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Aproximação entre o ensino/aprendizagem e os meios tecnológicos

CAPÍTULO II – ILUMINANDO O MAR DAS POSSIBILIDADES

2.6 Elementos de uma proposta didática em favor da autonomia

2.6.4 Aproximação entre o ensino/aprendizagem e os meios tecnológicos

De fato, a educação pressupõe a utilização de meios de comunicação social (as mídias) (SOUZA, DE BASTOS e ANGOTTI, 2001). Há menos de duas décadas experimentamos o uso da internet, fibras óticas, satélites e, breve, da TV digital, redimensionando a forma e o tempo de interação. Reside aí outra constatação: novas formas de comunicação surgem, aliadas a todas as possibilidades de utilização das mídias já “conhecidas”.

Uma boa razão para que o professor se mantenha informado, atualizado e consciente de que é fundamental incorporar os avanços tecnológicos em nossas ações educativas. Os professores de Ciências naturais - dos quais esperamos apropriação e maior envolvimento, por trabalharem mais próximo desta área - ainda evitam aproximar os meios tecnológicos-comunicativos da sala de aula. O que demonstra ser um problema para nós que defendemos a decodificação destes equipamentos na prática educativa (SOUZA, DE BASTOS e ANGOTTI, 2001).

Ao assumir uma posição de defesa em prol da utilização sistemática de tecnologias atuais de comunicação e informação, entre as quais desponta o computador com acesso à rede Web, deve-se considerar algumas fragilidades que este processo de aproximação exibe.

Um relatório produzido pela Câmara dos Deputados - Tecnologia da Informação e Sociedade: O Panorama Brasileiro (NAZARENO et. al., 2006) - faz um

amplo mapeamento das iniciativas pela inclusão digital. Segundo os organizadores, mostra-se o panorama da infoinclusão no Brasil e os cenários prospectivos do País em relação à disseminação do uso social das Tecnologias da Informação e Comunicação. Neste documento encontramos dados interessantes que pode ajudar a contextualizar algumas barreiras em relação a pouca utilização de recursos informáticos na educação. O documento cita que em 2003, o “Economist Intelligence Unit” classificou 60 países de acordo com a “prontidão para a aprendizagem eletrônica”. O estudo, baseado na habilidade dos países para produzir, usar e expandir a aprendizagem pela Internet, seja por meios formais ou informais, na escola ou no trabalho, no governo ou na sociedade, coloca o Brasil na 34ª posição mundial, e em 4ª na América Latina.

Os números conduzem à reflexão acerca das causas do mau desempenho do País em relação a esse indicador. Como cita Nazareno et. al. (2006, p. 47), de fato, no que tange ao número de escolas com acesso a computador, há diversos dados negativos a considerar. Saliente-se a baixa quantidade de estabelecimentos de ensino fundamental que dispõem de recursos de TIC; segundo o Censo Escolar de 2005 do MEC/INEP, somente 38% das escolas de ensino fundamental possuíam computador, e apenas 17% contavam com laboratórios de informática. Além disso, são alarmantes as diferenças entre os sistemas público e privado: no universo das instituições particulares, o índice de estabelecimentos com computadores é de 84%, e o percentual que conta com laboratórios de informática é de 55%, conforme revela o documento.

Ainda, há grande disparidade regional no País, o que não causa estranheza. No Sudeste, em 2000, 50% das escolas de nível médio estavam conectadas à Internet, enquanto que na região Norte esse percentual se resumia a 12%. De acordo com o Censo Escolar de 2001, São Paulo possuía quase metade dos seus alunos do ensino fundamental matriculados em instituições com laboratórios de informática; em Tocantins, o percentual era de apenas 7,8%. A desigualdade se estende no comparativo de escolas com acesso à Internet em zonas urbanas e rurais – 35% e 14%, respectivamente.

Não obstante, há dados positivos que merecem ser enaltecidos. De acordo com o Censo Escolar de 2003, 58% dos estudantes de ensino médio do sistema público estavam matriculados em escolas com laboratórios de informática, enquanto que 53% freqüentavam instituições conectadas à rede mundial. Esses números revelam

expressiva evolução em relação à situação de 1999, em que os referidos percentuais eram de 46% e 14%, respectivamente. No ensino fundamental, em 1999, 26% dos alunos de 5ª à 8ª série do sistema público tinham acesso a laboratório de informática e 7% dispunham da possibilidade de conexão à Internet na própria escola. Em 2003, esses índices passaram para 38% e 37%, respectivamente (NAZARENO et. al., 2006, p. 47).

No que concerne às desigualdades regionais, o documento da Câmara Federal também registrada uma melhora no quadro da educação digital: em 1999, 24% dos alunos do ensino médio da região Nordeste freqüentavam estabelecimentos com laboratório de informática; em 2003, esse índice passou para 44%. Em relação à Internet, esse percentual saltou de 6% para 45%. Soma-se a esse quadro a enorme expansão experimentada nos últimos anos em relação ao acesso à rede, originada especialmente pelo crescente número de lares com computadores conectados e Lan Houses comerciais e comunitárias, que podem alcançar públicos mais diversos e socialmente afastados destes recursos.

Considerando os avanços verificados, o relatório da Câmara indica condições para que a promoção da alfabetização digital do brasileiro possa ser realizada com mais eficácia, sendo necessário que, desde o ensino fundamental, o cidadão possa ser familiarizado com as TIC. No entanto, os próprios professores, identificados como principais vetores da disseminação das novas tecnologias, normalmente não dispõem de capacitação suficiente para lidar com as ferramentas da informática ou não o fazem por fatores ainda obscuros. No mesmo documento se faz referência ao relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco – indicando que mais da metade dos professores de nível fundamental e médio das escolas públicas e privadas não possuem computador em seus domicílios, e 59,5% não utilizam correio eletrônico. Dentre os docentes que não dispõem de microcomputador em casa, 44,5% também não têm acesso a ele na escola. Esses dados revelam por que o computador e a Internet são tão pouco utilizados como instrumentos pedagógicos, sobretudo na rede pública, onde 51% dos alunos não utilizam essas ferramentas em aula.

Em resumo, uma série de fatores contribui para a formação de um quadro onde se percebe o distanciamento que persiste entre as novas tecnologias e a educação. Neste sentido, são necessárias ações capazes de aproximar objetivos e metodologias de ensino das tecnologias inovadoras, como é o caso do computador com acesso à rede Internet, de forma que esta aproximação gere melhores

resultados de aprendizagem. Imaginamos que a partir do momento que sejam oferecidas mais opções didáticas pautadas em novos recursos, em especial os recursos computacionais, estaremos contribuindo para a diminuição do abismo que ainda separa o professor do computador. Parte do problema estaria sanada com o aumento da disponibilidade de materiais on-line e em mídias fixas (CD-ROM, DVD, fitas de vídeo, etc.). Não devemos desconsiderar que existe outra parte, não menos importante, que envolve os conhecimentos que o professor necessita ter para fazer bom uso dos materiais. Sem as devidas informações sobre funcionalidade e aplicação nenhum recurso alcançará seus objetivos.

Remetemos o problema para os processos de formação continuada, que poderiam cumprir a função de atualização através de processos que estimulassem o uso das tecnologias na escola, por acreditar que somente a familiarização dos professores com estes meios pode efetivar mudanças duradouras.