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3.4 Sobre avaliar utilizando tecnologias digitais: o que eu aprendi?

3.4.1 Grupo 1: Google formulários

A tecnologia digital escolhida pelo grupo 1 foi o Google Formulários. Os participantes deste grupo são: Luana, Quérola Barreto e Wonder Woman.

113 Figura10: Avaliação no Google formulários (arquivo pessoal)

A utilização de um formulário para avaliação é algo prático, no qual as respostas ficam em um mesmo ambiente, facilitando a correção. Antes de a avaliação ser liberada, o grupo 1 convidou os colegas para irem ao Laboratório de Informática e ensinaram a lidar com a plataforma, sem entrar na avaliação de fato. Isso foi feito para que os participantes não se sentissem receosos de usar a ferramenta, dado que, em sala, tal receio já havia sido mencionado, principalmente por Estrela.

Para construir a avaliação, o grupo utilizou a opção de respostas curtas, múltipla escolha e um vídeo seguido de uma música para trabalhar a habilidade de listening e interpretação de texto. Os participantes desse grupo estavam muito engajados e animados com a proposta. Os conteúdos que o grupo avaliou são: interpretação de texto, capacidade de compreensão oral e uso do presente simples.

114 Figura 11: Critérios de avaliação do Google formulários (arquivo pessoal)

O grupo selecionou três critérios, sendo o terceiro relacionado ao plágio. Tal fato demonstra o medo de os alunos plagiarem no momento de fazer a avaliação, ponto que foi muito discutido em sala. Quando fomos discutir as avaliações, depois que todos haviam respondido, o ponto de plagiar as respostas foi um medo inicial de todo o grupo; contudo, eles perceberam que não havia necessidade desse receio; pois quando o aluno pesquisa para responder a avaliação, ele está, de certa forma, aprendendo. Outro ponto foi o fato de o grupo ter selecionado como conteúdo interpretação de texto, mas não ter criado o critério de avaliação para tal.

115 Figura 12: Questões da avaliação no Google formulários - parte 1 (arquivo pessoal)

Para iniciar a avaliação, o grupo construiu algumas perguntas sobre o tema, para que a turma começasse a pensar sobre as questões que viriam a seguir. É possível observar que a plataforma permite a inserção de valor (nota) para a atividade; o grupo considerou relevante deixar claro quanto cada questão valia, como uma forma de organização.

116 Figura 13: Questões da Avaliação no Google formulários - parte 2 (arquivo pessoal)

Nas imagens selecionadas na figura 14, é possível observar que o grupo compreende que o vocabulário que elas irão demandar pode ser desconhecido de alguns colegas. Como o grupo tem uma noção de avaliação formativa, em que é possível avaliar e aprender ao mesmo tempo, Luana, Quérola Barreto e Wonder Woman não tiveram nenhum problema em trazer o vocabulário com imagens.

Quevedo-Camargo (2011) defende em sua pesquisa a necessidade de uma avaliação que não priorize notas; o aluno, nesse sentido, precisa ser parte do processo de aprendizagem. Da forma que o grupo produziu a questão mencionada, é possível notar

117 que estão preocupados com quem será avaliado, o quê revela uma contribuição para sua formação docente.

Amélie, no momento de discutirmos sobre a avaliação, afirmou que aprendeu com ela, especialmente porque o grupo inseriu imagens para o vocabulário que eles consideraram mais desafiador para a turma. Todas as imagens remetiam à natureza e ajudavam a compreender o vídeo que deveriam assistir e interpretar em seguida. Considero que a inserção de imagens é uma forma de personalizar a avaliação, pois os participantes que já conheciam o vocabulário apenas relembraram, e os que não conheciam puderam aprender e não ter dificuldade na compreensão do vídeo.

A personalização do processo de ensino e de aprendizagem é algo relevante. Segundo Bacich, Neto e Trevisan (2015), para que haja uma personalização do ensino, é preciso que tanto o aluno quanto o professor selecionem os meios, recursos que mais atendam às suas necessidades. “Aspectos como o ritmo, o tempo, o lugar e o modo como aprendem são relevantes quando se reflete sobre a personalização do ensino” (BACICH; NETO; TREVISAN, 2015, p. 51). Concordo com os autores e acrescento que a personalização da avaliação também é necessária para uma boa avaliação, como esta pesquisa me apontou.

118 Figura 14: Questões da Avaliação no Google formulários - parte 3 (arquivo pessoal)

Na figura 14, é possível observar que o grupo também construiu questões relacionadas à estrutura da língua, como o uso do passado simples. O grupo considerou relevante esse tipo de questão; contudo, eles não conseguiram pensar em uma forma mais autêntica para formular as questões e preferiram uma questão fechada, com 3 opções de resposta.

Quando discutimos a avaliação em sala de aula, pedi para que falassem sobre essa avaliação, e, Luana, que participou da construção da avaliação, afirmou que “essa era uma opção que não tinha no Google formulários. Ele não tem a opção de preencher lacunas, aí a gente teve que improvisar.” É possível notar a necessidade de inserir na avaliação questões de estrutura da língua. A forma como as questões foram inicialmente pensadas, preencher lacunas, revela que o grupo ainda tem uma concepção tradicionalista de avaliação, em que é preciso inserir questões estruturais, sem nenhum contexto, para “checar” se o aluno aprendeu (ou decorou).

