• Nenhum resultado encontrado

TABELA DE EVENTOS

3.1.3 Apresentação e Escolha das Alternativas de Tratamento Local de Efluentes Sanitários às Famílias

A reunião com as famílias do Assentamento Rural Sepé-Tiaraju para escolha do sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais ocorreu no dia 29 de agosto de 2006, na escola do assentamento. A atividade foi desenvolvida com o respeito à subdivisão em núcleos pré-existente no assentamento para definição dos grupos que participariam da apresentação. Foram divididos em dois grupos: no período da manhã a reunião realizou-se com os núcleos Chico Mendes e Paulo Freire e no período da tarde com os núcleos Dandara e Zumbi dos Palmares.

Ambas as reuniões iniciaram-se com a apresentação da moderadora da atividade (autora do presente estudo) que explicou resumidamente a necessidade pela qual deveria ser realizada a escolha do sistema de tratamento de efluentes sanitários naquele momento. O motivo principal era que o sistema, por suas dimensões e características, interfere na locação da casa e no zoneamento do lote.

Mostrou-se, por meio de imagens e fotos, cada um dos sistemas (alternativas) com suas principais características, questionando-se quais informações (variáveis) de cada sistema as famílias desejavam saber, para elaborar o quadro de comparação com as famílias. Procurava-se não utilizar termos técnicos e adaptar a linguagem à compreensão das famílias.

Foram colocadas lado a lado, em um papel Kraft fixado na parede, as 6 diferentes alternativas pré-definidas. A medida que as perguntas (variáveis) que as famílias faziam eram respondidas, escreviam-se as informações em cartelas, que eram coladas abaixo de cada alternativa, montando o quadro de comparação de alternativas x variáveis juntamente com as famílias. A variável mais questionada era o custo do sistema, seja de construção, manutenção e operação, seguido pelas formas de operação e manutenção.

O tempo curto para apresentação impossibilitou maiores detalhamentos de cada sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais. Ao final da apresentação as famílias decidiriam qual o sistema que seria construído. Não foi imposto que deveria ser somente naquele momento, poderia fazê-lo no dia seguinte, quando seria realizada a pré-locação das habitações em cada lote, de forma a possibilitar a tomada de decisão mais consciente e discutir com as outras famílias.

Em ambas as reuniões as famílias demonstraram aversão ao sistema que utiliza o banheiro seco, alegando que não gostariam de manipular o material compostado. Um morador afirmou durante a reunião: “Nós temos cocofagia”. Apenas três pessoas se interessaram por este sistema e quiseram explicações. Porém devido a dificuldade em assessorar a construção de diferentes sistemas de tratamento, as famílias deveriam decidir por apenas uma alternativa para tratamento de águas negras e outra para tratamento de águas cinzas. Com relação ao banheiro seco, a equipe de assessoria técnica prestaria ajuda para busca de informações de como construir este sistema.

Foi apresentada na reunião a possibilidade de reutilização da água efluente do sistema e do lodo formado nas unidades de tratamento. Essa informação foi importante para definição das alternativas que foram apresentadas, pois ela irá garantir maior sustentabilidade no sistema, fechando-se o ciclo do efluente, com seu reaproveitamento. Sabe-se que a utilização da água efluente e do lodo formado traz diversas vantagens aos sistemas, principalmente a economia no uso de água e fertilizantes na agricultura, principal atividade econômica em um assentamento rural.

As famílias questionaram sobre as formas para utilização da água efluente e do resíduo sólido formado. Explicou-se que este efluente poderia ser utilizado para irrigação de pomares, mas deveria ser evitado em hortaliças porque o contato direto do efluente com as plantas e com as pessoas poderá acarretar em algum tipo de contaminação.

O resíduo sólido (lodo) poderia ser transformado em condicionante de solo e aplicado nas culturas. Para isso é necessário que ele passe pelo processo de compostagem para sua estabilização, processo o qual as famílias seriam capacitadas para executar.

