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Prioridades geográficas e sectoriais

No documento A Cooperação Internacional Portuguesa no (páginas 72-77)

2.1. O CONTEXTO INTERNACIONAL: MAIS E MELHOR AJUDA

2.2.1 Prioridades geográficas e sectoriais

Com sistemas administrativos e legais muito semelhantes aos existentes em Portugal (IPAD, 2011 b), laços históricos e culturais incontornáveis, um pequeno conjunto de países da África Lusófona (PALOP. Países Angolanos de Língua oficial Portuguesa) e Timor – Leste (TL) surgem como “parceiros naturais”( IPAD, 2011 b; IPAD e MNE,2011) e espaços de intervenção prioritária da CP. Á excepção de TL, esta concentração existe já, desde o início da CP (IPAD e MNE, 2011), quer ao nível dos

projectos bilaterais, quer ao nível dos executados pelas diversas organizações da sociedade civil (RCM nº196/2005).

Ao concentrar a ajuda nestes países, para além de a direccionar para onde logicamente tem mais experiência (IPAD e MNE, 2011), Portugal está também a apoiar países a quem foi dada prioridade a nível internacional pela sua vulnerabilidade, os designados “Estados frágeis”, caracteristicamente com baixo PIB (Produto Interno Bruto), elevada divida externa, deterioração das condições político.sociais, fraca capacidade de governação e das instituições públicas, conflitos internos prolongados e geralmente com baixa capacidade para absorver a ajuda externa (IPAD e MNE, 2010;IPAD e MNE, 2011;IPAD, 2011 b). De acordo com a classificação da ONU, dos seis países destinatários da APD Portuguesa, à excepção de Cabo Verde (CV), que passou a país de rendimento médico (MIC . Middle Income Countries), cinco são PmD (Angola, Moçambique, Guiné . Bissau (G.B), S. Tomé e Príncipe (STP) e TL); três estão em situação de pós.conflito (Angola, G.B e TL); quatro em situação de fragilidade (Angola, G.B, STP e TL), apresentando quatro deles, de acordo com a classificação do PNUD (2010), baixo IDH (Angola, G. B, Moçambique e TL). No âmbito das relações sul . sul e na valorização do espaço da CPLP (Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa), para além destes seis países, a estratégia de cooperação incentiva ainda as relações com o Brasil.

Embora Portugal, para dar cumprimento aos seus compromissos internacionais, também afecte uma parte dos seus recursos de cooperação para outros países, com os quais tem ligações históricas relevantes (Marrocos, África do Sul, Senegal e Indonésia) (IPAD e MNE, 2011) e outros (Afeganistão, Bósnia e Sérvia) (IPAD, 2011 b), para evitar a fragmentação e a dispersão, é natural que a cooperação Portuguesa continue sobretudo dedicada, de acordo com RCM nº 196/2005, ao espaço CPLP, constituindo um dos países do CAD/OCDE com maior concentração geográfica da ajuda (IPAD 2011 b; IPAD e MNE,2010).

Paralelamente, neste contexto, Portugal surge também como um dos países da OCDE que mais fundos canaliza para a APD multilateral (mais de 40% da sua APD entre 2006.2010), nomeadamente para a Comunidade Europeia (73% em 2005.2010), FMI, BM e ONU (IPAD, 2011 b), que encara, no âmbito do aprofundamento da

abordagem bi . multi (RCM nº196/2005; IPAD e MNE, 2010) e como um meio de participar nos esforços internacionais para melhorar a quantidade e a qualidade da ajuda (IPAD, 2009).

Em termos sectoriais, ao longo de todo o processo de evolução institucional, ficou claro que, apesar das múltiplas carências existentes ao nível dos países parceiros, a CP não podia actuar de forma eficiente e uniforme em todas as áreas , relativamente a todos os países com os quais mantinha relações de cooperação. Assim, nos últimos anos, e de acordo com os compromissos que o país assumiu internacionalmente, estas prioridades têm vindo a ser racionalizadas de acordo, por um lado, com as necessidades e prioridades dos países parceiros identificadas nos seus documentos de estratégia nacional para o desenvolvimento, e por outro, com as mais.valias específicas reconhecidas da CP, tendo presente a necessária divisão do trabalho e complementaridade entre doadores (IPAD e MNE, 2011; IPAD e MNE,2010).

“Uma visão estratégica para a cooperação Portuguesa” reúne estas prioridades

em torno de três eixos: I) a boa governação, participação e democracia; II) o desenvolvimento sustentável e a luta contra a pobreza multidimensional; e, III) a educação para o desenvolvimento (RCM nº196/2005).

Mas, como considera Sangreman (2009), nestas prioridades cabe um leque muito variado de programas e projectos. Assim, para orientar o esforço de concentração sectorial e dar seguimento às recomendações feitas pelo CAD/OCDE em 2006 (IPAD, 2009) e pela UE em 2007, no quadro de operacionalização de “Uma Visão estratégica”, de acordo com “Uma leitura dos últimos quinze anos de cooperação para o

desenvolvimento 1996?2010” e o “Memorando da Cooperação portuguesa” de 2010,

foram entretanto desenvolvidas seis estratégias de cooperação: quatro sectoriais . educação, saúde, ambiente e desenvolvimento rural (esta ultima, ainda em fase de revisão), com as primeiras três a ser desenvolvidas segundo um processo participativo que envolveu para além dos ministérios sectoriais, outros actores da cooperação; e três transversais . género; boa governação, participação e democracia; e cooperação multilateral (IPAD e MNE, 2011;IPAD e MNE, 2010). Estes documentos têm assim por objectivo orientar a acção da CP nestas áreas, de acordo com as necessidades gerais dos seus principais parceiros, bilaterais e multilaterais.

