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Podemos falar sobre Nanociência aos nossos alunos? Primeiros resultados

CAPÍTULO IV – SUSTENTAÇÃO

4.3 Podemos falar sobre Nanociência aos nossos alunos? Primeiros resultados

Durante a 6ª SEPEX – Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC – foi consolidado um dos resultados prévios deste trabalho, sintetizado em um minicurso versando sobre Nanociência (CIMA, 2007). Oferecido com o intuito de provocar uma discussão sobre as possibilidades de abordar o tema com alunos do ensino médio e/ou fundamental e com um público-alvo bem definido – professores de Física – o minicurso despertou o interesse de áreas diversas. Entre os participantes figuraram pessoas do curso de Medicina da UFSC, professores de Ciências do Ensino Fundamental, uma professora de Bioquímica da UFSC, alunos dos cursos de Engenharia e pelo menos dois professores de Física.

A experiência serviu para gerar novos parâmetros ao que se idealizou como curso de formação para professores, a partir do momento em que houve uma tomada de consciência das reais necessidades de um processo dessa envergadura, mesmo partindo de uma situação particular e temporalmente curta. Inicialmente os

participantes foram colocados em contato com o significado da Nanociência e de suas implicações, passo considerado importante para situar as futuras proposições. A exibição de trechos do filme “Viagem Fantástica83”, de 1966, resgatou a polêmica sobre ficção e realidade. No filme, uma equipe com cientistas e médicos é miniaturizada até ficar do tamanho de um glóbulo vermelho (2.000 nanometros) e injetada no organismo de um paciente para efetuar uma delicada operação no cérebro. Outros trechos de um documentário84 sobre os carregadores de fármacos85, mostrado na seqüência, contrapõe a realidade já existente onde drogas são conduzidas a pontos específicos e combatendo pontualmente determinados problemas, o que minimiza dosagens e efeitos colaterais. O uso de recursos disponibilizados na rede Internet auxilia no entendimento da noção de escala e tamanho. Sítios com boas referências foram avaliados pelos participantes do minicurso. Para finalizar o minicurso foi apresentada a seqüência didática descrita neste trabalho e discutidas algumas possibilidades de atividades didáticas envolvendo tópicos de Física Moderna sobre o tema Nanociência e suas implicações (Nanotecnologia).

Os treze participantes do minicurso, identificados de MC1 até MC13, registraram suas opiniões em um questionário (ver anexo I). Destes registros destacamos alguns pontos interessantes que serviram como avaliação para a proposta.

Pergunta 3: Na atual realidade da Física no Ensino Médio, há espaços para temas de Física Moderna e Contemporânea?

MC1 – Sim. Deveria haver esses temas pois são temas que instigam os alunos a querer saber mais; são temas em aberto, há muitas questões sem resposta [...]

MC2 – Como está organizado o currículo, não. No entanto através de iniciativas isoladas de profissionais “comprometidos” pode-se discutir temáticas atuais e contextualizadas.

MC4 – Sim, desde que o professor esteja comprometido a ensinar [...].

MC6 – Sim, o tempo deve ser utilizado para entendermos a nossa realidade (o nosso tempo) – se há coisas que estão surgindo e como elas estão “mudando” a nossa vida, interagindo em nosso viver. MC7 – Honestamente, como professor, penso que atualmente há

83 Do original “Fantastic Voyage”, filme de ficção científica da década de 60 distribuído pela Fox Home

Entertainment.

84 Produzido pela BBC de Londres – Série Horizon – Título Original: The Dark Secret of Hendrik

Schön

muito pouco tempo devido ao que citei antes: física amarrada ao programa básico e à LDB, além da cobrança do vestibular. Tudo o que tento trabalhar fora deste contexto sinto muita dificuldade e resistência, pois em geral os alunos tomam como “tempo perdido”. MC12 – Na minha opinião ela é viável, mas deve ser implantada de maneira interdisciplinar. Por ser uma área vasta e complexa envolve outros setores de estudo como a Química e a biologia.

Mesmo que a maioria dos participantes não são professores de Física, um dia já foram estudantes e reconhecem a necessidade de ensinar e aprender sobre FMC. Aqueles que estão mais próximos ou que atuam como professores possuem um discurso moderado, identificando possíveis obstáculos para o tratamento de temas atuais no ensino de Física.

Pergunta 6: Antes deste minicurso você já possuía algum conhecimento sobre a Nanociência? Indique a fonte das informações que já possuía.

MC1 – Sim. Revistas, internet, televisão...

MC3 – Sim, por meio de leitura de artigos em revistas.

MC4 – Sim, porque eu costumo ler sobre avanços tecnológicos e, muitas vezes, fala-se de nanociência e também porque eu participei de uma palestra na última edição da SBPC.

MC6 – Nanociência não. Somente microscopia elet. varredura – dimensões que ela permite.

MC7 – Sim. Revistas, internet, documentários...

MC13 – Sim, por estudar Física e por leituras de periódicos

O minicurso despertou interesse pelo assunto. Era esperado que a maioria dos participantes conhecesse algo sobre o tema, mas quatro pessoas não tinham conhecimento sobre nanociência ou nanotecnologia. A mídia aparece como uma das principais fontes de informação sobre o tema. Também é esperado para os próximos anos um destaque ainda maior, fato que se adiciona como justificativa para este trabalho. Muitos alunos já ouviram falar do assunto e muitos ainda ouvirão.

