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A pergunta que o leitor pode e deve formular é: como é realizável esta imersão? Se alguns dos interlocutores já faziam parte da rede de relações do pesquisador, o que este precisou foi utilizar as situações de entrevista como ferramenta de apro-

ximação, um motivo para estabelecer contatos que possibili- tassem uma vinculação. Assim, consegui estabelecer ou res- tabelecer uma ponte entre meu território e o deles, ponte que me permitisse estar mais próximo de seus estilos de vida. Com alguns eu fui a bares, com outros ,a festas e/ou shows, e com aqueles que frequentavam unidades de ensino onde o consumo de drogas era notório, cheguei a assistir aulas em suas turmas. Em 40% dos casos, cheguei a frequentar suas moradias, em situações outras que não as de entrevista, sendo que, depois de concluído o trabalho de campo, ainda mantivemos algum contato.

Faz-se imprescindível assinalar o quão importante foi o contato inicial, em suas casas ou em seus ambientes de estu- do/trabalho quando me acolheram, pois já aí foi possível per- ceber os mecanismos de inserção e interação em suas áreas de atuação, seus controles informais para evitar que o status de usuário fosse convertido em estigma. Os que moravam lon- ge dos pais e eram fumantes de maconha, fumaram enquanto entrevistados em suas residências; os que moravam com os pais e, dentre estes, nenhum era a favor do uso, preferiram ser entrevistados nas faculdades, onde alguns fizeram uso. Um usuário de cocaína, que morava só, cheirou a substância du- rante a entrevista.

Nesse sentido, a casa e a rua foram configuradas de acor- do com a necessidade contingencial de adequação. Assim, há mais liberdade em casa para consumir quando não há interdi- ção familiar, principalmente para os que moravam sem os pais. Para esses universitários, a rua significava o risco desnecessá- rio e que devia ser evitado. Já para aqueles que moravam com as famílias tradicionais, a rua era um “risco seguro” que valia a pena ser corrido, enquanto a casa dos “pais caretas” era, segu- ramente, um risco a ser evitado.

Nesse contexto, a relação entre risco e segurança é dinâ- mica, quase sempre instável. Entre esses universitários usu- ários de drogas há interpretações conflitantes em relação aos riscos e danos associáveis. Uma estudante que atua como re- dutora de danos relatou:

Leila Diniz – Quando eu comecei a trabalhar com redução

de danos a galera começou a me esculhambar. Um dia cheguei no mirante pra fumar e tinha sete pessoas com ácido na cabeça, aí alguém falou: ‘Não venha com redução de danos pra cá não, porque a gente quer ampliar efei- tos, sai pra lá com redução de danos’ ...eu fui um pouco ridicularizada com esse projeto no começo. Eles achavam ridículo como é que eu, uma pessoa que usa psicoativos vem com esse discurso careta? (risos). ‘Como é que uma pessoa que seis meses atrás tomava um ácido inteiro com a gente, agora recomenda que a gente tome só metade?’ Isso foi muito interessante porque me ajudou a pensar o projeto (de redução de danos). (VALENçA, 2010, p. 90).

Em meados de 2007, na faculdade onde a cena acima ocorreu, alguns estudantes usuários de maconha já não res- tringiam seu consumo aos locais mais reservados, gradativa- mente se espalhando pelos espaços do campus – jardins, esta- cionamento e até o Diretório Acadêmico –, aparentemente pouco preocupados em manter uma “área para fumantes” mais reser- vada e, assim, causando polêmica. O que ampliou o impasse é que esse foi um movimento contrário aos controles sociais cada vez mais impostos ao consumo de tabaco, controles esses com os quais muitos dos usuários de maconha concordam. Em fun- ção dessa situação, muitos atritos ocorreram. Uma funcionária administrativa da unidade chegou a ter uma altercação com um grupo de usuários que se reunia para fumar bem próximo às salas de aula, tentando, em uma reação bastante pontuada pela emoção, tomar o baseado das mãos de um dos estudantes, o que a levou a ser vista por muitos discentes e até docentes

– usuários e não usuários – como uma pessoa autoritária. A mesma estudante redutora de danos confirmou o fato:

Leila Diniz – Ela [a funcionária] chegou uma vez gritando

com a galera que tava fumando e algumas pessoas em reação diziam: ‘Eu não tou só fumando, eu tou fazendo um ato político, porque é um espaço que eu uso da minha forma’. Tentando mediar a situação, uma professora não usuária interferiu dizendo: ‘Eles vão fumar aonde, na rua? Na rua não pode!’. (VALENçA, 2010, p. 91).

