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3.3 Sobre avaliar utilizando tecnologias digitais: representações dos futuros

3.3.1 Aprendendo a ser professor

À medida que os futuros professores vivenciaram a experiência de construir avaliações, e, consequentemente, avaliar o colega, eles também refletiam sobre ser professor, constituindo-se nesse lugar social.

103 Quadro 10: Conteúdo temático: Aprendendo a ser professor

Excertos dos relatos finais Conteúdo temático

[...] posso dizer que aprendi muito não somente inglês mas também avaliação, e talvez até que tipo de professora quero ser, e percebo que aos poucos vou criando minha própria identidade de professora. (Estrela, relato final)

Essa experiência foi gratificante e relevante para a nossa formação como professor-educador. Com isso entende-se que o dia a dia do professor em sala de aula não é fácil, não é pra qualquer um, é preciso gostar, é preciso determinação, ter ideias, ser criativo, ser crítico e sempre inovar. É uma grande jornada. (Evelyn, relato final)

My experience was good. I could finally feel the way a teacher's feel about making an assessment using technology. Well, it's something weird, because it seems to be a fast process, but it isn't. You have to

be fair and for that you'll have to think your students. (Nasus,

relato final)

Também essa experiência ofereceu um pouco da visão de como é estar na posição de professor, as inseguranças e o funcionamento da criação de uma avaliação, como a criação de critérios, a correção e a aplicação das notas. (Juliana, relato final)

Aprendendo a ser professor

Os excertos mobilizados apontam o quanto os futuros professores amadureceram no que se refere a ser professor. Para a maioria, ser professor era algo fácil, tranquilo, só seguir com as propostas do livro didático. Os professores pré-serviço ficaram surpresos quando perceberam que ser professor demanda estudar sempre, preparar-se. Pude observar que eles compreendem que ser professor não é uma tarefa tranquila, que há embates e que é preciso vontade para sair da zona de conforto e de uma constituição tradicionalista de ensino.

De acordo com Royle, Stager e Traxler (2014), é preciso haver uma mudança nos currículos dos cursos de formação de professores que envolva uma compreensão acerca da relação entre o ensino e o advento das tecnologias digitais no ambiente escolar. Essa necessidade se confirma quando, ao ler os excertos, percebo que os futuros professores, além de aprenderem o conteúdo da disciplina, compreendem também seu papel como professor.

A necessidade de discutir sobre formação de professores pode ser observada no relato de Estrela, quando ela afirma que está construindo sua identidade como professora. Há um deslocamento acontecendo em seu percurso, Estrela está deixando seu papel social de aluna e assumindo outro, está se constituindo no lugar social de professora.

104 Segundo Woodward (2007), a constituição da identidade do indivíduo é relacional, ocorre a partir da diferença, de algo externo a ela. Assim, a identidade de Estrela como professora vai ser formando a partir da distinção, da diferença entre a identidade de professora e de aluna. Estrela está, nesse momento, em um entre-lugar, ela não ocupa mais apenas uma ou outra identidade, ela está no caminho, constituindo-se em um outro lugar social.

Evelyn utiliza os adjetivos gratificante e relevante para classificar suas experiências. Por meio da modalização deôntica “é preciso”, que ela repete duas vezes, a futura professora elenca os quesitos necessários a um bom professor. Acredito que Evelyn, assim como Estrela, também está se constituindo em outro lugar social, ela está mais atenta ao que ser professor demanda. E parece estar preparada para essa grande

jornada.

O relato de Nasus é interessante porque revela o lugar social em que ele se encontra. Ao utilizar o advérbio finally, Nasus se coloca no lugar social de professor e compreende a complexidade desse papel. Avaliar não é um processo superficial e demanda muito preparo do professor. Assim como Evelyn, Nasus compreende que ser professor é muito mais do que ensinar e avaliar conteúdos por eles mesmos, sem nenhuma relação com a vida do aluno.

O relato de Julia, a seguir, também demonstra o quanto a aluna está mais ciente de seu papel como professora e das implicações da avaliação para o processo de ensino e de aprendizagem:

Depois de tudo o que foi estudado, pesquisado e trabalhado em sala de aula, agora temos uma visão geral do que é a avaliação, como ela pode ser feita, quais os mecanismos de sua utilização, bem como seus efeitos na vida do aluno. Pode-se observar que as avaliações (Formativa, Somativa e Diagnóstica) podem ser utilizadas não somente para testar, aprovar ou reprovar o aluno, mas pode ser usada de maneira dinâmica, divertida e proveitosa, tanto para o professor quanto para o aluno. [...] a avaliação não é uma forma de punição, é um meio, um processo, que se utilizado da maneira correta pode levar o aluno a alcançar resultados positivos e satisfatórios. E é aqui que entra o papel do professor, devendo orientar, e mostrar ao seu aluno qual caminho é o melhor para ser seguido. Somente o trabalho em comum união entre professor-aluno-ensino-aprendizagem garantirá que o processo educacional tenha sucesso. (Julia, relato final)

105 Acredito, a partir dos excertos, que os professores em formação perceberam que a avaliação está interligada com o processo de aprendizagem. E é relevante discutir essas questões em cursos de formação de professor pré-serviço. Segundo Felice (2013), “ensino-avaliação-aprendizagem são indissociáveis”. Dessa forma, é preciso discutir esse trinômio nos cursos de formação, para que os futuros professores compreendam sua relevância e não reproduzam as mesmas práticas a que foram submetidos.

A seguir, discorro sobre a representação dos futuros professores sobre usar tecnologia para avaliar a aprendizagem.