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1. O BANCO DO BRASIL E SUA EDUCAÇÃO CORPORATIVA

2.5. APRENDIZAGEM DO ADULTO

Segundo o dicionário Houaiss (2001), adulto é aquele:

que atingiu o máximo do seu crescimento e a plenitude de suas funções biológicas; que ou quem se encontra na fase da vida posterior à juventude e anterior à velhice; que ou aquele que é emocionalmente maduro, que demonstra capacidade de agir, pensar ou realizar algo de maneira racional, equilibrada, sensata.

Para Alcalá (2000), diversos estudiosos da Andragogia2, denominam o adulto como aquela pessoa “capaz de: procriar, de assumir com inteireza responsabilidades sobre certos assuntos inerentes a vida social e de tomar decisões com plena liberdade”.

2 Segundo Cazau (2001), “la Andragogía y sus métodos: aprender a conocer, aprender a aprender, aprender a

hacer y aprender a ser, así como sus características, basado en el conocimiento útil, la experiencia y el funcionamiento psicológico del adulto en el entorno en que éste se desenvuelve y sus relaciones sociales con el

Todavia, o modelo pedagógico, aplicado também ao aprendiz adulto, persistiu através dos tempos chegando até o século presente e foi a base da organização do atual sistema educacional.

Por sua vez, esse modelo atribui ao professor responsabilidade total para tomar todas as decisões a respeito do que vai ser aprendido, como será aprendido, quando será aprendido e se foi aprendido. É um modelo centrado no professor, deixando ao aprendiz somente o papel submisso de seguir as instruções do professor.

Todavia, o modelo andragógico é baseado em vários pressupostos que são diferentes daqueles do modelo pedagógico:

a) A Necessidade de Saber. Os adultos têm necessidade de saber por que eles

precisam aprender algo, antes de se disporem a aprender. Quando os adultos se comprometem a aprender algo por conta própria, eles investem considerável energia investigando os benefícios que ganharão pela aprendizagem e as conseqüências negativas de não aprendê-lo.

b) Autoconceito do Aprendiz. Os adultos tendem ao autoconceito de serem responsáveis por suas decisões, por suas próprias vidas. Uma vez que assumem esse conceito de si próprio eles desenvolvem uma profunda necessidade psicológica de serem vistos e tratados pelos outros como sendo capazes de autodirecionar-se, de escolher seu próprio caminho. Eles se ressentem e resistem a situações nas quais sentem que outros estão impondo seus desejos a eles.

c) O Papel das Experiências dos Aprendizes. Os adultos se envolvem em uma atividade educacional com grande número de experiências, mas diferentes em qualidade daquelas da juventude. Por ter vivido mais tempo, ele acumula mais experiência do que na juventude. Mas também acumulou diferentes tipos de experiências. Essa diferença em quantidade e qualidade da experiência tem várias conseqüências na educação do adulto.

mundo circundante y sus intereses multidimensionales, con el fin de orientar el aprendizaje a la elaboración de productos, al trabajo interdisciplinario y a la posibilidad de generalizar.”

d) Prontos para Aprender. Adultos estão prontos para aprender aquelas coisas que

precisam saber e capacitar-se para fazer, com o objetivo de resolver efetivamente as situações da vida real.

e) Orientação para Aprendizagem. Em contraste com a orientação centrada no conteúdo própria da aprendizagem das crianças e jovens (pelo menos na escola), os adultos são centrados na vida, nos problemas, nas tarefas, na sua orientação para aprendizagem.

f) Motivação. Enquanto os adultos atendem alguns motivadores externos (melhor emprego, promoção, maior salário, etc.), o motivador mais potente são pressões internas (o desejo de crescente satisfação no trabalho, autoestima, qualidade de vida, etc.). Pesquisas de comportamento mostram que todos adultos normais são motivados a continuar crescendo e se desenvolvendo.

Alcalá Adolfo, em La praxis andragógica en los adultos de edad avanzada, define: a andragogia é a ciência e a arte que, sendo parte a Antropologia e estando imersa na Educação Permananente, se desenvolve através de uma prática fundamentada nos princípios da Participação e da Horizontalidade, cujo processo, orientado com características sinérgicas pelo Facilitador do aprendizado, permite incrementar o pensamento, a autogestão, a qualidade de vida e a criatividade do participante adulto, com o propósito de proporcionar uma oportunidade para que se atinja a autorrealização (ACALÁ, 2000).

Segundo Bruno (2007), é interessante tomarmos conhecimento de algumas correntes ideológicas que influenciam a educação de adultos, pelo fato delas apresentarem consequências diretas para o processo de aprendizagem em geral e do adulto em particular.

