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Os Olivais

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 84-88)

CAPÍTULO II – A PAISAGEM RURAL

6. Culturas e Técnicas Agrícolas

6.2. Os Olivais

De origem mediterrânica, a oliveira tornou-se a árvore por excelência, das civilizações que neste espaço brotaram. Com o pão e o vinho, o azeite foi sacralizado pelo cristianismo, utilizado na iluminação dos templos, ou, como óleo santo, no sacramento do crisma. Foi também a gordura por excelência na Idade Média e no Antigo Regime, empregue como produto básico na alimentação e noutras actividades, como a iluminação, a perfumaria e a medicina. A sua existência é antiquíssima em todo o território nacional, introduzida e aproveitada pelos romanos265 Adaptou-se a quase todos os solos do país, mas foi nos solos calcários das regiões quentes do interiores resguardados dos ventos marítimos como o Nordeste Transmontano que mais se desenvolveu e encontrou condições favoráveis ao seu crescimento e maior produção. Desenvolveu-se principalmente na Terra Quente Transmontana, vales do rio Tua e Douro. Requer invernos suaves, moderados, com chuva na Primavera, calor em Estio longo e seco, e Outonos suaves266. Não se desenvolveu eficazmente em locais frios de altitude superior a 700 metros, mas teve maior progresso e produziu mais até altitudes dos 500/550m, com elevada incidência na bacia inferior do Tua267. Encontrou óptimas condições para seu desenvolvimento e rentabilidade nos vales do Douro e do Tua, ou seja na Terra Quente Transmontana268.

265 RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e declínio da oliveira em Portugal”,

Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, pp. 86- 88.

266 RIBEIRO, Orlando – Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed. Lisboa: Livraria Sá da

Costa, 1998, p. 70; RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e declínio da oliveira em Portugal”, Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, pp. 86-88.

267 AGROCONSULTORES E COBA – Carta dos Solos ,Carta de Uso Actual da Terra e Carta da

Aptidão da Terra do Nordeste de Portugal, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 1991, p. 85; LANGHAMS, F. P. – “Apontamentos para a História do Azeite em Portugal”, Separata do Boletim Nacional de Azeite, Lisboa, 1949, p. 135; RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, Expansão e Declínio da Oliveira e Portugal”, Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, pp. 86-88.

268 RIBEIRO, Orlando – Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico, 7.ª ed. Lisboa: Livraria Sá da

Desempenhou um papel relevante na vida do agricultor, uma vez que lhe compensava o baixo rendimento da terra269, e ser considerado o melhor dos óleos vegetais, uma gordura que não tem rival e de grande valor para a saúde pública270, pelo que houve uma campanha por parte de olivicultores, para valorizar o fabrico do azeite271. Em meados da década trinta do século XVIII, a sua produção foi muito importante a nível nacional. Exportou-se para a Alemanha, Flandres, Brasil, Galiza, Castela e Índia272.

É uma árvore característica dos países mediterrâneos e encontrou

também no Nordeste Transmontano habitat apropriado ao seu

desenvolvimento e produção nas suas planícies e terras baixas. O início da sua cultura em Mirandela remonta ao segundo quartel do século XVI: “... e muito pouco tempo há que ali se plantarão as primeiras oliveiras e agora há muito azeite na terra”273.

Em finais do Século XVIII a produção oleica em Trás-os-Montes era ainda insuficiente, muito aquém das potencialidades da província neste domínio, mas era já produzido azeite em quantidade muito significativa em Lamas de Orelhão, em menor escala em Torre D. Chama e Mirandela. Columbano Ribeiro de Castro opinava cuidar mais da plantação de oliveiras, uma vez que tinham excelentes condições de solo e clima para o desenvolvimento da produção oleia, o que veio a acontecer a partir deste século. Entretanto em Torre D. Chama o cultivo da oliveira no século XVIII havia-se vulgarizado e a vila de Abreiro produzia e exportava azeite274. A sua

269 RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e declínio da oliveira em Portugal”,

Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, p. 77; LANGHAMS, F. P. – “Apontamentos para a História do Azeite em Portugal”, Separata do Boletim Nacional de Azeite, Lisboa, 1949, p. 125.

