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Economia

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 129-132)

CAPÍTULO IV – A ECONOMIA

1. Economia

No âmbito geral a economia do século XVIII pode considerar-se positiva. Caracterizou-se por uma maior aquisição de terra para culturas agrícolas nos baldios e terras incultas; mais disponibilidade financeira para seu investimento; maior oportunidade de transaccionar os diversos produtos agrícolas, podendo os mercadores optar pelas actividades agrícolas mais rentáveis. Assistiu-se a um processo de reconversão da paisagem com aumento das terras cultivadas. Verificou-se um decréscimo dos cereais tradicionais designadamente o trigo, centeio e cevada e aumentaram as áreas de vinha, milho maís, olival, árvores de fruto, hortas e pecuária. Desenvolveu-se a indústria da seda, linho e têxtil490. O século Setecentista foi também o século do ouro com consequências directas e indirectas a nível nacional no investimento, consumo, comércio externo, e facilidade de pagamento ao exterior. Cresceram as disponibilidades privadas de capitais devido ao fluxo migratório verificado na época de crescimento económico491.

Relativamente à economia em Trás-os-Montes, em finais do século XVIII a principal cultura eram os cereais, sendo a mais relevante a do centeio, seguida do trigo, cevada e milho.

490 CARDOSO, José Luís – Pensar a Economia em Portugal - Digressões Históricas, Lisboa: Difusão Editora, 1997, 1997, p. 101; SERRÃO, José Vicente – “Quadro Económico”. In MATTOSO, José (Dir.), História de Portugal – O Antigo Regime (1620-1807), Lisboa: Circulo dos Leitores, 1993, pp. 72-73; MACEDO, Jorge de - “A situação Económica no Tempo de Pombal Alguns Aspectos”, Estudos e Documentos para a História de Portugal, Porto: Livraria Portugália, 1951, T. 1, p. 100; GODINHO, Vitorino Magalhães – “Alguns problemas da Economia Portuguesa no Século XVII de depressão Internacional”, in Revista de História Económica e Social, 1980, vol. 5, p. 114.

491 SERRÃO, Joaquim Veríssimo – “Panorama Agrário”, História de Portugal O Despotismo

Iluminado (1750-1870), Lisboa: Verbo, 1981, vol. VI, pp. 403-406; VANDELLI, Domingos – “Memória sobre a necessidade de uma viagem filosófica feita no reino e depois nos seu domínios”, Memórias Económicas Inéditas (1780-1808), Lisboa: Publicações do II Centenário da Academia das Ciências de Lisboa, 1987, pp. 33-34; SERRÃO, José Vicente – “Quadro Económico”. In MATTOSO, José (Dir.), História de Portugal – O Antigo Regime (1620-1807), Lisboa: Circulo dos Leitores, 1993, pp. 72-73.

O centeio produzia-se mais no Alto Trás-os-Montes492, em terras altas e frias493. A cultura do trigo desenvolvia-se principalmente no Vale da Vilariça e Veiga de Chaves, de terra extremamente férteis e outras de clima temperado e de baixa altitude, na Terra Quente do Nordeste, praticando-se também em localidades mais pobres de solo494. A produção da cevada destinava-se à alimentação dos animais de trabalho. Quanto ao milho a sua cultura teve início em Trás-os-Montes no final do século XVIII495 e as referências a este cereal são reduzidas no final da centúria setecentos. A sua produção reduzia-se apenas a Vinhais, Frechas e Vila Flor496 e a produção do milho maís era insignificante497.

Relativamente à olivicultura ela encontrava-se já muito divulgada em Trás-os-Montes, apesar de só em finais do século XVI ser introduzida em Mirandela, e Freixo de Espada à Cinta498. Em Moncorvo e de acordo com Manuel Severim de Faria, em princípios do século XVII era já frequente a cultura da oliveira499. A partir desta centúria muitas oliveiras foram plantadas em terras quentes e frias de Trás-os-Montes em terrenos propícios de clima e

492 TABORDA, Virgílio - ob. cit., p. 1; RIBEIRO, Orlando – ob. cit., p. 82.

493 FERREIRA, H. (Cf.) – O Clima em Trás-os-Montes, “Memória” apresentada ao 2.º Congresso

Provincial de Trás-os-Montes e Alto Douro, Lisboa: s. n., 1941, pp. 10-11; SILBERT, Albert – Do Portugal de Antigo Regime ao Portugal Oitocentista, Lisboa: Livros Horizonte Universitário, 3.ª ed., 1981, p. 39; RIBEIRO, Orlando e TENSACH, Hermann – Geografia de Portugal, Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1991, p. 979.

494 SÁ, José António de – ob. cit., pp. 273-290; RIBEIRO, Orlando – ob. cit., p. 82.

495 RIBEIRO, Orlando – ob. cit., p. 119; RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e

declínio da oliveira em Portugal”, Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, p. 85; RIBEIRO, Orlando – Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, Lisboa: Livraria Sá Costa Editora, 7.ª ed., 1998, pp. 113-122.

