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APRECIAÇÃO INTERNACIONAL DA COOPERAÇÃO PORTUGUESA

No documento A Cooperação Internacional Portuguesa no (páginas 84-89)

efeito normativo particularmente relevantes, fruto da situação de crise económica e financeira vivida nos últimos anos (IPAD e MNE, 2011). Tendo a CP assumido o compromisso, com a sua quota.parte, para uma maior eficácia da ajuda prestada, todas as medidas que têm vindo a ser tomadas por Portugal ao longo dos anos (IPAD e MNE, 2010), decorrem da sua participação e acompanhamento dos compromissos internacionais – Cimeira do Milénio, Consenso de Monterrey, Fora de Roma, Paris e Acra . e de uma leitura atenta da avaliação critica do esforço e desempenho realizada pelos pares, membros do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) da OCDE . os exames do CAD/OCDE, realizados a cada quatro anos . com vista a potenciar e aumentar o seu desempenho rumo a uma maior racionalidade, eficiência e eficácia de intervenção.

Face a estes aspectos, “Uma visão estratégica para a cooperação Portuguesa” dá.nos na sua introdução, uma importante retrospectiva auto.crítica e avaliativa do percurso histórico realizado pela cooperação ao longo dos últimos anos: “Os investimentos (…) que tiveram lugar em actividades de cooperação obedeceram a lógicas muito variadas, foram de natureza extremamente diversa e tiveram resultados mistos, ambíguos e mesmo em muitos casos desconhecidos”( RCM Nº196/2005, p.7180).

Esta posição é corroborada por um dos raros estudos académicos de caracterização da CP. De acordo com Sagreman (2009), o longo prazo CP mostra que desde as primeiras decisões da revolução do 25 de Abril de 1974 até 1999, a versão, assumida pelo próprio CAD/OCDE, de que a cooperação internacional para o desenvolvimento (CID) era descentralizada em Portugal, originou uma situação permanente de falta de definição de objectivos e prioridades (com excepção das

geográficas, direccionadas para os PALOP), num caos na organização de actores, com um conjunto muito grande de entidades públicas e privadas a quererem ter intervenção na cooperação, com uma filosofia de independência uns em relação aos outros e um voluntarismo enorme. Até 1983 apenas o fugaz Governo de Nobre da Costa tinha expressado no programa de Governo aquilo que se poderia chamar de início de um programa de cooperação, com o termo “política de cooperação” a surgir apenas mais tarde, no Governo de 1985.1987.

Numa assunção consciente do seu modus operandi, esta crítica continua a ser assumida no texto de “Uma visão estratégica”, na apresentação resumida dos principais aspectos que historicamente lhe têm sido apontados como menos positivos: dificuldade na identificação de prioridades; dispersão de recursos humanos e materiais por numerosos pequenos projectos; ausência de nexo entre os projectos ou inexistência de uma estratégia global visível; falta de continuidade ou de sustentabilidade devido à escala ou à concepção técnica dos projectos; falta de impacto em termos de desenvolvimento para o país beneficiário; e falta de visibilidade política ou física. Ainda de acordo com este documento, apesar deste elenco de críticas não ser aplicável a numerosas iniciativas da CP, reconhece que elas correspondem a um retrato identificável de muitos projectos ao longo dos anos (RCM nº196/2005).

E, se, de acordo com “Uma visão estratégica” e Sagreman “(…) a fonte original deste problema contem em si mesma elementos que devem ser valorizados e que dificilmente se encontram noutros países(…)” (RCM nº196/2005, p.7199), paralelamente, e para Sagreman, tal motivação dispersa para a cooperação, continha também um grau de individualismo cultural das organizações que no longo prazo seria fatal para um país com poucos recursos financeiros e humanos, no sentido de enfraquecer a sua “competitividade” no “campo” internacional, junto de outros parceiros mais privilegiados (Sagreman,2009).

Ao longo dos anos, desde 1974 até aos nossos dias, duas importantes características atravessaram assim, todos os modelos institucionais da política de CP: por um lado, a concentração de esforços nos PALOP e TL, (reforçada em 1996 pela criação da CPLP), característica que contudo se foi esbatendo, devido à integração de Portugal na EU e posteriormente, com a sua readmissão (1991) como membro do

CAD/OCDE; e por outro, o sistema de cooperação descentralizado, que, se por um lado pode ter como vantagem a promoção das sinergias resultantes da acção de múltiplos actores, decorre também desta mesma natureza, a sua grande desvantagem, assente numa assinalável tendência para resultados mais caóticos, menos coerentes e eficazes (Sagreman,2009).

