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CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E A FORMAÇÃO DE

EDUCADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Entender os processos de aprendizagem da criança com deficiência intelectual dentro do contexto educacional tem sido um desafio para os profissionais da escola, pelo fato de ser um processo bastante complexo de ser compreendido e analisado, não oferecendo ao professor resultados imediatos e significativos de aprendizagem pela criança.

O que podemos afirmar ancorados em uma perspectiva Histórico-Cultural é que o processo de aprendizagem da criança com deficiência intelectual acontece, porém de forma lenta e de maneira não tão expressiva como a dos alunos demais alunos. Neste sentido, Góes (2008) nos aponta que tal abordagem tem permitido avanços no conhecimento e nas derivações propositivas para a educação de sujeitos com necessidades educacionais especiais pela visão que assume sobre o desenvolvimento do indivíduo e o meio em que ele se desenvolve.

Para tanto, a autora ainda nos faz pensar que, os postulados de Vygotsky sustentam que o sujeito “é” na vida social, e que, portanto, suas possibilidades de desenvolvimento estão neles e nos outros membros da cultura em que vive. Lidar com uma noção de efetiva interdependência constitui sempre um desafio.

Neste sentido, ao pensarmos nos processos de aprendizagem da criança com deficiência intelectual temos que pensar nos sujeitos que medeiam essa aprendizagem já que a criança tem seu desenvolvimento possibilitado pelo conjunto dos sujeitos que fazem parte de sua cultura. Diante disso, a criança necessitará de fatores mediadores e

promotores que a construirão socialmente, advindos desses sujeitos e, assim, contribuindo para que seu processo de aprendizagem aconteça.

No entanto o que podemos presenciar dentro do contexto escolar é que a dificuldade de compreensão desses processos pelos professores, que atuam com essas crianças, ocasiona a criação dentro da escola de estereótipos por parte dos profissionais que afirmam que a criança com deficiência intelectual “não aprende”. Neste sentido, os fatores ligados ao desenvolvimento da criança que apresenta essa deficiência ficam comprometidos, já que de acordo com a abordagem histórico-cultural o sujeito é um ser construído sócio-culturalmente na interação com os outros necessitando desse outro para mediar o seu conhecimento.

Dessa maneira, a investigação dos processos em busca de indícios da aprendizagem da criança com deficiência intelectual na escola de Educação Infantil, tem nos possibilitado trabalhar com os professores pela via da formação continuada, aspectos que evidenciam a aprendizagem dessa criança a partir da discussão em grupo sobre as possibilidades e os enfrentamentos da deficiência intelectual e do desenvolvimento da criança nesse contexto. Neste sentido, França (2008, p.114) nos aponta que,

Pensar a escola e suas condições objetivas tem se constituído um desafio para inúmeros pesquisadores, pois, se, de um lado, a ação, com os alunos com necessidades educacionais traz uma dimensão significativa da atividade humana, uma vez que se acredita na potencialidade do ser humano, por outro lado, instiga-nos à reflexão sobre quais têm sido as concretas condições de trabalho enfrentadas por professores, num contexto em que a formação docente ganha prioridade nas políticas públicas.

Neste sentido, concordando com a fala de França (2008), destacamos que para além de pensar o processo de aprendizagem da criança com deficiência intelectual no contexto da Educação Infantil, buscamos também entender os processos de formação inicial e continuada desses professores aliados a sua condição de trabalho que de fato afetam a intencionalidade desse profissional na condução da aprendizagem junto à criança com deficiência intelectual e os demais alunos presentes na sala de aula.

Partindo desses pressupostos elegemos para desenvolver o presente estudo a investigação qualitativa por entendermos que os sujeitos são direcionados pela dinâmica da perspectiva histórico-cultural, e por acreditarmos que são múltiplos os fatores que interferem no cotidiano educacional e na ação docente. Neste sentido, buscamos através do paradigma qualitativo compreender as complexas tramas através da interpretação da realidade escolar, buscando promover possíveis reflexões e transformações das ações docente na condução do processo de aprendizagem da criança com deficiência intelectual.

