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PESQUISA-AÇÃO PARTICIPATIVA

CARÁTER HISTÓRICO

8- Controle dos cidadãos: as pessoas assumem o controle do poder dos processos de

tomada de decisão.

Os autores mostram uma gradação de uma situação de não participação até a autogestão, ou seja, o poder passa a ser controlado pelas próprias pessoas. As escalas se complementam, de forma que a “Escala de Arnstein” representa uma visão mais politizada, focada no poder público e político, se comparada com os níveis propostos por Bandeira, com uma abordagem generalista.

Apesar de diversos avanços com relação ao incentivo à participação popular nos processos de tomada de decisão, esta ainda é pequena. No Brasil, o grande problema para intensificação da participação popular nesses processos é o nosso passado colonial, ainda com reflexos da cultura do autoritarismo. Outra dificuldade é a falta de informação das pessoas para sustentar um debate objetivo, que muitas vezes é distorcido pela imprensa, proporcionando interpretações errôneas da realidade (CARVALHO, 1998).

Os limites da participação popular são (BANDEIRA, 1999):

• As questões necessitam de abordagens diferenciadas, ou seja, de acordo com a realidade local e a necessidade, por exemplo, efetuar consultas demoradas para situações que exijam decisões urgentes e que acarretem riscos à população;

• A qualidade das decisões de processos participativos sempre depende do grau de capacitação dos envolvidos para identificar as soluções adequadas à sua realidade e ao problema;

• Processos mal concebidos ou implementados levam a resultados inadequados e resultam em descrença nas práticas participativas.

De acordo com Mendonça (2007), o fortalecimento da participação está relacionado aos interesses coletivos e às posições de poder dos formadores de opinião (interessados). Para viabilizar a participação é necessário acesso às informações, reciprocidade e confiança entre grupos e redes de relacionamentos entre os autores.

Já Jacobi (1996) diz que um dos desafios que se coloca à participação é propor alternativas às práticas de gestão em que o peso da participação popular seja referencial para questionamento dos problemas da administração pública. Outro desafio é romper com a lógica clientelista que prevalece na relação Estado e sociedade (relação de poder), com a criação de espaços públicos e democráticos para incentivar a participação.

Na afirmação acima se observa a questão da relação de poder, outro debate recente: o debate do empoderamento. Essa discussão iniciou-se também na década de 70, apresentando a palavra poder como conceito central para definir os processos de desenvolvimento, o que caracteriza a palavra como um conceito de transformação social.

Oakley e Clayton (2003) discutem a questão do empoderamento. Eles afirmam que o processo de empoderamento busca a reduzir as disparidades de poder entre os grupos socioeconômicos, aumentando seu poder para que todos possam se beneficiar de seu uso de modo formal ou informal. Os autores apresentam dois tipos de poder:

• “Poder, no sentido de transformação radical e confrontação entre os que têm e os que não têm poder, como a dinâmica crucial das mudanças sociais. Esta interpretação argumenta que somente nos centralizando nos padrões de mudança existentes e aplicando-os, será possível uma mudança significativa.

• Poder no sentido usado por Paulo Freire, como um aumento da conscientização e desenvolvimento de uma “faculdade crítica” entre os marginalizados e oprimidos. Este é o poder de “fazer” e de “ser capaz”, bem como de sentir-se com mais capacidade e no controle das situações. Refere-se ao reconhecimento das capacidades de tais grupos para agir e desempenhar um papel ativo nas iniciativas de desenvolvimento. Implica superar décadas de aceitação passiva e fortalecer as habilidades de grupos marginalizados para que se envolvam como atores legítimos no desenvolvimento” (OAKLEY e CLAYTON, 2003, p.10).

Ambas as explicações mostram interpretações distintas sobre o empoderamento. A segunda interpretação se aproxima mais do que se busca para promover a participação da sociedade, por meio de processos de tomada de decisão, de modo a dar poder aos grupos menos favorecidos da sociedade. O poder define as relações econômicas e sociais e influencia qualquer intervenção que se deseja fazer no contexto atual. É preciso aumentar o poder das pessoas para que elas sejam incentivadas a ampliar ações de participação nos processos decisórios.

A participação é um instrumento para promover a interação entre atores sociais, de modo a promover a cidadania ativa e o aumento do conhecimento pelo acesso às informações. A questão que se coloca é: a participação das pessoas busca uma maior

sustentabilidade nos processos de tomada de decisão, por meio do acesso às informações e conhecimentos para embasar a discussão de questões de interesse coletivo, para tomar decisões adequadas à realidade em que vivem e que beneficiem a todos?

Outra questão que surge: como incrementar a participação popular de baixa

renda nos processos decisórios nas questões de interesse coletivo?

A participação das pessoas é importante para garantir mais sustentabilidade nos processo de tomada de decisão, como abordado nesta discussão. Porém ela ainda precisa ser trabalhada e incentivada. Processos participativos em ações de saneamento ambiental são

quase inexistentes pela ausência de incentivos a esta prática e de preocupação da população com relação a essa questão. Poucos autores abordam processos participativos em assentamento rurais sobre saneamento ambiental, por isso a importância desse debate.

É preciso compreender a dinâmica dos sistemas de saneamento na realidade brasileira, que é agravada pelas discrepâncias entre as classes sociais para compreender a relação entre sustentabilidade, processos participativos e saneamento ambiental.

1.5

S

ISTEMAS DE

S

ANEAMENTO

A

MBIENTAL

:

A

LGUNS

A

SPECTOS DA

R

EALIDADE

B

RASILEIRA

A situação dos sistemas de saneamento ambiental no Brasil é precária e apresenta disparidades entre a zona rural e urbana e entre a população de alta e baixa renda, verificado nos dados que serão apresentados. A ausência desses sistemas traz diversos prejuízos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população, o que demanda estudos acerca do tema para identificar alternativas.