Também questionaram sobre o sistema desenvolvido pela EMBRAPA para o tratamento de esgoto, que não foi apresentado, pois o custo de implantação superava o valor

de R$ 1.000,00 estipulado. Outros quiseram esclarecimentos sobre o uso de biodigestores, que também não foi apresentado pelo mesmo motivo anterior

Durante a reunião do período da tarde uma moradora questionou porque o sistema de tratamento de esgoto não poderia ser igual ao da cidade, em que afirmou disse: “não dá pra se como na cidade em que aperta um botão e vai tudo embora?”. Isso demonstra a falta de preocupação da população com o destino de nossos dejetos, que ao efluente sair da edificação o problema deve ser solucionado pelo poder público e deixa de ser mais uma preocupação individual. As figuras 3.2 a 3.5 apresentam imagens da reunião com os 4 núcleos do assentamento.

      

FIGURA 3. 2- Reunião com as famílias dos núcleos Paulo Freire e Chico Mendes (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 3. 3- Reunião com as famílias dos núcleos Dandara e Zumbi dos Palmares (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 3. 4- Apresentação dos sistemas de tratamento de efluentes sanitários residenciais de forma participativa (fonte: Habis, 2006).

(a) (b)

FIGURA 3. 5- a-) Quadro de comparação elaborado com a participação das famílias. b-) morador analisando imagens das alternativas de tratamento de efluentes sanitários (fonte: Habis, 2006).

As figuras 3.2 a 3.5 mostram as pessoas participando das reuniões, analisando as imagens dos sistemas de tratamento de esgoto e os materiais utilizados na dinâmica. Para avaliar as reuniões com os núcleos e os resultados obtidos foram utilizados como fontes de evidências os relatos efetuados no momento das reuniões, os registros em filmes e fotos, com a transcrição das falas das pessoas, as conversas informais com as famílias no período posterior à reunião e a minha observação como participante.

Algumas famílias optaram pelos sistemas no momento da reunião e outras no dia da pré-locação das habitações no lote. Elas decidiram pelo uso de fossas sépticas com círculo de bananeiras ou vala de infiltração porque havia moradores no assentamento que já utilizaram este sistema e verificaram que é viável e de fácil manutenção e convenceram os demais a escolher este sistema. Neste caso foi permitido o uso de dois sistemas porque eles são semelhantes. Ambos utilizam a fossa séptica e a destinação final é pouco diferenciada, o que permite assessoria aos sistemas.

Em ambas as reuniões não houve escolha do sistema de tratamento de águas cinzas, umas vez que não compreenderam que tinham que opinar por dois sistemas de tratamento. Apesar de questionadas sobre qual sistema de tratamento de águas cinzas escolheriam, ninguém emitiu opinião e foi acordado que no dia de locação do sistema no lote elas deveriam ter definido este sistema.

No assentamento, as instâncias de decisões em reuniões são tomadas pela maioria e acatadas pelos que não estiveram presentes. É uma regra estabelecida entre os núcleos e respeitou-se a prática nas reuniões de escolha do sistema de tratamento de esgoto.

Outro fator que determinou a escolha dos sistemas foi a possibilidade de produção de alimentos, com o reuso da água efluente e do resíduo sólido resultante. Uma vez que se trata de agricultores familiares, a redução de custos com a compra de fertilizantes e no uso de água é importante.

Do total de pessoas participantes, em torno de 8 pessoas compreenderam com certeza o que foi explicado e sabiam realmente por qual sistema estavam decidindo, principalmente porque conheciam determinado sistema. Os demais presentes acreditaram nessas pessoas e decidiram junto com elas. A ausência de um tempo maior para a atividade acarretou na baixa participação das pessoas. Os problemas identificados nas reuniões são apresentados no próximo item.

