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PROPOSIÇÃO DO FRAMEWORK PRELIMINAR DE ANÁLISE Considerando-se que a globalização reforçou a dimensão local

(MARTINELLI; JOYAL, 2004) e que o termo desenvolvimento local complementa o termo desenvolvimento territorial (VEIGA, 2002; PECQUEUR, 2005), assume-se o desenvolvimento territorial como um processo de mudança social de caráter endógeno, capaz de produzir solidariedade e cidadania comunitária e de conduzir de forma integrada e permanente a mudança qualitativa e a melhoria do bem-estar da população de uma localidade ou de uma região (PIRES, 2007).

Com isso, para compreender o desenvolvimento territorial de uma localidade, é oportuno considerar:

 o nível de análise em âmbito territorial, pois se trata de uma grande mediação entre o global e o local, pois o global depende da existência de condições locais para garantir a eficácia de seus movimentos (SANTOS, 2006);

 o contexto da localidade estudada e a trajetória dos setores para a construção do desenvolvimento através da ação de seus atores (PECQUEUR, 1989; 2005);

 a governança territorial, através do papel dos múltiplos agentes, instituições, da sociedade e até mesmo da cultura no espaço social – relações sociais de poder operantes no território (MARIANI;ARRUDA (2010) e de seus condicionantes, conforme conceitos de Silva Pires et al. (2011);

 a sociedade/cultura, através da consideração dos problemas sociais, da importância das liberdades políticas, facilidades econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência e satisfação das necessidade humanas fundamentais (SACHS, 2002; SEN, 2010; MAX-NEEF, 2012);

 o trabalho em clusters para o fortalecimento da capacidade de gerar maiores espaços de liberdade coletiva (MAX-NEEF, 2012);  o meio ambiente, através da preservação do capital natural, da busca pela eficiência econômica e da importância do papel da política nacional e internacional para um desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002);

 a inovação tecnológica (tecnologia física e social) como forma de progresso técnico (SCHUMPETER, 1989; NELSON; SAMPAT, 2001);

 a inovação social voltada a mudanças sociais que visem à satisfação das necessidades humanas (qualidade de vida, trabalho e emprego) a partir de uma abordagem territorial (MOULAERT et al. 2005; LISBOA, 2007; CRISES, 2016).

Ao encontro disso, as concentrações geográficas, aglomerações e clusters têm demonstrado papel significativo na geração de externalidades positivas nas localidades e ao seu entorno. Neste sentido, a tese assume a vertente da economia das empresas, cujo expoente, Porter (1999, p.240), de maneira simplista, conceitua um cluster como “uma forma de rede que se desenvolve dentro de uma localidade”. O cluster é tido assim, como uma faceta para vantagem competitiva das nações a partir de uma perspectiva de eficiência produtiva.

Ressalta-se, nesta linha, a importância da formção orgânica ou planejada de um cluster, conforme conceito utilizado por Sölvell, Lindqvist e Ketels (2003). Importa saber ainda que, para um cluster atingir sua maturidade, este percorre diferentes estágios, os quais são caracterizados por diferentes cenários. Para auxiliar este tipo de análise, consideraram-se, nesta tese, os cenários construídos por Pietrobon (2009), Manzini (2013) e Romero e Nunes (2013).

Posto isto, observa-se que os clusters podem estar contidos em sistemas maiores, sistemas voltados para a promoção da inovação, cuja dimensão de agregação pode ser regional ou nacional, por exemplo. Assim, a definição que se assume é a dos trabalhos desenvolvidos por Lundvall (1985), Freeman (1987, 1995), Nelson (1987) e Dosi (1988) sobre sistemas nacionais da inovação, cuja visão pressupõe uma construção cumulativa de conhecimento, tecnologia e inovação a partir do apoio de instituições políticas e sociais e do enraizamento local, conformados durante sua trajetória de crescimento. Por isso, também, é relevante examinar a trajetória de desenvolvimento dos setores estudados.

Esta visão carrega consigo um efeito sistêmico, ou seja, a consideração que as empresas e instituições fazem parte de um complexo de produção e sistema de inovação, estando, assim, ligadas a outras empresas e instituições por várias relações de troca e interdependências mútuas, afetando o conjunto completo do sistema (MENZEL; FORNAHL, 2007). Assim, as relações entre os agentes deste complexo ou sistema de inovação assumem formas de redes que podem se consolidar em modelos de articulação como os de tríplice, quádrupla ou quíntupla hélice, conforme Leydesdorff e Etzkowitz (1995), Carayannis e Campbell (2011) e Carayannis, Barth e Campbell (2012). Considera-se

com isso que ações formadas em grupo e coordenadas visando à agregação de valor, tornam-se sempre superiores às ações trabalhadas de maneira isolada (BARNARD, 1971; CASTELLS, 1999).

