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Os primeiros passos em direção ao Estado corporativo

O biénio de 1925-1926 marcou o final da colaboração do PNF com os outros partidos e a viragem para a criação de um regime mais decidi-

A Vaga Corporativa

farsi valere sulla massa. Lo stato fascista è invece lo stato popolare; e in tal senso Stato democratico per eccellenza. Lo stato esiste in quanto e per quanto lo fa esistere il citta- dino», Giovanni Gentile, Origini e dottrina del Fascismo (Roma, 1934), 48-49.

29«L’Associazione Nazionalista, forse per le sue origini riflesse ed intellettuali, sembrava

dovesse operare più nel campo del pensiero e della propaganda che dell’azione politica. Al contrario, il Partito Nazionale Fascista, per le sue origini più popolari e più determinate dalle necessità della lotta quotidiana contro gli elementi antinazionali, sembrava dovesse rimanere più nel campo dell’azione», ibid., 732.

30Arrigo Solmi, La riforma costituzionale (Milão: Alpes, 1924).

damente fascista e corporativo.31Rocco foi nomeado ministro da Justiça

por Mussolini e desempenhou esse cargo durante o período de 5 de ja- neiro de 1925 a 20 de julho de 1932: os anos centrais da construção do novo regime.

A comissão dos 15 foi substituída pela comissão dos 18. Era neces- sário, após o discurso de 3 de janeiro de 1925, dar aplicação prática à nova orientação imposta pelo Presidente del Consiglio.32A comissão,

composta por liberais, fascistas e nacionalistas, refletia as contradições do regime em construção. Se não existiam dúvidas em relação à necessi- dade de reforçar os poderes do executivo e na crítica ao sufrágio universal, e como tal, ao parlamentarismo, as divergências mais duras diziam res- peito às instituições corporativas.

Um conflito que divide não só corporativistas e anticorporativistas – ou entre os que queriam uma mais rápida transformação no sentido corporativo, e aqueles que, pelo contrário, defendiam que seria necessário manter-se no campo da tradição liberal, ainda que corrigida num sentido fortemente autoritário –, mas também no interior dos próprios corpora- tivistas as fracturas eram particularmente profundas. À orientação mais tradicionalista, a da escola maurassiana, contrapunha-se o Estado sindical de Sergio Panunzio.33

Em outubro de 1925, o GC decide prosseguir o processo de reforma do Estado liberal prescindindo dos trabalhos da comissão. A 24 de de- zembro de 1925 é introduzida no ordenamento a figura do chefe de go- verno, primeiro-ministro e secretário de Estado, resolvendo assim a ques- tão da forma de governo e conferindo à Itália uma espécie de governo constitucional. O chefe de governo era agora unicamente responsável perante o rei, enquanto o Parlamento perdia não apenas o importante papel de lhe controlar a atividade, mas também o poder de fixar a ordem do dia, faculdade exclusiva do chefe de governo. Alfredo Rocco, em 1927, era claramente entusiasta: a revolução tinha chegado e após um

31Assim se pode ler nas actas das reuniões do Gran Consiglio del Fascismo de outubro

de 1925: «La sera dell’8 ottobre 1925-III alle ore 22, ha avuto luogo l’ultima seduta della Sessione del Gran Consiglio Nazionale Fascista. È continuata e si è conclusa la discus- sione sull’ordinamento corporativo dello Stato e sulla rappresentanza corporativa», Partito Nazionale Fascista. Il Gran Consiglio del Fascismo nei primi quindici anni dell’era Fascista (Bo- lonha: Il Resto del Carlino, 1938), 208.

32«Studiare i problemi oggi presenti nella coscienza nazionale e attinenti ai rapporti

fondamentali tra lo Stato e tutte le forze che esso deve contenere e garantire», citado em Alberto Aquarone, op. cit., 360-376.

33Francesco Perfetti, La Camera dei fasci e delle coporazioni (Roma: Bonacci Editore,

século de liberalismo tinha-se finalmente submetido o indivíduo à nação.34

Para a definição das atribuições do chefe de governo contribui a lei 100 de 31 de janeiro de 1926, a qual instituía a possibilidade de o go- verno emanar normas jurídicas. Esta lei, se por um lado pretendia am- pliar o poder do governo, por outro, tinha como objetivo limitar o pro- blema dos decretos-leis, usados abundantemente – e autonomamente – por ministros e burocracia.35De facto, a Mussolini escapava o controlo

completo sobre os atos dos seus ministros e esta norma introduzia um complexo mecanismo pelo qual cada proposta, para ser aceite, devia ser primeiramente votada pelo Conselho de Ministros. Rocco subli- nhava como o governo adquirira, graças a esta norma, a faculdade de emanar leis em sentido formal assumindo sobre si poderes próprios do parlamento e, portanto, corroendo profundamente as bases do Estado de direito.36

O Parlamento, exonerado de quase todas as suas principais funções, mantinha-se formalmente o órgão fundamental de formação das leis. Iam nessa mesma direção os comentários de Santi Romano, segundo o qual a lei 100 não renegava necessariamente o princípio da divisão de poderes, mas moderava-o, procurando não mutilar a unidade orgânica do Estado.37Aparentemente, a idolatria do Estado expressa por Romano

parecia contrastar com a sua teoria do pluralismo dos ordenamentos ju- rídicos. Todavia, como evidencia Norberto Bobbio, se tal teoria por um lado podia ser interpretada no sentido de uma progressiva libertação dos indivíduos e dos grupos da opressão do Estado, por outro lado manifes- tava o temor de uma sua possível desagregação.

