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Se a lei de 16 de agosto de 1940 desenvolveu os comités d’organisation (comités de organização) (CO) e estes se estabeleceram, no sentido da

31Olivier Dard, La synarchie, le mythe du complot permanent (Paris: Perrin, 1998 [2.ª ed.

em coleção de bolso Tempus, 2012]).

32J. Julliard, «La charte du Travail» dans Fondation nationale des sciences politiques, Le gou- vernement de Vichy 1940-1942 (Paris: Armand Colin, 1972), 158.

organização e do dirigismo, foi preciso esperar 14 meses entre a criação dos CO e o nascimento da Charte du Travail.

Desde o verão de 1940 que os serviços de René Belin redigiram um texto, que reformulava quase tudo. Ele previa em primeiro lugar imple- mentar o sindicalismo único, bipartido (salarial e patronal) e hierarqui- zado em três níveis (nacional, departamental ou interdepartamental e local).33O topo da pirâmide é formado por um conselho nacional de or-

ganização profissional. O segundo vetor do projeto é a criação de um comité social nacional composto por metade de empregadores e assala- riados responsável pela organização das relações profissionais e mais par- ticularmente de conduzir as negociações colectivas e de gerir as obras so- ciais. A inspiração do documento é fundamentalmente diferente da visão dos tradicionalistas: o peso do Estado é esmagador. Assim, os mem- bros dos organismos não podem ser nomeados sem o aval do ministro, no qual ele dispôe, no entanto, de representantes encarregados de vigiar a boa condução da assembleia. Recusado na sua primeira versão, o pro- jeto de René Belin é modificado e suavizado. Contudo, não perde a sua característica inicial que é «a de assegurar a supremacia do Estado sobre os organismos profissionais, a quem confia poderes alargados em matéria económica e social»34acabando por ser adotado pelo Conselho de Mi-

nistros. Entretanto, René Belin não se sente surpreendido porque a 13 de dezembro de 1940 Pétain recusa-se a assinar. A partida de Pierre Laval e as indefinições do «interlúdio Flandin» atrasaram o caso durante vários meses.

O relançamento vem com o discurso pronunciado em Saint-Étienne, a 1 de março de 1941, dirigido especialmente aos trabalhadores, técnicos e patrões franceses e difundido na rádio, em direto. O marechal Pétain fixou as linhas daquilo que deverá ser o futuro da «comunidade de tra- balho».35Ponto essencial da doutrina de Vichy, são impressos mais de

um milhão de exemplares desse texto.36Longe da apresentação de um

projeto preciso, o seu discurso, que é um hino à edificação «no amor e na alegria» de uma sociedade «humana, estável, pacífica» dá, no entanto, duas indicações essenciais.37

A Vaga Corporativa

33A circunscrição de base não é precisa. 34J.-P. Le Crom, Syndicats nous voilà!..., 132.

35Publicou na Revue des deux mondes de 15 setembro de 1940 um artigo intulado «La

politique sociale de l’avenir».

36Philippe Pétain, «Discours aux Français, 17 juin 1940-20 août 1944», edição estabelecida

por Jean-Claude Barbas, prefácio de Antoine Prost (Paris: Albin Michel, 1989), 109.

37Ibid., 110-114.

Em primeiro lugar, quanto ao lugar do Estado: o seu «papel » deve ser «meramente dar impulso à ação social, indicar os princípios e os signifi- cados desse ação, estimular e orientar as iniciativas». Depois quanto à função atribuída à pedra angular do futuro edifício, a «comunidade de trabalho». O coração é a empresa, cuja «transformação pode fornecer à base a profissão organizada, que é ela mesma uma comunidade de co- munidades». Evocados os princípios pelo marechal Pétain, este contenta- -se em formular uma só proposição concreta : uma lei pode criar os «co- mités sociais onde patrões, técnicos e trabalhadores procurarem em conjunto soluções para os problemas atuais dentro de uma vontade comum de justiça, na preocupação constante de apaziguar a miséria e a agonia da hora». Sabendo que um dos maiores objetivos fixados pelo Es- tado Francês é o de «resolver [...] o grande problema do trabalho e da ordem social», o contraste é notável entre a ambição da proposta e a ma- greza das proposições.

A escolha dos seus membros é o primeiro sinal da sua orientação futura: os tradicionalistas (representados por Jules Verger) são uma pequena mi- noria face aos ex-membros da CGT e da CGFP. Além disso, a primeira sessão do COP (aberta por Pétain) que se realizou, entre 4 e 7 de junho de 1941, deu o tom da orientação geral: a nova organização profissional construiu-se sobre a base de sindicatos separados (reivindicação inflexível dos sindicalistas apoiados pelos representantes do patronato) contra os sindicatos mistos queridos pelos tradicionalistas que não conseguiram sus- pender permanentemente os trabalhos do COP. Rapidamente, uma maio- ria se levantou contra dois pontos a favor do sindicato único e a criação, nesta base, de comités sociais. No entanto, algumas questões permanecem: a permanência (ou não) das uniões regionais, assim como das federações sindicais (às quais os trabalhadores estão muito ligados); a composição dos comités sociais,38ou das modalidades de sua designação (eleição, no-

meação). No final da terceira sessão do COP (30 de julho-2 de agosto de 1941), os princípios de base parecem adquiridos. Contudo, fica para uma etapa seguinte a redação da Carta.

Esta tarefa é confiada a Gaston Cèbe que espera, e os tradicionalistas com ele, alguma vingança contra a maioria do COP. Ela deu lugar a uma verdadeira guerra de trincheiras entre tradicionalistas e modernizadores desde que o texto foi modificado e alterado até à sua impressão definitiva em 26 de outubro de 1941. Esta última desenrolou-se em circunstâncias

38Os trabalhadores temem a proliferação de categorias intermédias que supunham ser

rocambolescas, que demonstram a atmosfera circundante ao desenvol- vimento do texto. Por isso, ele requereu a arbitragem final de Lucien Ro- mier para acalmar a fúria de René Belin, que constatou que o texto en- viado para impressão foi alterado pelos tradicionalistas, no último momento.39