Sem sobrevalorizar o aspecto emocional desse episódio específico, nem os estudantes nem a funcionária conseguiram reduzir os danos sociais da problemática – pelo contrário, até “incendiaram” o conflito. Foi passível de observação que os es- tudantes usuários envolvidos na polêmica cobraram certa fle- xibilidade de postura dos setores docentes e administrativos da academia – mas nem tanto deles mesmos – ao defenderem a delimitação do espaço universitário como um campo territorial onde deve haver maior compreensão para com suas demandas por parte da comunidade acadêmica, explicitado no “eu não tou só fumando, tou fazendo um ato político”. Nessa situação, esses usuários consideram os controles sociais estabelecidos pela comunidade acadêmica ortodoxa como obstáculos a serem vencidos na construção de suas identidades, na formulação de suas representações individuais e coletivas. Questionada sobre a possibilidade de um projeto de redução de danos sociais na faculdade ser bem-sucedido, Leila Diniz respondeu:

- Eu acho que só de sentar e discutir já é uma redução de

danos, porque eu acredito que a maior redução de danos é você tentar permitir que o outro pense sobre uma práti- ca que pode parecer simples, mas é altamente complexa. A principal estratégia é a circulação de informações. (VA-

Ao não levar em conta a “circulação de informações”57

muitas vezes contrárias aos seus interesses, ramificações des- se mesmo grupo de usuários correram o risco de não estarem blindadas contra controles e sanções sociais correntes. No ve- rão de 2007, um grupo de graduandos da área de Humanida- des partiu de Salvador em um ônibus fretado para participar de um congresso no Rio de Janeiro. Nessa caravana havia muitos usuários – maconha, tabaco, álcool e ácido lisérgico foram as drogas mais consumidas na estrada. Alguns estudantes porta- vam alguma quantidade de maconha para comercializar, como sustentação econômica para a viagem. Chegando ao congres- so, no clima festivo que se instaurou, um dos estudantes se empolgou tanto com sua “imunidade” por estar em uma ca- ravana universitária que resolveu colocar uma placa pendu- rada no pescoço, indicando que vendia a erva. Sua estratégia de marketing funcionou tão rapidamente que acabou atraindo a atenção de muitos compradores e também da polícia, que o deteve em flagrante. O resto do grupo voltou para Salvador e ele continuou detido no Rio de Janeiro, para constrangimento e consternação de muitos de seus colegas de viagem, que acha- ram “injusta” sua detenção. A questão que se coloca diante desses dados é: se todos os envolvidos sabiam dos riscos, por que, ao invés de lamentar as consequências, não procuraram evitá-las? Por que não buscaram reduzir os riscos ao invés de lamentar a “injustiça” das sanções sociais aplicadas, sanções que, de acordo com as leis vigentes, carteira de estudante algu- ma poderia evitar?

Quando se coloca em pauta estratégias de redução de riscos e danos, há uma problematização central que precisa ser dimensionada, ou seja, essa redução de riscos e danos benefi-

57 Informações que chegam não apenas nos bate-papos informais, mas por

cia especificamente que setores da sociedade? Por esse ângulo, é possível afirmar que a tentativa de orientar uma redução de riscos e danos entre estudantes com valores comuns ao gru- po citado acima, é vista por estes como “caretice”, como algo que beneficia muito mais aos não usuários. Desse modo, esses usuários parecem se contentar em buscar prioritariamente a “ampliação de efeitos”, até que uma situação traumática como a narrada no parágrafo anterior venha a acontecer. Em outras palavras, a redução de riscos só passou a ter sentido para esse grupo depois que os danos aconteceram. De todo modo, seria incorreto falar em riscos e danos como se fosse algo que esses universitários deveriam começar a aprender na universidade.

