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7.3 – EM BUSCA DE INDÍCIOS DA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: ANALISANDO OS EPISÓDIOS

EU SEI FAZER A ATIVIDADE SIM, PROFESSORA!

Findado o momento do planejamento fui com a professora de Verônica para a sala, pois hoje ia acompanhar esta aluna. Ao chegar à sala as crianças vieram me abraçar, porém a professora foi tratando logo de impedi-las, dizendo que eu estava ali apenas para observá-las. Abracei, mesmo a contra gosto da professora as crianças e me sentei em um canto, pois a aula iria começar. A professora pediu que as crianças prestassem a atenção no que ela iria mostrar, pois hoje eles começariam a aprender os números. Pegou o número zero que estava desenhado bem grande em uma cartolina e mostrou para as crianças. Depois disso pediu que elas se sentassem próximas ao quadro, desenhou o zero e falou que iria chamar cada uma das crianças para passar o giz por cima da bola desenhada no quadro. O mais interessante durante a aplicação desta atividade é que a professora chamou todos os alunos para desenhar o zero no quadro, deixando Verônica por último e isso se seguiu em toda a atividade que foi realizada na sala de aula pela professora. Verônica era sempre a última a ser chamada para fazer a atividade, pois a professora não acreditava na possibilidade de aprendizagem da aluna. Quando foi chamada para desenhar o zero no quadro, Verônica se dirigiu até a professora e prontamente pegou o giz de sua mão. A professora fez uma cara de que a criança não iria conseguir realizar a atividade. No entanto Verônica passou o giz no zero desenhado no quadro sem o auxílio da professora e depois desenhou perfeitamente a bolinha do zero. A professora ficou meio desapontada e pediu que Verônica se sentasse próximo do espelho, pois iríamos realizar outra atividade. Após

as crianças se sentarem, a professora começou a cantar algumas cantigas de roda. Verônica se mexia a todo o momento e a professora a repreendia, pois ela deveria ficar quieta sentada e cantando. Porém, Verônica continua a se mexer. Depois a professora pediu que as crianças ficassem de pé para cantar outra música. Verônica se pós de pé. Acompanhava a música, olhando para a professora, para a estagiária e para mim que estávamos a fazer a coreografia da música e ria, porém não seguia os nossos passos. Após esse momento, a professora pediu que as crianças sentassem, chamou cada uma e desenhou o zero na mão das crianças. Mais uma vez Verônica foi à última a ser chamada para fazer a atividade. Depois que todos estavam com o zero desenhando nas mãos, a professora pediu que eles passassem o dedo no contorno do desenho. Algumas crianças não conseguiam compreender o que ela dizia. Então ela pegava o dedo da criança e passava no contorno do desenho. Como Verônica não conseguiu compreender o que ela disse peguei o pincel desenhei o zero na minha mão e mostrei a ela como era para fazer. Neste momento, com minha ajuda Verônica conseguiu fazer a atividade que a professora havia pedido. Após esse momento, pediu que as crianças se sentassem à mesa para fazer outra atividade. Depois que as crianças estavam sentadas, distribuiu folhas de chaméx com o número zero desenhado e pediu que as crianças contornassem o zero e desenhasse na mesma folha várias bolinhas. As crianças então começaram a desenhar bolinhas. Depois de certo tempo, ficando a atividade cansativa, as crianças começaram a rabiscar o papel e Verônica já não queria mais desenhar as bolinhas e começou como as demais crianças a ensaiar uma pintura no papel. No entanto foi repreendida pela professora que virou para mim e disse: “Que dificuldade! Essa menina não consegue entender nada que a gente diz a ela. Eu já desisti! Nada que a gente faz adianta Davidson. É só brincar, é só correr e bater no coleguinha. Só isso que ela sabe fazer! Por isso que não aprende! Ela não aprende.” (Professora Regente)

A falta de credibilidade da professora no processo de aprendizagem de Verônica fazia com que ela ignorasse seu desenvolvimento durante a realização da atividade. Mostrar-se capaz de fazer a atividade sem nenhuma dificuldade, pois em cheque as concepções da professora que até então não conseguia ver a ocorrência desse processo em Verônica.

O uso de atividades repetitivas era uma constante nas aulas por nós presenciadas, o que de fato não propiciava o desenvolvimento da criança com deficiência intelectual nem a dos demais alunos que apresentavam desenvolvimento típico. Quando a criança

tentava se desvencilhar dessas atividades era impedida pela estagiária e pela professora que alegavam o potencial dessas atividades para o desenvolvimento da coordenação motora das crianças.

No entanto é fato que Verônica apesar de estar em um ambiente entrelaçado por estas complexas tramas conseguia atingir um determinado nível de aprendizagem quando atividades mediadas e adequadas as suas capacidades eram realizadas. O fato era que seu processo de desenvolvimento e aprendizado parecia estar invisibilizado pelos sujeitos que de certa forma atuavam com Verônica no contexto do CMEI.

 EPISÓDIOS CAROLINA

Carolina era uma criança que apesar da dificuldade de locomoção causada pela paralisia não encontrava barreiras quando a questão estava relacionada à sua capacidade de desenvolvimento e aprendizagem. Assim como podemos visualizar em Verônica, era nítido o processo de aprendizagem de Carolina e a capacidade que tinha para aprender com o outro no coletivo e nas interações sociais. Seu desenvolvimento físico e intelectual era percebido por todos do CMEI que atuavam direta ou indiretamente com a criança. O fato era que a professora de Carolina, apesar de admitir o desenvolvimento da criança e a necessidade de uma atividade diferenciada que propiciasse sua aprendizagem, apresentava muita dificuldade de atuar com essa criança no contexto da sala de aula como podemos perceber no episódio abaixo,

EPISÓDIO I MARÇO DE 2009

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