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PESQUISA-AÇÃO PARTICIPATIVA

SERVIÇO ZONA URBANA ZONA RURAL

1.8 R EUSO DE EFLUENTES SANITÁRIOS RESIDENCIAIS : V IABILIDADE E RISCOS

Como abordado, o reuso do efluente sanitário residencial é uma solução para garantir maior sustentabilidade dos sistemas de tratamento de esgoto. O reuso dessas águas proporciona redução do consumo de água em outras atividades (como na irrigação) e no consumo de agrotóxicos, uma vez que estão presentes nestas águas alguns nutrientes necessários para desenvolvimento de culturas.

Porém para viabilizar o reuso das águas residuárias é preciso estabelecer critérios, pois estão presentes diversos contaminantes químicos e biológicos, principalmente agentes patogênicos que podem causar graves doenças às pessoas que entram em contato com os mesmos.

Os efluentes sanitários residenciais podem apresentar diversos agentes contaminantes químicos (ex: resíduos farmacêuticos, anticoncepcionais, etc.) e patógenos. Portanto para o reuso não potável dos efluentes sanitários é preciso cautela e realizar o tratamento do mesmo. Todavia há controvérsias sobre o grau de tratamento que deve possuir o efluente para que seja viabilizado seu reuso, principalmente potável.

De acordo com Florencio et al. (2006), pode-se categorizar a modalidade de reuso das águas em reuso potável e reuso não potável. Para este último inclui-se o reuso para fins urbanos, reuso para fins agrícolas e florestais, reuso para fins ambientais, reuso para fins industriais, reuso na aqüicultura, reuso na recarga artificial de aqüíferos. O reuso potável não é recomendado devido a dificuldade de caracterização dos efluentes sanitários.

Para o presente estudo o reuso não potável do efluente sanitário será para fins agrícolas, ou seja, irrigação e compostagem. Bastos e Belivacqua (2006) abordam em seu trabalho as recomendações de tratamento de efluentes para poderem ser reusados de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde). O quadro 1.3 apresenta as diretrizes dessa agencia:

QUADRO 1. 3- Diretrizes da OMS para o uso agrícola de esgotos sanitários. (fonte: adaptado de Bastos e

Belivacqua, 2006).

Categoria Tipo de Irrigação e Cultura Processo de Tratamento A Culturas a serem consumidas cruas Lagoas de estabilização em série ou tratamento

equivalente em termos de remoção de patogênicos B Culturas processadas industrialmente,

cereais, forragens, pastagens, árvores Lagoas de estabilização com 8-10 dias de tempo de detenção ou tratamento equivalente em termos de remoção de helmintos ou coliforme termotorelantes. C Irrigação localizada de plantas da

categoria B na ausência de riscos para agricultores e público em geral.

Pré-tratamento de acordo com o método de irrigação , no mínimo sedimentação primária

Como se pode perceber neste quadro é que a medida que as culturas irrigadas com esgoto destinam a alimentos a serem consumidos crus, a necessidade de um processo mais rigoroso de tratamento de efluentes sanitários é preciso. No caso de irrigações localizadas de plantas, um processo de sedimentação primária, ou seja, o uso de uma fossa séptica por exemplo, viabiliza o reuso.

Aisse, Cohim e Kiperstok (2006) defendem o reuso de efluentes e apresentam algumas vantagens do processo, como verificado na passagem:

“O uso dos esgotos tratados mais próximos às fontes geradoras constitui uma possibilidade concreta e vantajosa de reciclagem dos nutrientes, reintroduzindo-os no ciclo natural produtivo, como uma etapa intermediária de um modelo tecnológico de saneamento, que possivelmente, caminhará para a separação das diversas correntes na origem, dando a cada uma o destino produtivo mais adequado (AISSE, COHIM e KIPERSTOK, 2006).”

A legislação brasileira para reuso das águas residuárias apresenta avanços, verificado na resolução nº 54 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Essa resolução é apresentada na íntegra no anexo A, cujas modalidades de reuso apresentadas são: a-) reuso para fins urbanos; b-) reuso para fins agrícolas e florestais; c-) reuso para fins ambientais; d-) reuso para fins industriais; e-) reuso na aqüicultura (BRASIL, 2005).

