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Hortas, Pomares, Linhares e Ferragiais

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 94-118)

CAPÍTULO II – A PAISAGEM RURAL

6. Culturas e Técnicas Agrícolas

6.4. Hortas, Pomares, Linhares e Ferragiais

As hortas e os pomares seriam numerosos, já que, em regra todo o tipo de explorações rurais fossem as mais humildes ou as mais opulentas, os possuíam. Algumas dessa explorações, as mais modestas, cingiam-se precisamente à horta e ao pomar, juntos à casa de habitação308.

Tanto os camponeses como a população urbana buscavam ter, se possível, junto à sua residência, uma parcela de terra onde cultivavam os produtos agrícolas, como legumes frescos e a fruta, com vista ao seu próprio consumo.

As culturas tradicionais leguminosas características de Trás-os-Montes eram a ervilha, fava, lentilha, grão-de-bico e tremoços e feijão-chícharo existindo no entanto outras variedades de feijão 309. Este costumava semear-se com milho e lhe servia de suporte, ou então trepava por estacas altas. A feijoeira produzia vagens, comidas verdes ou então eram secas e descascadas à mão ou malhadas de onde saía o feijão. Por sua vez, na terra funda, fresca e

307 MORAIS, Rodrigues de – Tratado Prático de Vinificação, 3.ª ed., Porto: Tipografia Mendonça,

1902, pp. 161, 219-220.

308 MORAES, M. C. Rodrigues de – “Fruits et légumes”; in COSTA, B. C. Cinccinato de e

CASTRO, D. Luíz de (Dir.), Le Portugal au de point de vie agricole, Lisboa, 1900, pp. 609-628.

309SAMPAIO, Alberto – “As Vilas do Norte de Portugal”, Estudos Históricos e Económicos, 2.ª

de regadio, plantavam-se batatas e semeava-se beterraba forrageira.; uma parte era destinada ao cultivo de tremoço para estrume310.

Paralelamente, o Nordeste transmontano e território do Douro se praticava a cultura dos legumes e hortaliças, para além dos anteriormente referidos, os tomates, pimentos, pepinos, nabo, beterraba, alhos, brócolos, couve penca, couve galega, couve flor, couve de Bruxelas, batata, cenoura, cebola e muita variedade de frutos, nomeadamente o melão e a melancia311.

Todos estes produtos alimentares eram por norma produzidos nas hortas que se encontravam próximo da habitação, que para produzir com abundância tem que ser bem lavrada, estrumada e regada quando necessário. Nela tem supremacia a couve, utilizada diariamente na alimentação de humanos e suínos312.

Um outro alimento produzido na horta, como referimos anteriormente, era o tubérculo da batata, que no final do Setecentos era ainda insuficiente em Trás-os-Montes, com excepção numa ou noutra zona. A partir de 1797 divulgou-se consideravelmente313. De início a sua produção destinava-se

somente à alimentação de animais em substituição da castanha e só gradualmente entrou nos hábitos alimentares da população transmontana, o que fez baixar o preço do pão, tornando-se no futuro imprescindível na alimentação das classe mais desfavorecidas. Cultivado pelo próprio em pequenas parcelas de terreno suas ou arrendada, este tubérculo tornou-se a base da alimentação do povo, até então constituída por nabos e castanhas. Passou a cultivar-se nos terrenos dos soutos dizimados e no lugar do pousio no afolhamento314.

310 DIAS, Jorge – Vilarinho das Furnas Uma Aldeia Uma Aldeia Comunitária, Lisboa: Imprensa

Nacional – Casa da Moeda, 2.ª ed., 1983, p. 133; RIBEIRO, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed., Lisboa: Sá Costa, 1998, p. 60.

311 “Le Fruits de Portugal”, Fundo de Fomento de Exportação, Lisboa, s/d, s/p.

312 DIAS, Jorge – Vilarinho das Furnas Uma Aldeia Uma Aldeia Comunitária, 2ª. ed., Imprensa

Nacional – Casa da Moeda, 1983, p. 136. Para exportação privilegiava-se os pimentos verdes e vermelhos, tomates inteiros, pelados e em paté. In “Le Fruits de Portugal”, Fundo de Fomento de Exportação, Lisboa, s/d, s/p.

