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Aplicando a expressão “cluster de turismo” para Florianópolis Como em qualquer experiência de cunho industrial, também nos

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 6.1 O CONTEXTO DA ILHA DA MAGIA (FLORIANÓPOLIS)

6.2 O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM FLORIANÓPOLIS O desenvolvimento do turismo em Florianópolis é a evolução de

6.2.1 Aplicando a expressão “cluster de turismo” para Florianópolis Como em qualquer experiência de cunho industrial, também nos

clusters turísticos, a cooperação e as complementaridades revelam-se essenciais. Afinal, este é considerado uma forma de rede que se desenvolve dentro de uma localidade, conforme define Porter (1998). Seguindo esta vertende teórica, Ferasso, Saldanha e Casarotto Filho (2013) destacam ainda que a proximidade não apenas de fornecedores, mas também de concorrentes e clientes é considerada fator motivador de desenvolvimento. Em concordância, Porter (1998, p. 81) afirma que:

Em um típico cluster turístico [...] a qualidade da experiência do visitante depende não só do apelo da atração primária, mas também da qualidade e eficiência de negócios complementares, tais como hotéis, restaurantes, centros comerciais e meios de transporte. Tendo em vista que os membros do cluster são mutuamente dependentes, boa performance de um pode ampliar o sucesso dos outros.

Para Lins (2007) , a interdependência ou interação dos agentes são questões fundamentais para as inovações turísticas, geralmente oportunizadas pelas mudanças recentes no perfil do turismo – expansão

do fluxo de pessoas idosas, avanço do turismo cultural, interesse crescente pelo ecoturismo, segmentação e customização do mercado turístico – e pela difusão das novas tecnologias de informação e comunicação, com reflexos perceptíveis, por exemplo, no segmento de hotéis.

Os estudos de Lins sobre o cluster de turismo em Florianópolis iniciaram nos anos 2000 com uma indagação: Florianópolis é um cluster turístico? Respondendo esta questão, Lins (2000) cita que a Florianópolis da época já continha elementos que sustentavam associação à ideia de cluster. Todavia, estava ainda longe de se mostrar virtuosa, apesar de algumas (poucas) iniciativas de índole coletiva. O autor supunha que Florianópolis e sua área mereceriam a designação de cluster turístico caso, antes de tudo, o perfil das interações locais envolvendo os integrantes do trade acenasse com níveis de cooperação capazes de assegurar a sustentabilidade dos recursos para turismo.

Já em 2007, no estudo sobre interações, aprendizagem e desenvolvimento em Florianópolis, Lins (2007) reconhece que a interdependência ou as interações incrustadas na noção de cluster turístico podem apresentar problemas (conflitos) em maior ou menor grau, principalmente em pequenas e médias empresas, maioria no setor de turismo como citado no referencial teórico desta tese.

Segundo Lins (2007), o coletivo da constelação de atores voltados às atividades de turismo como centro de gravidade na cidade de Florianópolis teria tomado corpo gradativamente, ao passo que a “atração primária” (recursos naturais) ampliara o foco de emissão de fluxos turísticos, no Brasil e no exterior. Além disso, o autor passa a autorizar a referência da cidade à condição de cluster turístico, uma vez que o tecido de empresas e instituições, com as inter-relações existentes, era, a um só tempo, resultado e condição do crescimento do número de turistas e das ações conjuntas em benefício do setor, na sua totalidade. Entretanto, a transformação do turismo em possível fator de crescimento econômico e de desenvolvimento local-regional mantém a necessidade de construir uma espécie de “coalização local”, ou “força-tarefa”, cujo epicentro seja o interesse em um turismo sustentável, irradiador de benefícios para a sociedade (LINS, 2007).

Face aos seus estudos anteriores, Lins (2011) passa a referenciar Florianópolis em suas obras como um cluster de turismo. O autor afirma que, além das externalidades, coordenação em rede, contexto social capaz de influenciar e “canalizar” as condutas dos agentes, favoráveis tanto à circulação de informações como à aprendizagem coletiva e à cooperação, é preciso considerar o “caráter cultural” do cluster. A sinergia do próprio aglomerado associada à spinoffs bem-sucedidas se tornam magnetos para

o talento criativo e empreendedor, provocando, assim, a emergência de empresas de menor porte, consideradas, muitas vezes, o esteio básico destas configurações econômicas e territoriais.

