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6.1.2 – MAPEANDO OS PROCESSOS INCLUSIVOS NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA NO ESPÍRITO SANTO : O CASO DO CMEI “FLORISBELA”

6.1 – O CONTEXTO E OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

6.1.2 – MAPEANDO OS PROCESSOS INCLUSIVOS NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA NO ESPÍRITO SANTO : O CASO DO CMEI “FLORISBELA”

Neste tópico, descreveremos os caminhos traçados pelo processo denominado dentro da Secretaria Municipal de Educação de Vitória de Educação Inclusiva, apontando suas ambigüidades ao nos depararmos com o CMEI “Florisbela”4 onde a pesquisa foi

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O nome do CMEI e os nomes das crianças sujeitos participantes da pesquisa e os demais nomes utilizados para designar alguma pessoa neste estudo são todo fictícios.

realizada, em que se encontravam muitas crianças com deficiência intelectual, no entanto não recebiam atendimento do professor de Educação Especial.

Neste sentido, analisamos através de uma conversa com a Pedagoga, Diretora e Professoras participantes da pesquisa o papel do atendimento especializado no CMEI frente ao dilema da falta de professor de Educação Especial.

O movimento de educação inclusiva no município de Vitória teve início em 1991, passando a partir desse ano a aumentar a preocupação do município com a realização de concursos públicos para a contratação de professores especializados e cursos de formação continuada, objetivando formar professores que já estavam na rede para esse fim. Nesse período também se desenvolve a construção e reforma de prédios e escolas adaptadas as necessidades do aluno com NEE, colocando a educação do município num patamar de aceitabilidade e seriedade diante da opinião pública.

De acordo com estudos de Drago (2007) a política de educação inclusiva em Vitória, no seu início, se caracterizava pelo atendimento especializado quando houvesse demanda de alunos com NEE matriculados nas escolas regulares. Esses alunos seriam orientados pelo professor de Educação Especial nos respectivos laboratórios pedagógicos nas escolas pólos.

No entanto percebemos em conversas com as Pedagogas, professoras participantes da pesquisa e a Diretora do CMEI onde a pesquisa foi realizada, que em 2009 a política de atendimento aos alunos com NEE, continuava sendo norteada por esses princípios de demanda sendo o atendimento feito em uma sala separada com um profissional especializado na área. A única mudança percebida no sistema é que o aluno passa a ser atendido na própria escola onde estuda e não mais em escolas pólos como acontecia no início do processo de implantação da educação inclusiva no Município.

O fato questionado pelos profissionais da CMEI, é que o professor de educação especial demora a chegar à escola causando certo desconforto ao profissional que atua

diretamente com esses alunos, pois se sentem inutilizados frente aos alunos com deficiência intelectual pelo fato de não compreenderem seu processo de aprendizagem causando dificuldades às práticas pedagógicas desses professores. Uma das professoras das alunas por nós acompanhada desabafa:

“Eu não sei o que é trabalhar com Verônica... Não sei o que dar para essa menina, pois não sei se ela vai conseguir acompanhar, fico perdida! Não chega professor de Educação Especial pra trabalhar com ela não... eu fico de mãos atadas, não sei o que fazer com essa menina! Tá difícil! A SEME não manda professor e olha que o CMEI já pediu várias vezes pra mandar, mas não manda. Mas também... ninguém quer vir trabalhar aqui. A escola fica no morro e é muito violento só vem quem tem carro. Professor sem carro, não vai quer subir esse morrão né? Complicado!” (Professora de Verônica/ Diário de campo)

Observa se na fala da professora que além da dificuldade encontrada pela SEME para conseguir professor de Educação Especial para atuar na escola, encontramos outra dificuldade pelo fato da região ser extremamente violenta assustando os profissionais que se dispõe a trabalhar no CMEI como podemos perceber na fala da Diretora,

“Esse problema da violência é uma coisa que assusta os professores mesmo... Já tivemos professores de educação especial e até professores da escola mesmo que após presenciarem um tiroteio abandonaram a escola assustados e aí a gente fica na mão. É muito complicado!” (Diretora/ Diário de Campo)

Neste sentido diante desses fatores, presentes no cotidiano do CMEI “Florisbela”, até o final de nossa pesquisa, não havia chegado professor de Educação Especial na escola para trabalhar com os alunos com deficiência intelectual. Ao questionarmos sobre a política de atendimento dos alunos, que freqüentavam um laboratório separado da turma e em horário de aula e não freqüentava as aulas de Artes ou Educação Física como descrito pela Pedagoga, sobre desses atendimentos quando o professor de educação especial se fazia presente na escola, ela responde,

“Não temos outro horário! Sugerimos até que seja feito mesmo nas aulas de Artes ou Educação Física pelo menos a criança não perde as aulas da professora não temos outro horário a criança não vem na escola em outro turno... é tudo no mesmo horário, não tem como mudar isso! Bom pelo menos por enquanto!” (Pedagoga/Diário de campo)

Podemos notar na fala da Pedagoga, duas questões muito complexas que precisavam ser pensadas tanto pelo CMEI quanto pelo órgão maior que é a SEME. A primeira questão está relacionada ao atendimento específico e separado da turma. Não deveria ser este atendimento realizado no contexto da sala de aula juntamente com os demais alunos e o professor da sala de aula regular? Este tipo de atendimento individualizado e separado não estaria promovendo um movimento contrário às práticas inclusivas discutidas e implantadas com afinco pelo Município?