Para isso é necessário compreender o conceito de saneamento ambiental. Há alguns anos era utilizada a denominação de saneamento básico para abordar questões relativas principalmente ao abastecimento de água e esgotamento sanitário. Depois foi incorporado ao conceito de saneamento básico o sistema de drenagem urbana e o sistema de resíduos sólidos. Atualmente percebeu-se que as ações de saneamento englobam mais áreas além das anteriormente citadas, como o controle da poluição, controle de doenças, qualidade ambiental, entre outros que se denominou de saneamento ambiental.

Neste trabalho será abordado o conceito de saneamento ambiental proposto pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), que pode ser definido como:

“é o conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar salubridade ambiental (estado de higidez em que vive a população rural e urbana), por meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural” (BRASIL, 2006).

Pode-se perceber que o principal objetivo das ações de saneamento ambiental é melhorar as condições de vida da população tanto urbana quanto rural, e proteger o meio ambiente. Mas o cenário dos sistemas de saneamento para o Brasil é alarmante, uma vez que os investimentos neste setor foram insuficientes nos últimos anos.

Dados do IBGE de 2000 mostram que no Brasil, 95% da população urbana têm acesso a redes de abastecimento de água. Mas há discrepâncias entre as classes sociais, principalmente porque a ausência de cobertura de água encanada entre a população de baixa renda é de 35%. Ao se comparar a situação da zona urbana com a zona rural os dados são mais críticos, uma vez que apenas 9% da população rural é abastecida por redes de água, enquanto o restante da população faz uso de poços e nascentes para fornecer a água necessária, nem sempre com qualidade adequada para esta finalidade.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, “... a falta de saneamento ambiental é causa de 80% das doenças e 65% das internações hospitalares, implicando gastos de U$ 2,5 bilhões. Estima-se que a ampliação de 1% da cobertura sanitária da população de 01 a 05 salários mínimos reduziria em 6,1% as mortes de infância”.

Dados do IBGE de 2005 mostram que aproximadamente 329 internações hospitalares a cada 100.000 habitantes são causadas por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (doenças de transmissão feco-oral, transmitidas por inseto vetor, transmitidas através do contato com água, relacionadas com higiene, geo-helmintos e teníases). Para o estado de São Paulo este número é de 99 internações hospitalares a cada 100.000 habitantes.

De acordo com Neri (2007), as principais vítimas da ausência de sistemas de coleta de esgoto são as crianças de 1 a 6 anos, que apresentam uma probabilidade de 32% de falecerem por doenças causadas pela ausência de redes de esgoto. Em mulheres grávidas há um aumento de 30% da chance de seus filhos nascerem mortos nas localidades onde não há sistemas de coleta de esgoto.

Há diversas doenças causadas pela falta de saneamento: doenças de transmissão feco-oral (diarréias, febres entéricas, hepatite A); transmitidas por insetos vetores (dengue, febre amarela, Leishmanioses, filariose linfática, malária, doença de chagas); transmitidas pelo contato com a água (esquistossomose, leptospirose); falta de higiene pessoal

(conjuntivites, tracoma, micoses); doenças transmitidas por helmintos e teníases (COSTA et al., 2007). Por isso, pode-se afirmar que ações de saneamento são questões de saúde pública.

Esses dados alertam para a importância de investimentos no setor de saneamento ambiental para melhorar a qualidade de vida das pessoas e preservar o meio ambiente. O governo federal criou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) cuja uma das metas é aumentar a cobertura dos serviços de saneamento no Brasil, com investimentos da ordem de 4 milhões de reais no setor de saneamento, de forma a buscar a universalização do acesso (FORNARI, 2007).

Se tomar como base o investimento em ações de saneamento dos últimos anos, a universalização do acesso a rede geral de esgoto deve acontecer daqui 115 anos, ou seja, em 2122. Caso se mantiver a tendência dos últimos 14 anos, levará 56 anos para o déficit ser reduzido à metade (NERI, 2007).

Porém para garantir a universalização do acesso de serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário são necessários investimentos médios anuais de R$11 bilhões até o ano de 2024, o que representa 0,6% do PIB (produto interno bruto). Os investimentos anuais tem sido próximos a R$3 bilhões, ou seja, 0,2% do PIB (SANEAR, 2007). A proposta do PAC de investimentos no setor é quase um terço do necessário para garantir a universalização do acesso em 2024, o que exige maiores investimentos.

Em 2007 foi implementado pelo governo federal a lei do saneamento (Lei 11.445/2007) que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico no país e para a política federal de saneamento básico, como forma de buscar a universalização do acesso, a sustentabilidade do sistema, segurança, qualidade, transparência nas ações, eficiência, entre outros. Apesar de diversos autores debaterem esta lei, suas diretrizes estão adequadamente estabelecidas, porém se não houver uma política de apoios financeiros para investimentos no setor, sua aplicação será prejudicada e os resultados desejados não atingidos.

Com relação à precariedade dos sistemas de saneamento, certa atenção deve ser direcionada ao sistema de esgotamento sanitário. Os baixos índices de coleta, transporte e tratamento de esgoto, e as disparidades entre as zonas urbana e rural atentam para implementação de ações nesse campo, principalmente para a população rural. A tabela 1.1 traz um resumo dos dados do IBGE de 2000, comparando-se as zonas urbanas e rurais quanto à coleta, transporte e tratamento de efluentes sanitários.

TABELA 1. 1 - Comparação entre índices de coleta, transporte e tratamento de esgotamento sanitário (adaptado

de IBGE, 2000).

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