons de infravermelho e de micro-ondas; do solo, do ar e da água, os raios beta e gama emitidos

por elementos químicos radioativos (radioisótopos), por exemplo; e do corpo humano, a radiação beta oriunda dos decaimentos radioativos do potássio - 40 (K-40) presente nos músculos e do carbono - 14 (C-14) existente nos ossos. Essas evidências permitem entender que as radiações são formas de energia que se propagam por meio de ondas eletromagnéticas ou corpúsculos, partículas com massa e carregadas ou não, a partir de uma fonte emissora, natural ou artificial. De modo geral, são produzidas por processos de ajustes que ocorrem no núcleo ou nos orbitais atômicos, ou pelas interações de radiações com a matéria (OKUNO, 2007).

Suas classificações dependem dos critérios adotados. Quanto à origem podem ser nucleares, como raios gama, alfa e pósitrons; ou não nucleares, como os raios X, as micro- ondas e as ondas de rádio, uma vez que se originam fora do núcleo do átomo. Com relação à energia podem ser ionizantes, raios X, gama e alfa, por exemplo; ou não ionizantes, luz visível, infravermelho e ondas de celulares. As ionizantes possuem energia suficiente para quebrar as ligações químicas ou expulsar elétrons dos átomos após interações. Produzem íons, radicais e elétrons livres na matéria com a qual interagiu. E os efeitos biológicos, quando ocorrem, resultam disso. No contexto da radiobiologia consideram-se como sendo ionizantes, radiações com energia maior do que 10 elétron-volt54 (eV). A radiação UV, por exemplo, para

fins de fotobiologia é considerada não ionizante por não ter energia suficiente para arrancar elétrons dos principais átomos que constituem o corpo humano como hidrogênio (energia de ionização 13,6 eV), oxigênio (energia de ionização 13,6 eV), carbono (energia de ionização 11,3 eV) e nitrogênio (energia de ionização 14,5 eV) além penetrar muito pouco no corpo humano. Deve-se mencionar que fótons de raios X e Gama, são partículas indiretamente ionizantes e ao atravessarem a matéria podem depositar energia nesta em um processo sequencial: primeiro, transferência de energia para uma partícula carregada (elétron ou pósitron) e posteriormente a deposição da energia transferida à partícula carregada no meio irá provocar novas ionizações (BUSHONG, 2010).

Referente à natureza as radiações podem ser corpusculares, cujos exemplos são os raios beta e os nêutrons; ou ondas eletromagnéticas como os raios UVA, UVB, UVC e o infravermelho, raios X, raios gama etc. Fora do espectro da luz visível todas as radiações eletromagnéticas são imperceptíveis pelos cinco sentidos humanos (OKUNO; YOSHIMURA, 2010; OKUNO, 2007).

54 Elétron-volt é uma unidade de medida de energia. Um eV é a energia cinética adquirida por um elétron ao ser acelerado por uma diferença de potencial elétrica de 1volt (V).

Nesses infográficos, o enunciado “os raios-X não saem do núcleo do átomo [...]” revela que esse tipo de radiação possui origem não nuclear, logo o aparelho de raios X só emite radiação enquanto estiver acoplado a uma fonte elétrica e for disparado um comando específico para tal. Mas, o CONTER se contradiz, quando enuncia no segundo parágrafo: "[...] Para saber mais sobre as aplicações da energia nuclear [...]” levando o leitor a entender que os raios X são radiação nuclear, quando na verdade são radiação atômica e não nuclear. Eis aí evidências de intertextualidade, dialogismo constituído e mostrado (BAKHTIN, 2011).

Essas postagens ainda que tenham ocorrido no mesmo dia, os momentos e as condições de enunciação são dissemelhantes. De acordo com a TAR isso caracteriza composições diferentes: os seguidores não são os mesmos, as instituições possuem culturas diferentes, logo as associações em curso são diferentes. No entanto, saber explicar o conceito radiações não é garantia de que o estudante ou o profissional fará apropriações idôneas às finalidades e especificidades de cada situação, porque isso envolve muitas variáveis, inclusive acompanhar avanços tecnológicos há mais de um século; e avaliação de como as exposições a esse tipo de radiação em questão pode contribuir com a saúde dos pacientes. Convém destacar que os primeiros equipamentos de raios X eram pouco eficientes na produção dessa radiação, e consequentemente na obtenção de imagens de qualidade, isto é, com resolução e contraste consideráveis e baixo ruído. Atualmente existem aparelhos avançados, a partir dos quais, pacientes ficam expostos a doses de radiações “consideradas baixíssimas” quando comparadas às dos primórdios do radiodiagnóstico, início do século XX.