Quanto ao conceito de tecnologia, não se limita sua utilização ao sentido estrito do termo. Compreende-se aqui um otimismo tecnológico ao se acreditar na tecnologia para garantir o progresso e o bem-estar social de forma sustentável; considera-se um sócio-sistema ao buscar o alinhamento da relação entre a demanda social e a produção tecnológica com a política e a economia, abrangendo seus aspectos técnicos e culturais (VERASZTO et al. 2008); e também se percebe que a evolução tecnológica ligada às firmas gera efeitos sobre as estruturas econômicas da sociedade (CONCEIÇÃO, 2008).

Ressalta-se, nesta linha, que, embora as tecnologias no sentido convencional remetam ao conceito de TICs, nesta tese, a compreensão do setor de tecnologia se dá de maneira ampla, considerando, além da sugestão da ACATE (2015), as empresas de nanotecnologia e biotecnologia por exemplo.

Em relação ao conceito do turismo, adota-se a definição da UNWTO (2014a, p. 1, tradução nossa) que cita que o turismo é “um fenômeno social, cultural e econômico que implica no deslocamento de pessoas para países ou lugares fora do seu ambiente habitual para fins pessoais ou empresariais/profissionais”. Já para as classificações e tipologias de turismo, embasa-se no glossário da UNWTO (2014b) e do Ministério do Turismo (BRASIL, 2017).

Ressalta-se que, conforme literatura (KORRES, 2008; GĂZDAC, 2009), o turismo já se encontra atento e proativo para a adoção de novas tecnologias para o trabalho em novas configurações como a de clusters. Todavia, a cooperação entre as duas áreas é ainda exordial e muito recente na teoria, já que não foram encontradas bases profundas para adotar algum framework de análise desta relação. Deste modo, se corrobora com os autores que enfatizam a sua importância (BUHALIS, 2003; KORRES, 2008; SEVRANI; ELMAZI, 2008; GĂZDAC, 2009; AMARAL E SILVA; TEIXEIRA, 2014) e se busca, a partir desta tese, explorar a relação TechTour, propondo a construção de um framework para a análise de seus resultados em cooperação.

Neste sentido, o framework proposto nesta tese segue basicamente três etapas.

Figura 7 – Framework Preliminar de análise da contribuição conjunta dos clusters de tecnologia e de turismo para a inovação e o desenvolvimento territorial

Fonte: Elaborada a partir do capítulo teórico (2017).

Na primeira etapa, busca-se descrever e analisar o contexto histórico, cultural e econômico em que determinada localidade se encontra inserida. Por conseguinte, busca-se compreender a trajetória de desenvolvimento de cada cluster a partir dos eventos ocorridos ao longo do tempo. E, ainda nesta etapa, identifica-se a maturidade ou o estágio do CVC em que os clusters se encontram, pois, para construir sinergias, é preciso trabalhar de maneira alinhada e solucionar os conflitos existentes que a diferente evolução dos clusters possa imprimir.

Na segunda etapa, busca-se perceber a existência de relação TechTour ou ainda a possibilidade de construção desta relação. Por isso, é preciso tomar conhecimento da configuração atual em que os clusters se encontram, estudando os agentes, suas relações, a regulação a que são submetidos, bem como as ações coletivas que os agentes dos dois clusters têm praticado. Neste ponto, ações já podem ser comuns aos setores, mas nem sempre são percebidas, por isso sua importância. Na sequência,

Desenvolvimento Territorial Sustentável Cluster de Tecnologia Contexto Trajetória Cluster de Turismo Governança Maturidade Cooperação

Inovação Tecnológica e Social

Meio Ambiente Sociedade/ Cultura

Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3

passa-se a investigar a governança territorial existente, ou seja, analisar a atuação e papel dos agentes nas sinergias e na articulação das mesmas.

A terceira e última etapa do framework deve ser aplicada quando a relação TechTour já for estabelecida, pois nela se mensuram os impactos que a cooperação entre os clusters gera para a inovação e para o desenvolvimento territorial sustentável, através do tripé: inovação tecnológica e social – meio ambiente – sociedade e sua cultura. Estão também diluídos nesta etapa os impactos que um cluster gera para o outro. Face ao exposto, o Quadro 13 demonstra as categorias, subcategorias e aspectos relacionados à operacionalização identificados partir da teoria para compor o framework preliminar proposto.

Quadro 13 – Variáveis que compõem o framework proposto para a tese CATEGORIAS

TEÓRICAS DE