313 ALMEIDA, Américo de – A Cultura da Batata em Trás-os-Montes, Tese apresentada no II

Congresso Transmontano, Porto, 1941, pp. 5 e 11-13.

314 RIBEIRO, Orlando – “Cultura do Milho, economia agrária e povoamento”, Biblos, Coimbra:

Em meados do século XVIII, a sua produção no concelho Mirandela era ainda escassa, pois na produção recolhida em 1758 não consta o seu cultivo em qualquer das aldeias que dele faziam parte315.

Em Trás-os-Montes a batata ocupava o lugar de pousio e alternava com o cereal316. Era costume plantá-las para consumo anual, próximo da povoações, em terrenos de horta murados, ou então mais distantes317.

O cultivo da batata branca era pouco usado e de pouca utilidade, cultivavam mais a batata vermelha por ser menos farinácea318. Mais tarde tornou-se a base da alimentação do povo e era designada por “castanha da terra” para se distinguir da outra castanha319.

Relativamente às árvores fruteiras, a policultura fazia parte do sustentáculo da economia nacional tradicional e consequentemente da

América do Sul. Em Portugal o seu cultivo foi difundido, nos finais do século XVIII, de Norte para Sul, como aconteceu em Espanha que, introduzida na Galiza (1768) foi-se propagando para Sul. A Batata – “Cadernos Culturais Naturalistas”, Colecção Alimentos que Curam, Lisboa: Editorial Nortur, 1974, pp. 17- 18.

315 Mais tarde como o solo de toda a Província de Trás-os-Montes era propício à produção,

tornou-se um alimento que sustentava muita gente e o alqueire deste tubérculo era vendido a 60 ou 80 réis, tal como o preço da castanha. SÁ, José António de – “Memoria Academica da provincia de traz-os- Montes” – mans. (particular), s/p, in ALVES, Francisco Manuel – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Bragança: Tipografia Académica, 3.ª ed., 1985, vol. IX, pp. 245; GUERREIRO, Manuel Viegas – “A Cultura da Batata, sua Introdução na Europa. O Caso de Portugal”, Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe das Letras, Lisboa, 1987, T. XXVI, p. 7.

316 RIBEIRO, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed., Lisboa, Sá Costa, 1998,

p. 65; ALMEIDA, Américo de – A Cultura da Batata em Trás-os-Montes, Tese apresentada no II Congresso Transmontano, Porto, 1941, p. 13.

317 DIAS, Jorge – Vilarinho das Furnas Uma Aldeia Uma Aldeia Comunitária, Lisboa: Imprensa

Nacional – Casa da Moeda, 2.ª ed., 1983, p. 134; SÁ, José António de – ob. cit., p. 246.

318 GIRÃO, António Lobo B. Ferreira – “Manual Prático da Cultura da Batata e do seu uso na

Economia Doméstica”, Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1845, p. 19.

319 DIAS, Jorge – Rio de Onor - O comunitarismo Agro-Pastoril, Lisboa: Presença, 3.ª ed., 1984,

p. 158; Havia algumas variedades deste tubérculo e diferem significativamente uns dos outros, dependendo do terreno onde são plantados. Quando produzidas em grande exploração, as batatas são armazenadas em tulhas próprias. A sua conservação depende das condições do ambiente: temperatura e humidade. In ALMEIDA, Américo de – A Cultura da Batata em Trás-os-Montes, Tese apresentada no II Congresso Transmontano, Porto, 1941, p.13; GUERREIRO, Manuel Viegas – “A Cultura da Batata, sua Introdução na Europa. O Caso de Portugal”, Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe das Letras, Lisboa, 1987, T. XXVI, p. 7.

subsistência dos povos. Era parte de um complemento da dieta quotidiana de cereais, azeite e vinho320.

A influência atlântica e proximidade do mediterrâneo contribuem para o nosso país produzir excelentes frutos para exportação, sendo as regiões do Douro e do Algarve as mais importantes para a produção. Trás-os-Montes produz uva, pêssego, amêndoa, melão, pêra, castanha, figo, morango, cereja e azeitona da variedade “negrita”. Exporta-se azeitona, amêndoa, castanha e melão; patê de cereja, morango e figo321.