E na página do IRD no Facebook o que dizer da divulgação de fatos e fenômenos relacionados ao conceito e a origem de radiações?

Nessa página, o conceito e a origem de radiações aparecem articulados a noções de proteção radiológica e metrologia, embora a ideia de exposição também seja basilar. Reitera- se que são postagens com conteúdos sobre treinamentos ou cursos específicos.

Na figura 36 agentes da polícia rodoviária federal (PRF) realizam medições para verificarem a exposição externa a partir de uma fonte radioativa. Essa emite radiação(ões) continuamente, devido ao decaimento do material radioativo contido. Trata-se de uma postagem com créditos de origem, mas sem nenhuma descrição verbal, o que de acordo com Bakhtin (1997) estabelece relações constitutivas com diversos discursos e nesse caso torna-se sua leitura e compreensão mais desafiadoras. Fundamentada na TAR, a postagem aponta os vínculos e as relações que são estabelecidos entre a heterogeneidade de elementos que compõem o fenômeno, isto é, o que envolve o transporte de materiais radioativos: o entrelaçamento de diversos humanos e não humanos. Pensando no caráter enunciativo e

simbólico da imagem, quais são exigências para o transporte desses materiais com segurança? Qual é a categoria do embalado, branca ou amarela, de acordo com o nível de radiação detectado na superfície? Esses profissionais da PRF deveriam usar EPIs, como luvas e aventais plumbíferos? Será que a ideia de sujeitos da PRF inibiu/inibe interações, tendo em vista somente duas curtidas, nenhum compartilhamento e comentário? Ou, será que a postagem não corresponde aos seus interesses ou às suas necessidades? Ou parte significativa dos seguidores da página, encontram-se defasados em conhecimentos prévios necessários para a compreensão do conteúdo em foco nesta postagem?

Figura 36 - Exemplo de Postagem sobre Conceito e Origem de Radiações na Página do IRD.

Fonte: Página do IRD no Facebook, 2018.

Os materiais radioativos pertencem a Classe 7 da classificação da Organização das Nações Unidas (ONU) para produtos perigosos. O seu transporte é feito com o uso de embalagens projetadas, construídas e testadas consoante critérios recomendados por essa organização e normas técnicas publicadas pelas autoridades regulatórias nacionais (Anexo A). No Brasil existe a norma CNEN-NE-5.01, intitulada “Transporte de Materiais Radioativos” e outras agências regulatórias que atuam em conjunto. De acordo com as características e dependendo da urgência com que esses materiais são requisitados, o seu transporte pode ser feito por via rodoviária, ferroviária, aérea ou marítima.

Os profissionais da PRF utilizam detectores para medirem a dose de radiação próxima à fonte, ou seja, o recipiente que contém material radioativo. Nos regulamentos da CNEN (2014) a exposição é definida como a condição de estar submetido à radiação ionizante, interna ou externamente ao corpo do indivíduo ou material irradiado. Por exemplo,

os aparelhos emissores de raios X como ficam fora do corpo da pessoa irradiada são fontes externas. Por outro lado, em exames da medicina nuclear (MN) a fonte de radiação deve ficar dentro do corpo da pessoa irradiada, o que provoca uma exposição interna. Nesse caso a pessoa também está contaminada, ainda que momentaneamente (CNEN, 2014).

O que se almeja na perspectiva da (re)construção de conceitos em redes ensino- aprendizagem é que as radiações não estejam apartadas do “querer saber”: da sua natureza, origem, dos prováveis efeitos, de suas diferentes formas de ação, aplicações e transformações. Embora nem sempre se consiga transformar uma forma de radiação em outra útil, a (re)elaboração desse conceito precisa estar associada àquilo que é vital para a existência e manutenção da vida no planeta: as transformações de energia.

Nesse sentido, essas páginas são mediadoras de compreensão do mundo, pois possibilitam não só que habilidades e competências sejam desenvolvidas, mas que se pense nos múltiplos agenciamentos. Novamente, os diversos elementos que caracterizam os conteúdos postados nessas páginas também revelam um ruidoso encadeamento de discursos marcados pela diversidade de atividades que as instituições realizam, divulgam e impactam a sociedade.