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Equidade e sustentabilidade em saúde

No documento A Cooperação Internacional Portuguesa no (páginas 46-49)

1.3. A CONSTRUÇÃO DO CENÁRIO DESEJÁVEL EM SAÚDE

1.3.1 Equidade e sustentabilidade em saúde

O grande desafio proposto na Declaração do Milénio foi, nas palavras de Kofi Annan “ (…) ir ao encontro das necessidades reais das pessoas de todo o mundo (…)

combater a injustiça e a desigualdade (…)”, protegendo “(…) o nosso património comum, a Terra, em benefício das gerações futuras” (ONU,2000, prefácio).Equidade e sustentabilidade serão neste sentido os pilares de um futuro e bem.estar comuns, baseados na nossa condição humana também comum.

No que respeita à saúde a “(…) distribuição desigual de experiências potencialmente perigosas (…) não constitui, de modo algum, um fenómeno natural, sendo antes o resultado de uma combinação tóxica de politicas sociais e programas débeis, estruturas económicas injustas e politicas de baixa qualidade.” (CDSS, 2010,p.1).Um dos mais importantes objectivos a perseguir pelos sistemas de saúde modernos da comunidade global, direito humano inalienável e artigo 1º da Constituição da OMS, é, neste sentido, a equidade em saúde (CDSS, 2010; Furtado e Pereira, 2010), considerada neste contexto um imperativo ético (CDSS, 2010), uma forma superior de justiça social (De Negri, 2010), e consequentemente motor de desenvolvimento, local, nacional e global (ACS e MS, 2011).

Equidade em saúde, significa assim, que são as necessidades das pessoas que guiam a distribuição de oportunidades (OMS, 1998), o que implica que todas, independentemente da sua posição social, económica, cultural, geográfica ou qualquer outra circunstância socialmente determinada (Whitehead e Dahlgren,2006),devem ter igual oportunidade de desenvolver e manter a sua saúde ao mais alto nível através de um acesso justo aos recursos de saúde (OMS, 1998).

Tendo como bases conceptuais a definição de saúde da OMS e os compromissos estabelecidos em Alma Ata, a diminuição das iniquidades em saúde, dentro e entre países, é apenas possível através de acções intersectoriais integradas e coordenadas, que abarquem da melhor forma possível (Furtado e Pereira, 2010) o conjunto dinâmico e interactivo dos múltiplos factores pessoais, sócio . económicos e ambientais (OMS, 2011 a) . determinantes de saúde . que actuam na determinação do estado de saúde de indivíduos e populações.

Como afirma Fidler (2010,p.30) “Global health is not simply a matter of targeting specific diseases; we also have to address each of the determinants of health (…)”.Deste conjunto, são os determinantes sociais de saúde . as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, incluindo o sistema de

saúde, moldados pela distribuição de dinheiro, poder e recursos, por sua vez, influenciados por opções politicas (OMS, 2011 a) . os principais responsáveis pelas diferenças injustas e evitáveis no estado de saúde dentro e entre países (OMS,2011 a; CDSS,2010; Chan,2008).

Mas como afirma Chan (2008, s.p.) “ (…) nearly all social determinants of health fall outside the direct control of the health sector” e por isso, embora a saúde e a equidade em saúde possam não ser o alvo principal de todas as politicas sociais, deverão constituir um resultado fundamental. A acção sobre os determinantes sociais de saúde tem assim de envolver a cooperação coordenada dos vários sectores . inter. governamentais, governos, sociedade civil e sector privado (CDSS,2010; OMS,2005 b; OMS,2000), sob a frase “health in all policies”( Chan, 2008, s.p.), através da utilização de estratégias comprovadamente eficazes e inovadoras, assim como novas abordagens dirigidas à melhoria da saúde das populações nas suas múltiplas dimensões causais (OMS, 2005 b; IPAD,2011 a) . Porque, de acordo com Gostin (2007, p.2) “By focusing on the major determinants of health, the international community could dramatically improve prospects for good health.”.

A equidade intra.geracional é contudo tão importante quanto a equidade inter. geracional.

O universalismo de Kant, que está no âmago do desenvolvimento humano . a habilitação das pessoas para que tenham vidas longas, saudáveis, instruídas e gratificantes, requer que garantamos às gerações futuras a mesma atenção concedida à actual, porque o desenvolvimento humano, se não for sustentável, não é verdadeiro desenvolvimento (PNUD, 2010).

O desenvolvimento sustentável é neste sentido aquele cuja utilização de recursos, direcção de investimentos, desenvolvimento tecnológico e institucional (OMS,1998) “(…) meeting the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs (…)” (OMS,1987) de saúde e bem.estar.

Como sublinhado no Relatório Brutland . “Our common future”(1987), subjacente a esta ideia está pois a noção de que existe um património comum da humanidade, cuja preservação é também responsabilidade comum e de interesse

recíproco entre Estados (OMS,1987; ONU,1992; Ferreira,2004).Na Cimeira do Rio, em 1992, as Nações Unidas definiram aqueles que são considerados os três pilares na definição deste conceito: o desenvolvimento sustentável a nível económico, ambiental e social (ONU, 1992; Fernandes, 2004), com “o social no comando, o ecológico enquanto restrição assumida e o económico no seu papel instrumental.” (Fernandes,2008, s.p.).

Uma distribuição equitativa e adequada de serviços de saúde, na sua estreita relação com os demais sectores, surge assim como contributo essencial para atingir o desenvolvimento sustentável (ONU,1992). Neste sentido o sector não pode deixar de integrar uma intervenção multissectorial através de estratégias que dêem origem a projectos com sustentabilidade, ou seja, com a capacidade de continuarem a proporcionar benefícios num prolongado período de tempo (CE, 2004); criar capacidades e recursos para que, mesmo na ausência do projecto, os seus efeitos possam perdurar; criar dinâmicas para outro tipo de iniciativas e permitir o desenvolvimento global, inovador e irreversível de modo autónomo, e de acordo com os recursos existentes (Brissos,2004; Martin,2006).

Associado ao conceito de sustentabilidade encontram.se assim implícitos 3 conceitos: apropriação . a assunção das responsabilidades em relação a uma determinada intervenção de desenvolvimento por parte dos seus “beneficiários” (OCDE,2006); capacitação . habilitação das pessoas e dos grupos para que ajam, para gerarem resultados valiosos (PNUD,2010); e empoderamento . capacidade que a pessoa ou grupo têm de realizar por si mesmas as mudanças e acções que a levam a evoluir e fortalecer.se (Streck, 2008). Porque, como afirma Julius Nyerere (cit in Martin,2006,p.96) “ O homem se desenvolve à medida que cresce ou ganha o suficiente para prover condições decentes para si mesmo e para sua família; não se desenvolve ao receber o mesmo de outrem.”

No documento A Cooperação Internacional Portuguesa no (páginas 46-49)