A cultura frutívora foi muito desenvolvida em Portugal, determinando- lhes terrenos próprios, designados por pomares. As casta mais finas foram introduzidas em Roma e daqui para as províncias ocupadas. Antigamente cultivavam-se nos pomares maçã, pêra, pêssego, ameixa, damasco, marmelo, amora, nêspera, cereja, ginja, romã, abrunho, noz, avelã, amêndoa, mais tarde cultivaram-se laranjas, tangerinas e limões. Os pomares dissiparam-se, prosperaram e o consumo de fruta era utilizado na alimentação do agricultor. Por vezes as árvores da mesma espécie agrupavam-se, constituindo os pomares: figarias, perarias, ameixonarias, pessequarias, nogales, avelanales, mazanarias, amendoais, soutos. Competia ao pomicultor tradicional plantar, enxertar e esperar que crescessem para produzirem322.

No final do Setecentos há um maior incremento frutícola, que origina negócios lucrativos, com a conquista de mercados europeus do Norte, designadamente franceses, holandeses e principalmente britânicos323, no entanto, nas zonas isoladas do interior transmontano, a fruta era insuficiente e os habitantes mais antigos diziam que não se plantavam fruteiras, porque as crianças lhe comiam o fruto antes de amadurecerem324.

320 MENESES, Avelino de Freitas – “Os Açores na Encruzilhada de Setecentos (740-1770)”,

Poderes e Instituições, Ponta Delgada: Universidade dos Açores, 1995, vol. 1, pp. 102-104.

321 « Fruits du Portugal », Departaments pour le Développement des Exportations Potugaises,

Lisboa : Empresa Nacional de Publicidade, Lisbonne, s/d, s/p; BARROS, Henrique da Gama – QUARTIN, Graça – Árvores de Fruto, 3.ª ed., Lisboa: Clássica Editora, pp. 271-278.

322SAMPAIO, Alberto – “As Vilas do Norte de Portugal”, Estudos Históricos e Económicos, 2.ª

ed. Lisboa: Vega, 1923, vol. I, p. 75.

323 MENESES, Avelino de Freitas – “Os Açores na Encruzilhada de Setecentos (740-1770)”,

Poderes e Instituições, Ponta Delgada: Universidade dos Açores, 1995, vol. 1, pp. 102-104.

324 DIAS, Jorge – Rio de Onor - O comunitarismo Agro-Pastoril, Editora Presença, 3.ª ed., 1984,

A cultura das árvores de fruto no país desenvolveu-se por toda a parte. Nas terras baixas e de rega apareceram as laranjeiras, tangerineiras e limoeiros. Nos planaltos e montanha desenvolveu-se a castanha. Devido à raridade e carestia de mão de obra, a agricultura tradicional foi convertida em grandes pomares regados por aspersão, de pessegueiros, macieiras e pereiras. Nos terrenos calcários e nos relevos de xisto do Norte, plantaram-se amendoeiras, figueiras e alfarrobeiras, onde o agricultor intervala favas, ervilhas e cereal325.

Na produção de fruta os proprietários não davam grande importância à polinização das árvores, de que os pomares beneficiam sempre. A primeira escolha a considerar na plantação de fruteiras é o espaço ou distância entre as árvores, pois se forem plantadas próximas uma das outras não se desenvolvem tanto e estão mais sujeitas a ataques de parasitas e em pomares densos, os frutos são de qualidade inferior e há decréscimo na produção. São preconizados os seguintes compassos médios ideais a adoptar em linha nos pomares: amendoeiras 7 a 8 metros; castanheiros 12 m; nogueiras 10 m; figueiras 15 a 20 m; marmeleiro 4 a 5 m; pereiras 7 a 8 m; macieiras 10 a 12 m; pessegueiros 5 a 6 m; cerejeiras 7 a 8 m; ginjeiras 7 a 8 m; ameixeiras 5 a 6 m; tangerineiras 6 m; laranjeiras 8 m; limoeiros 6 metros326.