2.3 – A COOPERAÇÃO PORTUGUESA NO SECTOR DA SAÚDE: O CENÁRIO ACTUAL

A saúde de uma população torna.se num valor transcendente, a partir do momento em que um nível mínimo de funcionamento humano é um pré.requisito para actividades que são críticas para o bem.estar social, cultural, politico e económico globais (Gostin,2007). Nos dias de hoje, à luz dos conceitos de cooperação para o desenvolvimento, a saúde é assim considerada uma área de intervenção prioritária (Marques e Torgal, 2002),“(…) de relevo da cooperação Portuguesa, pelo saber e experiência adquiridos ao longo dos anos, sobretudo sobre as realidades dos países Africanos e de Timor . Leste.” (RCM nº196/2005, p.7188) como se pode ler no documento “Uma visão Estratégica” , de 2005.

Assente no respeito pelos compromissos internacionais e regionais assumidos pelo Estado Português desde a fundação da ONU e da UE, e intensificados na última década no que respeita à coordenação da Ajuda ao Desenvolvimento e a promoção da Saúde nos países mais pobres, a estratégia proposta para o sector .“Estratégia de

Cooperação Portuguesa para a Saúde”. publicada em 2011 e integrada no II eixo das

prioridades sectoriais do país . o desenvolvimento sustentável e a luta contra a pobreza . assume assim como objectivo geral de intervenção “Fortalecer os sistemas públicos

de saúde dos países em desenvolvimento enquanto elemento fundamental nas estratégias de redução de pobreza” (IPAD, 2011 a, p.22). Desdobrado em torno de três

eixos estratégicos: I) o aumento da capacidade de prestar cuidados de saúde de qualidade, para responder às necessidades não satisfeitas e à mudança de padrão de saúde – doença em curso; II) o fortalecimento institucional e empoderamento social, para responder às exigências de planeamento, gestão e avaliação dos sistemas de saúde, com envolvimento adequado da sociedade civil e organizações não.governamentais dos países . alvo; e III) o conhecimento e inovação, para responder, com progressiva auto. suficiência, às necessidades em recursos humanos na prestação de cuidados e na gestão, para que os PALOP . TL participem plenamente nas crescentes redes internacionais de investigação; o apoio da CP no sector da saúde aos PALOP. TL, cruza deste modo os pontos fortes da cooperação com os principais problemas de saúde dos seus parceiros prioritários, para que as sinergias assim criadas possam contribuir para a consecução

dos ODM nestes países, particularmente os três directamente relacionados com a saúde, com ênfase especial, como se descreve na “Visão Estratégica”, para a “(...) capacidade de trabalhar no âmbito dos cuidados de saúde primários e de higiene, aproximando deste modo o esforço da cooperação às primeiras necessidades das populações.”(RCM nº196/2005, p.7188).

Para além dos princípios políticos, jurídicos, éticos e humanitários, para garantia da sua eficácia e sustentabilidade, a intervenção no sector parte, na sua base, de seis princípios operativos fundamentais: a) relevância e pertinência das intervenções, seleccionadas em função dos problemas prioritários identificados pelos próprios países, da sua dimensão e capacidade institucional; b) coerência externa, entre as prioridades dos Planos Indicativos de Cooperação (PIC) e respectivos Planos Nacionais de Saúde; c) sustentabilidade e continuidade, relevantes perante um cenário de recursos escassos e avultadas necessidades, de onde resulta a necessidade de concentração num pequeno número de projectos nos países em que o sector é prioritário, que incluam a designação formal das respectivas contrapartes, promoção da participação da sociedade civil e reforço institucional com advocacia bilateral pelo reconhecimento das instituições de conhecimento e investigação, com a respectiva manutenção destas prioridades nos sucessivos PIC a médio prazo; d) coordenação e coerência interna, entre todas as instituições portuguesas a actuar no sector, particularmente para o desenho de iniciativas conjuntas de reforço de capacidades de instituições estratégicas, com instituições oficias e da sociedade civil dos PALOP. TL; e ainda, e em particular, coordenação com outras iniciativas sectoriais em curso no quadro da CPLP com participação oficial portuguesa; e) divisão do trabalho, com a cooperação bilateral europeia, instituições da Comissão Europeia e internacionais e novas iniciativas globais de financiamento; e f) eficiência no

uso de recursos da CP, passível de atingir com a concentração num reduzido número de

intervenções com elevada relevância para os parceiros; recurso a instituições portuguesas com reconhecida capacidade técnica e experiência de terreno e coordenação com outros programas de ajuda externa sectorial, particularmente os destinados ao reforço institucional.

No documento A Cooperação Internacional Portuguesa no (páginas 72-77)