• Nenhum resultado encontrado

Aproveitamento Hidráulico

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 132-136)

CAPÍTULO IV – A ECONOMIA

2. Exploração de Recursos Subterrâneos

2.1. Aproveitamento Hidráulico

A abundância de água de qualidade é um bem essencial para tornar fértil, sadio e ameno um país, ou uma região509. Em Trás-os-Montes a nível geral havia falta de água potável. Porém, a existente, não era estagnada, nem inquinada510.

506 VANDELLI, Domingos – “Memórias sobre a Necessidade de uma Viagem Filosófica feita no

Reino, e depois nos seus Domínios, (1796)”, Memórias Económicas Inéditas (1780-1808), introdução e notas de José Luís Cardoso, Lisboa: Publicações do II Centenário da Academia das Ciências de Lisboa, MDCCCVII, pp. 33-34.

507 MENDES, José Amado – Trás-os-Montes nos Finais do Século XVIII (Alguns aspectos

económico-sociais), Bragança: Instituto Politécnico de Bragança, 1985, p. 42.

508 TABORDA, Virgílio – “Alto trás-os-Montes. Estudo geográfico, Lisboa: Livros Horizonte, 1987,

pp. 109-110.

509 SÁ, José António de Sá – Memórias Económicas de Torre de Moncorvo da Academia Real

das Sciencias de Lisboa, Lisboa: Oficina da Mesma Academia, 1891, T. III, p. 256.

510 CASTRO, Columbano Ribeiro de – Mappa do Estado Actual da Provincia de Tras-os-Montes,

feito no anno de mil setecentos noventa e seis pelo Bacharel Columbano ribeiro de castro, juis comissario da sua demarcação, conforme as informações dadas pelas camaras, juízes das terras e parocos;, Arquivo Distrital de Braga, ms. 908, p. 7.

No tocante a Mirandela, esta antiga vila não era fértil em nascentes de água potável511. Havia sim a água do rio Tua que podia beber-se com segurança no Inverno, pois era de bom gosto, de fácil digestão, cozia bem os alimentos e tinha virtudes diuréticas. No Estio não podia ser consumida pelo mau gosto que tinha, provocado por nela se curtir muito linho512. Nesta estação recorriam às fontes de ocasião, as frieiras, poças na areia com água filtrada nas próprias areias do rio e próximas do seu leito, já que havia falta de nascentes de água potável e de qualidade em Mirandela. Recorriam também à Fonte dos Ciprestes e das noras para consumo da população. No interior da antiga muralha existiam alguns poços de água salobra, como o Poço do Jardim do Paço, e o Poço da Casa da Família Pinto Cardoso. Havia ainda a Fonte dos Ciprestes, a Fonte do Escurial ou do Convento, a do Retiro, a das Golfeiras, a dos Três Cunhados e a de Carvas.

A Fonte dos Ciprestes começou a fazer-se em 1711 com o aproveitamento de um nascente que havia neste sítio. Em sessão de vereações da câmara em 10 de Outubro desse ano, foi decidido que os juizes do povo de todas as freguesias do concelho trouxessem homens desocupados para nela laborarem. No que se refere a obra em canos do chafariz decidiram os vereadores da autarquia que fosse posta em lanços e entregue a quem a fizesse por menor preço. Em 28 de Julho de 1795 determinou a mesma que a limpeza da fonte ficasse a cargo dos almotacés. Em 1798, havendo-se verificado que a fonte não produzia tanto como era desejado e necessário, decidiu a autarquia fazer novas obras, abrindo junto a esta uma mina para aumento da produção do precioso mineral. A Fonte do Retiro, do Fonte do Escurial ou do Convento e a Fonte de Carvas encontravam-se em terrenos privados. A Fonte das Golfeiras e a Fonte dos Três Cunhados em públicos. Em 30 de Junho de1795, devido a falta continuada de água existente em Mirandela, a autarquia determinou que fosse aberto um poço no Lago do Toural e que todos os habitantes contribuíssem para a sua obra. Tinha seis ou

511 SOUSA, Fernando de – “A Memória dos Abusos Praticados na Comarca de Moncorvo de

José António de Sá (1790)”, Separata da Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto: Faculdade de Letras, 1974, vol. IV, pp. 93-101.

512HENRIQUES, Francisco da Fonseca – Arquilégio de Medicina, Lisboa: Instituto Geológico e

sete metros de profundidade e em 1796 foi resguardado com um bocal com três metros de diâmetro. A água era salobra, não era empregue no consumo dos moradores, mas somente para uso doméstico513.

Em princípios do Setecentos havia já alguns recursos hídricos em diversas Freguesias, e Lugares dos antigos concelhos que se inserem no de Mirandela.

Os moradores aglomeravam-se em redor ou próximos da igreja ou capela onde era celebrada missa e continuavam a reger-se pelos usos e costumes dos que os antecederam514. Em muitos lugares não havia fontes para fornecimento de água às populações. A água para beber iam buscá-la ao rio que lhe ficava junto, ou a nascentes próximos, onde com pedras no fundo e ao alto construíram fontes muito simples. Apresentamos o número de fontes que serviam cada uma das povoações do concelho em 1706515:

Estas foram mais tarde concertadas e outras construídas de novo em 1790 por provisão do corregedor da Comarca de Torre de Moncorvo. Em Mirandela construíram-se duas fontes, a dos Ciprestes e a Fonte junto ao Rio Feca. No concelho de Torre D. Chama construíram-se seis fontes na própria vila; duas em Guide; duas em Ribeirinha; uma em Vale Maior; três em Vale de

513 SALES, Ernesto Augusto Pereira de – Mirandela Apontamentos Históricos, Bragança: Junta

Distrital de Bragança, 1970, vol. I, pp. 74-75.