Relativamente às terras baixas e fundas do concelho de Mirandela, as “Memórias Paroquiais” (1758) referem que aqui se cultivava oliveira, figueira, laranjeira, tangerineira, limoeiro, pessegueiro, damasqueiro, cerejeira, ginjeira, pereira, macieira, marmeleiro ameixoeira, etc.. Nos Montes, serras e planaltos o castanheiro e a amendoeira327.

O aumento da plantação de árvores em Mirandela foi inicialmente sugerido por José António de Sá em 1790328, enquanto corregedor da Comarca de Torre de Moncorvo. Mais tarde o aumento da plantação de árvores de fruto e silvestres em Mirandela foi sugerido por Columbano Ribeiro de Castro em

325 RIBEIRO, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed., Lisboa: Sá Costa, 1998,

p. 74.

326 BARROS, Henrique da Gama; QUARTIN, L. – Árvores de Fruto, 3.ª ed., Lisboa: Livraria

Clássica Editora, 1950, pp. 98, 112-114.

327 SÁ, Miguel Rodrigues – D. G., Alvites, vol. I, n.º 46, mf. 295, p. 355.

328 SÁ, José António de – Memória dos Abusos, (Mappa dos objetos do bem publico providos na

fins do século XVIII, com vista às vantagens que daí, adviriam, nomeadamente para fornecimento de frutos, madeira, lenha e protecção de elementos climatéricos329.

No que concerne ao castanheiro, este era já conhecido antes da ocupação romana. Desenvolveu-se essencialmente nas terras graníticas, altas e bravias, sendo uma espécie muito preciosa devido à madeira e produzia-se em soutos330. Em Trás-os-Montes existiam muitas matas de castanheiros, normalmente junto das povoações, mas também distantes, no montado331.

Embora característico das terras frias, encontrava-se também nas terras altas do Nordeste Transmontano de condições propícias ao seu desenvolvimento. O seu fruto, a castanha, era um elemento essencial na alimentação do povo, que as pessoas conservavam até Maio cobertas de areia332. Surgiram com as crises de fome nos lugares, o que levou os seus habitantes a procurarem a castanha, como complemento alimentar333.

Em tempos imemoriais, antes da introdução da batata no país, os soutos eram múltiplos por toda a província de Trás-os-Montes. Virgílio Taborda dá-nos uma ideia do papel da castanha no ramo alimentar: “O caldo de castanhas e

329 SOUSA, Fernando de – Sep. da Rev. ..., Série de História, 1974, vols. IV-V, pp. 99-104. 330 SAMPAIO, Alberto – “As Villas do Norte de Portugal”, in Estudos Históricos e Económicos,

Lisboa: Vega, 1923, vol. I, p. 75. No dizer de POURCHER, Yves, o castanheiro era considerado a árvore do pão tendo a grande vantagem de não dar tanto trabalho, pois não era necessário lavrar, semear, ceifar e debulhar. In « La porêt: Espace global et Espace conflictuel. La Lazére au XVIII siecle et XIX siecles ». In La forêt et l’homme en Languedoc – Russillon de l’ Ántiquité à nos jours, LVI Congré de la Federation Historiques du Languedoc Mediterraneén et du Russillon au Pont-de-Montvert les 11 e 12 Juin 1983: Actés, Montepellier, 1984, p. 96. Porém, no início exige um certo trabalho com a implantação de viveiros e depois a sua transplantação: In FRANCO, Francisco Soares – “Castanheiros”, Dicionário de Agricultura, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1804, T. II, pp. 161-178.

331 RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e declínio da oliveira em Portugal”,

Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, p. 75.

332 SEQUEIRA, Joaquim Pedro Fragoso de – “Acerca da Cultura e Utilidade dos Castanheiros na

Comarca de Portalegre”, Memórias Económicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa: Oficina da mesma Academia, 1790, T. II, p. 338; TABORDA, Virgílio – Alto trás-os-Montes. Estudo geográfico, Lisboa: Livros Horizonte, 1987, p. 128; MENDES, J. A. Amado –Trás-os-Montes no final do Século XVIII, Segundo um manuscrito de 1796 de Columbano Ribeiro de Castro, Coimbra: Instituto de Investigação Científica, 1981, p. 80.