Buscando compreender esses processos inseridos no contexto educacional, na tentativa de analisar os indícios que apontam a aprendizagem da criança com deficiência intelectual desmembramos alguns conceitos chaves importantes para a compreensão desse processo como mediação, processos psicológicos superiores e ZDP desenvolvidos por Vygotsky, o principal representante da abordagem histórico- cultural, nos fornecendo subsídios teóricos para entender esse processo.

Nos grupos de estudo por nós desenvolvidos, buscávamos levantar discussões e reflexões que fizessem com que os professores refletissem coletivamente sobre a aprendizagem da criança e sua prática com esse sujeito no contexto da sala de aula. Neste sentido, buscamos desenvolver um trabalho de colaboração em uma perspectiva inclusiva, utilizando-se da pesquisa-ação colaborativa, para promover a formação continuada de professores para a diversidade no sentido de atender as necessidades da criança com deficiência intelectual e as demais crianças sob essa identificação presentes no contexto da sala de aula.

Notamos a importância da formação continuada de professores de Educação Infantil e do trabalho colaborativo para a promoção da reflexão das práticas e para se pensar na aprendizagem da criança com deficiência intelectual que devem ser discutidas e pensadas no coletivo da escola. Concordamos com Venturim (2006), quando diz que os efeitos positivos da pesquisa-ação colaborativa, estão na possibilidade de criação de

uma estrutura que proporcione o processo de reflexão sobre os problemas escolares; a união e interação entre os professores com possibilidades de assumir novos papéis.

Em perspectiva semelhante, Linhares (2008) nos leva a refletir sobre a presença do trabalho colaborativo na escola, fazendo-nos entender que a importância da colaboração para as escolas se dá também porque possibilita que cada professor com sua experiência auxilie nas resoluções de problemas mais sérios de aprendizagens e/ou comportamento de seus alunos. Entre as formas de trabalho em conjunto, o ensino colaborativo tem sido utilizado para favorecer a inclusão escolar, envolvendo a parceria direta entre professores da educação comum e especial.

Neste sentido, estudos como o de Devéns (2007), França (2008), Gonçalves (2003), Almeida (2003), Oliveira R.I. (2006) e Silva (2009) nos tem apontado para a necessidade do trabalho colaborativo dentro do contexto escolar. Tais estudos evidenciam a importância de um trabalho conjunto, analítico e reflexivo entre professor e pesquisador que pensem na complexidade dos processos educativos relacionados à aprendizagem dos educandos com necessidades educacionais especiais dentro do contexto educacional.

Dentro desta lógica podemos afirmar que, a pesquisa-ação colaborativa no ambiente escolar, permite que os sujeitos envolvidos estabeleçam trocas de experiências, além de permitir que os profissionais se transformem em colaboradores do processo de conhecimento a partir de uma reflexão crítica sobre a prática, constituindo saberes- fazeres. Tais reflexões possibilitarão aos professores (re) pensarem sua postura e envolvimento no tocante a entender o processo de aprendizagem da criança com deficiência intelectual no contexto da Educação Infantil. Neste sentido, Jesus (2006, p. 57) nos diz que,

[...] A pesquisa – ação emancipatória pressupõe que os profissionais busquem transcender a dualidade de papéis da investigação. Essa condição oferece o primeiro passo para superar aspectos de ordem social existentes e possibilita a

participação de todos por igual em todos os momentos não – lineares da pesquisa – ação que englobam: planejamento, ação, observação e reflexão [...]