Em uma perspectiva pautada nas reflexões de alguns usuários, as estratégias de prevenção deveriam começar a ser trabalhadas em casa, onde toda educação começa. Em senti- do contrário ao da representação dominante, de que droga se aprende a consumir nas ruas em meio à insegurança e ao risco não calculado, alguns interlocutores viveram suas experiências iniciáticas nos seios das próprias famílias:

Cleópatra – Eu fumo já há 8 ou 9 anos, [na época da en- trevista estava com 22] mas eu tenho contato com a maco-

nha há bastante tempo porque meu pai é usuário.

T. V. – E a relação dele com você e a maconha é tranquila? Cleópatra – Na verdade, desde pequena eu percebo que

meu pai e meus tios, irmãos do meu pai, sempre fuma- vam, vi que tinha um cheiro diferente e que eles não fuma- vam em qualquer lugar. Quando eu tinha mais ou menos 8 anos, meu pai chegou pra mim e uma prima minha que o pai também fuma, e falou: ‘Ó, isso aqui que a gente fuma é maconha, cês vão ouvir muita coisa na rua e na televisão falando sobre isso, mas qualquer dúvida que vocês tive- rem vocês vem perguntar pra gente’. Na hora que ele saiu, a gente: ‘Ah, é maconha!’ Aquela coisa de Jornal Nacional, de prisão, era uma coisa normal na nossa vida. Não é a

gente saber que era maconha que faria nossos pais vira- rem criminosos, e aí foi bem tranquilo.

Quando eu comecei a fumar, logo, de imediato, eu nem contei pro meu pai, a gente nem morava junto, mas, aos poucos, ele foi percebendo, o jeito de tar se vestindo, os amigos, o som que cê tá curtindo, um dia ele falou pra mim: ‘Ó, eu acho que cê tá fumando maconha, cê nunca me contou, mas da minha mão você só vai receber um ba- seado no dia que você chegar pra conversar comigo’. Eu tinha uns 15 [anos], eu pensei: bom, é o momento, porque meu pai sempre fumava perto de mim, eu tinha vontade de fumar e de fumar principalmente com ele, e conversar, e aí a relação é bem tranquila entre nós.

Eu nunca tive grandes problemas com minha família, mi- nha mãe não gosta, não fuma, claro que se ela pudesse escolher ela preferia que eu não fumasse. [...] Dos cinco irmãos de meu pai, quatro fumam, e todos têm filhos com a vida muito bem estabilizada, e são muito carinhosos, é uma família muito grudada. Meu avô já perguntou pra meu pai se ele tinha dúvida que eu fumava maconha e meu pai respondeu que não tinha dúvida nenhuma. (VA-

LENçA, 2010, p. 119).

Pelo que relata Cleópatra, é possível perceber que uma referência positiva em relação à maconha é representada por um usuário próximo, seu pai, que soube conduzir sua vida sem que o fumar maconha o estigmatizasse, assim como seus ir- mãos, usuários socialmente estabilizados. Essa representação favoreceu que Cleópatra construísse uma imagem positiva da cultura da maconha, diferentemente do que ela assistia nos te- lejornais. O pai de Cleópatra estabeleceu com ela uma relação face a face, onde a confiança foi o primeiro requisito de redu- ção de riscos, explicitado na fala: “mas da minha mão você só vai receber um baseado no dia que você chegar pra conversar comigo”.