333 RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e declínio da oliveira em Portugal”,

mesmo o pão de castanhas têm o seu lugar na mesa das populações de certas aldeias mais pobres”. No início da última década de Setecentos, o alqueire deste fruto era vendido a 60 e 80 réis334. Distribuiu-se um pouco por toda a região transmontana, com mais abundância na Terra Fria e planalto335. A difusão do castanheiro no distrito de Bragança fez-se no século seguinte ao de Setecentos, tendo sido dizimado no final do mesmo por acção de uma doença que apareceu no distrito de Bragança e o atacou fortemente336.

Era normal as matas de castanheiros ou soutos serem cultivados nos montes e terras incultas do concelho de Mirandela, onde se desenvolvia em paralelo o alecrim, rosmaninho, macela, mangerona, ruda, dormideira e outras plantas de cheiro337.

Em 1758, os párocos das freguesias de Alvites, Brinçó, Caravelas informavam que nestas terras se produzia com abundância castanha. Também a existência de soutos na antiga vila de Lamas de Orelhão em finais do Século XVIII é mencionada por Ribeiro de Castro, que aconselhava a plantarem-se mais em terras próprias e baldios338.

334 SÁ, José António de – “Memoria Academica da provincia de traz-os-Montes” – mans.

(particular), s/p, in ALVES, Francisco Manuel – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Bragança: 3.ª ed., Tipografia Académica, 1985, vol. IX, pp. 245.

335 RIBEIRO, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed., Lisboa: Sá costa, 1998,

p. 112; MENDES, José Maria Amado – Trás-os-Montes nos Finais do Século XVIII, segundo um manuscrito de 1796 de Columbano Ribeiro de Castro, Coimbra: Instituto de Investigação Científica, 1981, pp. 80-81; SAMPAIO, Alberto – “As Vilas do Norte de Portugal”, Estudos Históricos e Económicos, 2.ª ed. Lisboa: Vega, 1923, vol. I, p. 40.

336 GUERREIRO, Manuel Gomes e FERNANDES, Columbano Taveira – “O Castanheiro no

distrito de Bragança”, Boletim da Junta Nacional das Frutas, ano V, Agosto de 1945, n.º VIII, p. 8; RIBEIRO, Orlando – Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed., Lisboa: Sá Costa, 1998, p. 112. O seu cultivo era de extrema importância para fruto seco, caldo de castanha, pão de castanha e madeira. In TABORDA, Virgílio – Alto trás-os-Montes. Estudo geográfico, Lisboa: Livros Horizonte, 1987, p. 128.

337BARROS, João de – Geographia d’entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, Porto: Biblioteca

Pública Municipal do Porto, 1919, p. 119.

338 CASTRO, Columbano Ribeiro de - Mappa do estado actual da província de Tras-os-Montes

feito no anno de mil setecentos noventa e seis por Columbano Ribeiro de Castro juis comissario da sua demarcação, conforme as informações dadas pelas camaras, juizes das terras e parocos, ADB, Manuscrito n.º 908, p. 233.

A produção da amêndoa nos amendoais do Nordeste Transmontano era muito significativa e destinava-se à exportação, principalmente para a Alemanha339.

Fazia-se a exploração para comercializar e a produção dependia da capacidade produtiva do arvoredo. A colheita fazia-se de uma só vez, em período certo, no mês de Setembro, feita por homens que a varejavam e mulheres que a apanhavam340.

Relativamente à figueira, agrupava-se para obtenção de figos, que se comercializavam com os centros urbanos e depois de secos se exportavam341.

No respeitante à amoreira, ela existe desde longa data no actual território nacional destinada a alimentação do sirgo, subjacente à indústria da sericicultura introduzida na Península pelos Árabes342 e na província de Trás- os-Montes, o cultivo da amoreira encontrou condições propícias para o seu desenvolvimento343, já aqui conhecida desde o século XIII344.

339 Doc. 14 - Carta da Câmara de Torre de Moncorvo ao rei (1896), apelando para o Governo

estar atento ao Tratado Comercial com a Alemanha, principal consumidora de amêndoa; in BRANCO, Ilda A. Fernandes – Aspectos Económico-Sociais de Torre de Moncorvo em Finais do século XIX, Dissertação de Mestrado em História Ibero-Americana, Porto: Universidade Portucalense, 1996, p. 190.