Pergunta 7 – Faça uma avaliação da proposta apresentada. Ela é viável em relação aquilo que se propõe?

MC2 – A proposta apresentada é viável e muito interessante, principalmente na metodologia de avaliação (“Roleplay”) apresentada. Sugiro que pense na possibilidade de adaptá-la ao Ensino Fundamental (Ensino de Ciências)

MC3 – A proposta é viável. O recurso do computador não é fundamental, na minha opinião, mas ajuda a atrair o aluno, o que um texto por si só não faz.

MC7 – A proposta é extremamente interessante do ponto de vista da importância do tema. Porém penso que só pode ser implantada em grupos de alunos, já que estatisticamente uma grande parte destes não tem interesse em assuntos que não estão presentes nos seus hábitos diários. É uma questão cultural infelizmente! E aumenta esse grupo de alunos ano a ano.

MC10 – Sim, inclusive o uso de computadores, presentes na rede pública de ensino.

MC11 – A proposta me parece boa, mas creio que enfrentará alguma resistência dos professores quando implementá-la. Estão acostumados a uma receita que não lhes traz muitos problemas.

MC13 – Apesar de interessante e bem estruturada, faz-se necessários recursos que infelizmente não são disponíveis aos professores de rede pública (computador, canhão e, especialmente, tempo)

O debate mais “quente” acontece quando a proposta é colocada à prova. Os discursos são realçados. Por um lado surgem opiniões daqueles que se reconhecem como alunos de uma Física fora de contexto. Por outro lado o discurso se aproxima das necessidades do professor, onde surgem dúvidas quanto aos recursos disponíveis e ao interesse dos alunos. Da mesma forma que os registros feitos durante a pesquisa com o grupo de professores no ambiente virtual, relatada neste capítulo, existem receios de que propostas inovadoras possam não ecoar por este ou aquele motivo. Como citado por um dos participantes, a eminente necessidade de ampliação da base de conhecimentos do professor pode justificar o discurso daqueles que vislumbram problemas e dificuldades quase intransponíveis para implementar propostas como aquela que se apresenta aqui.

Dentre as demais questões ainda destacamos uma que solicita aos participantes a opinião sobre o formato do minicurso. Os dois professores de Física e uma professora de Ciências do Ensino Fundamental concordam que cursos como este devam permitir a interação dos interessados, ou seja, há necessidade de abrir espaço para discussões, apresentação das concepções dos participantes e trocas de experiências. Da mesma forma existe clara e expressa indicação em distribuir, igualitariamente, tratamento conceitual mais aprofundado e discussão didático- metodológica envolvendo uma diversidade de recursos disponíveis para apreensão do tema por parte dos alunos. A aprendizagem do aluno deve ter espaço e a conversa entre os formadores possibilita ancorar o tema. Reforçamos: este é um dos motivos que sugere ser imperativo pensar nas bases teóricas dos diversos campos da Didática das Ciências e da Pedagogia como fundamento dos cursos de formação

continuada, categoria na qual se enquadra a proposta apresentada e discutida anteriormente.

Ainda, resulta de uma discussão durante as atividades da 6ª SEPEX a proposta de uma oficina sobre Nanociência para professores de Ciências da rede pública do município de Florianópolis. A concretização da proposta ocorreu alguns dias depois de iniciadas as tratativas para acertos de calendário com a Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal, que se destaque, prevê horas-atividade específicas para participação dos professores da rede em cursos e oficinas (formação permanente). Nesse ínterim houve a promoção de uma parceira com o projeto de extensão Baú de Ciências86, mantido pelo Departamento de Física da UFSC e coordenado pelo Prof. Dr. Nelson Canzian, criando-se o “Curso de formação continuada para professores de Ciências” (ver Anexo II). Dois módulos foram ajustados. O primeiro, com 24 horas-aula, contemplando "Atividades experimentais no ensino de Ciências" dedicadas à realização de atividades experimentais do portfólio do Baú de Ciências. O segundo, com carga horário de 8 horas-aula, tem como tema uma "Viagem ao mundo do muito pequeno", Neste módulo são apresentados tópicos relacionados às possibilidades didáticas da nanotecnologia para o ensino de Ciências no Ensino Fundamental, que incluem a construção de equipamentos didático-pedagógicos com materiais de baixo custo e utilização extensiva de recursos audio-visuais.

Entendemos, assim, que os objetivos do trabalho estão sendo cumpridos. Além da discussão “virtual” com um grupo de professores de Física, temos a oportunidade de compartilhar com professores de Ciências do Ensino Fundamental alguns momentos para crescimento profissional e de renovação didático- metodológica. Não é arriscado afirmar que resultados positivos devem ocorrer em breve, da mesma forma que novas reestruturações serão implementadas ao modelo que foi proposto. Ainda nos resta fazer o acompanhamento de resultados de sala de aula, após o devido processo realizado com os professores. É uma porta que se abre para novas pesquisas.

86 Maiores detalhes sobre o projeto estão disponíveis em