Conversar foi um meio para Cleópatra estabelecer vín- culos sólidos, mostrando que a problemática das drogas pode

ser “trazida para a sala de jantar” sem ser necessariamente um assunto indigesto. E mesmo que, no polo contrário, esteja sua mãe, resistente ao consumo, com uma postura favorável estão os tios e primos, estabilizados e carinhosos, e mesmo o avô, ou seja, a oposição de sua mãe não determinou um ponto de conflito que caracterizasse uma família disfuncional, pois a representação que Cleópatra traz é a de “uma família muito grudada”. Entretanto, não há como naturalizar esta situação de diálogo e confiança como garantia contra os riscos do con- sumo, pois, cada caso familiar é um caso singular:

Marley – Desde quando eu era pequeno minha mãe sem-

pre falou que ela fumava, e me falou porque ela fumava, e eu nunca tive problema com isso, os amigos dela também fumam, todos bem sucedidos, todos com grandes exem- plos de vida. Aquilo mostrava pra mim que a relação entre usuários de maconha e marginalidade e falta de querer fazer as coisas não tem nada a ver. Isso aí é de pessoa pra pessoa. Tem pessoas que são muito inteligentes, bem sucedidas que são usuárias de drogas. (VALENçA, 2010,

p. 120).

Nesse exemplo, em que há uma relação de confiança es- tabelecida entre mãe e filho, se percebe que a representação trazida à tona – “os amigos dela também fumam, todos bem sucedidos” – não associa consumo de drogas e marginalidade, pelo contrário. Contudo, ter essa representação como mecanis- mo de redução de riscos não foi garantia para que Marley (20 anos) inicialmente não tivesse sérios problemas com seu con- sumo de drogas, consumo que, pelo período de um semestre, o aproximou da marginalidade, inclusive, afastando-o de sua mãe. Dois anos depois, ele se tornou um estudante de Informá- tica bem sucedido e se considera um usuário ocasional. Como ele, há usuários que sustentam dificuldades para resolver a equação familiar e acabam buscando o espaço universitário

como alternativa para enfrentar o conflito. Uma das impres- sões iniciais que pôde ser construída no trabalho de campo foi que, para alguns usuários, ter uma carteira de estudante seria como ter uma insígnia distintiva que os blindaria contra o es- tigma e, até mesmo, contra as sanções sociais que circundam os usuários de drogas que não possuem o status de estudante. Assim indica Rimbaud, universitário com 22 anos de idade:

- Antes era diferente, a faculdade traz uma perspectiva

nova porque, antes, eu consumia como se fosse um rebel- de. Na faculdade você tem menos sentimento de culpa, o espaço é protegido, sem preocupaçã,o como eu tinha quan- do fumava na rua, preocupação constante com a polícia, porque quando você tem uma quantidade grande de base- ado, você tem que esconder em algum lugar. Na faculdade não, você tá conversando... (VALENçA, 2010, p. 97).

Nesse caso se percebe como a carteira de estudante é convertida em um capital simbólico que autoriza seus porta- dores usuários a se defenderem contra os valores que os es- tigmatizam. Além disso, não se deve esquecer que, se 36% dos interlocutores ainda moram com suas famílias as quais, de modo geral, são contrárias ao consumo de drogas, o territó- rio universitário, que durante os anos de ensino médio lhes fora “prometido” como o espaço da construção de uma iden- tidade reconhecida pelo mundo adulto, ganha a significância de um “segundo lar”. Nesse lar, idealmente deve haver espaço para compensar os valores impostos no “primeiro lar”. Ainda de acordo com Rimbaud:

- Quando ela (minha mãe) descobriu que eu fumava e que

eu assumi, eu fazia questão de deixar baseado pra ela ver. Ela pegava e jogava fora, mas eu fazia no intuito de mostrar que naquela casa, que eu também moro lá, que eu tinha que ter minha liberdade. Agora na faculdade ela respeita muito mais, ela vê que eu tou estudando, eu tou

trabalhando, que eu não sou vagabundo maconheiro. (VA-

LENçA, 2010, p. 98).