119 Juliana, integrante do grupo que elaborou a avaliação com a tecnologia Wizer.me, também criticou a questão estrutural ao usar o substantivo no diminutivo: “tipo assim, elas foram de uma gramaticazinha básica até a interpretação de texto com a mesma história, isso foi bem legal”. É possível ver que Juliana elogia a coerência da avaliação, pois todos os tópicos se relacionam; entretanto, ela critica a questão de estrutura da língua. Isso me leva a crer que alguns participantes, apesar de terem se constituído nesse modelo de avaliação, a partir das discussões em sala, já não consideram relevante esse tipo de questão.

A seguir, apresento as figuras 15 e 16, que se referem a questões de interpretação do vídeo, a partir de um vídeo e uma canção.

120 Figura 16: Avaliação no Google formulários - parte 4 (arquivo pessoal)

A última parte da avaliação tem um caráter mais interpretativo, as perguntas são sobre um vídeo, retirado do YouTube, que é uma interpretação do livro The giving tree. A questão 1, apesar de ser objetiva, demanda um entendimento do vídeo, as questões 2 e 3, além do entendimento do vídeo, demandam que os professores pré-serviço consigam escrever na língua-alvo.

Para finalizar, o grupo selecionou uma canção na questão 4, que é uma releitura do livro, e demandou uma interpretação por parte dos colegas. São nessas atividades que, para responder, os participantes precisariam do vocabulário disponibilizado anteriormente por meio de imagens.

No momento de discutir a avaliação, o grupo revelou que teve dificuldade em construir a questão 4. O intuito era que relacionassem a música com o vídeo, conforme afirma Luana (discussão da avaliação Google formulários),

Então, é porque essa questão quando a gente elaborou, todo o jeito que a gente fazia parece que podia entender meio diferente, a gente queria que a pessoa falasse sobre a opinião da música, só

121 que baseando no livro, tentando comparar a música e o livro [...] aí a gente teve um probleminha para elaborar ela.

É possível observar que Luana, ao assumir o estatuto de enunciadora, assume o papel social de professora; ela e o grupo discutem e refletem sobre a construção da avaliação, e chegam à conclusão de que deveriam ter feito diferente, pois as respostas dos participantes demonstram que não houve entendimento do quê elas queriam. Esse tipo de reflexão corrobora para que as futuras professoras aprendam a construir avaliações, sabendo que são complexas.

A dificuldade em responder à questão 4 fica evidente no momento em que grupo fornece feedback da avaliação, conforme observo na figura 18 a seguir, em que elas precisam explicar o quê esperavam da resposta. É possível ver também que, apesar de considerarem que não construíram a questão da forma como gostariam, o grupo não atribuiu nota para quem não compreendeu.

Figura 17: feedback da Avaliação no Google formulários (arquivo pessoal)

Dessa maneira, conforme mostrado, a avaliação do grupo 1 tem quatro páginas, com vários tipos de questões. Interessante mencionar que os vídeos poderiam ser vistos quantas vezes fossem necessárias. Em sala de aula, alguns participantes, como Evelyn, disseram tê-los assistido muitas vezes para compreender o máximo que pudesse. Esse fato é uma das vantagens das tecnologias digitais, se fosse uma avaliação impressa, seria difícil o professor conseguir integrar o vídeo às demandas individuais.

Ao refletir sobre a avaliação, Evelyn afirmou que

[...] então, é gostei muito da história porque ela não tratou só sobre as questões que elas queriam passar, mas sobre, tratou de um

122 assunto, sobre a destruição das árvores, né, que o homem destrói, então foi muito importante, não foi só uma historinha boba pra trabalhar conteúdo né. (EVELYN, discussão da avaliação Google

formulários)

Vejo que Evelyn gostou avaliação por meio dos modalizadores apreciativos “gostei muito”, “muito importante” e “não foi só uma historinha”. É possível observar uma mudança no papel social de Evelyn; quando ela avalia a avaliação construída pelo grupo, deixa o papel de aluna e passa ao de professora, pois reflete e avalia a forma como o grupo elaborou as questões.

Julia, da mesma forma que Evelyn, mudou seu papel social quando argumentou que

O vídeo possibilitou questões discursivas porque a gente teve que fazer uma reflexão sobre ele, e quando eu comecei a pensar, sabe’’, como o ser humano age, e foi uma lição muito bonita, então assim, eu acho que não importa trabalhar somente com gramática, trabalhar a gramática, o conceito de sociedade, sabedoria, é importante, eu gostei muito, muito mesmo. (JULIA, discussão da avaliação Google formulários)

Posso notar aqui que o fato de a avaliação não ser fechada em si mesma e trazer temas transversais chamou a atenção dos futuros professores. Essa avaliação construída pelo grupo pode ser considerada formativa, nos moldes de Cizek (2010, p. 7), já que este autor argumenta que a avaliação formativa é “fonte de informação que os professores podem usar no planejamento instrucional e os alunos podem usá-la para aprofundar seus conhecimentos e aprofundar resultados”. Uma avaliação formativa permite que os alunos aprendam; isto implica que ela não serve apenas para testá-los.