Numa perspectiva semelhante, Ventorim (2006), nos diz que a reflexão de práticas está no ato da constituição do professor enquanto pesquisador sendo essa uma nova dimensão do desenvolvimento profissional do professor e é um desafio radical aos pressupostos das relações entre teoria e prática, entre instituições e sujeitos, entre a produção e a utilização do conhecimento, sendo isso possibilitado pela pesquisa-ação colaborativa. Com isso, não é possível admitir que apenas a adjetivação da palavra inclusão à educação e a palavra pesquisador do professor pretenda igualar sujeitos, práticas e instituições e ou mesmo alterar representações sobre a identidade da profissão e da educação sem considerar suas razões múltiplas.

Para Jesus (2006) aliar conhecimento científico a prática do professor que atua na escola tem sido uma preocupação da academia, e um grande desafio, para os profissionais que buscam na pesquisa-ação uma forma de superar as diferenças, pelo fato de pesquisas anteriores que emergiam no bojo das políticas quantitativas terem sido feitas em um processo de denuncia das práticas efetuadas na escola.

Buscando romper com estas barreiras que se formaram dentro do ambiente escolar, que acreditamos na pesquisa-ação colaborativa como possibilitadora da reflexão coletiva e participação de todos no desenvolvimento da pesquisa pelo fato de não permitir a construção de práticas que denunciam as mazelas do ensino escolar, mas sim de práticas refletidas que podem oferecer aos sujeitos o direito a fala e a escuta no processo de suas análises. Segundo Jesus (2006, p. 24), a pesquisa-ação dentro da escola preocupa-se em,

[...] formar profissionais investigadores capazes de, na dinâmica da relação teoria-prática, construir uma outra lógica de ensino, criando comunidades autocríticas de investigação comprometidas em promover melhores condições de educação. Tomando como princípio básico a necessidade de preparação dos profissionais da educação para uma prática reflexiva-crítica para a inovação

e a cooperação, não só em termos de formação inicial, mas também de formação continuada.

Dentro desse contexto que surge o trabalho colaborativo com o objetivo de promover momentos de reflexão sobre os processos de aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual na escola de Educação Infantil, buscando práticas que contemplem as necessidades que demandam as especificidades deste e dos demais alunos presentes na escola. Esse fator contribuiu, para a efetivação dos processos de inclusão, mesmo porque a inclusão do aluno com deficiência intelectual no ensino regular não é garantia de que a aprendizagem deste aluno será efetivada

Diante disso, Barbier (2007), refletindo sobre a pesquisa-ação colaborativa nos remete a pensar que os pesquisadores com o conhecimento científico oferecem aos atores do cotidiano escolar um diagnóstico inicial, não como uma forma de conclusão, mas como possibilidades de atuação e entrelaçamento entre teoria e prática no contexto da escola.

Neste sentido, a pesquisa-ação colaborativa se apresenta como possibilitadora da junção entre teoria e prática busca através da reflexão coletiva, o desenvolvimento de metas que desencadearão na solução de um determinado problema. De acordo com Barbier (2007, p 45),

O cerne do problema situa-se na questão da mudança. A pesquisa-ação visa sempre a uma mudança, termo que não é sempre fácil de precisar (Jeannet, 1985). Mas se nós nos apegarmos a disciplina psicológica, tão útil para a pesquisa-ação que não se mantém presa aos cânones da sociologia, mas aceita ser interdisciplinar, enxergamos prontamente os limites de seu caráter experimentalista. Ocorrerá o mesmo com a sociologia tradicional.

Em uma perspectiva semelhante, Dionne (2007), nos diz que de fato a pesquisa-ação obriga a se levar adiante duas tarefas simultâneas: uma tarefa de ação, cujo objetivo é modificar uma situação peculiar. Como dar força determinante a ação? Aliás, há muitas

dificuldades de aplicação da pesquisa-ação [...], a pesquisa ação pretende fundamentalmente reduzir a distância entre a teoria e prática, dando conta da distância que se criou, em vários campos entre reflexão teórica e prática profissional.

