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Aprendizagem nos espaços não ou menos formais de educação

3 POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA E DA ASTRONOMIA

3.9 Aprendizagem nos espaços não ou menos formais de educação

Nas últimas décadas, os museus e os centros de ciências têm procurado se estabelecer como importantes componentes na cadeia de educação dos cidadãos, e pesquisas têm mostrado que, de um ponto de vista pedagógico, suas potencialidades para atingir esse objetivo são enormes (MARANDINO, 2001).

A visita a esses espaços, quando de forma voluntária, é caracterizada pela liberdade, pois é o visitante que escolhe o roteiro a ser seguido, movido por seu desejo e curiosidade. Quando a visita se dá por instituições do sistema formal de educação, geralmente os estudantes são reunidos em grupos, e a liberdade fica restringida. De um modo ou de outro, a aprendizagem nesses espaços se dá de forma ativa e individualizada, pois as pessoas que os frequentam trazem diferentes conhecimentos anteriores, experiências, atitudes e interesses. Outra característica é que a aprendizagem se dá de forma espontânea, uma vez que não há avaliações nem competição (SAAD, 1998).

Hoje, cada vez mais, tem-se buscado a integração desses espaços de educação não formal com a educação formal, pois, de acordo com Vieira, Bianconi e Dias (2005), essa integração permite que se atenuem algumas das carências materiais das escolas, como ausência de laboratórios e de recursos áudio-visuais, importantes instrumentos para estimular o aprendizado. Se essa integração for bem estruturada, os espaços não formais de ensino podem auxiliar de forma significativa a educação formal.

Concordando com essa afirmação, Barrio (2002) comenta que os planetários em particular têm grande valor educativo e que, para potencializá-los, é necessário existir conexão entre os objetivos propostos e os conteúdos estudados nas escolas e os das sessões dos planetários, o que pode ser conseguido por meio de uma comunicação constante entre os professores e os profissionais dos planetários.

Para Saad (1998), a colaboração das instituições de educação não formal para com o ensino formal pode ocorrer de diversas formas, como por meio da proposição de situações e/ou experimentos interativos, desafiadores e atraentes para os alunos, apresentando exposições periódicas sobre temas científicos, sejam os mais avançados no momento ou fazendo o histórico da sua evolução, organizando um conjunto de experimentos que possam ser acessados pelas escolas, oferecendo apresentações dinâmicas e interativas de experimentos científicos capazes de atingir o emocional dos espectadores, oferecendo cursos de atualização para professores, entre outras atividades.

Também podem auxiliar em situações especiais, impossíveis de serem realizadas na escola. Por exemplo, a possibilidade proporcionada pelos planetários de colocar o estudante

numa situação de imersão total no ambiente é algo irrealizável por outros meios, desde livros até computadores. E o estudo da Astronomia, uma ciência muito ligada à observação, empobrecido quando limitado aos livros, ganha dimensões muito mais amplas, quando se simulam fenômenos celestes nos planetários.

Mas a tarefa das instituições não formais de educação é popularizar a ciência e não podem assumir um papel que é da escola. Não se pode justificar a ausência de laboratórios, de material didático de apoio ou de acervos nas bibliotecas, contando com a atuação das instituições de educação não formal. A função dessas instituições não é competir com as escolas nem substituir o ensino formal. Não se aprende ciências apenas frequentando museus e centros de ciências. Seus equipamentos entusiasmam o público, tornam o aprendizado mais dinâmico, mas não possibilitam a dedicação e o exercício necessários à estruturação do pensamento científico. Seu papel é complementar ao ensino formal, pode ser tanto um instrumento motivador quanto pedagógico, mas seu principal objetivo deve ser estimular a curiosidade das crianças e revivê-la nos adultos (ROW, 1998). Talvez seja justo complementar essas assertivas lembrando que, igualmente, não se aprende ciências apenas frequentando aulas...

Na tentativa de atrair grande quantidade de visitantes, as instituições não formais de educação não podem, entretanto, optar demasiadamente pelo espetáculo, não podem se transformar apenas em locais de diversão científica. É fundamental explicar os conceitos, mostrar como as teorias foram elaboradas, que são construções humanas e, por isso, desenvolvidas sob crenças e condições sociais de uma determinada época. Mostrar que a ciência e a tecnologia podem contribuir ou até desencadear transformações sociais, podem melhorar a qualidade de vida da população, desde que todos os segmentos sociais sejam beneficiados por seus resultados.

