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• Como contexto de ação dos participantes cria condições para que as ações discursivas presentes na atividade ocorram? • O assunto focal na atividade está legitimado pelo grupo? É

possível discuti-lo no grupo? Os participantes têm acesso ao tema proposto?

• A cena de enunciação destaca os elementos constituintes do contexto dos participantes como prioritários ao momento da enunciação?

• As ações discursivas legitimam divergências sobre o assunto? Organizam-se em uma perspectiva de expansão dialógica, convidando à interação/ao movimento argumentativo? Instituem a argumentação como um caminho para a negociação dos significados divergentes?

DIMENSÃO EPISTÊMICA (as perguntas estão orientadas a...)

• Recuperar do próprio momento enunciativo as ações discursivas relacionadas a conceitos e definições relevantes para o curso do aprendizado científico em questão;

• Trazer à tona, quando necessário, e por meio de discurso modalizado, conceitos ou definições relevantes para a continuidade da discussão;

• Orientar modos de raciocínio típicos do campo do conhecimento em questão, que favoreçam a relação entre o dizer cotidiano e o conhecimento científico;

• Perguntar de modo a incidir no eu epistêmico dos participantes, ampliando possibilidades de avançar na compreensão de um dado conceito;

• Reorganizar perguntas de modo a evitar que se transformem em obstáculos epistemológicos para os participantes, mas que funcionem como instrumentos de superação desses obstáculos;

• Perguntar para expandir modos de conceituar ou definir no campo do conhecimento em questão;

• Revozear as vozes dos participantes no sentido de aproximá- las das formas de raciocínio mais elaboradas no campo do conhecimento em questão, conferindo-lhes um estatuto epistêmico.

DIMENSÃO

ARGUMENTATIVA (as perguntas contemplam...)

• Formas de participar que estimulem os envolvidos a apresentar e justificar pontos de vista, além de negociar divergências, fundamentando-as;

• Ações discursivas que abram a possibilidade de inserção de pontos de vista alternativos em relação aos já apresentados; • Ações discursivas que instaurem dúvidas, desencadeando os

movimentos argumentativos e provocando expansão dialógica; • Ações discursivas que recuperem informações esparsas já

apresentadas, para organizá-las no sentido de construir/reconstruir um argumento.

A classificação das perguntas, como modos de compreender “a organização discursiva e as possibilidades de significar a atividade” que elas remetem (NININ, 2013, p. 162), são utilizadas, neste trabalho, como recursos para o desenvolvimento e a análise do processo reflexivo, combinadas às categorias elaboradas por Compiani (1996), quais sejam: 1) solicitação de informações, 2) fornecimento de informações, 3) reespelhamento, 4) problematização e 5) recondução; e por Brum (2015), quais sejam, 1) acolhimento; 2) refutação, na identificação das ações discursivas encontradas em seus respectivos processos investigativos (Quadro 2.2).

Quadro 2.2 – Categorias de ações epistêmico-argumentativas para encaminhamento e análise do processo reflexivo

Categoria geral Subcategoria

1. Solicitação de informações

1A. por extensão de ideias 1B. por elaboração de ideias 1C. por intensificação de ideias 2. Fornecimento de informações 2A. por elaboração e/ou intensificação

2B. por extensão

2C. por remodelamento (elaboração)

3. Reespelhamento – 4. Problematização – 5. Reestruturação 6. Recondução – 7. Acolhimento – 8. Refutação –

Fonte: Com base em Compiani (1996, p. 44-45) e Brum (2015, p. 64).

Via de regra, todas as categorias do Quadro 2.2 procuram ser explicadas funcionalmente, levando em consideração as contribuições oferecidas pela Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014). Nessa perspectiva, a categoria de solicitação de informações está alinhada à perspectiva de expansão, categoria lógico-semântica da GSF (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), uma vez que, ao solicitarmos informações, estamos, na verdade, solicitando ao participante que expanda seu ponto de vista, ou seja, agregue a ele elementos que contribuam para o melhor entendimento de suas proposições e, consequentemente, para o desenvolvimento do processo argumentativo. A categoria solicitação de informações (1), a qual geralmente parte de um questionamento acerca do tema em discussão, pode ser subdividida em três subcategorias:

(1A) a solicitação de informações por extensão de ideias (1A) é feita quando as ideias expostas necessitam da adição de informações para que sejam mais bem compreendidas. Essa ação argumentativa, na léxico-gramática, é realizada pela extensão (ampliação) de elementos (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014) que, de modo geral, buscam responder à pergunta “o que mais?”;