3.4

I

DENTIFICAÇÃO DE

P

ROBLEMAS NAS

R

EUNIÕES COM AS

F

AMÍLIAS DO

A

SSENTAMENTO

R

URAL

S

EPÉ

-T

IARAJU

Para auxiliar a identificação dos problemas foram utilizados os relatos das reuniões e as gravações em vídeo. No momento da atividade eram redigidas as “PPT”s (Planilha de Perguntas Transversais) que consiste em um relato elaborado juntamente com a atividade, em que são registradas as falas das pessoas envolvidas na atividade, os materiais que utilizados e como ocorre a reunião, como fonte de evidência para elaboração de estudos sobre processos participativos. Ao final o relator (indicado na PPT) faz uma avaliação da atividade. O anexo B e C traz as “PPT”s desenvolvidas de cada uma das reuniões. O quadro 3.13 traz a síntese das reuniões com os núcleos, com o número de pessoas presentes, a dinâmica utilizada, os resultados e os problemas identificados.

QUADRO 3. 13- Resumo das atividades de reunião com os núcleos Paulo Freire, Chico Mendes, Dandara e Zumbi.

Atividade Nº Pessoas Dinâmica Utilizada Resultados Problemas Identificados

Reunião com núcleos Paulo Freire e Chico

Mendes 25

- explicação do fluxo da água na edificação.

- apresentação dos sistemas com uso de imagens e cartelas.

- elaboração de quadro de comparação com as famílias.

- determinação das variáveis por meio de questionamento das informações que as famílias desejavam saber.

- esclarecimento de dúvidas. - questionamento da decisão.

- definição do sistema:

- tratamento águas cinzas: não definido.

- tratamento de águas negras: fossa séptica e círculo de bananeiras ou fossa séptica e vala de infiltração.

- participação efetiva de cerca de 3 pessoas. - aumento do interesse em sistemas de tratamento de esgotos.

- aumento da compreensão sobre os sistemas existentes.

- aumento do conhecimento sobre técnicas mais sustentáveis

- aumento do conhecimento sobre técnicas de reuso de água efluente e lodos dos sistemas de tratamento.

- baixa presença das famílias. - participação de poucas pessoas.

- tempo insuficiente para explicação e maiores detalhamentos.

- falta de conhecimento de outras técnicas de tratamento de efluentes sanitários.

- falta de interesse em aplicar técnicas alternativas que alterem significativamente o sistema tradicional (ex: uso de banheiro seco). - falta de informação sobre tratamento de esgoto.

Reunião com núcleos Dandara e Zumbi dos

Palmares 30

- explicação do fluxo da água na edificação.

- apresentação dos sistemas com uso de imagens e cartelas.

- elaboração de quadro de comparação com as famílias.

- determinação das variáveis por meio de questionamento das informações que as famílias desejavam saber.

- esclarecimento de dúvidas. - questionamento da decisão.

- definição do sistema:

- tratamento águas cinzas: não definido.

- tratamento de águas negras: fossa séptica e círculo de bananeiras ou fossa séptica e vala de infiltração.

- participação efetiva de cerca de 5 pessoas. - aumento do interesse em sistemas de tratamento de esgotos.

- aumento da compreensão sobre os sistemas existentes.

- aumento do conhecimento sobre técnicas mais sustentáveis

- aumento do conhecimento sobre técnicas de reuso de água efluente e lodos dos sistemas de tratamento.

- baixa presença das famílias. - participação de poucas pessoas.

- tempo insuficiente para explicação e maiores detalhamentos.

- falta de conhecimento de outras técnicas de tratamento de efluentes sanitários.

- falta de interesse em aplicar técnicas alternativas que alterem significativamente o sistema tradicional (ex: uso de banheiro seco). - falta de informação sobre tratamento de esgoto.

Este quadro mostra que os resultados e os problemas identificados em ambas as reuniões foram os mesmos. Isso decorreu do tempo insuficiente para a realização da atividade, da baixa presença de famílias e pouco interesse em discutir ações de saneamento.