340 BARROS, Henrique da Gama – “Estimativa da Produção da Fruta no Algarve, Alfarroba,

Amêndoa e Figo”, Separata da Junta Nacional de Frutas, Lisboa: Gráfica Monumental, LDA, 1959, p. 16.

341 BARROS, Henrique da Gama – ob. cit., pp. 15-16.

342 ESTEVES, Silva – “Indústria das Sedas em Trás-os-Montes”, Revista Ilustração

Transmontana, 2º ano, Porto: Tipografia Ocidental, 1902, p. 56.

343 MENDES, José Amado – Trás-os-Montes nos Finais do Século XVIII (Alguns aspectos

económico-sociais), Bragança: Instituto Politécnico de Bragança, 1985, p. 76; PATRICIO, Ângelo – “O Nordeste Transmontano na Vanguarda da Seda Natural”, Revista Bragantia, vol. XIV, Janeiro a Junho, Bragança, 1994, p. 134.

344 Em Portugal a produção da seda é referenciada em 1233 no foral outorgado aos moradores

do Couto de Ervedosa na altura em que D. Silvestre Godinho, Arcebispo de Braga, se encontrava de visita a Chaves, no qual ordena que a folha da amoreira não fosse desviada do aludido couto e que o sirgo que naquela povoação se criasse, a parte que lhe pertencia, fosse paga em casulos. In CUNHA, D. Rodrigo da – História Eclesiástica de Braga, cap. 25, Braga: (s. n.), 1989; PIMENTEL, Meneses – Sericicultura Portuguesa, Lisboa: Administração do Portugal Agrícola: Tip. da Companhia Nacional Editora, 1902, p. 63; RIBEIRO, José Victorino – A Fábrica das Sedas de António Francisco Nogueira – Monografia Precedida de um esboço histórico da Indústria das Sedas em Portugal (1855-1920), Porto: Tipografia Sequeira, 1920, p. 5.

Coube a D. Afonso V fomentar o seu cultivo com vantagens para o Reino345.

No século XV, os procuradores dos concelhos nas Cortes realizadas em Coimbra e encerradas em Évora solicitaram ao monarca para obrigar os proprietários das terras a plantar amoreiras, informando que a indústria da seda em Trás-os-Montes se encontrava em franco progresso e que o restante país devia seguir-lhe o exemplo346. D. João II defendeu também o fabrico da seda347 e na segunda metade do século XV, a sua produção em Bragança já existia, monopolizada pelo duque de Guimarães seu donatário. No decurso do século XVI continuou a evoluir e os veludos de Bragança tornaram-se conhecidos no âmbito nacional., tendo a cidade solicitado ao rei para a seda ser vendida livre e não submetida a quaisquer direitos alfandegários348. A seda tornou-se então um luxo caro e no reinado de Filipe I foram proibidas as aplicações de guarnições de seda nas roupas nomeadamente laçarias, debruns, barras, etc.349.

O primeiro crescimento da produção da seda em Trás-os-Montes ocorre entre 1667 e 1705, em que os ministros territoriais, corregedores, provedores e reguladores locais ordenaram para serem plantadas amoreiras e trouxeram de Toledo técnicos e peritos especializados, sendo esta a primeira tentativa de

345 D. Afonso V ordenou que todos os moradores das respectivas comarcas procedessem à sua

plantação e “plantassem cada um 20 pés de amoreiras ou as enxertassem em figueiras”, medidas estas que não tiveram resultados plausíveis, in ESTEVES, Silva – “Indústria das Sedas em Trás-os-Montes”, Revista Ilustração Transmontana, 2º ano, Porto: Tipografia Ocidental, 1902, p. 20; O mesmo monarca ordenou que fossem instaladas em Moncorvo, Bragança, Porto e Lamego oficinas sedeiras e no século XVI, D. Pedro II seguiu a mesma linha de conduta. In AFONSO, Carlos Teixeira – “Alguns Elementos

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 94-118)