514 COSTA, António Carvalho da – Corografia Portugueza e Descrição Topográfica..., 2.ª ed.,

Braga, 1868, T. I, pp. 388-420.

515 Abreiro 4; Milhais 1; Longra 0; Navalho 2; ½ de Sobreira 1.

Vale da Sancha 2; Lamas de Orelhão 5; Cascalhal 3; Carrapata 5; Paços 4; Valverde 1; S. Silvestre 1; Cobro 1; Rego de Vide 1; Escovais 1; Avidagos 1; Carvalhal 1; Pereira 2; Vilaboa 1; Franco 4; Suçães 4; Eivados 3; Eixes 2; Marmelos 4; S. Pedro de Vale do Conde 6; Barcel 1; Vila Nova 3; Mirandela 7; Abambres 5; Ala 8; Alvites 6; Açoreira 3; Avantos 8; Barca 5; Brinçó 5; Bronceda 2; Cabanelas 6; Caravelas 6; Carrapatinha 2; Carvalhais 1; Carvas 3; Cascalhal 3; Cedães 7; Cedainhos 5; Chelas 0; Copim 2; Clorense 4; Contins 4; Cotas 3; Ervedeira 1; Freixeda 17; Freixedinha 3; Gurivanes 3; Lamas de Cavalo 3; Longra 0; Mascarenhas 9; Milhais 1; Miradezes 4; Mogrão 5; Mourel 2; Paradela 5; Pousadas 6; Quintas 3; Regodeiro 2; Romeu 4; S. Salvados 7; Sezulfe 2; S. Silvestre 1; ½ de Sobreira 1; Valbom 5; Valbom Pitez 3; Vale de Couço 5; Vale de Freixo 3; Vale de Juncal 3; Vale de Lagoa 3; Vale de Lobo 6; Vale de Madeiro 2; Vale de Martinho 3; Vale de Meões 3; Vale de Pradinhos 6; Vale de Salgueiro 4; Vale de Telhas 10; Vale de Sardão 4; Valongo de Meadas 4; Vale Pereiro 3; Vila Verde 8; Vila Verdinho 4; Vilar de Ledra 5; Vimieiro 2. Torre D. Chama 2; Guide 2; Ferradosa 1; Regadeiro 2; Vale de Prados 1; S. Pedro Velho 6; Fradizela 3; Vale de Gouvinhas 2; Vilardouro 2; Ervedeira 1; Argana 1; Lama Longa 2; Gandariças 1; Vale Maior 1; Ribeirinha 1; Vila Nova 2; Fornos 3; Mosteiró 2; Coiços 1; Meles 2; Vilares 3; Seixo 1; Múrias 2; Ponte de Pé 1. Valdasnes 4. (COSTA, António Carvalho da – ob. cit., pp. 389 a 420.)

Gouvinhas; uma em Ferradosa; duas em S. Pedro Velho; duas em Vale de Oiro; uma em Fornos de Ledra; uma em Argana; duas em Lama Longa; três em Vila Nova; três em Meles; uma em Regodeiro; duas em Vilares; uma em Múrias; uma em Gandariças; uma em Couços. Em Frechas construiu-se uma fonte na vila que também não tinha nenhuma e outra em Vale da Sancha516.

Além do precioso líquido servir para consumo próprio era aproveitada em açudes para fazer mover as azenhas e moinhos que se distribuíam pelas margens dos rios Tua, Tuela, Rabaçal e Ribeira de Cedães.

Eram múltiplos os açudes e azenhas espalhadas ao longo do curso do rio Tua, mas também nas ribeiras. Tinham como objectivo suster a água para accionar as mós de moinhos e azenhas espalhadas pelas margens do rio para moer o pão (cereal), base da alimentação do antigo povo transmontano. Serviam também para activar as roda das noras que através de alcatruzes subiam e despejavam a água para rega nos terrenos ribeirinhos cultivados de produtos hortícolas e frutícolas. As azenhas e moinhos eram um factor importante na pacata vida dos povoados. No termo do concelho de Frechas, contíguo ao de Mirandela, havia oito azenhas ao longo do Tua e Ribeira, que o rei D. Manuel em Carta de Foral no capítulo moendas do Rio Tua incentivava à sua construção a “quaes quer pessoas que quisere fazer moendas ou açudes no Rio de Tua ou no Ribeiro que vay per junto da ditta villa”517. Em 1796 havia várias azenhas espalhadas pelo município de Mirandela, mas somente três pagavam foro ao concelho. As restantes encontravam-se usurpadas não contendo os seus eventuais proprietários prova alguma em como lhe pertenciam518.

Um dos açudes e respectiva azenha era pertença dos condes de S. Vicente e localizava-se em frente a Mirandela a montante da ponte. Foi demolida depois de 1860 para salvaguarda da ponte antiga. A jusante desta encontrava-se uma outra azenha também demolida por ser a causadora da

516 SÁ, José António de – Memória dos Abusos, (Mappa dos objetos do bem publico providos na

comarca de Moncorvo), Biblioteca Pública Municipal do Porto, Manuscritos n.º 150, 1790.

517 Foral Manuelino de Frechas, Bragança: Museu Regional Abade de Baçal, Inventário 123;

FERNANDES, Ilda – Frechas Tradição e Modernidade, Porto: Humbertipo, 2001, p. 47.

518 MENDES, J. A. Amado – Trás-os-Montes no final do Século XVIII, Segundo um manuscrito de

perda de três arcos da ponte na cheia de 1909. O acidente foi provocado em parte pelo açude que obstava à descida das areias provocando o assoreamento do rio. Esta, inicialmente era propriedade da Família Pinto Cardoso, passando posteriormente para a família de Costa Pessoa519.

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 132-136)