270 RAPOSO, José Hipólito Ribeiro – “Campanha de Valorização do Azeite na Agricultura,

Lavoura Portuguesa”, Boletim da Associação Central de Agricultura Portuguesa, Junho, 2.ª ed., Barcelos: Comp. Ed. do Minho, 1948, n.º 3, pp. 23-24.

271 RAPOSO, José Hipólito Ribeiro – ob. cit., n.º 2, p. 2.

272 COELHO, Virgínia – “Preços do Azeite em Lisboa: 1626-1733”, Revista de História Económica

e Social, Julho-Dezembro, Lisboa: Sá Costa, 1979, vol. 4, p. 16.

273 BARROS, João de – ob. cit., p. 68.

274 ADVR - CASTRO, Columbano Pinto Ribeiro de Castro - Nova Demarcação da Província de

Tras-os-Montes. Mappa do estado actual da província de Tras-os-Montes, feito no anno de mil setecentos noventa e seis pelo desembargador Columbano Pinto Ribeiro de Castro, juis commissario da sua

plantação no concelho de Mirandela ter-se-ia iniciado, em maior escala, na margem direita do rio Tua, nomeadamente entre Golfeiras e Eixes, tendo-se dilatado o seu cultivo em ambas as margens do mesmo manancial. Destaque para o extenso olival denominado Maravilha, constituído por várias parcelas de terreno adquirido em meados do século XVII pelo donatário de Mirandela António Luís Távora para aqui mandar plantar oliveiras. Dissipou-se posteriormente pelas terras baixas e abrigadas do concelho de Mirandela275. A cultura da oliveira também se desenvolveu em Abreiro, que produzia em abundância e exportava azeite; em Frechas havia grande mata de oliveiras; Lamas de Orelhão aumentou a plantação de olival; Torre D. Chama já recolhia azeite, mas Columbano Ribeiro de Castro opinou que seria mais rentável aumentar a produção, fazendo plantações de oliveira276.

O conjunto de oliveiras formam o olival ou olivedo e desempenharam um papel relevante na economia rural277.

As castas de azeitona mais frequentes eram verdeal, galega ou madural, lentisca, cordovil, redondil, carrasquenha e sevilhana, e o azeite era de qualidade superior278.

A reprodução da oliveira fazia-se plantando ramos grossos da árvore cortados de fresco, conhecidos por tanchões, ou por enxerto, que consiste em introduzir pequenas partes da árvore, em forma de garfo ou côdea nas silvestres, denominadas por zambujeiros. Desta forma se produz azeitona da variedade que se quiser. A altura ideal para sua plantação é no início de demarcação, conforme as informações dadas pelas camaras, juízes das terras e parocos; Nova demarcação e regulação das comarcas e districtos da provincia de Tras-os-Montes, ms. 908, 1796, p. 54.

275 SALES, Ernesto Augusto Pereira de – Mirandela Apontamentos Históricos, Bragança: Junta

Distrital de Bragança, 1983, 2º vol., pp. 185-186.

276 ADB. - CASTRO, Columbano Ribeiro de - Mappa do estado actual da província de Tras-os-

Montes feito no anno de mil setecentos noventa e seis por Columbano Ribeiro de Castro juis comissario da sua demarcação, conforme as informações dadas pelas camaras, juizes das terras e parocos, Manuscrito ms. 908, 1796, pp. 214, 92, 233, 116.

277 SAMPAIO, Alberto – SAMPAIO, Alberto – “As Vilas do Norte de Portugal”, Estudos Históricos

e Económicos, 2.ª ed. Lisboa: Vega, 1923, vol. I, p.76.

278 SALES, Ernesto Augusto Pereira de – Mirandela Apontamentos Históricos, Bragança: Junta

Distrital de Bragança, 1983, 2º vol., pp. 185-186; BAPTISTA, Manuel Dias – “Ensaio de Uma Descrição de Coimbra – do estado da agricultura e da cultura das oliveiras”, CARDOSO, José Luís (Dir.), Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, para o Adiantamento da Agricultura, das Artes, e da Indústria em Portugal, e suas Conquistas (1789-1815), Lisboa: Banco de Portugal, 1990, T. I, p. 213.