Tal como admite o CAD “ Portuguese development co.operation has strong historical roots which influence where it focuses and how it works”, e apesar de estar envolvido “(…)in some of the most challenging and important issues in international development (…)”, e dos “(…) significant progress in building an overall strategic framework for its development co.operation(…)”,com melhorias na coordenação do sistema e esforços “(…)to deliver aid more effectively, further progress is constrained by the fragmented nature of the Portugal bilateral aid programme”(CAD/OCDE,2010, s.p.), o que torna estes dois aspectos . fragmentação e coordenação . num dos desafios importantes da cooperação para Portugal (CAD/OCDE,2010; Sangreman, 2009; RCM nº196/2005; Cravinho,2011). Sangreman justifica a relevância deste desafio com dois relatórios da OCDE . “Survey of aid allocation policies and indicative forward

spending plans” (2008) e “ DAC Report on aid predictability survey on donors’ forward spending plans 2009?2011”. A estes podemos ainda somar : a “Declaração de Paris sobre a eficácia da ajuda para ao desenvolvimento” (2006), o documento

produzido para a AAA “Effective aid, better health: report prepared for the Accra level

forum on aid effectiveness 2?4 September 2008”, “Aid effectiveness and Health” (2007),

o “Relatório anual 2010 sobre as politicas de desenvolvimento da ajuda externa da UE

e respectiva execução em 2009” e o “Relatório sobre o quarto Fórum de Alto Nível sobre a Eficácia da Ajuda” de Cristian Dan Pedra, todos eles a sustentar a tese de que a

fragmentação da ajuda diminui a sustentabilidade das intervenções e a capacidade de apropriação por parte dos países parceiros e consequentemente a eficácia da cooperação (Sangreman,2009; ONU,2006; BM, OCDE, OMS,2008; OMS,2007; UE,2010; Pedra,2011), o que para Portugal, caracteristicamente um pequeno doador, que dificilmente cumprirá, face ao momento presente de restrições orçamentais, as metas internacionais de APD (IPAD e MNE,2011), deverá constituir uma preocupação a respeitar, para que assim possa continuar a honrar o seu compromisso de “Servir os

interesses do país através dos interesses daqueles países que são menos afortunados do que nós.” (Correia, 2011,s.p.)

Apesar de reconhecidos pelos pares, os esforços levados a cabo por Portugal visa a estes desafios, nomeadamente: a criação do IPAD nas suas funções de coordenação e na valorização da sua modalidade de programação . os PIC; a elaboração de “Uma

visão Estratégica” e o desenho das suas seis estratégias operacionais (na altura do

exame, ainda por aprovar); os documentos “Plano para Portugal para a eficácia da

ajuda” (2006), avaliado e renovado em 2009 pelo “Plano de acção para a eficácia da ajuda ? de Paris a Acra” igualmente avaliado; o desenvolvimento de algumas políticas

interministeriais (Estratégia nacional sobre segurança e desenvolvimento; Estratégia de educação para o desenvolvimento),e transversalmente, uma capacidade de adaptação e antecipação constantes face à situação delicada da maioria dos parceiros, com o desenvolvimento de um know?how passível de ser partilhado com outros doadores em todo o mundo; nas suas enumeras recomendações, o CAD/OCDE (2010) continua a salientar que existe ainda trabalho a fazer e, como corrobora Cravinho, “(…)decididamente lugar para francas melhorias com vista a reduzir a fragmentação da ajuda.” (Cravinho, 2011, s.p).

III O ! " # $ %&!'

A opção pelo método e técnica numa pesquisa dependem da natureza do problema que é fonte de investigação, dos objectivos de pesquisa e dos recursos disponíveis para o investigador (Fortin, 1999). Num relatório de investigação o

“desenho de investigação” tem assim como principal objectivo explicar como é que, no

estudo em causa, a investigação empírica foi feita (Hill e Hill, 2002), ou seja, determinar o dispositivo específico de recolha e análise das informações que foi utilizado para obter resposta às questões de investigação colocadas ou às hipóteses formuladas (Quivy e Campenhoudt, 1995), descrevendo.as com detalhe suficiente para permitir que o leitor possa replicá.las.

Dado o mapeamento crítico, proporcionado pela revisão da literatura, poucos parecem ser os estudos de investigação desenvolvidos sobre a cooperação internacional portuguesa, pelo que se optou pela realização de um estudo do tipo exploratório . descritivo deste fenómeno. Como objectivos pretende.se, por isso, com esta investigação, proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo, da cooperação internacional portuguesa (pública e privada) no sector da saúde, explorando.a e descrevendo.a enquanto sistema . diagnóstico estratégico . para assim se descobrir qual o lugar ocupado pelas abordagens holísticas neste contexto, caracterizando.se o actual

cenário de “fragmentação” e o cenário desejável ou normativol, o “holístico”.

Ao longo deste capítulo serão sistematizados em várias sub.secções, todos os passos do percurso de investigação percorridos para responder às questões operacionais de investigação levantadas e à questão geral de investigação formulada. Explicitar.se.à o método e tipo de estudo realizado;o tipo de amostragem e amostra, caracterizando aquela com que se realizou a presente investigação; o instrumento de recolha de dados (IRD) utilizado com a operacionalização dos respectivos conceitos; o processo de recolha e tratamento de dados, bem como considerações e procedimentos éticos e critérios de rigor científico utilizados de forma transversal, em toda a investigação.

No documento A Cooperação Internacional Portuguesa no (páginas 84-89)