Segundo Federighi & Melo (1999, p. 15), podemos dividir tais influências de pensamento em duas abordagens:

a) Neo-liberal: “o contexto é propício à aquisição e a educação de adultos é vista

como um meio de possibilitar ao indivíduo, contribuir e participar no seu progresso”. Sob a influência de Knowles, o foco está na igualdade de oportunidades, cuja ênfase é dada à aprendizagem, como fenômeno de ordem psicológica, à responsabilidade individual pelo seu desenvolvimento e à educação, como fator decisivo para oferecer melhores condições a todos na sociedade;

b) Crítico-radical: “a educação contínua é considerada um meio de controle e de confirmação das relações de produção dominantes”. Sob a influência de Gramsci e Freire, a educação contínua é vista como uma forte possibilidade de promover mudanças estruturais nos processos educativos, à luz da dimensão interativa e transformadora, rumo à anti-hegemonia, agregando todos os movimentos sociais. Por sua vez, também podemos encontrar duas fortes tendências nas teorias que estudam o processo de aprendizagem de adultos (FEDERIGHI & MELO, 1999, p. 15-16), dividindo tais influências de pensamento em duas abordagens:

a) a primeira estuda o processo de aprendizagem a partir das funções e estruturas

internas do indivíduo na fase adulta e ao longo da vida, tendo como representantes Rogers, Maslow e Perls, da psicologia humanista, dando suporte ao modelo proposto por Knowles. Nesta abordagem, o vértice do autodesenvolvimento do indivíduo e a educação de adultos é um dos meios para o desencadeamento desse processo;

b) outra corrente se preocupa com a complexidade individual e coletiva deste processo, identificada como teoria crítica. A partir de uma abordagem interdisciplinar, preocupa-se com as dimensões socioculturais e históricas dos sujeitos, individual e coletivamente. Nesta vertente, a educação para o sujeito histórico a se transformar e a transformar o contexto social, por via do processo de conscientização. Tendo como um dos representantes principais Paulo Freire, que desenvolveu o conceito de conscientização, a aprendizagem é percebida pela sua dimensão transformadora, social.

A influência dessas correntes teóricas no fazer pedagógico é fato e, que por sua vez, se materializa no posicionamento de Fernández (1994), quando afirma que:

el trabajo define la Andragogía, a la vez que hace una breve reminiscencia del surgimiento del término. También se compara la Andragogía con la Pedagogía desde la perspectiva de conocimientos, habilidades y actitudes atribuibles a cada sujeto de estudio de ambas disciplinas. Se proporcionan a los docentes algunas indicaciones de cómo manejar situaciones de aprendizaje en adultos.

Eduard C Lindeman, foi um dos maiores contribuintes para a pesquisa da educação de adultos, através do seu trabalho "The Meaning of Adult Education" publicado em 1926. Quando Liderman estava pesquisando as melhores formas de educar adultos para a "American

Association for Adult Education" percebeu algumas impropriedades nos métodos utilizados e escreveu:

nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem inversa: assuntos e professores são os pontos de partida, e os alunos são secundários. [...] O aluno é solicitado a se ajustar a um currículo pré-estabelecido. [...] Grande parte do aprendizado consiste na transferência passiva para o estudante da experiência e conhecimento de outrem. (LINDEMAN, 1926, p. 8-9).

Mais adiante oferece soluções quando afirma que:

nós aprendemos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto aprendiz. Lança assim as bases para o aprendizado centrado no estudante, e do aprendizado tipo "aprender fazendo" (Ibid., p. 9-10).

A partir de 1970 , Malcom Knowles trouxe à tona as ideias plantadas por Lindeman. Publicou várias obras, entre elas "The Adult Learner - A Neglected Species" (1973), introduzindo e definindo o termo Andragogia - A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender. Daí em diante, muitos educadores passaram a se dedicar ao tema, surgindo ampla literatura sobre o assunto.

Segundo Moore e Kearsley (2007), embora existam cursos de EAD oferecidos a crianças em idade escolar para suplementar ou enriquecer o currículo em sala de aula, a maioria predominante dos alunos de educação a Distância é composta por adultos, com idades que variam entre 25 e 50 anos.

A constatação apresentada pelos autores acima, é esmagadoramente ratificada no ambiente da Educação Corporativa, tendo em vista que totalidade dos alunos de EAD nesse contexto é adulta. Dessa forma, se faz necessário uma compreensão do processo de aprendizagem de adultos bem como considerar algumas das características e dimensões do aprendizado a Distância, para o atingimento dos objetivos deste trabalho.

Mas, de que adulto estamos nos referindo nesse trabalho? Como já explicitado anteriormente, o foco central dos estudos ora desenvolvidos envolvem a aprendizagem do adulto: não necessariamente o adulto em processo de alfabetização, mas o adulto em constante transformação.