Porém a disposição de efluentes no solo deve obedecer a critérios, uma vez que os componentes do efluente podem alterar a característica do solo. Em caso de unidades de tratamento localizadas e voltadas para pequenas famílias, a disposição do efluente no solo não alterará sensivelmente suas características pois os volumes são reduzidos, comparados ao de estações de tratamento de esgoto.

O reuso de efluentes possibilita um incremento na produção de diversos cultivos, isso devido aos nutrientes que essas águas residuárias possuem. Para entender esse processo, é preciso discutir como as plantas fazem a absorção desses nutrientes.

Os elementos químicos são fundamentais para o desenvolvimento das plantas. Os nutrientes correspondem aos elementos: carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O). Há também os nutrientes minerais como os macronutrientes (nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio(Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S)) e micronutrientes (boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), níquel (Ni) e zinco (Zn)) (MOTA et al. 2006).

Os nutrientes são absorvidos pelas raízes das plantas a partir da solução do solo. Há três principais processos que proporcionam a aproximação do elemento com as raízes: difusão, fluxo de massa e interceptação radicular. Depois de absorvidos, os elementos são conduzidos pelos vasos das plantas e distribuídos de acordo com a necessidade nutricional de cada órgão. Alguns desses elementos são destinados à produção de frutos.

Um estudo desenvolvido pela UFC (Universidade Federal do Ceará) mostrou que os resultados da irrigação com esgoto foram iguais ou superiores aos resultados obtidos com irrigação e adubação química para uma irrigação de plantação de mamonas. Isso reflete que esta cultura converteu de modo eficiente os nutrientes, transformando-os em biomassa (MOTA et al. 2006).

Apesar do reuso do efluente ser uma solução eficaz para redução do consumo de água, fertilizantes, deve-se considerar que para ser viável é preciso uma operação adequada do sistema de tratamento, manutenção das áreas irrigadas, capacitação das pessoas para este fim e sensibilização dessa importância. Caso a pessoa não tenha interesse no reuso, sua aplicação inadequada pode ocasionar em aumento dos riscos de saúde.

Atualmente têm-se discutido diversas formas de conservação do uso da água, seja ele em ambiente urbano ou rural. Golçalves, Alves e Zanella (2006) propõem três princípios para esta finalidade, a saber:

• Minimização:

o Buscar fontes alternativas de água, tais como águas residuárias para reuso ou aproveitamento de águas pluviais;

o Utilizar menor quantidade de água para executar as mesmas atividades, quer seja por

mudança de processos ou formas de uso como pelo emprego de aparelhos economizadores ou tecnologias apropriadas.

• Separação:

o Não misturar águas que exijam graus diferenciados de tratamento como águas

contendo gorduras, águas contendo material fecal e águas contendo nutrientes;

o Não misturar efluentes de origem doméstica com efluentes de origem industrial.

• Reutilização:

o Exploração das diversas formas de reuso de esgotos, desde as formas mais simples,

como utilização direta da água residuária gerada até o reuso após tratamento e pós- tratamento de esgoto;

o Tirar vantagem das possibilidades de utilização dos efluentes em usos que requeiram

características nele presentes. Por exemplo: uso em fertirrigação;

o Hierarquizar ciclos de utilização da água, separando-os segundo a qualidade e

quantidade exigidas em cada um deles.

A reutilização do efluente garante maior sustentabilidade ambiental, econômica e social aos sistemas de tratamento de efluentes sanitários residenciais. A proposta desse estudo é abordar sistemas que viabilizem esse reuso não potável e conscientizem as pessoas da importância dessa prática. Além disso, a diferença está na abordagem da participação das pessoas no processo de escolha do sistema de tratamento, relacionando-se com a dimensão cultural e principalmente a dimensão política.

Para garantir maior sustentabilidade aos sistemas de tratamento de efluentes sanitários residenciais necessita-se de uma nova relação poder local por meio da participação popular nos processos de tomada de decisão, que resulta em uma nova relação de troca de responsabilidades entre os envolvidos na cidadania ativa. O desafio que se coloca neste trabalho é como integrar sustentabilidade, processos participativos e saneamento

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