• Nenhum resultado encontrado

A metodologia adequada para dar suporte e embasar esta pesquisa é a Pesquisa Qualitativa de cunho interpretativista. De acordo com Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa não se refere a um campo específico, ela os atravessa, estando presente em quase todos os campos das ciências humanas. Para os autores, o pesquisador qualitativo enfatiza a “natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, e as limitações situacionais que influenciam a investigação” (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 23). Assim, a pesquisa qualitativa colabora para que possamos, como pesquisadores, interpretar o contexto pesquisado.

Por ser ampla, a pesquisa qualitativa não considera uma atividade interpretativa melhor ou mais relevante do que a outra. “[A] diversidade de histórias envolvendo cada método ou estratégia de pesquisa revela como cada prática recebe múltiplos usos e significados” (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 21).

André (2008) pontua que a pesquisa qualitativa, por seu cunho interpretativista, distancia-se, de certo modo, de uma concepção positivista porque não tem interesse apenas em quantificar dados. Nessa linha de pensamento, a pesquisa qualitativa aceita e dá sustentação à interpretação dos dados em vez de mensurá-los, dado que para esse modelo é necessário “entender, interpretar fenômenos sociais inseridos em um contexto” (BORTONI-RICARDO, 2009, p. 34), muito mais do que quantificar os dados.

A pesquisa qualitativa pode ser comparada a um guarda-chuva, uma vez que abarca vários outros modelos de pesquisa, tais como: pesquisa narrativa, estudo de caso, etnografia, pesquisa-ação, pesquisa de campo, só para citar alguns exemplos (ANDRÉ, 2008). Nessa perspectiva, mesmo estando inserida no campo da pesquisa qualitativa, é preciso ter em mente que há vários caminhos metodológicos possíveis a serem seguidos e que é necessário encontrar um caminho que dê o suporte metodológico necessário ao trabalho proposto.

67 Esse caminho metodológico é relevante, pois fornecerá suporte à materialização da pesquisa; é a partir dele que as escolhas teóricas, o trato com os participantes, a coleta de dados se tornam possíveis. Por essa razão, para realizar esta pesquisa de doutorado, embaso-me na metodologia de estudos de Caso, por se tratar de um contexto de aprendizagem específico, a saber: uma sala de aula de um curso superior de licenciatura (Letras), no qual investigo as representações de professores em formação sobre avaliação da aprendizagem e a inserção de tecnologias digitais para avaliar.

2.1.1 Estudo de Caso

A escolha da metodologia estudo de caso justifica-se por tratar-se de um estudo aprofundado e exaustivo de um caso específico, qual seja: representações de professores em formação sobre avaliação formativa e tecnologias digitais para avaliar a aprendizagem, que tem lugar em uma sala de aula de um curso superior em que sou professora de língua inglesa.

Segundo Telles (2002, p. 108),

os estudos de caso, frequentemente descritivos (mas, também, podendo ser narrativos), são utilizados quando o professor- pesquisador deseja enfocar um determinado evento pedagógico, componente ou fenômeno relativo à sua prática profissional. Nesse caso específico, desejo discutir como alunos da graduação representam a avaliação e como inserem tecnologias para avaliar. Os estudos de casos podem fornecer alto teor interpretativista e, segundo Coelho (2005, p. 47), “os dados em um estudo de caso podem ser obtidos através de instrumentos de coleta mais propícias para a pesquisa qualitativa”. Nas pesquisas em estudos de caso, apesar de o pesquisador estar interessado em um ponto específico, nada impede que “ele esteja atento ao seu contexto e às suas inter-relações como um todo orgânico, e à sua dinâmica como um processo, uma unidade de ação” (ANDRÉ, 2008, p. 31).

Há várias formas de realizar uma pesquisa em estudo de caso. O pesquisador precisa estar atento a seus objetivos para que possa selecionar a que mais lhe interessa. Para o andamento desta tese, interessa-me a definição proposta por Stake (1995) em que o autor define estudo de caso como: intrínseco, instrumental e coletivo.

68 No estudo de caso intrínseco, o pesquisador investiga uma compreensão aprofundada do objeto de análise. A pesquisa pode surgir de um questionamento ou mesmo de um problema sobre o qual o pesquisador queira refletir. No estudo de caso coletivo, a pesquisa é realizada em um espaço de tempo maior. Além disso, o pesquisador geralmente estuda mais de um caso para compreender um fenômeno específico que perpassa esses casos. No estudo de caso instrumental, o pesquisador busca compreender um fenômeno mais amplo, numa tentativa de colaborar com as pesquisas em torno desse fenômeno ou mesmo contestá-lo.

Esta tese se aproxima do estudo de caso intrínseco, proposto por Stake (1995), uma vez que a pesquisa surgiu de meu interesse em observar como professores em formação compreendem a avaliação e a inserção de tecnologias digitais para avaliar a aprendizagem. Um ponto relevante sobre a pesquisa em estudo de caso é a flexibilidade que o pesquisador tem, ele pode ajustar seus objetivos, perguntas de pesquisa no decorrer da pesquisa, sem que isso traga prejuízo às análises.

Segundo Dornyei (2007), os dados que são gerados em um estudo de caso são, na maioria das vezes, imprevisíveis, uma vez que o investigador enfatiza, em sua coleta, ações espontâneas dos participantes envolvidos na pesquisa. Assim, nesse tipo de pesquisa, não se generalizam os dados, o que não impede que sejam aplicados em outros contextos.

Aliada ao estudo de caso intrínseco, esta pesquisa se configura como estudo de caso por apresentar as seguintes características: 1) a pesquisa foi realizada em uma turma da disciplina de língua inglesa, do curso de Letras, licenciatura Português-Inglês, em que os alunos estão cursando o quinto período; 2) há uma descrição minuciosa do contexto acadêmico em que os participantes se inserem com o intuito de mapear suas representações sobre tecnologias digitais e avaliação da aprendizagem; 3) há discussão das representações dos professores em formação com o objetivo de investigar os limites e as vantagens de se inserir discussões sobre avaliação da aprendizagem nos cursos de formação e, também, investigar a inserção de tecnologias digitais para avaliar.

Esta pesquisa configura-se como uma observação-participante, dado que participei de todos os passos da pesquisa, auxiliando os alunos que sentiam dificuldades, seja na escrita das narrativas, seja no uso das ferramentas digitais. Ressalto que tentei não interferir na escrita das narrativas ou na construção das avaliações on-line, apenas orientei quando percebi que se sentiam perdidos ou quando me pediam ajuda.

69