Além disso, com a reforma de abril de 1926, é atribuído aos sindicatos reconhecimento jurídico e, portanto, faculdade para estipular acordos colectivos válidos erga omnes para a inteira categoria de representação dos mesmos sindicatos. Assim explica Santi Romano no seu Corso di diritto

pubblico o funcionamento da estrutura sindical: «para cada categoria des-

sas pessoas pode ser legalmente reconhecido, na circunscrição, apenas

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34Alfredo Rocco, La Trasformazione dello stato, dallo stato liberale allo stato fascista (Roma:

Anonima Editrice la Voce, 1927).

35Alberto Aquarone, L’organizzazione dello Stato totalitario (Turim: Einaudi, 1995). 36Cf. Prefácio de Alfredo Rocco, in Carlo Saltelli, Potere esecutivo e norme giuridiche

(Roma: Tipografia delle Mantellate, 1926).

37Santi Romano, Il consiglio di Stato, studi in occasione del centenario (Roma: Istituto Po-

ligrafico dello Stato, 1932), 21-23.

um sindicato. [...] Essas associações podem depois reunir-se em federa- ções e as federações em confederações».38

Em julho de 1926 é, além disso, instituído tanto o Ministero delle Corporazioni – com competências no exercício das funções representa- tivas reservadas às associações profissionais legalmente reconhecidas – como o Consiglio nazionale delle Corporazioni, primeiramente com funções consultivas, depois parcialmente legislativas.39O Consiglio Na-

zionale delle Corporazioni tem, segundo Virgilio Feroci, poderes muito extensos e funções de relevo tais, que deve ser considerado no âmbito sindical/corporativo comparável ao que detém o GC40no âmbito po-

lítico. O Consiglio Nazionale delle Corporazioni é presidido pelo chefe do governo e é composto por cerca de uma centena de membros, entre os quais o ministro para as Corporações, Interior, Justiça, Finanças, Obras Públicas e Agricultura, o secretário do PNF, os presidentes das corporações nacionais e os representantes designados das confederações sindicais dos empregadores e dos trabalhadores pelas secções correspon- dentes.41

O Estado corporativo que Rocco construía passo a passo era um Es- tado que, contrariamente à tradição liberal, não tinha «cedido em nada nem ao indivíduo nem às espontâneas associações de interesses»42mas

efectivamente mostrava a plena afirmação do princípio de autoridade do Estado para a melhor defesa de si mesmo.43Com o reconhecimento ju-

rídico, os sindicatos não só se tornam organismos de direito público, mas a inteira vida sindical é subordinada aos princípios e à finalidade do Estado fascista44e o monopólio da representação é adquirido de forma

exclusiva pelos sindicatos fascistas. Como sublinha Irene Stolzi, este era um elemento fundamental no processo de restruturação das relações de equilíbrio entre Estado e cidadão num sentido decididamente totalitário, não apenas baseado na centralização do poder e da repressão mas tam-

38«Per ciascuna categoria di tali persone può essere legalmente riconosciuto, nella cir-

coscrizione, soltanto un sindacato. [...] Tali associazioni possono poi riunirsi in federa- zioni e le federazioni», in Romano Santi, Corso di Diritto Costituzionale confederazioni». (Pádua: CEDAM, 1933), 216.

39Virgilio Feroci, Istituzioni di diritto pubblico (Milão: Ulrico Hoepli), 1939. 40Cf. ibid., 460-461.

41Ibid., 465.

42Antonio Navarra, «L’ordinamento corporativo nel diritto pubblico», in Il diritto del lavore,

II, 1928, 192. Citado por Irene Stolzi em L’ordine corporativo, Poteri organizzati e organizzazione del potere nella riflessione giuridica dell’Italia fascista (Milão: Giuffré Editore, 2007), 50.

43Ibid., 51.

bém na organização vertical e hierárquica das próprias massas,45um Es-

tado que assim substituía a representação e a participação a partir de baixo pela corporativa e orgânica a partir de cima. Uma estrutura que, no decurso dos anos, chegará a reunir 12 milhões de inscritos e 230 mil dirigentes.46

Para completar o quadro da nova legislação, foi emanado o Decreto Régio de 6 de novembro de 1926 com o qual é dada faculdade aos pre- feitos de dissolver todas as associações contrárias ao ordenamento nacio- nal e que, ao mesmo tempo, introduzia o internamento para delitos de carácter político. Essencialmente, o único partido autorizado a sobreviver foi o PNF, que enquanto único deixava de ser «parte» e foi introduzido o delito de reconstituição de associações e organizações dissolvidas por ordem da autoridade pública.47

Os fundamentos do Estado corporativo