496 CASTRO, Columbano Ribeiro de – ob. cit., pp. 66, 112 e 148; SÁ, José António de –

“Descripção Económica de Torre de Moncorvo”, Memórias Económicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa: Officina da mesma Academia, 1791, T. III, p. 261; ALMEIDA, Luís Ferrand de – “A Propósito do Milho “Marouco” em Portugal nos séculos XVI e XVIII”, Revista Portuguesa de História, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1992, T. XXVII, pp. 103-143.

497 CASTRO, Columbano Ribeiro de - ob. cit., p. 229.

498 BARROS, João de – ob. cit., pp. 67v e 68; SERRÃO, Veríssimo – Viagens em Portugal de

Manuel Severim de Faria 1604-1609-1625, Lisboa: Tipografia Ed. Portuguesa Ltd., 1974, pp. 111 e 113.

499 SERRÃO, Veríssimo – Viagens em Portugal de Manuel Severim de Faria 1604-1609-1625,

altitude, e no século XVIII, na mesma vila de Moncorvo, houve um aumento muito significativo da referida cultura500.

A partir desta centúria muitas oliveiras foram plantadas em terras quentes e frias de Trás-os-Montes em terrenos propícios de clima e altitude

No que concerne à viticultura desenvolvia-se em todo Trás-os-Montes, principalmente na Terra Quente, com excepção da região do Barroso por ser fria e intensamente na região duriense.

A produção vinícola desenvolveu-se principalmente em Alijó, Carrazeda de Ansiães, Favaios, Mesão Frio e Santa Marta de Penaguião501.

No tocante ao castanheiro é aludido por Ribeiro de Castro em diversas localidades de Trás-os-Montes, designadamente em Mogadouro, Paçó, Monforte de Rio Livre, Lamas de Orelhão e Vimioso502.

Merecem também ser mencionadas as culturas do carvalho para utilização da sua casca na indústria de curtumes e o pinheiro, este, e como referimos anteriormente, ainda pouco divulgado em Trás-os-Montes e só no final de Setecentos se assistiu à sua propagação503. Outra cultura que merece

ser referenciada é a amoreira504 e a sua relação com a indústria da seda. Em

Trás-os-Montes foi também muito significativa a produção do linho cânhamo505 muito utilizado na cordoaria.

500 SÁ, José António de – “Descripção Económica de Torre de Moncorvo”, Memórias Económicas

da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa: Officina da mesma Academia, 1791, T. III, pp. 262- 263; SERRÃO, Veríssimo – Viagens em Portugal de Manuel Severim de Faria 1604-1609-1625, Lisboa: Tipografia Ed. Portuguesa Ltd., 1974, pp. 111 e 113.

501 CASTRO, Ribeiro de – ob. cit., pp. 267, 289 e 308.

502 CASTRO, Ribeiro de – ob. cit., pp. 48, 53, 66, 130, 293 e 327.

503 RIBEIRO, Orlando – “Cultura do Milho, economia agrária e povoamento”, Biblos”, Coimbra:

Coimbra Editora, 1941, vol. XVII, p. 647.

504 SÁ, José António – Dissertações philosophico-politicas sobre o trato das sedas na comarca

de Moncorvo, Lisboa: Officina da Academia real das Ciências, 1787, p. XVI; SOUSA, Fernando de – “A Memória dos Abusos Praticados na Comarca de Moncorvo de José António de Sá (1790)”, Porto: Separata da Revista da Faculdade de Letras, da Universidade do Porto, 1974, vol. IV, pp. 102-103; VILA MAIOR, Visconde de – “O canamo na Villariça”, O Arquivo Rural, 1963, vol. VI, pp. 567-572.

505 GRAÇA, Celestino – A Cultura do Linho Cânhamo, Lisboa: Sá Costa, 1945; MENDES, José

Amado – Trás-os-Montes nos Finais do Século XVIII (Alguns aspectos económico-sociais), Bragança: Instituto Politécnico de Bragança, 1985, p. 26; TABORDA, Virgílio – Alto trás-os-Montes. Estudo geográfico, Lisboa: Livros Horizonte, 1987, pp. 109-110.

No âmbito económico, a agricultura, as artes e o comércio quando desenvolvidos são a riqueza de qualquer país, o manancial de todo o bem do Estado e interesse de uma nação. Sem estes sectores, não pode haver riqueza, ficando a nação impossibilitada de se tornar independente sob o ponto de vista económico506. Trás-os-Montes não fugiu à regra e foi também abrangido por esta série de mudanças, que contribuíram para um relativo progresso e desenvolvimento. No âmbito agrícola, 35,2 % do número total de homens transmontanos dedicavam-se a este sector, sendo os lavradores o dobro dos jornaleiros507.

Em finais do século XVIII a panorâmica agrária em Trás-os-Montes caracteriza-se pelo aumento da cultura da castanha, menor difusão da oliveira, vinha, pinheiro, batata, milho maís e proliferação do linho cânhamo508.

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 129-132)