Ora, se esse segundo lar é um território onde os valores dominantes não devem ser impostos, mas construídos em con- junto, se pode especular que, na fala de Rimbaud, o espaço universitário seria um território viável para a construção de respeito pelo usuário: “Agora, na faculdade ela respeita muito mais, ela vê que eu tou estudando, eu tou trabalhando, que eu não sou vagabundo maconheiro”. Dessa forma, o território uni- versitário configura o espaço cultural onde seria possível pro- cessar a ressignificação da imagem de um usuário. Rimbaud não é o único que exemplifica a questão:

T.V. – Você, antes da entrevista disse que no último mês,

não fumou maconha nos dias de aula, o que te levou a isso?

Marley – Ah, o estudo! Porque eu entrei na faculdade e

tou estudando o que eu gosto, eu quero ser um profissio- nal bem sucedido, eu quero ser um dos melhores alunos da faculdade, eu quero tirar as melhores notas, quero me empenhar bastante.

T.V. – Como você está se saindo?

Marley – Muito bem, o pessoal na sala me chama de gênio! [bem empolgado].

T.V. – Você se sente bem quando as pessoas te chamam

de gênio?

Marley – Não me sinto muito bem não [rindo], na verdade

eles é que são muito burros.

T.V. – Na faculdade, você não tá associando escola com

uso de droga. Como é que tá sendo isso?

Marley – Tá sendo agradável, eu tou gostando, porque

hoje eu tenho mais maturidade pra estudar, eu estudo de outra forma, eu assisto aula de outra forma, porque eu tou estudando o que eu gosto. (VALENçA, 2010, p. 101).

Nesse momento de sua carreira de estudante universi- tário, buscando outra forma de distinção que não a advinda do consumo de drogas – pois, no ensino médio “tava sempre fumando... era uma coisa que intensificava a amizade e distin- guia a gente dos outros alunos” –, a representação de Marley como gênio parece imunizá-lo contra o estigma que algum tem- po atrás o incomodava quando foi usuário de crack. Talvez essa informação provoque certo estranhamento para o leitor, afinal, diante da representação estabelecida dos usuários de crack como excluídos sem reversão, por que seria “natural” aceitar a representação de um ex-usuário que agora é considerado um gênio por seus colegas estudantes de informática? Uma percep- ção presente para os interlocutores é que as representações de usuários de drogas tendiam a refletir menos o discurso emitido do lugar do usuário que o seu papel como o elo mais vulnerável da rede de consumo – principalmente sendo o comércio das drogas ilícitas um dos mais rentáveis. Na pesquisa realizada com professores usuários58, essa representação já era motivo

de reflexividade:

Nêmesis – Eu me lembro que quando surgiu aquela propa-

ganda59, que eu ficava pensando: a gente que consome, a gente tá alimentando o tráfico... Eu fiquei muito preocupa- da com isso. Quando via a propaganda, eu dizia: ‘Nossa Senhora, é fato! Não vou parar de comprar, mas eu tô ali- mentando também, eu tô alimentando a marginalidade...’.

(VALENçA, 2005, p. 41).

Nesse recorte, o usuário passou de alienado a financiador da violência, sem que sua voz fosse ouvida. Contudo, a maioria dos interlocutores – professores e estudantes – resiste à na-

58 Dissertação de Mestrado. PPGCS, UFBa, Salvador, 2005.

59 A propaganda mostra o dinheiro saindo da mão de um consumidor para a

turalização do estigma da violência em suas carreiras e estilo de vida. E onde foi possível constatar este estilo de vida e seus mecanismos de resistência? Participando, tanto quanto obser- vando vários territórios de consumo – barzinho, rave, shows de rock e até casamento – pude registrar os controles elaborados pelos usuários. Nesses territórios, a maioria dos usuários não se colocou como pessoas que devem se esconder por receio de serem representadas como desviantes, mas como pessoas que são parte de culturas alternativas com características específi- cas que as resguardam de adversidades específicas.

Numa festa de casamento, foi possível perceber o movi- mento para o consumo de cocaína, maconha e álcool. Se havia muitos convidados não usuários de SPAs ilícitas – em torno de cem pessoas, membros das famílias e amigos dos noivos que, no geral, só consumiam álcool –, em nenhum momento foi per- cebido um movimento de consumo de ilícitos que transgredisse