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3.2 O que é avaliar?

3.2.2 Prova não é um bom instrumento para avaliar

Um dos instrumentos mais comentados e criticados pelos professores pré-serviço em sua trajetória escolar é a prova impressa. Todos os participantes que mencionaram esse instrumento teceram críticas a ele, o que me leva a crer que eles possuem a representação de que prova não é um bom instrumento para avaliar.

Quadro 08: Conteúdo temático: Prova não é um bom instrumento para avaliar

Excertos do primeiro relato Conteúdo

temático Percebi que não se pode saber se o aluno aprendeu pelo

simples fato de ter tirado uma nota boa ou ruim, muita das vezes aquele momento não foi dos melhores para se fazer a prova, talvez ele estava com problemas emocionais. (Deby, primeiro relato)

Essa experiência confirma a ideia de que este modelo de avaliação, usado para medir a capacidade do aluno através de um juízo de valor é insuficiente e injusto, uma vez que, independente da matéria lecionada, este modo de avaliação é usado como armas pelos professores, que tem a finalidade de aprovar ou reprovar os discentes. (Wonder Woman, primeiro relato)

97 Não me ajudaram em quase nada fazer provas ou testes, pois a

pressão psicológica foi e ainda é um desafio que tenho que superar. (Eni, primeiro relato)

A prova não pode medir totalmente o conhecimento do aluno porque ficamos muito tensos e nervosos e acabamos esquecendo o conteúdo aprendido. (Estrela, primeiro relato) This kind of assessment can be positive sometimes but is restricted because it doesn’t assure that the students know the content. (Amélie, primeiro relato)

Prova não é um bom instrumento de

avaliação

A partir dos excertos do quadro 08, é possível observar os conteúdos temáticos dos alunos sobre um instrumento de avaliação muito comum no ambiente escolar: a prova escrita. Por meio da leitura atenta dos relatos, pude observar que os professores pré- serviço não concordam com esse modelo de avaliação. Mesmo sem terem tido contato com outros instrumentos, os alunos compreendem que ser avaliado apenas com um instrumento não colabora com a aprendizagem.

Para os futuros professores, aplicar apenas provas não é suficiente para saber se o aluno aprendeu o quê o professor ensinou. Isso porque há fatores externos, como nervosismo, tensão, até mesmo medo que interferem no desempenho dos alunos, prejudicando sua avaliação. Nesse sentido, o professor precisa ser sensível às dificuldades dos alunos; há uma variedade de instrumentos, alguns inclusive são mencionados pelos alunos, que podem substituir a prova e, ainda assim, garantir a qualidade da avaliação, conforme afirma Julia:

Alguns professores utilizavam formas de avaliação contínua e particularmente eram as que mais surtiam efeito nas aulas para mim. Pois os alunos se interessavam pela participação nos seminários, grupos de estudo, debates, eventos, simulados, e trabalho em equipe e estávamos sempre interessados por aprender o conteúdo e não a decorá-lo. (Julia, relato final. Ênfase minha)

Julia parece ter a representação de que a avaliação precisa ser feita por meio de outros instrumentos também. A futura professora utiliza a modalização “particularmente” para avaliar positivamente outras formas de avaliação e para analisar seu contexto por meio de observações concretas do conhecimento que ela construiu quando era aluna no ensino fundamental.

98 Seu relato é interessante porque mostra que a avaliação, em seu contexto, não era apenas com provas. Julia utiliza o pronome indefinido alguns para mencionar que não eram todos os professores que usavam outras formas de avaliação, o que parece indicar que avaliar de outras formas não era consenso em sua escola. Julia afirma, inclusive, que as ferramentas de avaliação que se diferiam de provas e que demandavam mais participação dos alunos eram as que mais surtiam efeito. Sobre esse modelo de avaliação, que inclui o aluno como participante ativo, Kenski, Oliveira e Clementino (2014 [2006]) argumentam que ele possibilita uma aprendizagem mais consistente aos alunos, sendo mais efetiva para a aprendizagem.

Para enfatizar e justificar o quanto a prova não é um instrumento de avaliação positivo para o processo de ensino e de aprendizagem, a maioria dos participantes utilizou modalizações lógicas, como se observa em: “posso afirmar”, “não se pode saber”, “é insuficiente e injusto”, “não pode medir”, “it doesn’t assure”. Todos esses modalizadores lógicos avaliam negativamente o instrumento prova e representam o ponto de vista dos futuros professores a partir de suas condições de produção, de suas experiências anteriores e indicam que possuem um olhar crítico acerca da prova impressa.

As modalizações apreciativas “insuficiente” e “injusto”, utilizados por Wonder Woman, parecem enfatizar sua representação sobre avaliação e deixam entrever que ela não acredita na validade da ferramenta de avaliação criticada. Em sala de aula, em diversos momentos, Wonder Woman afirmou que, quando assumir uma sala de aula como professora, nunca baseará suas avaliações em um único instrumento, especialmente a prova. As discussões sobre avaliação da aprendizagem tiveram um efeito positivo nas aulas, pois Wonder Woman manifestou interesse em realizar seu trabalho de conclusão de curso nessa área, aprofundando seus conhecimentos sobre avaliação da aprendizagem e buscando outras formas de colaborar com a aprendizagem.

Em outro fragmento, Evelyn também assume seu ponto de vista ao utilizar a modalização lógica “não concordo”, para avaliar negativamente o instrumento prova, como é possível ler no primeiro excerto “Eu particularmente não concordo com esse método de ensino-aprendizagem,”.

Seguindo essa linha de pensamento, Evelyn parece ter uma representação negativa sobre a prova impressa ao posicionar-se sobre ela, inclusive justificando seu posicionamento ao afirmar que sempre foi avaliada dessa forma e que não aprendeu nada com esse instrumento de avaliação.

99 Além disso, no momento em que Evelyn justifica e assume seu posicionamento, noto sua voz de autora empírica do texto, ao usar o verbo no presente do indicativo em uma sentença negativa: eu não concordo. Segundo Bronckart (2012[1999]), as vozes que permeiam e atravessam os textos nos ajudam a compreender as representações do que enunciam. Além disso, percebo uma tomada de posição em Evelyn sobre o ato de avaliar; os futuros professores, ao escreverem sobre o tema avaliação, já estão refletindo sobre ele, dado que conseguem problematizar suas experiências anteriores.