Por seu turno, assumindo papel social de aluna, Eni afirmou que a avaliação foi útil para aumentar o vocabulário, melhorar a pronúncia, por meio da compreensão do vídeo e da música. Eni pontua que “tem palavra que até agora eu nunca tinha visto”, o que parece demonstrar que a avaliação também pode ensinar, não apenas observar o que o aprendeu.

No momento em que Wonder Woman foi manifestar seu posicionamento sobre a avaliação, ela revelou sua representação de que construir uma avaliação com prova impressa é mais fácil do que com tecnologias digitais. Segundo ela,

123 É mais difícil assim, porque talvez numa avaliação escrita seja mais fácil de construir as perguntas. Agora aqui na plataforma, a gente criou todo um layout, demanda pensar mais, essa questão é a mais difícil (WONDER WOMAN, discussão da avaliação). Essa representação, construir avaliações com provas impressas é mais fácil, é bastante comum no âmbito acadêmico sobre a integração de tecnologias digitais no processo de ensino-avaliação-aprendizagem de línguas, o que pode gerar uma resistência em utilizá-las.

Quando Wonder Woman leu as análises, ela afirmou que

percebo que posso ter transmitido um ar de "resistência" em desapegar um pouco da avaliação tradicional e usar as tecnologias digitais para este fim. Não que essa característica seja pessoal minha, mas realmente, pode ser da maioria de outros professores. Vale a reflexão (WONDER WOMAN, reflexão sobre as análises após a pesquisa).

Pelo comentário da futura professora, percebo que ela reflete sobre suas representações, pode ser que ela não as modifique, mas acredito que refletir é sempre o primeiro passo. Ser um professor reflexivo é o primeiro passo para mudanças nas representações e, em consequência, mudanças de atitudes.

Sobre a resistência em pensar algo diferente, Bohn (2013) afirma que esses professores (ele não menciona em seu trabalho, mas eu acredito que mesmo os professores pré-serviço), foram constituídos em um contexto de aprendizagem tradicionalista, em que o uso de tecnologias se restringia a livros e quadro negro. Na verdade, acredito que qualquer modelo de avaliação, com ou sem tecnologia, demanda tempo e preparo do professor, para que fique bem feita e compreensível.

No momento de refletirmos sobre a tecnologia digital Google formulários, os futuros professores tiveram posicionamentos que considerei serem críticos em relação ao início da pesquisa, os quais revelam que o processo de construir uma avaliação com tecnologia digital teve resultados positivos, no sentido de possibilitar reflexão e possível mudança de posicionamentos.

Wonder Woman afirmou que “qualquer ferramenta nunca vai ser 100 por cento”; por meio do modalizador lógico “nunca”, em que a futura professora constrói sua opinião por meio de uma experiência concreta, vejo que o seu argumento revela uma compreensão de que as tecnologias digitais têm limites, que não são a solução para todos os problemas.

124 Esse ponto foi muito discutido em sala de aula, o advento das tecnologias digitais e sua integração no ambiente escolar é algo para ser discutido e, a partir das práticas, pensar em formas de utilização que colaborassem com as aulas.

Por seu turno, Julia e Luana sugeriram enviar sugestões ao site da Google, com o intuito de melhorar a tecnologia digital e voltá-la mais para a educação. Essas reflexões e sugestões sobre as tecnologias digitais demonstram que as futuras professores tiveram um ensino real, nos moldes de Prensky (2010), já que elas desejam produzir algo na vida real, a partir do conhecimento construído em sala de aula.

E o que demanda é a quantidade de integrantes, né, porque é por projeto, a Google ela responde por projeto, então é muito difícil a

Google responder um professor ou dois, e se, por exemplo, um

curso de inglês dá esse feedback, fala: olha isso não funcionou, por que não inserir isso.., seria muito interessante, já que a gente tá abordando essas tecnologias né::: (JULIA, discussão da avaliação Google formulários)

O fato de as futuras professoras sugerirem enviar o feedback e de terem esse conhecimento sobre como fazê-lo aproxima-se do que Prensky (2010) chama de “aluno como usuário proficiente da tecnologia”. Segundo o autor, quando o professor permite que os alunos sejam os usuários proficientes, que buscam como usar a tecnologia, como resolver os problemas, eles tendem a se tornar mais autônomos em sua aprendizagem. Relacionando isso à formação de professores, acredito que, quando os professores pré- serviço assumem esse papel, de buscar respostas, eles poderão tornar-se professores mais descentrados.

Nessa linha de pensamento, acredito que a construção da avaliação tendo como suporte o Google formulários, seguida das discussões em sala de aula, colaborou para a formação docente de todos os participantes, pois permitiu discussões sobre avaliação tradicional, objetivos e, também, sobre os limites da tecnologia digital.

Passo, a seguir, à descrição e à análise da avaliação do segundo grupo.