Respondendo sim a todas as questões, compreendemos que o movimento de inclusão nas políticas públicas na perspectiva que vem sendo discutido e debatido nos congressos, seminários e nos âmbitos da pós-graduação, prima por um atendimento no contexto da sala de aula que possibilite a socialização e a troca entre professor de ensino regular e professor de Educação Especial na perspectiva de que ambos compreendam o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança com deficiência intelectual na Educação Infantil.

Neste sentido, concordamos com Drago (2007), quando nos diz que a formação de toda personalidade da pessoa normal ou deficiente requer um ensino de qualidade que atenda às características de cada um. Dessa forma, a escola inclusiva direciona-se para um ensino que, além de reforçar os mecanismos de interação solidária e os procedimentos cooperativos, auxilia o ser humano a se ver e se perceber como parte de um todo independente de suas características físicas.

Outra questão percebida na fala da Pedagoga, é que a criança com deficiência intelectual é privada de participar das aulas de Artes e Educação Física, demonstrando

o lugar e a importância que essas disciplinas ocupam no CMEI e no processo de formação da criança. Desenvolver as atividades do professor de Educação especial no horário destinado a essas disciplinas causa certo desconforto, pelo fato de nesses momentos, o lazer ser proporcionado em maior quantidade à criança e ela acaba sendo privada de viver esse momento juntamente com os demais alunos.

Neste sentido, buscando levantar questionamentos sobre as questões problematizadas acima, fizemos algumas indagações a Pedagoga e a Diretora. Provocamos esses profissionais indagando-os sobre a possibilidade desse atendimento ser realizado juntamente com o professor da sala de aula regular. Esse fator foi apontado por nós como a solução ideal para todos os problemas que haviam sido tencionados. Diante disso a Pedagoga responde,

“É uma solução ideal, no entanto não temos possibilidades de fazer isso no momento mesmo porque não temos professor de Educação Especial e mesmo porque teria que acontecer uma conversa para convencer os professores de atuarem com o de Educação Especial seria um pouquinho complicadinho... Mas não tô dizendo que é impossível realmente tem que ser assim... mas é uma falha do sistema.” (Pedagoga/ Diário de Campo)

A diretora completa a fala,

“E ainda Davidson, tem outro fator complicador, pois o professor de Educação Especial vai pra sala de aula se ele quiser porque ta no contrato dele que a função é atuar no laboratório e ninguém vai querer sair do laboratório “sozinha” no ar condicionado pra ir pra uma sala agitada cheia de alunos! Rsrsrsrs” (Diretora/Diário de Campo)

Percebe-se na fala dos profissionais, que a comodidade do laboratório de Educação Especial parece ser um fator definidor do atendimento individualizado do aluno. O professor de Educação especial não se dispõe a perder essa “comodidade” para atuar

na sala de aula onde a dinâmica de movimento do aluno com deficiência intelectual seria bem maior tornando o trabalho desse profissional muito mais intenso. Outra questão que deveria ser pensada já em nível de política maior no caso da SEME seria o processo de contratação desses profissionais no qual deveriam constar medidas de trabalho que visassem à atuação desse professor de Educação Especial no contexto da sala de aula juntamente com o professor da sala regular. Neste sentido, ficam especificadas as ambigüidades do movimento de inclusão dentro do município.

Ao perguntarmos sobre os possíveis/possibilidades de resultados em relação à aprendizagem da criança com deficiência intelectual a Pedagoga responde,

“O professor não passa pra nós no concreto se a criança aprendeu ou não! Ele apenas tem que preencher os relatórios dizendo se teve aproveitamento ou nâo as crianças que ele atende.” (Pedagoga/Diário de Campo)

Neste sentido, não existe uma reflexão do processo de aprendizagem da criança com deficiência intelectual entre o professor de Educação Especial e os demais professores da escola. Parece em uma perspectiva mais ampla que após a chegada desse profissional no CMEI “Florisbela” o aluno com deficiência intelectual passa a ser de responsabilidade exclusiva do professor de Educação Especial. As relações de troca entre esse educador e o professor da sala regular parecem que realmente não acontecem o que pode estar dificultando (ou não) o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança com deficiência intelectual.

Ao perguntarmos as professoras de Carolina e Verônica, as alunas com deficiência intelectual por nós acompanhadas se haviam tomado conhecimento dos relatórios anteriores de atendimento dos professores de Educação Especial as crianças, ambas responderam que nunca tiveram acesso a esse documento e foram retrucadas pela Pedagoga que disse que o relatório estava a disposição das professoras.

Diante disso, percebe-se no contexto escolar e até mesmo no contexto do processo de inclusão da Prefeitura de Vitória uma série de avanços caracterizados por algumas ambigüidades que se refletem diretamente no contexto escolar, como podemos perceber nos relatos anteriores do CMEI “Florisbela” no qual desenvolvemos a pesquisa.

No entanto concordamos com Drago (2007) quando diz que as discussões apresentadas sobre as tensões presenciadas no processo inclusivo do Município de Vitória nos auxiliam a olhar a educação da criança com deficiência provocando tensões à prática pedagógica e evidenciando o processo de aprendizagem desses sujeitos.

A tentativa de problematização desses processos foi evidenciada em nossa pesquisa, ao passo que “a escola, para a grande maioria das crianças brasileiras, é o único espaço de acesso aos conhecimentos universais sistematizados socialmente, o lugar que oferece condições de se desenvolverem e se tornarem cidadãos” (Drago, 2007, p.17)

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