As famílias também não optaram pelo sistema de tratamento de águas cinzas, uma vez que não houve a compreensão de que se tratava de dois sistemas de tratamento de efluentes. Até o presente momento não houve a construção do sistema de tratamento local de efluentes em todas as habitações do assentamento, porém as famílias estão cada vez mais interessadas nos sistemas e sempre que a equipe técnica está presente no local, procuram tirar as dúvidas e compreender seu funcionamento e manutenção.

3.5

M

UDANÇAS

P

ERCEBIDAS APÓS O

P

ROCESSO

P

ARTICIPATIVO PARA

E

SCOLHA DE

S

ISTEMA DE

T

RATAMENTO DE

E

FLUENTES

S

ANITÁRIOS

MAIS

S

USTENTÁVEIS

No Assentamento Rural Sepé-Tiaraju verificou-se o uso predominante de fossas negras. Poucas famílias utilizam o sistema de fossa séptica e sumidouro. A escolha por essas alternativas se deve ao seu baixo custo, facilidade de construção e o desconhecimento de outras técnicas pelas pessoas. O debate da sustentabilidade também poucas vezes é abordado e conhecido pelas famílias do assentamento. Ao se propor a escolha de alternativas de tratamento de efluentes sanitários mais sustentáveis, torna este debate mais acessível e as pessoas mais conscientes com relação ao mesmo.

A mudança de comportamento foi percebida pela atitude das famílias em requisitar da equipe de assessoria técnica auxílio para a definição do sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais a ser construído no assentamento, como forma alternativa aos sistemas por eles adotados (fossa negra ou fossa séptica com sumidouro), possibilitando o conhecimento de outras tecnologias que trazem mais benefícios às famílias.

Algumas fossas negras construídas no assentamento estão em seu estado limite de utilização, o que demanda a construção de uma nova unidade. Seria ideal a troca das fossas negras pelo sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais definidos pelas famílias.

Após o processo de escolha do sistema de tratamento de efluentes sanitários, as famílias estão cada vez mais interessadas em conhecer os detalhes dos sistemas e discutir as formas de reuso da água efluente e do lodo proveniente, de modo a incrementar a produção de alimentos e a geração de renda. Apesar de não compreenderem o significado da sustentabilidade, suas ações encaminham para a sua obtenção.

Esse processo permitiu que as pessoas pudessem ter acesso a técnicas não convencionais e conhecer as características, possibilitando a comparação entre o novo sistema com o usualmente utilizado. Indiretamente, as famílias fazem uma análise da sustentabilidade dos sistemas, sobre seus pontos de vista e conseguem questionar a sua realidade.

A participação das famílias para escolha do sistema de tratamento de esgoto é um processo que está ocorrendo e não foi finalizado no momento da reunião. As famílias continuam interessadas em conhecer o sistema e esclarecer as dúvidas. A hipótese que surgiu

é que no momento da execução do sistema, a participação de todos do assentamento seja intensificada.

3.6

P

ROPOSTA DE

E

STRATÉGIAS PARA

E

XECUÇÃO DO

S

ISTEMA DE

T

RATAMENTO DE

E

FLUENTES

S

ANITÁRIOS

R

ESIDENCIAIS

Para iniciar a construção do sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais no Assentamento Rural Sepé-Tiaraju foi preciso discutir com as famílias as estratégias para essa finalidade. Isso se deve ao fato de que as famílias já se mudaram para habitações que estão cobertas e necessitam da construção do sistema, pois desejam utilizar água nessas edificações.

A estratégia inicial era que o sistema apenas seria construído quando todas as habitações do assentamento estivessem cobertas. Em virtude dos diferentes cenários de construção apresentados no assentamento foi preciso discutir novas estratégias para esta finalidade. A seguir será apresentada a estratégia proposta para experimentação em uma residência do assentamento.

3.6.1 Estratégia Inicial para Experimentação do Sistema de

Outline

Documentos relacionados