A partir das visões desses autores com relação às percepções que é ser um adulto e todo um conjunto de aspectos e características que o cerca, é possível caminhar no processo investigatório, considerando seu processo de aprendizagem em ambiente de EAD.

Dessa forma, a compreensão da natureza do aprendizado dos adultos constitui fundamento valioso para mergulhar no universo do aluno a Distância. Para isso, se faz necessário adotar como referência comparativa a Tabela 2 abaixo, onde Malcom Knowles aborda essas questões:

Modelo Pedagógico Modelo Andragógico

Papel

da Experiência

A experiência daquele que aprende é considerada de pouca utilidade. O que é importante, pelo contrário, é a experiência do professor.

Os adultos são portadores de uma experiência que os distingue das crianças e dos jovens. Em numerosas situações de formação, são os próprios adultos com a sua experiência que constituem o recurso mais rico para as suas próprias aprendizagens.

Vontade de Aprender

A disposição para aprender aquilo que o professor ensina tem como fundamento critérios e objetivos internos à lógica escolar, ou seja, a finalidade de obter êxito e progredir em termos escolares.

Os adultos estão dispostos a iniciar um processo de aprendizagem desde que compreendam a sua utilidade para melhor afrontar problemas reais da sua vida pessoal e profissional.

Orientação da Aprendizagem

A aprendizagem é encarada como um processo de conhecimento sobre um determinado tema. Isto significa que é dominante a lógica centrada nos conteúdos, e não nos problemas.

Nos adultos a aprendizagem é orientada para a resolução de problemas e tarefas com que se confrontam na sua vida cotidiana (o que desaconselha uma lógica centrada nos conteúdos)

Motivação

A motivação para a aprendizagem é fundamentalmente resultado de estímulos externos ao sujeito, como é o caso das classificações escolares e das apreciações do professor.

Os adultos são sensíveis a estímulos da natureza externa (notas, etc), mas são os fatores de ordem interna que motivam o adulto para a aprendizagem (satisfação, auto-estima, qualidade de vida,, etc)

Tabela 2: Pedagogia x Andragogia – Comparações

Fonte: http://www.andragogia.com.br/#menu. Acessado em 23/10/2009

Por sua vez, para Moore e Kearsley (2007, p. 173), “a teoria de educação de adultos, de Malcolm Knowles (1990), denominada andragogia (a arte e a ciência de ajudar os alunos a aprender), pode ser reduzida às seguintes proposições, expressas como diferenças entre adultos e crianças”:

Embora as crianças aceitem ser dependentes de um professor, os adultos apreciam sentir que tem algum controle sobre o que está acontecendo e ter responsabilidade social.

Embora as crianças aceitem a indicação do professor a respeito do que deve ser aprendido, os adultos preferem eles mesmos definir isso ou pelo menos ficar convencidos de que isso é relevante para suas necessidades.

As crianças aceitam as decisões do professor relativas a como aprender, o que fazer, quando e onde. Os adultos apreciam tomar tais decisões sozinhos ou pelo menos ser consultados.

Embora as crianças possuam pouca experiência pessoal em que se basear, os adultos tem muita vivencia e gostam de utilizá-la como um recurso de aprendizado.

As crianças precisam adquirir um conjunto de informações para uso futuro. Os adultos supõem que possuem as informações básicas ou precisam adquirir o que é relevante em termos imediatos. Em vez de adquirirem conhecimento para o futuro, eles encaram o aprendizado como necessário para resolver problemas no presente. As crianças podem precisar de motivação externa para estudar; os adultos que geralmente se apresentam de modo voluntário para aprender tem motivação intrínseca.

Não basta apenas, portanto, o envolvimento do ser humano na esfera do “pensar”, através de estímulos lógicos e racionais. É necessário o envolvimento na esfera do “sentir”, proporcionando estímulos interiores e emocionais. Desta forma, o sentir estimula o “querer”, transformando em vontade e ação.

Portanto, a aprendizagem deve ser desencadeada a partir de situações estimuladoras que possibilitem aos sujeitos desse processo agirem como responsáveis por solucionar problemas decorrentes de suas experiências como alunos.

Os processos de ensino e aprendizagem, apesar de independentes, estão inter- relacionados, onde dele fazem parte os sujeitos que recursivamente interagem num processo de construção, desconstrução, reconstrução e co-construção do conhecimento, onde os atores envolvidos nesse universo, considerando seu papel de atuação, compartilham suas experiências e vivências em congruência como o meio.

Tendo como ponto de partida as questões teóricas aqui apresentadas, inclusive, com relação aos aspectos e enfoques convergentes e divergentes dessa alternativa, aprofundaremos um pouco mais os conceitos e teorias relacionadas ao tema de Educação a Distância e suas abordagens que, na percepção do pesquisador, marcam essa temática.

CAPÍTULO III