(1B) a solicitação de informações por elaboração de ideias (1B) ocorre quando as ideias expostas necessitam de maior clareza para serem compreendidas, não havendo, neste caso, a necessidade de adição de informação nova. A elaboração consiste no arranjo das ideias de outra maneira, de modo a torná-las mais claras (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014) (Explique melhor.);

(1C) a solicitação de informações por intensificação de ideias (1C) é acionada quando parte das ideias expostas necessita de maior detalhamento contextual para ser compreendida. Ao detalhar uma informação, o participante realiza o processo de qualificação dessa informação ou parte dela pela adição de circunstâncias de lugar, tempo, causa (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), localizando seu argumento em termos de “onde? quando? por quê?”.

A categoria fornecimento de informações (2) refere-se, de modo geral, às respostas dadas aos questionamentos feitos na solicitação de informações. Essa categoria pode apresentar três subcategorias de ações argumentativas:

(2A) o fornecimento de informações por elaboração e/ou intensificação caracteriza a ação argumentativa que busca desenvolver (dar continuidade à) a informação, oferecendo dicas ou exemplos, de modo a levar os participantes ao raciocínio traçado de antemão. Aqui, o desenvolvimento das ideias é linguisticamente realizado por relações lógico-semânticas de intensificação e elaboração (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), em que são adicionadas informações relativas ao contexto do argumento posto em discussão (como, quando, onde, por que) e detalhes e/ou exemplos que contribuam para a sua adesão ou refutação;

(2B) o fornecimento de informações por extensão qualifica a ação argumentativa que busca apresentar novos elementos à discussão a partir de uma problematização. Essa ação é geralmente colocada em funcionamento por meio de elementos que estabelecem relações lógico-semânticas de extensão (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), indicando soma, adversidade, alternância, entre outras;

(2C) o fornecimento de informações por remodelamento (elaboração) tem como característica o desenvolvimento de uma ação argumentativa que busca reorganizar as informações anteriormente discutidas de modo a aproximá-las tanto dos significados científicos do assunto em debate quanto didatizá-los, aproximando- os dos saberes cotidianos. Essa ação perfaz uma organização de ideias por meio de relações lógico-semânticas de elaboração6 (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014), de modo que o desenvolvimento da informação se dê a partir de um raciocínio elaborado acerca do tema proposto (BERNSTEIN, 1996). Essa ação pode se manifestar, linguisticamente, na forma de uma definição na qual um termo (o tema da discussão) é qualificado como pertencente a uma classe de coisas (X é Y). Isso significa dizer que o remodelamento é a ação argumentativa que oferece recursos privilegiados para o desenvolvimento de processos de internalização de conhecimentos. Assim, na negociação do conhecimento trazido pelo participante e construído ao longo de sua caminhada sócio-histórica e dos saberes científicos postos em discussão, abrimos possibilidades de conscientização acerca de tais saberes, promovendo, em última instância, uma formação cidadã.

Ainda destacamos outras cinco categorias: (3) o reespelhamento, que se caracteriza pela repetição de palavras ou expressões anteriormente citadas no discurso, captadas seja pela indicação verbal, por ênfase, gestos, entonação diferenciada, etc.; (4) a problematização, que é acionada por proposições (perguntas ou declarações) feitas para dar início ao debate, instigar ou provocar a procura de respostas para o tema em discussão ou para temas relacionados trazidos ao diálogo; (5) a reestruturação, na qual as ideias são reorganizadas e sistematizadas (generalização), podendo, com isso, promover a expansão do tópico em discussão ou a introdução de um novo enfoque; (6) a recondução, que é usada como recurso para retomar o tópico em discussão quando este perde a pertinência, ou quando se deseja reforçá-lo; (7) o acolhimento, que diz respeito à aceitação de uma ideia colocada em discussão, geralmente sinalizada por ações verbais de polaridade positiva; e, por fim, (8) a refutação, que ocorre quando uma ideia ou posição é contestada e/ou reprovada na discussão, desvelada no uso de ações verbais de polaridade negativa.

Neste capítulo, buscamos discutir as teorias de análise da linguagem que oferecem suporte teórico-metodológico para esta investigação, bem como a descrição das categorias argumentativas que serão utilizadas para a análise do processo colaborativo-reflexivo. A seguir, no Capítulo 3, passamos à discussão do processo de aprendizagem como atividade social, histórica e cultural do desenvolvimento escolar.