Nessa linha, Barrio (2002) discorre sobre o conhecimento astronômico que é apresentado ao público nos planetários. Afirma que há uma opção dominante pelo quê, sendo o como muito pouco explorado e o porquê quase totalmente ausente. Comenta que para conciliar esses três aspectos é necessário articular as visitas ao planetário com os momentos de educação formal, destacando que as primeiras não devem ser esporádicas, sem continuidade.

Isso seria factível se as visitas aos planetários fossem algo rotineiro durante a vida escolar dos alunos, o que não é o caso no nosso país. Além de serem pouquíssimos, os planetários brasileiros, em grande parte, são de pequeno porte e localizam-se nas capitais ou em cidades com grande concentração populacional, o que dificulta a visita por alunos

residentes em regiões distantes destes grandes centros. Mesmo as escolas mais próximas encontram dificuldades, uma vez que o número de escolas é muito grande, congestionando a agenda de visitas e tornando inviáveis vários retornos aos planetários.

Dadas essas dificuldades, o mais comum é os alunos assistirem a uma única sessão no planetário por ano, ou ainda uma única durante toda a Educação Básica e quiçá uma única vez na vida, de modo que não há atualmente como manter o relacionamento entre os planetários e o ensino formal sugerido por Barrio (2002). Assim, torna-se necessário aproveitar ao máximo as pouquíssimas, quando não única, visitas aos planetários realizadas pelos estudantes.

Para isso, deve-se considerar as dimensões dos planetários, que podem ser separados em dois grupos com relação à sua capacidade de acomodação do público: os pequenos, quando abrigam dezenas de pessoas, e os grandes, com capacidade para centenas de assistentes. Matsuura (2007) os compara, respectivamente, a capelas e catedrais, e considera que nos primeiros deva ocorrer uma apresentação mais pessoal e intimista, uma vez que o apresentador mantém um contato mais próximo com o público e, muitas vezes, tem oportunidade de operar manualmente o equipamento de projeção, o que permite maior flexibilidade na apresentação, adaptando-a ao comportamento do público.

Quanto aos grandes planetários, o autor considera que neles as sessões devam ocorrer de forma mais solene e impessoal, tendendo mais para o espetáculo do que para a aula, privilegiando mais o lado emocional e menos o conhecimento racional. A amplidão do ambiente favorece esta posição, uma vez que coloca o espectador em uma situação de imersão que reproduz de forma bastante eficaz o meio real.

Qualquer que seja o tamanho do planetário, as apresentações deveriam procurar seguir a escala de prioridade para o tipo de interatividade desejável proposta por Wagensberg (2000). A interatividade hands-on, considerada conveniente, não se aplica nas sessões de cúpula dos planetários, uma vez que não há como o visitante tocar e manipular algo durante as apresentações. A interatividade minds-on deve então ser a mais importante, que poderá ser atingida se existir a hearts-on como suporte.

As apresentações precisam então buscar imagens e sons que causem impactos no público. Os textos deveriam abranger uma gama restrita de temas, evitando o excesso de informações e procurando cativar e envolver o público, explorando o fascínio natural que a visão de um céu estrelado proporciona à maioria das pessoas.

Nessa linha, Santos Junior, Klafke e Falcão (1999) afirmam que nas atividades em que as pessoas estão em lazer, o que é a situação mais comum nos grandes planetários, não se deve ter por objetivo que as pessoas compreendam de forma clara, imediata e direta os

conceitos a elas apresentados, mas tentar proporcionar-lhes um lazer cultural que seja capaz de provocar reflexões e inquietações sobre os problemas apresentados de modo a despertar- lhes a curiosidade sobre o assunto e induzi-la a buscar esses conhecimentos por sua própria vontade.

Embora as propostas se refiram especificamente às apresentações para o público em geral e nos grandes planetários, consideramos que também devam ser seguidas nas apresentações para grupos de alunos e nos pequenos planetários, já que, por muitas vezes, será a única visita a esses espaços.