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7.3 – EM BUSCA DE INDÍCIOS DA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: ANALISANDO OS EPISÓDIOS

APRENDENDO A USAR E (RE)CONHECENDO OS OBJETOS

Ao chegar na sala de Carol, percebi que ela estava com um vidro de cola na mão e espalhava cola por todos os cantos da mesa e da revista que a estagiária havia dado a ela. Então virei para Carol e perguntei o que ela estava fazendo. A aluna não soube responder e disse que estava colando apenas. Ai eu perguntei: “Mais você está colando o que?” A aluna responde: “Colando tio!! ”. Neste momento percebi que a cola e a revista havia sido dado a aluna sem um propósito de atividade e como ela gostava muito de utilizar a cola a estagiário tinha deixado Carol com a cola. No entanto a cola e a revista não tinham nenhum sentido e a aluna apenas distribuía cola pelas páginas da revista e passava as páginas colando-as. Então peguei a cola de Carol que relutou um pouco e disse a ela: “A cola não se usa dessa forma Carol. Tem uma finalidade!! Vou te ensinar como usa a cola. Temos que recortar algumas figuras passar cola na figura e colar no caderno!! É assim que a cola é usada!!” A aluna demonstrou entender o que eu havia dito, mais relutava querendo a cola. Verei para ela e disse: “ Agora que você sabe como utilizar a cola, vamos fazer uma atividade de recorte e colagem de figuras.” Peguei a revista fui passando as figuras e perguntando o nome dos objetos para Carol. Alguns objetos ela sabia o nome, outros ela não sabia. Nesse momento além de falar o nome dos objetos contávamos quantas letras tinham na palavra e fazíamos o reconhecimento das letras. Após desenvolvermos está atividade, Carol recortava a figura e colava no caderno, como eu havia explicado que era para fazer. Percebe-se que a aluna conseguiu aprender, como se usava a cola. O que faltava então era que a estagiária tivesse sentado com ela e explicado o uso daquele objeto e não entregar a cola para a criança e deixar que ela faça uso como bem entender, pois dessa forma ela não irá aprender como se usa o objeto. O que ela fará com ele, não terá sentido. Durante a atividade que estávamos desenvolvendo com Carol, apareceu a figura de uma luva. Perguntei a Carol se ela já havia visto uma luva. A aluna respondeu que não. A professora disse que no berçário tinha luvas e que eu poderia ir até la para conseguir uma. Deixei Carol olhando a revista corri até o berçário e peguei uma luva descartável. Quando voltei mostrei a luva para Carol que ficou encantada. Coloquei a luva na sua mão e depois coloquei na minha e comparamos os tamanhos das mãos com e sem a luva. Carol gostou muito da idéia. Depois que realizamos esta atividade, peguei a revista de Carol a cola e disse que

iria guardar pois estávamos a cinco minutos de descermos para o lanche. Carol começou a chorar pois queria a cola a qualquer custo. Eu disse a ala que atividade havia acabado e que iríamos descer para lanchar. Mais a aluna queria a cola e chorava compulsivamente. Depois de alguns minutos, quando Carol percebeu que não iria ganhar a cola parou de chorar e foi para a fila, pois desceríamos para o lanche. Na volta, Carol queria beber água, mais queria ir na sala dos professores. Virei para Carol e disse que não, pois todas as crianças bebiam água no bebedouro e que ela não era diferente. Se quisesse beber água teria que beber ali. Carol saiu correndo para a sala aos prantos, a estagiária queria levá-la a sala dos professores, mais eu disse que isso não seria legal, pois ela deveria aprender que o lugar que está disponível para ela beber água seria o bebedouro. Neste momento a estagiária concordou comigo e deixou que Carol chorrasse. Ela então começou a ameaçar a todos, dizendo que iria contar para sua mãe que nos tínhamos batido nela. Carol chorou até não poder mais, e quando viu que não beberia água na sala dos professores, pediu que eu levasse ela até o bebedouro.

Podemos notar no episódio que entregar a cola à criança e deixar com que ela brinque com o abjeto sem um propósito definido era uma maneira da estagiária se esquivar de Carolina, ocupando a criança com um objeto que ela gostava muito que era a cola. Na realidade Carolina realiza muitas atividades com cola, porém sem sentido. Além de pegar a cola e sair colando os cadernos das crianças, costumava pegar o apontador e ficar apontando sem parar todos os lápis que encontrava pela frente.

Neste sentido desenvolvemos um trabalho com a criança ensinando o uso correto desses objetos e a maneira como utilizá-los. Em algumas semanas é nítida a aprendizagem de Carolina em relação ao uso da cola e do apontador no contexto da sala de aula. O que podemos observar com nossa presença constante na aula é que faltava um olhar sensível do educar para o desenvolvimento de Carolina e principalmente o ânimo de trabalhar com a criança aspectos que pudessem resultar em desencadeamentos de aprendizagem.

O fato da criança querer beber água na sala dos professores também foi uma questão muito questionada por nós. O que fazia de Carol uma criança diferente que somente ela poderia beber água na sala dos professores? Seria a questão da deficiência? Neste

sentido o trabalho que fizemos com a criança mostrando a necessidade de beber água no bebedouro onde todas as demais crianças bebiam como também ir ao banheiro e retornar a sala foi de suma importância para seu desenvolvimento e aprendizado notado em poucas semanas de trabalho.

Nesse sentido concluímos nosso pensamento dizendo que os episódios por nós apresentados e discutidos nos fizeram perceber que Carolina possui uma inteligência espetacular conseguindo assimilar o conhecimento com bastante facilidade, o que faltava no momento eram atividades mais apropriadas para sua capacidade intelectual.

Apesar de não saber nenhuma letra do alfabeto, Carolina possuía outras habilidades que deveriam ser exploradas pela professora. Exemplo: Carolina adorava ajudar a professora a distribuir os cadernos. Porém notamos que todas as crianças tinham um dia para ajudar a professora menos Carolina. O uso do material concreto foi um dispositivo auxiliar na compreensão das atividades por Carolina e facilitador do seu processo de aprendizagem o que poderia ser utilizado pelo professor no contexto da sala de aula para o trabalho com esta criança.

Outra habilidade que notamos em Carolina é que adorava pintar, outra qualidade que deveria ser explorada pela professora, mais parece que a folha é solta na mão de Carolina e ela faz o que bem entender com o lápis de cor.

Percebemos ainda que Carolina possui uma dependência extremamente grande das pessoas que a cercam. Neste sentido um trabalho que visasse uma maior autonomia da aluna deveria ser trabalhada. A estagiária funcionava como uma espécie de babá de Carolina. Porém notamos que isso não acontece apenas neste CMEI é um problema constante na Rede municipal de Vitória.

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