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CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO EMPÍRICO

CHICO MENDES

DANDARA ZUMBI PAULO FREIRE

No dia 09 de fevereiro de 2007 foi assinado o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta entre o Ministério Público, pelos Promotores de Justiça do Meio Ambiente e de Conflitos Fundiários, o INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e os Beneficiários-concessionários (Assentados). Este instrumento estabelece regras de proteção ambiental, de produção agroecológica e de educação socioambiental da comunidade, aumentando as possibilidades de aplicação de tecnologias mais sustentáveis para habitação, infra-estruturas de saneamento ambiental e agricultura.

Com relação às moradias no local, elas se apresentam por construções precárias, com uso de materiais como madeira, papelit, costaneiras, lonas, sem condições mínimas de conforto térmico e segurança. As figuras 2.2 e 2.3 apresentam algumas das tipologias das casas existentes no assentamento.

FIGURA 2. 2- Tipologia das residências atuais do assentamento (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 2. 3- Tipologia das residências atuais do assentamento (fonte: Habis, 2006).

Estão em processo de construção 77 moradias neste assentamento por meio de financiamento da Caixa Econômica Federal através do Programa de Subsídio a Habitação de Interesse Social Rural –PSH. Do total de 77 habitações, 66 serão construídas em blocos cerâmicos estruturais e 11 com estrutura em madeira de eucalipto e revestimento em materiais alternativos (adobe, terra-palha, taipa).

Do total das 77 habitações, 56 unidades estão cobertas e 5 estão com instalações elétricas e hidráulicas finalizadas. As demais unidades estão na etapa de execução da fundação. O início da construção das habitações ocorreu em outubro de 2006. As figuras 2.4 a 2.6 mostram das diferentes etapas da construção das habitações.

FIGURA 2. 4- Habitações em processo de construção da alvenaria em bloco cerâmico (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 2. 5- Habitação com esperas para cobertura e habitação coberta (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 2. 6- Detalhe das instalações elétricas e hidráulicas das habitações (fonte: Habis, 2006).

A região do assentamento pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, e se encontra sobre uma área de recarga do Aqüífero Guarani, manancial transfronteiriço de água doce subterrânea no centro-leste da América do Sul, tendo extensão total aproximada de 1,2 milhões de km², sendo 840 mil km² no Brasil (ABAGRP, 2006). Por isso a preocupação com as questões de saneamento do local.

Com relação aos sistemas de saneamento, a água para abastecimento das casas do assentamento provém de captação por meio de poços rasos e minas. Está em implementação um projeto para abastecimento de água por meio de redes, utilizando um poço profundo do Aqüífero Guarani. No caso dos efluentes domésticos, as águas provenientes de chuveiros, pias e tanques são lançadas sobre o solo a céu aberto, enquanto as águas do vaso sanitário são encaminhadas para fossas negras, contaminando o solo e o lençol freático, que é próximo à superfície na região. As figuras 2.7 a 2.10 apresentam a situação dos sistemas de saneamento atuais no assentamento.

(a) (b)

FIGURA 2. 7- a-) Reservatório de água para uso doméstico proveniente da captação por poços. b-) solução alternativa adotada por morador para o banho (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 2. 8- Resíduos sólidos espalhados pelo lote e queimados (fonte: Habis, 2006).

FIGURA 2. 10- Banheiros existentes no assentamento, com uso de fossas negras (fonte: Habis, 2006).

Em visita ao Assentamento Rural Sepé-Tiaraju no dia 12/06/08 verificou-se uma mudança no cenário de destinação dos resíduos sólidos. Desde maio de 2008 a prefeitura municipal de Serra Azul, município sede do assentamento, disponibilizou um serviço de coleta de resíduos sólidos todas as quintas-feiras, com uso de caminhão compactador. Porém para o volume de resíduos sólidos gerados no assentamento, o uso de caminhão compactador torna-se um gasto desnecessário e prejudica a aplicação de uma atividade de reciclagem, uma vez que as famílias passam a preferir não separar o resíduo sólido.

Apesar disso, algumas famílias ainda continuam a queimar seus resíduos sólidos, ao invés de entregá-lo ao serviço de coleta. O ideal seria realizar um manejo mais sustentável desses resíduos, por meio da reciclagem dos materiais e criação de ponto de entrega voluntária para os resíduos que irão para o aterro sanitário, de forma a otimizar os recursos gastos com a coleta. A figura 2.11 apresenta a imagem do caminhão compactador que realiza a coleta no assentamento.

FIGURA 2. 11- Caminhão compactador para coleta de resíduos sólidos no assentamento (fonte: Habis, 2008).

Para garantir a condição de um assentamento mais sustentável, as famílias procuraram o grupo Habis para auxiliar no processo de construção das habitações e também

no projeto de um sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais, de modo a obter maior salubridade nos lotes e a diminuição dos impactos ambientais.

Por meio de processo participativo as famílias optaram pelo uso de sistema que separa as águas em cinzas e negras. Por isso, houve a necessidade de prever a separação da tubulação de esgoto proveniente do vaso sanitário dos demais ramais de esgoto da habitação. As figuras 2.12 e 2.13 mostram a fase preliminar para implantação do sistema de tratamento de esgoto, ou seja, a separação das águas em cinzas e negras.

FIGURA 2. 12- Detalhe das esperas de esgoto, com separação das águas cinzas e águas negras (fonte: Habis,

2007).

FIGURA 2. 13- Esperas de esgoto no banheiro e na cozinha (fonte: Habis, 2007).

Como a maioria das habitações já se encontrava com a cobertura construída, muitas famílias as ocuparam e improvisaram instalações elétricas, hidráulicas, de esgotamento e tratamento de efluentes sanitários até que o recurso financeiro para essas etapas fosse liberado.

Observou-se que em muitas casas foram utilizadas a fossa negra como solução para o sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais. Algumas famílias afirmam que não irão mudar o sistema para implantar o escolhido devido a demora para execução do projeto. A figura 2.14 apresenta o sistema de tratamento fossa negra de algumas famílias.

(a) (b)

FIGURA 2. 14- a-) Fossa negra em preparação no lote de Gilberto, núcleo Dandara. b-) Fossa negra em uso no lote de Sebastião, núcleo Paulo Freire (fonte: Habis, 2009).

Para compreender o processo de escolha e implantação do sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais, bem como o processo de financiamento, os capítulos 3 e 4 abordam o resultado da pesquisa e explanam todas essas questões.

Na seqüência será tratada a primeira fase da pesquisa: o processo participativo para escolha de sistema de tratamento de efluentes sanitários residenciais mais sustentáveis para o caso do assentamento rural Sepé-Tiaraju, com suas principais reflexões e discussões.

CAPÍTULO 3

PROCESSO PARTICIPATIVO PARA ESCOLHA DE SISTEMA

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