Nesta perspectiva, Florianópolis e seu patrimônio histórico ligado aos movimentos migratórios, notadamente açorianos e madeirenses, com uso da mão de obra escrava marcada na paisagem construída e com mitologia enraizada na Ilha por Franklin Cascaes, pode ser dada como exemplo. Segundo Lins (2011), os traços perceptíveis até a atualidade na região integram o conjunto de atrativos turísticos da Ilha da Magia, contribuindo para o crescimento do setor, mobilizando ações coletivas que criam estruturas e possibilitando o uso da expressão cluster turístico (LINS, 2000, 2007, 2011).

Posto isso, cabe ressaltar que Lins não é o único a referenciar o setor de turismo de Florianópolis como uma aglomeração ou, nas palavras do autor, um cluster. Fortalecendo esta visão, o professor Campos e sua equipe pertencentes a mesma Universidade do professor Lins (UFSC) e ligados a Redesist (Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais), vêm abordando desde 2006 o turismo na Ilha como um arranjo produtivo local. Em um de seus estudos, Campos e Batschauer (2006) buscam compreender as interações entre os diversos agentes localizados no mesmo território e sua influência para o desenvolvimento de suas capacitações e condições locais de competitividade, envolvendo a aprendizagem e a inovação.

Deste modo, os autores trabalham a trajetória de desenvolvimento da Ilha no decorrer das décadas de 60, 70, 80 e 90 a partir dos principais eventos ocorridos (vide item anterior). O destaque foi para a diversificação do turismo como elemento chave na trajetória recente de desenvolvimento do arranjo que, década de 90, consolidou a densidade atual da estrutura de serviços com base na expansão hoteleira e entrada de capital externo.

Segundo Campos e Batschauer (2006), é neste contexto que surgem estímulos para os agentes inovarem. O APL apresentou, na época, altas taxas de inovação, comparáveis à países como Espanha, demonstrando a capacidade de absorção de novas tecnologias aplicadas ao setor, da realização de investimentos e da capacidade de imitação.

Cabe ressaltar que as formas mais rotineiras de inovação no setor turístico da Ilha, até 2006, ocorreram a partir das relações produtivas, ou seja, através da interação entre fornecedores, equipamentos, clientes e outros empreendimentos. Conforme Campos e Batschauer (2006), embora estas relações interempresariais verticais não possuam uma hierarquia em sua coordenação, acabaram tornando-se seu principal canal

de aprendizagem. Pois, até então, dificuldades para a construção de relações horizontais eram sinalizadas ao ponto em que o APL apresentava fraca interação entre empresas e entidades institucionais e associativas, já que raras eram as ações coletivas voltadas ao desenvolvimento da atividade turística local (CAMPOS; BATSCHAUER, 2006).

Estudos mais recentes também reforçam a concepção de Florianópolis como cluster de turismo. Neste sentido, o Ministério do Turismo (BRASIL, 2015c), a partir do programa de regionalização do turismo, Portaria nº 144, de 27 de agosto de 2015, faz uso da metodologia de análise de cluster (agrupamento) para evidenciar a relação direta dos municípios com a economia do turismo. Aplicado à Santa Catarina, este instrumento de análise apontou Florianópolis e mais cinco cidades do estado com a categoria “A”. Esta categoria, dentre as cinco existentes (A, B, C, D e E), significa alto grau de desenvolvimento turístico e, portanto, a evidência direta deste município com a atividade turística, o que também é corroborado pelo estudo da FIESC (2016).

Diante disso, os estudos supracitados vão ao encontro do que a literatura de Porter (1999) menciona como forças de um cluster, na medida em que: abordam-se as interações conflituosas entre os atores da rede, pois se considera normal quando há empresas rivais atuando em mesmo ambiente; faz-se necessário considerar um contexto específico como o da cidade de Florianópolis, dadas as suas tradições e heranças portuguesas; os setores correlatos de apoio ao setor de tecnologia, como a hotelaria, a alimentação, o transporte e até mesmo o setor de tecnologia; e, por fim, as condições de fatores, ao considerar a geografia da ilha e seus recursos naturais, seu potencial humano especialmente moldado a partir das universidades da cidade, sua estrutura de hotéis, centros de eventos, internet, acesso pela terra e pelo ar e sua posição de capital do Estado. Deste modo, permanece o pressuposto de que Florianópolis se trata de um cluster turístico, muito embora perceba-se a necessidade de disseminação deste termo e da realização de novos estudos. Com este intuito, analisou-se a identificação dos principais agentes locais do cluster e suas ações coletivas.