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3.3 Sobre avaliar utilizando tecnologias digitais: representações dos futuros

3.3.3 Avaliar também é ensinar

A partir dos excertos a seguir, é possível notar o conteúdo temático referente à avaliação, no sentido de que ela também pode ensinar, não apenas observar o que o futuro professor aprendeu no processo.

Quadro 12: Conteúdo temático: Avaliar também é ensinar

Excertos do relato final Conteúdos

temáticos I mudei meu pensamento sobre assessment nessas aulas, porque

eu achava que era aquela coisa de “prova” e dar nota e pronto, não sabia que além disso temos que entender as necessidades dos alunos e saber o que ele já sabe, o que já aprendeu e o que precisa aprender. Então, assim, saber como ministrar as aulas (Maria, relato módulo1).

I não imaginava que era possível avaliar o aluno com dinâmicas que ensinam e ao mesmo tempo observam sem que o aluno perceba que está sendo avaliado [...] Com certeza irei usar esses tipos futuramente nas salas de aula (Eni, relato módulo1)

From now on I’ll be more careful with the way I assess my students. They need my attention/teachers attention in order for them to improve. The students must see what they`ve learned, their mistakes, instead of being shoved with everything (content) down their throat by their teacher (It`s very common now days) (Nasus, relato módulo 2)

Avaliar também é ensinar

108 Before, I only considered assessment as a test that give the

students grades according to their performance. Now the concept of assessment is more than give student’s grades. It's an important part in the learning process, that not only judge the level of knowledge of a student, but it helps them acquired that knowledge and helps the teacher a improve the teaching skills. (Juliana, relato módulo 2)

Ao analisar os excertos, acredito que os futuros professores modificaram (ou ao menos refletiram bastante) suas representações acerca do que seja avaliar a aprendizagem. Eles saíram de suas zonas de conforto e ocuparam outro lugar social, o de que quem avalia, o de quem prepara uma avaliação.

A partir dos modalizadores deônticos “era possível”; “com certeza”; “I’ll be more

careful”; “the students must see”, noto uma avaliação positiva acerca da avaliação da

aprendizagem. Segundo Bronckart (2012[1997]), as modalizações atuam como uma avaliação dos agentes envolvidos na interação acerca daquilo que é discutido. Além disso, as representações percebidas por meio das modalizações e das vozes são influenciadas pelo meio e o influenciam também (CELANI; MAGALHÃES, 2002).

Os excertos de Maria e Eni revelam que ambas consideraram suas experiências com a construção de avaliação por meio tecnologias digitais como positivas. As reflexões apontam para uma possível mudança de posicionamento, pois, no final dos excertos, vejo que ambas saem do papel social de aluna e assumem o de professora.

Nessa linha de pensamento, as discussões em sala colaboraram para influenciar as representações dos participantes, no sentido de ponderar sobre o quê consideravam ser o papel do professor, da tecnologia digital e também da avaliação, dado que, segundo Celani e Magalhães (2002), toda essa conjuntura contribuirá para as verdades que serão proferidas em dado momento e para as representações dos alunos.

O relato de Amélie também revela o quanto a futura professora aprendeu com a experiência:

Entendi agora a importância de se pensar a avaliação, porque não é somente uma coisa simples que podemos fazer, mas é algo que mexe profundamente com o sentimento de muitas pessoas, porque a avaliação determina o conhecimento das pessoas de alguma forma. Na verdade eu sei o que é você sentir que não sabe nada por causa do resultado de uma avaliação, eu já passei por isso quando eu estudava engenharia e lá eu me sentia deslocada o tempo inteiro, apesar de me esforçar muito,

ir pra faculdade e ficar fazendo exercícios, eu já chorei muito no banheiro da faculdade por pensar que eu era inútil e incapaz por causa do resultado de uma avaliação. Isso é uma questão que

109 O relato de Amélie demonstra o quanto a avaliação pode ser prejudicial na vida acadêmica do aluno. Apesar de haver várias discussões e pesquisas que mostram a necessidade de modificar a forma de avaliar, que provam que avaliações conteudistas e que servem apenas para fornecer nota não colaboram com a aprendizagem, ainda vemos relatos como os de Amélie. É preciso mudar esse cenário, é preciso criar uma nova cultura. Acredito que essa mudança deva começar nos cursos de formação de professores, dado que são esses professores pré-serviço que irão para a sala de aula.

Assim, para que casos como o de Amélie sejam cada vez mais raros, é preciso uma avaliação consistente com os objetivos de aprendizagem. Concordo com Kenski; Oliveira; Clementino (2014 [2006], p. 81), quando argumentam que

Ao contrário dos procedimentos avaliativos classificatórios, eminentemente coletivos e generalizantes, a avaliação formativa não procura meramente sancionar os erros, mas compreender suas ocorrências e causas, possibilitando ações pedagógicas consistentes, visando auxiliar a aprendizagem.

Assim, nesta seção, busquei mapear os conteúdos temáticos e compreender as representações dos futuros professores no que se refere à avaliação da aprendizagem e da integração de tecnologias digitais para avaliar. Foi possível notar, a partir da experiência e dos instrumentos de pesquisa, que os participantes refletiram bastante sobre o quê é ser professor, o quê é avaliar; alguns, como Eni, Estrela e Evelyn, que resistiram um pouco à proposta, refletiram e talvez ressignificaram seus posicionamentos.

Dessa maneira, a experiência de criar uma avaliação e avaliar os colegas mostrou aos participantes que ser professor não é uma tarefa fácil, não é apenas ministrar aulas, há todo um contexto histórico e também social ao qual o professor deve atentar em relação a seus alunos, como problemas de aprendizagem advindos do ensino médio, problemas pessoais, desinteresse em realizar as atividades, relações interpessoais. Os grupos passaram por todos esses problemas, o que, acredito, fortaleceu a constituição de suas identidades como professores.

Portanto, nesta seção, discorri sobre os conteúdos temáticos sobre avaliação da aprendizagem e tecnologias digitais para avaliar. Foi possível perceber que a constituição sócio-histórica dos futuros professores influencia muito em suas tomadas de posição. Contudo, alguns não se sujeitam a ela, notei que alguns, como Julia, refletiram e se

110 posicionaram sobre o que seja avaliar. Em decorrência disso, por meio do mapeamento das modalizações, pude compreender algumas representações dos futuros professores.

Na próxima seção, minha ênfase estará nas discussões realizadas em sala de aula, que ocorreram depois que todos fizeram e foram avaliados; quero compreender de que forma toda essa experiência contribuiu para a formação dos futuros professores.