Diante disso o autor ressalta que explicar a distância que se criou entre a teoria e a prática não é uma tarefa fácil, e conclui seu pensamento nos fazendo refletir sobre a necessidade de quebrar determinados estereótipos que se criaram a respeito de que os atores do cotidiano educacional não tem tempo para refletir ficando isso a cargo dos pesquisadores. Esse procedimento torna-se necessário se quisermos compreender o alcance reflexivo e a prática da pesquisa-ação.

Nesse sentido ao (des) construirmos esses estereótipos e tomarmos o professor como agente ativo do processo de pesquisa, este tem o dever de colocar-se como sujeito e autor das sugestões elaboradas e decisões tomadas no contexto da escola e da pesquisa, assumindo a prática da pesquisa-ação que se desenrola em um “grupo concreto de atores sociais implicados nas modificações de uma situação particular. O assunto, a ser pesquisado é determinado por um tipo de parceria social que requer a competência tanto dos pesquisadores como dos participantes-atores” (Dionne, 2007,p. 51)

Dentro desta lógica o processo de envolvimento dos professores na pesquisa tem contribuído para se (re) pensar o contexto educacional no tocante a atender a diversidade que se apresenta na escola, além de pensar o currículo levando em consideração o ensino aprendizagem dos alunos com ou sem necessidades educacionais especiais. De acordo com Barbier (2007, p.53),

Se por muito tempo, o papel da ciência foi descrever, explicar e prever os fenômenos, impondo ao pesquisador ser um observador neutro e objetivo, a pesquisa-ação adota um encaminhamento oposto pela sua finalidade: servir de instrumento de mudança social. Ela está mais interessada no conhecimento prático do que no conhecimento teórico. Os membros de um grupo estão em melhores condições de conhecer sua realidade do que as pessoas que não pertencem a este grupo.

Neste aspecto, torna-se importante o trabalho colaborativo ao passo que permitirá a reflexão em conjunto dos atores sociais que de fato melhor conhecem aquela determinada realidade escolar, buscando soluções que permitam pensar no aluno e nas suas dificuldades de aprendizagem. Este processo de reflexão demandará dos profissionais da educação uma reflexão profunda sobre sua atuação que não consistirá apenas em análise de fatores isolados, mas de todo contexto que perpassa a educação do aluno.

Neste sentido, o trabalho com a pesquisa-ação colaborativo como fundamento para o desenvolvimento de pesquisas nas escolas tem crescido nos últimos anos, e tem despertado no pesquisador o interesse no desenvolvimento de uma pesquisa coletiva em busca de mudanças que de fato contribuam para o cotidiano educacional .

Neste processo de imbricação no campo de estudo, em que o professor é constituído como ator da pesquisa, o papel do pesquisador enquanto facilitador desse trabalho é entender as condições e situações dos sujeitos envolvidos na pesquisa no tocante a propiciar os possíveis envolvimento e participação dos atores nos momentos de reflexão em conjunto. De acordo com Barbier (2007, p.31),

A pesquisa-ação, obriga o pesquisador de implicar-se. Ele percebe como está “implicado” pela estrutura social na qual ele está inserido e pelo jogo de desejos e de interesses de outros. Ele também implica os outros por meio do seu olhar e de sua ação singular no mundo. Ele compreende então, que as ciências humanas são, essencialmente , ciências de interações entre sujeitos e objeto de pesquisa. O pesquisador realiza que sua própria e efetiva vida social está presente na sua pesquisa sociológica e que o imprevisto está no coração de sua prática. Mais e mais ele percebe que as metodologias tradicionais em ciências sociais devem ser retomadas, desenvolvidas reinventadas sem cessar no âmbito da pesquisa-ação. Esta não exclui os sujeitos-atores da pesquisa.

Neste sentido, buscamos na pesquisa-ação, caminhos que favorecessem a reflexão no coletivo durante os momentos de formação continuada do qual participamos, seja nas formações maiores ou nos pequenos grupos, contribuindo para o reflexão da práxis no

intuito de entender e refletir sobre os indícios da aprendizagem da criança com deficiência intelectual no âmbito da Educação Infantil.

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