• Nenhum resultado encontrado

Mesmo tendo proporcionado o ressurgimento da cultu- ra do cultivo de cannabis, as técnicas de plantio que utilizam lâmpadas para simular a luz do sol se desenvolveram graças às políticas proibicionistas adotadas em quase todos os países do mundo. A maior parte dos cultivadores afirma que nenhuma lâmpada pode substituir o sol e que, plantas cultivadas em am- bientes externos são sempre mais vigorosas, além de os custos da produção serem bem menores. A preferência por cultivar usando técnicas indoor se dá, predominantemente, pela neces- sidade de ocultar o empreendimento de olhares de curiosos e dos operadores da lei. A maior parte dos usuários que entre-

vistei até hoje, afirma que jamais optaria pelo uso de lâmpadas caso o cultivo de cannabis não fosse proibido. (VIDAL, 2010).

Além de os custos de produção serem mais altos para os usuários, o cultivo de cannabis com o uso de técnicas indoor tem um impacto considerável para o meio ambiente devido aos in- tensos gastos de energia elétrica relacionados a esse tipo de ope- ração. No Brasil, ainda são raras as operações de cultivo indoor com fins comerciais. Mas, tanto na Europa como nos EUA, esse tipo de empreendimento é cada vez mais comum, já ocorrendo desde a década de 1980, conforme relatado anteriormente.

É difícil estimar quais os impactos exatos do alastramen- to das operações de cultivo indoor para fins comerciais, mas o crescimento do consumo dos derivados da planta nas últimas décadas nos dá uma noção de como esse mercado é cada vez mais amplo. Qualquer política pública que se proponha a re- gulamentar o cultivo de cannabis, seja para fins medicinais, comerciais ou apenas para o uso pessoal, precisa se debruçar sobre essa questão e criar mecanismos de regulação e controle para o abuso do uso das técnicas indoor.

Nos EUA, muitas dessas operações são realizadas utili- zando geradores à base de óleo diesel. Essa estratégia evita que as casas de cultivo sejam identificadas através da contas de energia elétrica. Só na região de Humbolt, na Califórnia, uma das maiores produtoras de Cannabis em larga escala, estima- -se que o consumo seja em torno de 4.000 litros de diesel por colheita. Nessa região, os produtores chegam a consumir até 90 milhões de kilowatts por hora, o suficiente para abastecer cerca de 13.000 residências comuns, nos padrões de consumo estadunidenses, liberando cerca de 20.000 toneladas métricas de gás carbônico na atmosfera39.

39 Cf. Marijuana Pollution. Disponível em: <http://ideas.blogs.nytimes.com/

Enquanto não se discute, efetivamente, a regulamenta- ção do uso da Cannabis, os usuários e cultivadores continua- rão priorizando o acesso à substância, em detrimento das pre- ocupações com o uso de energia elétrica e com os impactos do cultivo para o meio ambiente. Como na maioria das atividades clandestinas, a prioridade é a segurança da operação. Nesse caso, cabe aos legisladores e operadores do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (SISNAD) desenvolverem estudos de viabilidade desse tipo de empreendimento bem como elabora- rem e colocarem em prática formas de mantê-los sob controle.

REFERÊNCIAS

ABEL, E. L. Marihuana: the first twelve thousand years. New York:

Plenum Press, 1980.

ADIALA, Julio César. A criminalização dos entorpecentes. Rio de

Janeiro: Independente, dez. 2006.

ADIALA, Júlio César. O problema da maconha no Brasil: ensaio

sobre racismo e drogas. Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 1986. p. 1-25. (Estudos, n. 52). CARVER, George W. (Org.). How to grow the finest marijuana indoors under lights: paperback, 1966.

CERVANTES, Jorge. Marihuana; horticultura del cannabis: la biblia

del cultivador médico de interior e exterior. Espanha: Van Patten Publishing, 2007.

CLARKE, Robert Connell. The botany and ecology of cannabis.

California: Pods Press, 1977.

CLARKE, Robert Connell. Marijuana botany: the propagation and

breeding of distinctive cannabis. Berkeley, California: And/or Press, 1981.

DANIELS, P. How to grow marijuana hydroponically. EUA: Sun

DRAKE, B. Marijuana; the cultivators handbook. Berkeley:

Wingbow Press, 1979.

DRAKE, B. The connoisseur’s handbook of marijuana. San

Francisco: Straight Arrow Books, 1971.

DRAKE, B. The cultivators handbook of marijuana. Agrarian

Reform Company, 1970.

DRAKE, B. The international cultivators handbook. Berkeley:

Wingbow Press, 1974.

FABER, C. E. A guide to growing cannabis under fluorescents (1974). In: GOTTLIEB, Adam. Cannabis underground library. Berkeley, CA:

Ronin Publishing, 1980.

FLEMING, D. A complete guide to growing marihuana. San Diego,

CA: Sundance Press, 1974.

FONSECA, G. O submundo dos tóxicos em São Paulo (Séc. XVIII, XIX e XX). São Paulo: Resenha Tributária, 1994.

FRANK, M.; ROSENTHAL, E. The indoor outdoor highest quality marijuana grower’s guide. San Francisco: Level Press, 1974.

FRANK, M.; ROSENTHAL, E. Marijuana grower’s guide: deluxe

edition. Berkeley, CA: And/Or Press, 1978.