Janeiro, de preferência neste mês as plantadas em terras secas, mais tarde nas terras húmidas. Era usual lavrarem-se os olivais para não criarem mato e as oliveiras se desenvolverem mais279. Se o solo onde eram plantadas era fecundo podia anualmente semear-se nele trigo ou cevada, se não fosse devia lavrar-se de dois em dois anos. A colheita da azeitona no período de Setecentos costumava fazer-se em Dezembro. Para colher a azeitona os homens subiam à oliveira para com varas grossas e compridas baterem com força nos ramos para a azeitona cair. Utilizavam panos de linhagem para pôr debaixo da árvore e as azeitonas lhe caírem em cima. Só as que caíam mais distantes eram apanhadas uma a uma para o cesto e depois despejado no saco. A que cai sobre os panos vem cheia de folhas e pequenos ramos que é preciso limpar. Para isso faz-se um tendal com as varas e os panos e atira-se a azeitona de longe. Ao atirar-se a azeitona a uma certa distância o vento leva- lhe as folhas, bem como os pequenos ramos e limpa-a. Era depois ensacada e levada para a tulha onde permanece até à feitura do azeite no lagar de duas ou três pedras em granito. O melhor azeite é aquele em que a azeitona passa menos tempo na tulha e se transforma em azeite passado pouco tempo após a apanha da azeitona280.

Depois da azeitona ser apanhada, procedia-se ao rebusco pelas pessoas mais necessitadas, que consistia em ir ao olival procurar as azeitonas que ficaram perdidas. Relativamente ao rebusco da azeitona, em sessão da câmara de Mirandela em 20 de Janeiro de 1689 foi decidido em Código de Posturas que todo o indivíduo que fosse encontrado nos olivais, debaixo das oliveiras com azeitona sem ter onde pudesse colhê-la, era condenado a dez dias de cadeia e a pagar cem réis para o concelho. Para a feitura do azeite, a

279 ALLA-BELLA, João António – “Memória sobre a Cultura das oliveiras em Portugal”, 2.ª ed.,

Academia Real das Sciencias de Lisboa, Lisboa: Off da mesma Academia, 1818, pp. 72-80; RIBEIRO, Orlando – “Significado Ecológico, expansão e declínio da oliveira em Portugal”, Opúsculos Geográficos – O Mundo Rural, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, vol. IV, pp. 86-88.

280 BAPTISTA, Manuel Dias – “Ensaio de Uma Descrição de Coimbra - Cultura do Trigo, Cevada

e Milho”, CARDOSO, José Luís (Dir.), Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, para o Adiantamento da Agricultura, das Artes, e da Indústria em Portugal, e suas Conquistas (1789- 1815), Lisboa: Banco de Portugal, 1990, T. I, pp. 214-216; MARÇAL, Ramiro – “A Conservação da Azeitona, do Azeite e do Bagaço” (Conferência), Boletim da Associação Central da Agricultura Portuguesa, Lisboa: Sede da Associação, 1900, T. II, pp. 184-221.

azeitona era despejada e moída no pio em granito do lagar, os mais antigos de uma só pedra ou mó em cantaria. Posteriormente adoptou-se o sistema de duas ou três mós por ser mais rentável. Na vila de Mirandela a azeitona era transformada em azeite nos diversos lagares aqui existentes e nos lagares de azeite espalhados por algumas freguesias do concelho, como informam os seus párocos em Memórias Paroquiais281.

O melhor azeite era o fino e fresco e só podia ser adquirido com azeitona apanhada de fresco da oliveira, mas os moinhos e prensas dos lagares e fábricas não eram suficientes para dar vazão à azeitona à medida que era colhida, pelo que era guardada em tulhas e nem sempre era fabricada em boas condições, pelo que era aconselhável criar na tulha um fundo falso e para aí escorrer a água russa antes da azeitona ser transformada em azeite, sendo melhor e mais rentável a azeitona galega282.

No documento Mirandela Setecentista. (páginas 84-88)