GAINAGE, M.; ZERKIN, E. L. A comprehensive guide to the English-language literature on cannabis. Madison: Stash Press,

1969.

GAMELLA, J. F.; RODRIGO, M. L. J. La cultura cannabica en España: la construcción de una tradición ultramoderna. 2004.

Disponível em: <http://www.fundacionmhm.org/pdf/ Mono5/ Articulos/articulo2.pdf>.

GIERINGER, D. et al. Vaporizer combines efficient delivery THC with effective suppression of pyrolytic compounds. Journal of Cannabis Therapeutics, v. 4, 2004. Disponível em: <http://www.canorml.org/

healthfacts/jcantgieringervapor.pdf>.

GOTTLIEB, Adam. Ancient and modern methods of growing Marijuana. (1975). In: CANNABIS UNDERGROUND LIBRARY. Berkeley, CA: Ronin Publishing, 1980.

GREEN, G. The cannabis grow bible. California: Green Candy Press,

2003.

HERER, J. O rei vai nu: o cânhamo e a conspiração contra a

marijuana. Portugal, 2003.

IRVING, D. A guide to growing marijuana in the British Isles.

London: Hassle Free Press, 1978.

IRVING, Gregory. El jardín interior: cultivar en sustrato de coco:

guía paso a paso. Positive Publishers, 2003.

KRAMER, J. Plants under lights. Hardcover, 1974.

KRANZ, J. L.; KRANZ, F. H. Gardening indoors under lights.

Hardcover, 1971.

MACRAE, Edward; SIMÕES, Júlio Assis. Rodas de fumo: o uso da

maconha entre camadas médias urbanas. Salvador: EDUFBA, 2000. (Coleção Drogas: Clínica e Cultura).

MCDONALD, Vin; BOURKE, Kathleen. The complete book of

gardening under lights: paperback, 1964.

MURPHY, Stevens. Garden under light. Hardcover, 1977.

MURPHY, Stevens. How to grow marijuana indoors under light.

1974.

OAKUM, O. Growing marijuana. In: NEW ENGLAND (and other cold

climates). Ashville – ME: Cobblesmith, 1977.

ORTA G. Coloquios dos simples e drogas da Índia. Lisboa:

Academia Real das Sciencias de Lisboa; Imprensa Nacional, 1891. RICHARDSON, J.; WOODS, A. Sinsemilla marijuana flowers.

Berkeley: And/Or Press, 1976.

ROSENTHAL, E. The big book of buds. Canada: Quick American

Archives, 2001.

STEVENS, M. How to grow marijuana indoors under lights. Seatle,

WA: Sun Magic Publishing, 1973.

STEVENS, M. How to grow the finest marijuana indoors. Seatle,

WA: Sun Magic Publishing, 1979.

SUPERWEED, M. J. The complete cannabis cultivator. San

SUPERWEED, M. J. Super grass grower’s guide. (1970). In: CANNABIS UNDERGROUND LIBRARY. Berkeley, CA: Ronin Publishing, 1980.

VIDAL, S. Colhendo kylobytes: o growroom e a cultura do cultivo de

maconha no Brasil. Universidade Federal da Bahia, 2010. WINTERBORNE, J. Cannabis cultivation: trees of life at the

University of London. Pukka Press, 2008.

ZUARDI, A. W. História da cannabis como medicamento: uma revisão. Rev. Bras. Psiquiatr. v. 28, n. 2, p. 153-157, 2006.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1516-44462006000200015&lng=en&nrm=iso&tlng= en>.

Introdução

Qualquer investigador que se debruce sobre a questão do uso de drogas, focando no uso de crack entre a população de rua, se depara com uma grande quantidade de pesquisas que visam detectar os efeitos danosos desse uso na história de vida do sujeito, enfatizando, apenas, aspectos farmacológicos da atu- ação da substância no corpo. Inúmeras são as pesquisas que re- alçam o caráter desestruturador do crack em diversas dimensões da vida do sujeito (FERRI et al., 1997; DUNN et al., 1996; CHEN; ANTHONY, 2004). Como tais pesquisas levam em consideração apenas os usos problemáticos desta substância, cria-se o consen- so de que o uso continuado de crack acarreta, necessariamente, usos disfuncionais, uma generalização que acaba por encobrir outras modalidades de uso menos danosas e mais funcionais. Há, portanto, uma ausência de pesquisas que busquem analisar o indivíduo que usa crack em seu contexto de vida cotidiana, suas redes de sociabilidade e os rituais de uso da substância.

A pesquisa que gerou este artigo teve como objetivo prin- cipal observar como os usos de substâncias psicoativas (mais precisamente, o crack) são integrados nas trajetórias, estilos

de vida e no contexto sociocultural em que se encontram os que dele fazem uso.41 Para isso, foi necessário recorrer a uma

bibliografia que permitisse tornar compreensível outros deter- minantes para o uso de drogas. Autores como Norman Zinberg (1984), Jean-Paul Grund (1993) e Howard Becker (1966; 1976) são referências capitais para a compreensão dos aspectos so- cioculturais do uso de drogas. Para além de observar os as- pectos farmacológicos do uso de substâncias psicoativas, esses autores atentam para a observação do set (a atitude do indiví- duo no momento do consumo, focando, também, a sua estru- tura de personalidade e expectativas sobre a experiência) e o setting (o ambiente físico e social no qual ocorre o uso).

Sacizeiro, usuário e patrão: